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Planificar, Refletir e Avaliar

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E METODOLÓGICO

Capítulo 1 – A Identidade Docente

1.3. Planificar, Refletir e Avaliar

O profissional da educação, encontrando-se em constante formação (pessoal e profissional), sente necessidade de planificar, refletir e avaliar sobre todo o espaço educativo, bem como as atividades e estratégias utilizadas, a fim deas adaptar ao grupo que está a orientar. Já as OCEPE alertam-nos para a importância de considerarmos estas três etapas no decorrer de qualquer intervenção pedagógica (planificar, refletir e avaliar). Para Zabalza (1994), a planificação é vista como um instrumento único de trabalho do educador/professor, que estabelece a metodologia de intervenção e adequa os recursos ao grupo com quem trabalha. Assim sendo, ao planificar, há que ter em conta o grupo- alvo e um conjunto de fatores determinantes, como as caraterísticas, os interesses e as necessidades de todos e de cada um. Na opinião de Amado e Freire (2005), a planificação é um elemento essencial para uma boa gestão da sala de aula, quando se apresenta flexível e interativa.

Arends (1995) fala-nos igualmente da importância desta etapa, mencionando que a sua construção aponta para uma melhoria na preparação de qualquer género de atividades. Para isto, é fundamental que o profissional da educação tenha em conta algumas questões como: O quê? Como? Quando? E para quê?, já que a planificação deve dar resposta a cada uma delas. Neste sentido, o autor afirma que a planificação do educador/professor

deverá apresentar uma caraterística multifacetada, “(…) aliada ao facto de que muitos aspectos do ensino e da decisão acerca dos propósitos e do conteúdo de uma aula requerem a elaboração de planos” (pp. 51-53). Embora a planificação seja considerada de caráter flexível, de modo a que o profissional possa adaptar-se às situações e aos acontecimentos diários, o autor supracitado defende a necessidade de construir um plano de forma a dar um sentido de direção e um certo controlo ao profissional da educação principiante.

A reflexão, por sua vez, é considerada uma necessidade na prática de qualquer profissional da educação. Segundo Gómez (1997), “A reflexão implica a imersão consciente do homem no mundo da sua experiência, um mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afectivas, interesses sociais e cenários políticos” (p.103). Dewey (s.d., citado por Zeichner, 1993) defende ainda que a reflexão não se baseia num conjunto de procedimentos e técnicas que se possa ensinar, mas sim num momento onde o educador/professor recria a ação mentalmente e elabora uma análise detalhada dos acontecimentos. Mais do que a procura de soluções, o momento de reflexão implica uma abertura de espírito, onde a possibilidade de erro é admitida e revista. Embora autores como Cadório e Simão (2013) considerem que o momento de reflexão deverá ser concretizado a dois níveis (individual e coletivo), Zeichner (1993) entende a reflexão como uma prática social, uma vez que constitui uma forma de aprendermos em conjunto com outros colegas que enfrentam situações semelhantes e que poderão partilhar as suas ideias e vivências.

Na perspetiva de Estrela (2010), um educador/professor investigador é necessariamente um educador/professor reflexivo, visto que investiga, seleciona e mantém uma posição crítica e reflexiva relativamente ao conteúdo pesquisado. Este tema é também referenciado nas OCEPE, que destacam a importância de o profissional da educação refletir sobre as suas ações, sobretudo sobre a forma de adequar as atividades às dificuldades e necessidades de cada criança, isto sem nunca esquecer os objetivos que se encontram subjacentes a cada atividade. Assim sendo, o educador/professor reflexivo tenta encontrar um equilíbrio entre a ação e o seu pensamento (ideias, conceções), pelo que uma nova prática deverá implicar sempre uma reflexão sobre o conhecimento que já possui. A reflexão é, então, um modo de o profissional da educação estar em constante autoanálise, o que pressupõe uma análise rigorosa a todos os elementos intervenientes na sua prática e uma consciência de todo o ambiente social onde está envolvido, para que possa entender as crianças com quem está a trabalhar, compreendendo o seu papel na formação de cada uma (J. Sousa, 2012). Todo o educador/professor que apresenta atitudes

de questionamento sobre a sua prática sente necessidade de refletir e avaliar a sua intervenção (Alarcão, 1996).

García (2013) defende a prática reflexiva como um meio de desenvolver nos profissionais da educação “(…) competências metacognitivas que lhes permitam conhecer, analisar, avaliar e questionar a sua própria prática docente” (p.153). Isto levará a que o educador/professor detenha uma maior autoconsciência da sua prática, levando-o a criar um ambiente de qualidade para as suas crianças. No parecer de Zabalza (1998), estes métodos são concebidos pela avaliação, uma vez que esta nos proporciona todo um conjunto de informações indispensáveis para uma reformulação da prática. Esta linha de pensamento é igualmente defendida pelas OCEPE (1997), que nos asseguram que “Avaliar o processo e os efeitos, implica tomar consciência da acção para adequar o processo educativo às necessidades das crianças e do grupo e à sua evolução” (p.27).

A avaliação é definida por Arends (1995) como uma etapa que abrange um leque de informações recolhidas ao longo de um certo período de tempo, que o educador/professor analisa e sobre as quais reflete. De acordo com a Circular n.º 4/2011, de 11 de abril, a avaliação em educação é uma componente reguladora da prática educativa em todos os níveis de educação e ensino, embora cada nível possua princípios adequados às suas particularidades. Transversal a todos os níveis, a avaliação é considerada como um procedimento intrínseco a todo o processo de ensino-aprendizagem e “(…) desempenha um papel específico relativamente ao conjunto de componentes que integram o ensino como um todo” (Zabalza, 1998, p. 222). A avaliação das práticas educativas oferece ao profissional da educação uma oportunidade de pensar e refletir sobre a sua ação, podendo reajustar as suas práticas de acordo com as caraterísticas do grupo.

Assim, podemos concluir que a observação, a reflexão e a avaliação constituem instrumentos de apoio ao educador/professor, uma vez que possibilitam ao mesmo conhecer a criança, adequar as práticas ao grupo, acompanhar os processos de aprendizagem de cada criança em individual e refletir sobre os efeitos da ação educativa (Circular n.º 4 /2011, de 11 de abril).