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Plano Nacional de Educação (PNE)

No documento raquelsantiagodesouza (páginas 76-79)

4 ANÁLISE DOCUMENTAL COMO SE LEGITIMA, LEGALIZA E EXERCE A

4.3 Plano Nacional de Educação (PNE)

Ao longo do documento, encontramos poucos momentos em que a relação família e escola é debatida. Em destaque, vamos discutir uma passagem particular, que também é assunto recorrente em reuniões da coordenação pedagógica22, onde são pensadas estratégias para a melhoria do ensino aprendizagem das alunas. Vejamos: “2.9. incentivar a participação dos pais ou responsáveis no acompanhamento das atividades escolares dos filhos por meio do estreitamento das relações entre as escolas e as famílias” (BRASIL, 2014).

22 Entendendo essas reuniões como reuniões entre professoras, coordenadoras ou até com todo o corpo

pedagógico, onde são pensadas estratégias na melhoria do ensino aprendizagem. Essas reuniões são muito recorrentes em sábados letivos na rede Estadual de Educação de Minas Gerais.

De forma muito direta, o PNE entende que a relação família e escola é benéfica e sem uma explicação do por que como acontece nos documentos examinados até aqui, entende que essa relação precisa ser ajustada, com estratégias para uma aproximação. Maria Eulina de Carvalho (2009) nos ajuda a pensar sobre a ampla aceitação da “verdade absoluta e indiscutível” sobre os benefícios da relação escola e família ilustrada nos documentos oficiais e em boa parte da literatura pesquisada.

O movimento da política educacional em direção à família como lugar de educação e sustentação da escola encontra simpatia de todos os lados: tanto de grupos conservadores, quanto de educadoras/es mais progressistas, que propõem a capacitação dos pais/mães como uma estratégia de reforma educacional, a partir das bases e de empoderamento das famílias em situação de desvantagem social (CARVALHO, 2009, p. 95).

Deve-se pesar que não se debate sobre quem são as responsáveis ou o tempo disponível que essas possuem para estreitar suas relações com a escola. Responsáveis essas, em sua maioria, mulheres, como bem ressalta Carvalho e Burity (2006), nos alertando para a invisibilização do trabalho feminino também no acompanhamento escolar, reforçado por discursos com base biológica que buscam determinar e engessar as mulheres em tarefas voltadas à educação de sua prole. O título dessa dissertação de mestrado denuncia essa realidade de sobrecarga para as mulheres e cuidado com os homens. A relação família e escola pode ser delicada e cuidadosa com pais, como demostra Cláudia Paz (2010), e indelicada com mães e mulheres, quando cobra e culpabiliza. Além das questões de gênero, Carvalho (2009) nos alerta para as diversas hierarquizações que estão guardadas nessa relação tão festejada e incentivada pelas várias esferas sociais.

Parceria supõe igualdade. Mas as relações escola– família são relações de poder em que as/os profissionais da educação (pesquisadoras/es, gestoras/es, especialistas, professoras/es) exercem poder sobre os leigos (pais/mães), em maior ou menor grau, dependendo do seu nível de escolaridade. São relações também mediadas por outras relações de poder (de classe, raça/etnia, sexo/gênero, idade/geração) que ora podem favorecer as/os professoras/es, ora os pais/mães/responsáveis (CARVALHO, 2009, p. 99).

Essa passagem do PNE, que representa uma estratégia a ser utilizada por dez anos, nos parece vaga e pouco propositiva. O convívio próximo com o ambiente escolar, demostra que rotineiramente as profissionais envolvidas nas escolas buscam estreitar laços com as famílias, entendendo as/os responsáveis como ponto de apoio e parceira na educação das estudantes. Diariamente, essa parceria deixa a desejar e sobrecarrega um dos lados. Cotidianamente, a

escola pensa em estratégias para incentivar a participação de responsáveis, como podemos observar nos bilhetes produzidos pela escola Leila Diniz. Assim como em outros bilhetes, onde, ao final, o lembrete da importância da participação da família é estampado e reforçado.

Bilhete 4 – Leila Diniz

Bilhete 5 – Leila Diniz

Nos dois bilhetes anteriores, assim como no texto do PNE, podemos observar o masculino genérico. No entanto, acrescentam responsáveis ao se referir aos acompanhantes de

estudantes. Mesmo diante de poucos pais que efetivamente acompanham suas filhas na escola, o masculino genérico ainda persiste. Possivelmente, essa atitude tem relação direta com o não pensar no uso das palavras e o significado que elas carregam. Fato é que as mulheres continuam invisibilizadas.

No prólogo dessa dissertação, estão descritas as várias violências que habitam no ato de insistir no masculino genérico. Desse modo, sempre que necessário, reforçamos a importância de dar visibilidade às mulheres presentes nas relações e compreender sobre o apagamento histórico que vivemos nas literaturas, na política e na vida.

Destacamos outro trecho do PNE, no qual a família aparece como ponto de apoio à educação. As famílias beneficiárias de programas de transferência de renda são o principal foco para a busca de parceria.

Entre as estratégias previstas no plano, destacamos: criar mecanismos para o acompanhamento individualizado dos alunos do ensino fundamental (Estratégia 2.3); fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do acesso, da permanência e do aproveitamento escolar dos beneficiários de programas de transferência de renda, bem como das situações de discriminação, preconceitos e violências na escola, visando ao estabelecimento de condições adequadas para o sucesso escolar dos alunos, em colaboração com as famílias e com órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à infância, adolescência e juventude (Estratégia 2.4) (BRASIL, 2014).

Nota-se a permanência da ideia de que as famílias carentes são necessitadas de ajuda e busca-se remediar o problema. Esse filme certamente se reprisa como lembra Faria Filho (2000). Questões essas bem examinadas por Carvalho:

A outra história (sobretudo da escola pública) é de aculturação escola- família, via imposição do modo de educação escolar a uma classe ou a certos grupos sociais “carentes”, em situação de desvantagem social, gerando fracasso escolar e, posteriormente, políticas compensatórias (a exemplo do Programa Bolsa Escola).

Diante da descontinuidade cultural entre família e escola, a família torna-se extensão da escola, portanto, objeto de política educacional, de programas especiais (inclusive de educação de “pais”), sendo ora responsabilizada pelo fracasso escolar, ora incentivada a investir no sucesso escolar dos filhos e filhas (CARVALHO, 2009, p. 98).

No documento raquelsantiagodesouza (páginas 76-79)