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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4. OS MÉTODOS DE PCP NA MANUFATURA ENXUTA E A PRODUÇÃO NIVELADA

2.4.3. O Plano Nivelado

Como parte do planejamento de médio prazo, o plano nivelado fornece as entrada tanto para o planejamento dos materiais quanto o plano de carga e capacidade, no modelo geral de PCP (vide figura 1.1). Tal conceito parte de uma demanda prevista para o mês e consiste na distri- buição da gama de modelos (mix) ao longo do intervalo de tempo, geralmente menor que dez dias. Se o ritmo de consumo estiver nivelado, então o sinal de puxada para os fornecedores e processos anteriores à linha de montagem também estará. Assim, é possível manter níveis menores de estoques, pois o consumo torna-se mais previsível (LIKER E MEIER, 2007). Esta condição é a base para a operacionalização da Produção Nivelada.

O controle da produção em um ambiente de Manufatura Enxuta dispõe de dois instrumentos para conter a variação da demanda do cliente e realizar o nivelamento. Primeiramente, é ne- cessário definir as estratégias de posicionamento dos produtos, isto é, dimensionar o estoque

22 de produtos acabados para os itens que são consumidos com maior frequência, combinando a utilizando a produção para estoque (make-to-stock). Para os itens menos consumidos, a fabri- cação sob encomenda (make-to-order) ou montagem sob encomenda (assembly-to-order).

Por último, os estoques de segurança são dimensionados para proteger o sistema dos picos de demanda e dos problemas causados por defeitos da Qualidade, quebra de máquinas, entre ou- tros, aumentando a capacidade de atendimento à demanda por modelos variados. Além dessas informações, três decisões são necessárias ao nivelamento (SMALLEY, 2004; LIKER E MEIER, 2007):

1. O tamanho do lote, ou seja, a quantidade do produto a ser produzido em um intervalo específico de tempo.

2. A gama de modelos de produtos, que é a proporção dos diversos modelos que com- põem uma família de produtos. Em outras palavras, é a combinação entre os modelos, A, B, C, etc.;

3. A sequência da produção, que é a ordem em que o volume e o mix de produtos são fa- bricados.

Em operações de fabricação, o tempo de Set up influencia o tamanho do lote, e, consequente- mente, afeta as decisões de programação diária. Por essas razões, quanto maior a variedade de produtos e as particularidades dos sistemas de produção, o nivelamento torna-se cada vez mais difícil de implantar. Assim, a depender do estágio de implantação da Manufatura Enxuta no qual empresa se encontra, o ponto de partida pode ser lotes de produções maiores, equiva- lentes campanhas de produção que podem durar dias. Com o passar do tempo, ações devem ser tomadas para que os lotes sejam reduzidos gradualmente, por meio da redução dos tempos de preparação das máquinas e processos produtivos (SHINGO, 1996).

A partir desses conceitos, em linhas gerais, o “nivelamento do volume e do mix” consiste em distribuir a gama de modelos de produtos em um horizonte preferencialmente menor que dez dias, gerando um plano nivelado de produção (NIIMI, 2004; LIKER E MEIER, 2007). Com isto, é possível planejar, com base na capacidade disponível do sistema de produção, o ciclo de reposição dos diversos produtos e respectivos modelos. Neste cenário, uma visão geral de um plano nivelado de oito dias é ilustrada na tabela 2.1:

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Modelo Ciclo 1 2 3 4 5 6 7 8 Volume

Total A 1D 250 250 250 250 250 250 250 250 2.000 B 1D 220 220 220 220 220 220 220 220 1.760 C 1D 210 210 210 210 210 210 210 210 1.680 D 2D 256 0 256 0 256 0 256 0 1.024 E 2D 0 250 0 250 0 250 0 250 1.000 F 2D 150 0 150 0 150 0 150 0 600 G 4D 0 240 0 0 0 240 0 0 480 H 4D 0 0 0 180 0 0 0 180 360 I 4D 180 0 0 0 180 0 0 0 360 J 4D 0 0 140 0 0 0 140 0 280 Outros MTO 59 155 99 215 59 155 99 215 1.056 Carga Total 1.325 1.325 1.325 1.325 1.325 1.325 1.325 1.325 10.600 Capacidade Meta 1.325 1.325 1.325 1.325 1.325 1.325 1.325 1.325 10.600

Tabela 2. 1 – Exemplo de um plano nivelado de produção para um intervalo de oito dias. Fonte: adaptado de Liker & Meier (2007).

Esta tabela apresenta um exemplo de plano nivelado com horizonte de oito dias. Na primeira coluna à esquerda, estão listados os modelos que fazem parte do plano, codificados por letras, de A a J. O modelo “outros” na verdade representa um grupo de modelos de demanda inferi- or, que são agrupados e produzidos sob encomenda (LIKER & MEIER, 2007).

A segunda coluna indica o ciclo de reposição planejado para os respectivos itens. Neste caso, verifica-se que há itens com ciclo diário (1D), a cada dois dias (2D) e a cada quatro dias (4D). Inclusive, as colunas numeradas de “1 a 8” referem-se aos dias produtivos do plano nivelado. Finalmente, a última coluna, “volume total”, representa a demanda (carga) planejada total de cada item no decorrer dos oito dias do plano. Esta demanda é definida com base em valores previstos para o próximo mês de produção.

Para definir o plano nivelado, é preciso selecionar o modelo cuja demanda total do período representa o maior valor dentre os modelos listados. Assim, este será considerado 100% e servirá como referência para o ciclo de reposição dos outros itens. No exemplo, o item A a- presenta o maior valor de demanda total no período (2.000 peças). Em seguida, estabelece-se o seguinte critério: para os itens cuja demanda total do período seja superior à metade do va- lor máximo, o ciclo será diário. Esta regra pode ser visualizada a partir da adaptação do e-

24 xemplo anterior, incluindo a coluna “volume relativo ao modelo A”, conforme representado na tabela 2.2: Produtos Demanda Mensal (peças) Demanda relativa ao Modelo A Ciclo Demanda Média Diária (peças/dia) Número de Set up por mês Número Set up no Intervalo Tamanho do lote (peças) A 6.000 100% 1D 250 24 8 250 B 5.280 88% 1D 220 24 8 220 C 5.040 84% 1D 210 24 8 210 D 3.072 51% 2D 128 12 4 256 E 3.000 50% 2D 125 12 4 250 F 1.800 30% 2D 75 12 4 150 G 1.440 24% 4D 60 6 2 240 H 1.080 18% 4D 45 6 2 180 I 1.080 18% 4D 45 6 2 180 J 840 14% 4D 35 6 2 140

Tabela 2. 2 – Adaptação do exemplo de plano nivelado com inclusão da regra de defini- ção dos ciclos de produção. Fonte: adaptado de Liker & Meier (2007).

Analogamente, os modelos (B) e (C), que estão acima de 50%, têm ciclo diário (1D), ao passo que os modelos cujo valor total esteja próximo do intervalo entre 25% e 50% do valor máxi- mo, o ciclo será a cada dois dias – no exemplo, os modelos (D), (E) e (F). Inclusive, para os modelos cujo valor total esteja abaixo de 25%, o ciclo será a cada quatro dias. Finalmente, os modelos “outros” são agrupados em ordens de produção e fabricados de maneira conveniente para maximizar a utilização da capacidade produtiva disponível (LIKER & MEIER, 2007).

Depois de definidos os ciclos de produção, é necessário definir o tamanho dos lotes de produ- ção para cada um dos modelos de produtos. Porém, vale destacar que os critérios apresentados para os ciclos são apenas balizadores, logo, estes não representam as soluções exatas, uma vez que a capacidade diária de produção deva ser levada em consideração. Nesses casos, o nive- lamento pode tornar-se mais complicado à medida que a variedade dos modelos aumenta. Por isto, uma abordagem alternativa – e mais difundida – consiste na afirmação de que o plano ni- velado deve focalizar apenas os itens que contribuem com uma parcela maior no volume total da demanda, com base em um histórico recente de vendas.

Esse critério, conhecido como classificação ABC, baseia-se no princípio de Pareto, o qual considera que uma pequena quantidade dos modelos (itens classes “A” e “B”) corresponderá a 80% do volume mensal médio. Partindo desse critério, é possível aumentar o ciclo de atendi-

25 mento dos itens mais importantes para o fluxo de valor em questão, reduzindo a frequência de produção dos chamados itens classe “C”. (SMALLEY, 2004; TUBINO, 2007).

Isto se apresenta de acordo com as restrições internas da capacidade produtiva e do tamanho de lote mínimo que pode ser obtido em curto prazo. Por exemplo, para um plano de 10 dias, é possível estabelecer, dentre outras abordagens, os ciclos de produção baseados no percentual de consumo dos produtos, em relação ao volume mensal médio, conforme valores recomen- dados por Smalley (2004):

 Itens A – 60% do volume total mensal: Ciclo diário  Itens B – 20% do volume total mensal: Ciclo semanal  Itens C – 20% do volume total mensal: Ciclo mensal

Por outro lado, o intervalo de cada classe de item deve ser gradualmente reduzido, à medida que os tempos de Set up forem igualmente reduzidos (MONDEN, 1998). Assim, a meta prin- cipal do nivelamento é produzir a gama de modelos de produtos em lotes gradualmente redu- zidos (SMALLEY, 2004). No entanto, é necessário avaliar o ciclo para cada família de produ- to em particular, de modo a conhecer exatamente as limitações da capacidade do sistema.

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