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4.3 Fundamentação do Instrumento de Cobrança com base nos Princípios Usuário-Pagador e

4.4.3 Plano de Recursos Hídricos

Os Planos de Recursos Hídricos, conforme o artigo 6º da Lei 9433/9769, visam

fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos mesmos. Tais planos, regidos pelo princípio da precaução, têm como objeto, segundo o artigo 7º, o seguinte:

I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;

II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;

III - balanço entre disponibilidade e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;

IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis;

V - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento das metas previstas;

69 Lei 9.433/97, art. 6°: “Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam a fundamentar e orientar a

VI a VIII - (vetados);

VIII - propriedades para outorga do direito de uso dos recursos hídricos; IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;

X - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

De acordo com a Lei 9.433/97, as Agências de Água deverão elaborar o plano e sugerir o prazo de vigência70. Já os comitês deverão aprovar ou não esse prazo71 (FAGANELLO, 2005).

Os Planos de Recursos Hídricos, de acordo com o art. 8o72, devem ser elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o País. Todavia, de acordo com Paulo Affonso Leme Machado, o plano fundamental é o Plano de Bacia Hidrográfica, pois a bacia é a unidade territorial de atuação e de planejamento do Sistema Nacional de Recursos Hídricos e a gestão hídrica é descentralizada. Nesse sentido, as prioridades de uso de água devem ser especificadas, em primeiro lugar, em nível da bacia hidrográfica. Posteriormente, devem-se realizar os planos estaduais que deverão integrar as prioridades apontadas nos planos de bacia. E, por fim, o plano nacional deve integrar os planos estaduais (MACHADO, P.A.L, 2002).

Assim, Machado, P.A.L (2002), salienta que os comitês interferem diretamente na elaboração do Plano de Bacias. Segundo o autor, o plano relativo à bacia hidrográfica tem relação com a área de atuação do Comitê de Bacia Hidrográfica com o dimensionamento apontado pelo art. 37 da Lei 9.433/97. Desta maneira, o plano pode abranger somente uma sub-bacia ou grupo de sub-bacias hidrográficas, a totalidade de uma bacia ou grupo de bacias hidrográficas.

É importante ressaltar que a formação de Comitês de Bacia e de Agências de Água adquiriu uma força simbólica de tal ordem, que alguns consideram a possibilidade da gestão social participativa ‘substituir’ o aparato estatal de comando e controle, delegando-se aos comitês, sob a vigilância da sociedade organizada, a própria concessão de outorgas de direito de uso da água (COSTA, 2003). Nesse sentido Paulo Affonso Leme Machado enfatiza que os comitês não têm presença direta na outorga porque atualmente ela é emitida pelos órgãos da

70 Lei 9.433/97, art. 44: “Compete às Agências de Água no âmbito de sua área de atuação: X - elaborar o Plano de

Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica”.

71 Lei 9.433/97, art. 38: “Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação: III - aprovar

o Plano de Recursos Hídricos da bacia; IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas”.

72 Lei 9.433/97, art. 8º Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o

administração pública sem exigir a participação direta do comitê. Contudo, nos planos de recursos hídricos deve-se encontrar a análise da prioridade das outorgas. Uma vez que é o comitê que aprova o plano, pode-se concluir que ele irá orientar ou dirigir as outorgas possíveis ou não, na ordem de sua relevância ambiental e social.

Uma das formas de se garantir a gestão participativa dos recursos hídricos é através das consultas públicas para elaboração dos Planos de Bacias realizadas pelos Comitês de Bacias Hidrográficas (FAGANELLO, 2005). Nesse entendimento corrobora Maria Luiza Machado Granziera ao afirmar:

A democracia, na concepção do plano, pode ser traduzida na sua aprovação pelo Comitê de Bacia Hidrográfica, do qual participam os representantes de vários segmentos interessados nos recursos hídricos. O cumprimento do plano é a garantia da efetividade de toda a política de recursos hídricos (GRANZIERA, 2003, p. 136).

Efetivando o disposto na lei, no dia 12 de abril de 2005 foi realizada a primeira consulta pública do Plano das Bacias da bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Foram realizadas mais cinco consultas públicas para coletar sugestões da população, sugestões estas que foram sistematizadas e levadas à audiência pública para a elaboração do Plano das Bacias PCJ, com a efetiva participação popular. Luiz Roberto Moretti, secretário executivo do CBH-PCJ ressaltou a importância do evento cujo objetivo foi coletar sugestões e subsídios da comunidade das bacias PCJ para contar do Plano de Bacias das bacias PCJ. Nesse sentido MACHADO, P.A.L. (2002), enfatiza que uma maneira eficaz para o fornecimento de subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos é audiência pública, cabendo aos Comitês de Bacia Hidrográfica, de acordo com a Resolução 5, de 10.4.200, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, “submeter, obrigatoriamente, os Planos de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica à audiência pública”.

Uma das sugestões propostas por Faganello e Folegatti (2005) 73 durante a consulta pública foi a aplicação de parte dos recursos financeiros arrecadados com a cobrança para a implantação nas pequenas propriedades rurais da microbacia do ribeirão dos Marins, de sistemas de irrigação mais eficientes, implantação de um projeto de educação ambiental e implantação de um programa de treinamento e monitoramento do manejo da água e assistência técnica em caráter

73 Durante a primeira consulta pública do plano de Bacia do PCJ, realizada em 12 de abril de 2005, os presentes

foram convocados a sugerir de que forma o FEHIDRO deve aplicar o dinheiro arrecadado com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

permanente para que os pequenos proprietários rurais tenham acesso a tecnologia eficiente de irrigação, aprendam a importância das leis ambientais, e saibam usar racionalmente a água e sejam multiplicadores de uma prática mais adequada e coerente.

Loures (2004) salienta que o direito ambiental é a consolidação do ideal da democracia participativa, visto que o poder de decisão, antes centralizado nas mãos da administração pública, passa a ser compartilhado com os cidadãos, que atuam individualmente ou através de entidades associativas, trazendo à tona os desejos e necessidades das comunidades onde vivem, cada qual com suas peculiaridades sociais, econômicas, culturais e ambientais.

Muito embora a participação popular seja uma garantia constitucional, na prática, têm-se observado alguns problemas para se efetuar a efetiva participação popular no processo de gestão dos recursos hídricos.

Guivant e Jacob (2003) salientam alguns problemas para implementar a participação da sociedade civil, relatados durante o IV Encontro Nacional dos Comitês de Bacias Hidrográficas, realizado em julho de 2002 no Balneário Camboriú (SC) pelo Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas. Um dos obstáculos considerados foi o da falta de recursos financeiros dos membros integrantes de algumas categorias o que impede a obtenção de resultados legítimos dos trabalhos dos Comitês e é função do Estado, por determinação em lei, que este recurso esteja disponível a fim de que o integrante possa sempre se manifestar e assim validar as deliberações.

Outro problema destacado, que será relatado no próximo item, está relacionado à divisão de representação nos Comitês. Para tanto, explicita-se a seguir a composição dos Comitês de Bacias.