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PLANOS DE GESTÃO ESCOLAR: ORIGEM, ESTRUTURA E IMPLEMENTAÇÃO

1 TRAJETÓRIA DA GESTÃO ESCOLAR DAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS

1.5 PLANOS DE GESTÃO ESCOLAR: ORIGEM, ESTRUTURA E IMPLEMENTAÇÃO

Os Planos de Gestão Escolar foram anunciados e proclamados pelo governo de Santa Catarina como um instrumento legal possibilitador23 da gestão democrática e como o “novo” modelo de escolha do gestor escolar e de governança das escolas públicas estaduais, no dia 15 de outubro de 2015 (Dia do Professor). Por meio do decreto n. 1794/2013 (SC, 2013), instituiu-se que as escolas deveriam escolher o Plano de Gestão Escolar, e não o candidato. Segundo publicação da FIESC, esse processo difere do que é geralmente concebido, ou seja, “[...] a eleição direta de Diretor pela comunidade escolar, na qual os candidatos se apresentam, no geral, com plataformas e propostas, sem plano definido”. Ainda, conforme a “[...] regulação catarinense, a prioridade não é o candidato, mas seu plano de gestão: a comunidade escolar escolhe o plano, não propriamente o candidato, cuja designação decorre daquele” (FIESC, 2017, p. 21, grifo nosso).

Tal processo gerou polêmicas, pois não foi discutido com a comunidade, e os critérios definidos pelo referido decreto não permitiram que todos os integrantes do magistério pudessem apresentar seu Plano de Gestão Escolar e, por meio dele, ser nomeados gestores de escola. O Sindicado dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (SINTE-SC) foi uma das primeiras entidades a manifestar sua insatisfação em relação à mudança estipulada pelo decreto, afirmando que a categoria sempre buscou a eleição de diretores como um dos mecanismos para democratização da escola pública, mas o decreto, além de não ter a força de lei, ser algo muito instável e sujeito às mudanças de governo, poderia ser facilmente alterado conforme os interesses do governo, além de limitar a participação dos membros do magistério no processo de escolha dos Planos de Gestão Escolar, pois estabelecia uma série de requisitos para que o proponente pudesse apresentar seu PGE.

23 A expressão “possibilitadores” foi cunhada e utilizada pela SED/SC ao anunciar a mudança na gestão escolar

no estado catarinense. Integrava parte da descrição dos PGEs na página oficial da Secretaria, que foi modificada e não apresenta mais a descrição original. No entanto, a descrição anterior ainda pode ser encontrada na página do Instituto Estadual de Educação, por meio do endereço http://www.iee.sed.sc.gov.br/servicos/ensino/16971- plano-de-gestao-escolar. Acesso em: 17 maio 2019.

A estrutura dos Planos de Gestão Escolar foi definida em 2014 pela portaria n. 01/SED, de 22 de janeiro24. Assim, os planos seguem um modelo previamente elaborado, cabendo ao proponente apresentar sua proposta conforme as orientações da SED/SC25, com base nas considerações do consultor ad hoc e nas discussões realizadas na comunidade escolar. Como o tempo destinado à inscrição e postagem do plano no sistema WEBGESC foi inferior a um mês, presume-se que os proponentes não tiveram muito tempo para discutir esses planos com a comunidade escolar.

Ao abordar a participação da comunidade escolar, chamada no roteiro de “elaboração do Plano de Gestão Escolar de clientela”, Nascimento (2015, p. 218) afirma que “[...] denota aí uma necessidade de se rever sob qual perspectiva essa ‘clientela’ terá maior, menor ou igual poder de decisão na gestão da escola”. O termo “clientela” apresenta indícios que nos remetem à concepção empresarial de gestão, que vislumbra os alunos, pais e a comunidade como possíveis “clientes” e não como sujeitos, como atores da comunidade na qual estão inseridos. Essa concepção altera a forma e o sentido de participação desses sujeitos no espaço escolar. Paro (2015, p. 97) alerta para a tomada de medidas, e aqui acrescentamos para o uso de termos análogos aos utilizados em unidades produtivas; o autor denomina esses usos de equívocos e afirma que isso “[...] leva a administração da escola a orientar-se pelos mesmos princípios e métodos adotados em empresa capitalista, que tem objetivos antagônicos ao da educação”. Carvalho (2009, p. 1159) sustenta que, na perspectiva gerencialista de gestão, a escola é tida como uma empresa. Nessa concepção, a educação é vista “[...] como um serviço que deve primar pela satisfação do cidadão enquanto cliente-consumidor individual”.

O termo quando utilizado no roteiro de elaboração dos Planos de Gestão Escolar de Santa Catarina, anunciados como possibilitadores de uma gestão democrática, evidencia contradição, uma vez que, nessa perspectiva de gestão, a comunidade escolar não é tida como cliente da escola, e sim integrante, parte constituinte desse espaço.

Já o processo de elaboração dos PGEs 2016 a 2019 seguiu as orientações da portaria 024/2015 da SED/SC, que regulamentou a seleção dos Planos de Gestão das Unidades Escolares da Educação Básica e Profissional da rede estadual de educação, em todos os níveis e modalidades de ensino, e o exercício da função de diretor de escola.

24 Disponível em: http://www.sed.sc.gov.br/documentos/plano-de-gestao-escolar-409/processo-2014-567.

Acesso em: 4 jan. 2019.

25 Em 2015, foi publicada a portaria 024/2015, que orientou a elaboração dos PGEs 2016-2019; a estrutura dos

Segundo o roteiro, ao elaborar o seu PGE, o proponente “Deve ter como base o projeto político-pedagógico da escola, a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina e a legislação vigente” (SC, 2013). A exemplo do processo de escolha do PGE realizado em 2014, no processo 2015, o proponente deveria seguir as orientações e o roteiro preestabelecidos pela portaria, como pode ser observado no quadro a seguir.

Quadro 1 – Estrutura dos Planos de Gestão Escolar (2016 a 2019)

(continua)

Componente Subcomponentes/Orientação Número de caracteres

Dados do proponente e da unidade escolar 1. 1. Identificação do proponente Matrícula Nome Data de nascimento CPF Endereço residencial Telefone E-mail Não definido 2.Identificação da unidade escolar Nome Regional Município Endereço

Níveis e modalidades de ensino ofertados Quantidade de turmas por etapas e modalidades de educação e turno

Quantidade de professores em exercício da docência (efetivos e temporários)

Quantidade de professores em outras atividades na escola

Quantidade de servidores

OBS.: Ao digitar o código lotacional da unidade escolar, os dados da unidade escolar foram importados automaticamente do Sistema de Gestão Educacional de Santa Catarina (SISGESC).

Não definido

3. Comprovação de formação em gestão escolar

Realizar o cadastro do curso de formação continuada ou do comprovante de matrícula em curso de Gestão Escolar; Escanear o certificado ou o comprovante de matrícula do curso em Gestão Escolar, frente e verso, em arquivo único no formato em PDF e postar no WEBGESC – Plano de Gestão Escolar.

02 Megabytes

4. Formação acadêmica Nível de ensino;

Curso habilitado (instituição; início e conclusão).

Não definido

Plano de Gestão Escolar 5. Título do Plano de Gestão Escolar

(continuação)

Componente Subcomponentes/Orientação Número de caracteres

6. Referencial teórico Apresentar referencial teórico que sustentará o trabalho desenvolvido na escola e processo de ensino e aprendizagem.

8000 caracteres

7. Objetivo geral De natureza qualitativa, deverá explicitar o resultado mais abrangente que se pretende atingir ao final da realização do Plano de Gestão.

800 caracteres

8. Diagnóstico da escola O diagnóstico é uma das etapas mais importantes de todo planejamento, pois representa o momento em que se confronta a realidade que se pretende alterar. Para que o diagnóstico apresente a realidade da escola, em sua complexidade, precisa ser elaborado com a participação da comunidade escolar. Para tanto, quanto mais informações relevantes puderem ser reunidas no diagnóstico, maiores as chances de o plano ser bem elaborado. Assim, é importante descrever:

O diagnóstico e suas dimensões poderiam apresentar até 16000 caracteres. 8.1 Dimensão socioeconômica

Caracterização da clientela da escola: - renda familiar;

-nível de instrução dos pais ou responsáveis;

-profissões predominantes dos pais ou responsáveis;

- procedência das famílias;

- etnias (percentuais aproximados);

- participação das famílias em organizações comunitárias.

O diagnóstico e suas dimensões poderiam apresentar até 16000 caracteres.

8.2 Dimensão pedagógica - Processo de ensino-aprendizagem. - Conteúdos curriculares e sua adequação à Proposta Curricular de SC e Documento de “Orientação curricular com foco no que ensinar: Conceitos e conteúdos para a Educação Básica (Documento Preliminar)”, de setembro de 2011. - Metodologia de ensino.

- Avaliação da aprendizagem. - Relação professor/estudante.

-Reuniões pedagógicas, cursos, seminários. - Projetos pedagógicos.

- Matrícula.

-Rendimento: aprovação, reprovação e abandono.

- Desempenho acadêmico dos estudantes em avaliações externas (SAEB, Prova Brasil, IDEB, ENEM, Olimpíadas Nacionais).

-Acompanhamento das atividades de aprendizagem dos estudantes pelos pais.

O diagnóstico e suas dimensões poderiam apresentar até 16000 caracteres.

(continuação)

Componente Subcomponentes/Orientação Número de caracteres

8.3 Dimensão administrativa

- Formação acadêmica e profissional do corpo docente e diretivo.

- Condições de trabalho, inclusive o plano de valorização dos profissionais da educação.

- Forma de atendimento dos estudantes, pais e professores.

- Documentação dos estudantes e professores.

- Proposta de Avaliação Institucional. - Participação da comunidade escolar nas instâncias deliberativas da escola.

O diagnóstico e suas dimensões poderiam apresentar até 16000 caracteres.

8.4 Dimensão financeira - As alternativas de captação (PDDE, PRODENE, outros...) e aplicação dos recursos financeiros para melhorar a permanência do estudante na escola: planejamento de aquisições diversas (material didático-pedagógico, material de consumo, reparos nas instalações físicas, outros), cursos de formação dos profissionais da escola, participação em feiras, seminários, etc.

O diagnóstico e suas dimensões poderiam apresentar até 16000 caracteres.

8.5 Dimensão física -Instalações gerais: biblioteca (espaço físico, acervo, serviços oferecidos), secretaria, salas de aula e outras, sanitários, etc.

-Instalações, condições materiais de laboratórios específicos: ciências, sala de tecnologias, etc.

-Condições de acessibilidade para pessoa/estudante com deficiência.

- Áreas de convivência e infraestrutura para o desenvolvimento de atividades esportivas, de recreação e culturais. - Local de alimentação e de oferta de serviços.

O diagnóstico e suas dimensões poderiam apresentar até 16000 caracteres.

9. Metas São de natureza quantitativa. As metas devem ser globais, por dimensão, tendo por referência o tempo de vigência do Plano de Gestão Escolar. Vale lembrar que as metas devem guardar coerência com o objetivo e devem ter o foco na superação das limitações apontadas no diagnóstico.

150 caracteres para cada meta

10. Ações São os meios para atingir as metas e os objetivos, considerando as medidas que visam sanar as principais causas dos problemas apontados no diagnóstico, referente às dimensões pedagógica, administrativa, financeira e física. Se as ações forem bem definidas e executadas, as metas e os objetivos serão atingidos.

Definidos por dimensão conforme especificação respectiva a seguir.

(continuação)

Componente Subcomponentes/Orientação Número de caracteres

10.1 Dimensão pedagógica

É necessário que o proponente apresente pelo menos uma ação dentro de cada dimensão; caso não haja nenhuma ação prevista para determinada dimensão, faz-se necessário justificar o motivo. Cada ação apresentada deverá contemplar os seguintes itens:

- objetivos específicos: definir os objetivos

específicos das ações, por dimensão;

- período: estabelecimento de data para a

realização da ação;

- público-alvo: a quem se destina a ação; - recurso: apontar o recurso financeiro que

será utilizado para a realização da ação;

- responsáveis pela ação: definir quem

será responsável pela execução de cada ação. Ação: 1000 caracteres. Objetivos específicos: 1000 caracteres. Período: 16 caracteres. Público-alvo: 200 caracteres. Recurso: 200 caracteres. Responsáveis pela ação:

100 caracteres.

10.2 Dimensão administrativa

É necessário que o proponente apresente pelo menos uma ação dentro de cada dimensão; caso não haja nenhuma ação prevista para determinada dimensão, faz-se necessário justificar o motivo. Cada ação apresentada deverá contemplar os seguintes itens:

- objetivos específicos: definir os objetivos

específicos das ações, por dimensão;

- período: estabelecimento de data para a

realização da ação;

- público-alvo: a quem se destina a ação; - recurso: apontar o recurso financeiro que

será utilizado para a realização da ação;

- responsáveis pela ação: definir quem

será responsável pela execução de cada ação. Ação: 1000 caracteres. Objetivos específicos: 1000 caracteres. Período: 16 caracteres. Público-alvo: 200 caracteres. Recurso: 200 caracteres. Responsáveis pela ação:

100 caracteres.

10.3 Dimensão financeira É necessário que o proponente apresente pelo menos uma ação dentro de cada dimensão; caso não haja nenhuma ação prevista para determinada dimensão, faz-se necessário justificar o motivo. Cada ação apresentada deverá contemplar os seguintes itens:

-objetivos específicos: definir os objetivos

específicos das ações, por dimensão;

-período: estabelecimento de data para a

realização da ação;

-público-alvo: a quem se destina a ação; -recurso: apontar o recurso financeiro que

será utilizado para a realização da ação;

-responsáveis pela ação: definir quem será

responsável pela execução de cada ação.

Ação: 1000 caracteres. Objetivos específicos: 1000 caracteres. Período: 16 caracteres. Público-alvo: 200 caracteres. Recurso: 200 caracteres. Responsáveis pela ação:

(conclusão)

Componente Subcomponentes/Orientação Número de caracteres

10.4 Dimensão física É necessário que o proponente apresente pelo menos uma ação dentro de cada dimensão; caso não haja nenhuma ação prevista para determinada dimensão, faz-se necessário justificar o motivo. Cada ação apresentada deverá contemplar os seguintes itens:

- objetivos específicos: definir os objetivos

específicos das ações, por dimensão;

- período: estabelecimento de data para a

realização da ação;

- público-alvo: a quem se destina a ação; - recurso: apontar o recurso financeiro que

será utilizado para a realização da ação;

- responsáveis pela ação: definir quem

será responsável pela execução de cada ação. Ação: 1000 caracteres. Objetivos específicos: 1000 caracteres. Período: 16 caracteres. Público-alvo: 200 caracteres. Recurso: 200 caracteres. Responsáveis pela ação:

100 caracteres.

11. Avaliação do plano Apontar o método e a periodicidade da avaliação.

1400 caracteres

12. Considerações finais Acrescentar informações ou comentários que julgar necessários.

2800 caracteres

13. Referências Relacionar obras, periódicos ou demais textos consultados para fundamentar o Plano de Gestão Escolar.

1400 caracteres

14. Parecer do consultor Considerações realizadas a partir da análise e qualificação do plano pelo consultor ad

hoc.

Não definido

Fonte: elaborado pela autora (2019) a partir da Portaria SED/SC n. 024/2015, sistema WEBGESC/Plano de Gestão Escolar26 e Nascimento (2015).

Identificamos poucas alterações na estrutura do plano se comparado ao processo anterior. O processo de 2015 contou com a participação de novos profissionais que se enquadraram nos requisitos do decreto que instituiu a “nova” forma de escolha do gestor e de gestão das escolas públicas catarinenses; foi enfatizada no roteiro a importância da formação específica do gestor, que deveria apresentar comprovação de formação ou matrícula em curso de gestão escolar. Esse item já estava presente no processo anterior regulamentado pela portaria SED/SC 01/2014 e foi reiterado pelo artigo 18º da portaria SED/SC 024/2015:

A comprovação de formação continuada em gestão escolar ou de matrícula em curso de formação continuada em gestão escolar, de no mínimo 200 (duzentas) horas, deverá ser realizada em processos desenvolvidos pela SED ou por instituição de ensino superior por ela credenciada ou em curso de pós-graduação latu sensu,

26 Disponível em: http://sistemas2.sed.sc.gov.br/webgesc/wpusuextbuscapge.aspx. Tomamos como referência a

ofertado por instituição de ensino superior autorizada pelo MEC – Ministério da Educação e/ou CNE – Conselho Nacional de Educação/CEE – Conselho Estadual de Educação.

Destacamos que, em relação à formação do gestor escolar, há diferentes opiniões entre os estudiosos do assunto. Paro (2015, p. 113) defende a perspectiva de que o “O diretor deve ser um educador [...]”, pois todo professor é um conhecedor dos processos pedagógicos da escola, uma das condições necessárias para ser um bom gestor. Faz uma crítica às formações continuadas e palestras oferecidas aos gestores que diferem do seu contexto e de sua prática cotidiana. Afirma que é comum ouvir dos dirigentes escolares “[...] que frequentam ou frequentaram tais cursos é que estes servem quase tão somente para atribuir ‘pontos’ na carreira escolar, porque tal formação fica distante dos problemas que os diretores enfrentam em seu dia a dia” (PARO, 2015, p. 113).

Já Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 476) afirmam que “Todos os profissionais da escola precisam estar aptos a dirigir e participar das formas de gestão”. No entanto, em razão da natureza da função, “[...] da necessária divisão de funções, correspondente à lógica da administração, deve-se ressaltar que algumas pessoas têm atribuições específicas de direção e coordenação, o que implica especialização profissional”. Enfatizam, ainda, que a função requer “[...] uma formação específica a fim de buscar soluções para os problemas, saber coordenar o trabalho conjunto, discutir e avaliar a prática, assessorar os professores e prestar- lhes apoio logístico na sala de aula”.

Melo e Torres (2017, p. 825) citam Souza (2006), em que cujos estudos evidenciam “que a formação específica não influencia muito a prática do diretor escolar”; os resultados de suas pesquisas apontam que “[...] não há diferença nos resultados dos trabalhos desenvolvidos por diretores com formação específica e de diretores com outra formação docente”.

Há autores que defendem que a formação continuada tem papel importante na formação do gestor, desde que vinculada com sua função e realidade vivenciada ao desempenhá-la; no entanto, “Os conteúdos a serem abordados são importantes, mas precisam ser vinculados a elementos que tenham relação direta com a essência da função a ser desempenhada” (SOUZA; GOUVEIA, 2010, p. 176).

Em relação aos conhecimentos necessários ao gestor escolar, afirmam Souza e Gouveia (2010):

A formação específica predominante para atuar na direção escolar, assim, não é uma formação técnico-administrativa, mas uma formação político-pedagógica os fundamentos do direito à educação, sobre as políticas educacionais e sua gestão,

sobre a organização escolar e educacional no país, sobre o planejamento escolar e educacional, elementos que determinam os conteúdos das salas ambiente/disciplinas do referido curso (SOUZA; GOUVEIA, 2010, p. 176-177).

Em Santa Catarina, a legislação que norteia o processo de escolha do gestor escolar e a forma de governança das escolas, prevê que o proponente do PGE seja um educador com formação em licenciatura plena nas diferentes áreas do conhecimento que abrangem a educação, porém exige que o candidato apresente curso de especialização em gestão escolar ou curso de formação continuada de no mínimo 200 horas em instituições credenciadas. A confirmação dessa condição é um pré-requisito para a postagem e homologação da inscrição do PGE. Além disso, o gestor, ao assumir, deve frequentar curso de formação continuada oferecido pela SED/GERED/SC. Diante das contribuições dos teóricos e estudiosos do assunto, essa perspectiva corrobora com aqueles que defendem que todo educador pode exercer a função de gestor, mas, por outro lado, exige formação na área de atuação, um dos pré-requisitos para a inscrição/homologação do PGE. A formação continuada é ofertada pela SED/SC por meio de cursos descentralizados que acontecem nas GEREDs.

Outro aspecto que chama a atenção no processo de escolha dos novos gestores, que aconteceu em 2015, é a manutenção do termo “clientela da escola”, forma essa de identificar os alunos, pais e responsáveis, conforme observado no diagnóstico proposto pela portaria 024/2015 (SED/SC), parte que integra a estrutura do PGE em sua dimensão socioeconômica. Essa questão já havia chamado a atenção no processo de 2014, na análise de Nascimento (2015) e foi mantida no processo de escolha de 2015. Ou seja, há indícios de que a concepção empresarial, na qual esses sujeitos são considerados clientes, possa estar presente na conformação dos Planos de Gestão Escolar.

1.5.1 Planos de Gestão Escolar (2014-2015)

O decreto SC 1794/2013 previa que os gestores que estavam na função, indicados pelo poder executivo, uma das formas consideradas menos democráticas de escolha de dirigentes escolares, poderiam continuar na gestão caso apresentassem um PGE e ele fosse aprovado em todas as etapas previstas na legislação e escolhido pela comunidade escolar.

Dessa forma, gestores que atuavam nas escolas públicas estaduais por meio da indicação puderam elaborar seu Plano de Gestão Escolar. Apenas nas escolas em que houve vacância do cargo houve uma nova seleção de dirigentes escolares. Os PGEs foram avaliados por consultores ad hoc e submetidos à consulta pública junto aos diferentes atores da

comunidade escolar. Conforme a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina (SED/SC), isso representa “[...] uma nova forma de escolha da função de diretor na rede estadual de ensino, por meio da seleção de Plano de Gestão Escolar”27. Os primeiros Planos

de Gestão Escolar tiveram vigência até 31 de dezembro de 2015 (SANTA CATARINA, 2013). No primeiro processo de seleção, as etapas do processo de escolha dos PGEs seguiram o cronograma definido pelo edital n. 07/SED/13/03/1428; esse documento sofreu alterações em relação às datas inicialmente previstas, publicadas no Diário Oficial em 13 de maio de 2013. As inscrições e postagens dos PGEs aconteceram entre 24 de março e 17 de abril. A análise e a qualificação dos PGEs pelos consultores ad hoc aconteceram entre 18 de abril e 10