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Planta altimétrica da área de reflorestamento na gleba Mundo Novo

Fonte: Museu pe. Fernado Naguel- Maravilha-SC

Com o tempo algumas serrarias que trabalhavam em parceria com a Companhia Sul Brasil foram deixando a região. É o caso da Ghen, Bevgnú e Cia Ltda, que vendeu a Serraria Irajá de Maravilha para a Companhia Sul Brasil. A colonizadora, adquiria também o projeto de reflorestamento, aprovado de n°68/71, executado em Passo Fundo-RS, que tinha validade para os anos de 1971 a 1975, dando cobertura para serrar 13.125m³ de madeira de pinho, e/ou 11.250m³ de outras madeiras. A serraria Irajá tinha declarado possuir uma reserva de 600

pinheiros, equivalente a 1.200m³ de pinho serrado, e 13.800 árvores de lei e qualidade, equivalente a 13.800m³, o que garantiria alguns anos de atividade287.

A Companhia Sul Brasil na década de 1970 não demonstrava os mesmos resultados e lucros do passado, dado a diminuição das reservas nativas de florestas. Por vezes figuram observações acerca dos prejuízos da colonizadora, como em carta de novembro de 1970 onde os auditores fiscais desaconselham a companhia fazer um novo reflorestamento, e sim transferir este ao Banmercio288, que poderia utilizar na desoneração fiscal, “não tendo a Sul Brasil este encargo, uma vez que deverá apresentar prejuízo, de nada adiantaria o investimento”289. Outra carta trata da venda da Fazenda Santa Alda no estado do Mato Grosso, que seria “uma das formas para resolver a crise financeira da companhia”290.

O recorte temporal da presente pesquisa é fixado até 31 de janeiro de 1978, quando a companhia trocou sua razão social, passando a denominação de Terrapampa- Territorial Agropastoril do Sul Ltda. A partir de então buscou diversificar sua atuação nas mais variadas atividades de negócios. A descrição dos objetivos sociais aparecem na ata de transformação da companhia, se dedicaria: a comprar, vender, plantar e extrair madeiras e seus subprodutos; no reflorestamento e florestamentos; comercializar cereais, sementes e produtos agrícolas; criação de gado; na colonização e em imóveis; na compra, venda e importação de máquinas e implementos agrícolas e na exploração de armazéns de vendas de produtos em geral291.

Podemos afirmar que por parte da Companhia Sul Brasil, durante os anos de sua atuação, não teve uma preocupação ambiental para a preservação da floresta. Não encontramos nenhuma tentativa de exploração ordenada que garantiria uma sustentabilidade na atividade madeireira. A companhia por ser uma colonizadora, seu objetivo primeiro era a venda de lotes e a atividade madeireira acabou com o tempo se tornando mais lucrativo. Na década de 1970, ao ter a maior parte dos lotes vendidos e explorar suas últimas reservas florestais diminuía sua importância na região, pois não manteria os resultados econômicos de outros tempos.

287 MAURO PINHO GOMES. IBDF: Informação processo N°2437/73. Joinville, 25 abr. 1973.

288 O Banmercio, antigo Banco Nacional do Comércio e a Companhia Sul Brasil sempre mantiveram relação, pois

a companhia era subsidiária do Banco.

289 MACHADO, Luiz. [Correspondência]. Ao escritório administrativo da Companhia em Palmitos-SC: IBS

Auditores Fiscais Ltda. Porto alegre, 09 nov. 1970.

290 COMPANHIA TERRITORIAL SUL BRASIL. [correspondência]. Ao escritório administrativo da Companhia

em Palmitos-SC: fazenda santa Alda-MT- partes adjacentes. Porto alegre, 17 abr. 1970.

291 COMPANHIA TERRITORIAL SUL BRASIL. Ata de assembleia geral extraordinária de transformação de

sociedade anônima em sociedade por cotas de responsabilidade limitada, sob a denominação social de Terrapampa- Territorial Agropastoril do Sul Ltda. Porto Alegre: 31 jan. 1978. p. 2-3.

4.4.1 O que sobrou da floresta?

A Companhia Territorial Sul Brasil deixou a sua marca na paisagem da região ao final de 52 anos (1925-1978). O resultado de anos de atuação foi um grande desmatamento, que tem como principal consequência a redução da rica biodiversidade. A derrubada das matas ocorreu em um longo processo de mudanças e permanências, sejam sociais, econômicas e ambientais.

O crescimento populacional promovido pela colonização foi um dos motivos da pressão ao ecossistema, com o fluxo migratório constante do Rio Grande do Sul. O estado de Santa Catarina foi o que mais recebeu migrantes gaúchos entre as décadas de 1920 e 1960. Após ocupadas as terras do Oeste, a migração de gaúchos passou a atingir outros estados, como Paraná e Mato Grosso, além da província de Missiones na Argentina e no Paraguai292.

A venda dos lotes nas terras da Companhia Sul Brasil aumentou após a década de 1940, atingindo 12.981 lotes vendidos em 1952. A previsão inicial da colonizadora era vender 11.000 lotes em toda a área, mas ultrapassou a expectativa na medida que eram demarcadas as sedes coloniais, com os lotes e chácaras urbanas. A densidade demográfica observada nas terras da companhia indica o sucesso da ocupação dos lotes. Em 1950 estimavam cerca de 29.000 habitantes nas terras da companhia, que representava uma densidade demográfica de 10,45 hab/Km². Esse número praticamente dobrou em 1960, para 19,10 hab/km², e aumentou para 30,42 hab/km² em 1970, conforme os dados da Tabela 2.

Os lotes rurais vendidos, tinham nas cláusulas a reserva de madeira para a exploração da Companhia Sul Brasil, principalmente pinheiro (Araucaria angustifolia), cedro (Cedrela fissilis), louros (Cordia trichotoma) e grápia (Apuleia leiocarpa). Aliado a exploração comercial da madeira reservada para a companhia, o aumento populacional de pequenos agricultores tinha influência direta no desmatamento, principalmente pela necessidade de limpar a área de mato para a agricultura e pecuária. A regeneração da floresta estava comprometida, pois ao explorar as madeiras da floresta e vendendo um lote para a agricultura familiar, desmatava-se muito, restando apenas áreas fragmentadas em locais de difícil acesso a lavouras.

As serrarias e o mercado madeireiro varriam as matas com um corte seletivo pois, buscavam árvores de qualidade e porte grande, mas aliado a derrubada que ocorria para fins agrícolas e coleta de lenha, ambas geravam desmatamentos irreversíveis no curto prazo. A porcentagem da população rural no ano de 1970 nos municípios das terras da companhia era de

85,40%293, bem acima da porcentagem estadual, que era de 56,77%. Ou seja, a população

composta na região era basicamente rural, e seu aumento populacional vegetativo ocasionava um consequente aumento das áreas ocupadas pela colonização (Tabela 2), em detrimento das florestas.

É difícil mensurar a quantidade de área desmatada e dos remanescentes florestais, no período final da atuação da Companhia Sul Brasil, na década de 1970. Muitos elementos indicam as causas, como: o aumento da população, as atividades agrícolas, pastoris, a obtenção de lenha e a indústria madeireira. Estas fontes nos levam a crer que ao final da atuação da colonizadora as áreas de sul a norte estavam completamente exploradas e ocupadas. Os documentos das serrarias também indicam a intensa exploração de pinheiros, cedro, louro e grápia restando poucos espécimes atualmente.

Conforme os levantamentos do IFFSC, existem espécies de plantas principalmente da FED com dificuldade para serem encontrados, mencionando 150 espécies com apenas um ou dois indivíduos encontrados em todo o estado294. A grápia é a árvore símbolo da FED, mas

sobrou poucos exemplares dessa espécie. A FED representa a tipologia florestal mais gravemente afetada pela colonização em Santa Catarina, pois sua grande fragmentação causou perdas e empobrecimento da biodiversidade própria dessa fitogeografia.

O recente estudo de Franco de Paula295 analisando um dos municípios das terras da Companhia Sul Brasil, Palmitos-SC, a partir de imagens de Sistema de Informação Geográfica (SIG) demonstram o aumento significativo do desmatamento na região da FED, conforme Mapa 12. Podemos observar no mapa, que até 1957 o município contava com uma cobertura vegetal equivalente a 58% de seu território, e 21 anos depois, em 1978, contava com apenas 26,4% do total. Seria importante realizar uma análise por satélite de todas as terras da companhia, porém se utilizarmos esse dado, 26,4% de remanescentes em Palmitos, como média de remanescentes de vegetação para as terras da companhia no ano de 1978, teríamos cerca de 204.080,6 hectares de floresta desmatada em toda a área da companhia.

293 Os municípios que existiam nas terras da Companhia Sul Brasil em 1970 eram: Cunha Porã, Maravilha,

Modelo, Palmitos, Pinhalzinho, São Carlos e Saudades. Os dados utilizados foram do VIII recenseamento geral de 1970. IBGE. Sinopse preliminar do censo demográfico: VIII recenseamento geral de 1970: Santa Catarina.

Rio de Janeiro, mar. 1971. Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/311/cd_1970_sinopse_preliminar_sc.pdf. Acesso em: 02 mai. 2020.

294 VIBRANS, A. et., al., Extensão original e remanescentes da Floresta Estacional Decidual em Santa Catarina.

Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, v. 2, p. 25-31, 2012.

295 PAULA, Franco Emiliano de. Histórico de devastação da Floresta Estacional Decidual do rio Uruguai em

Santa Catarina: um enfoque no município de Palmitos. Monografia (Graduação em Geografia). UFSC,