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5 INSTITUTOS DE EXERCÍCIO DIRETO DA SOBERANIA

5.2 Plebiscito e Referendo

Plebiscito é o primeiro dos instrumentos de democracia participativa que estão à disposição do povo (Art. 14, inciso I, da CRFB/1988). Consiste na possibilidade de o eleitorado decidir uma determinada questão de destaque para os destinos da sociedade, com efeito, vinculante para as autoridades públicas atingidas. É salutar observar que essa consulta popular cabe o Congresso Nacional autorizar, como bem dispõe no art. 49, inciso Xv da CRFB. Nesta modalidade, o povo é convocado ao ato legislativo ou administrativo, para votar, aprovando ou denegando aquela matéria que lhe tenha sido submetida.

Alguns autores consideram-no de democracia semi-direta, porém não é o aceitável, pois a participação se dá de forma direta; o povo decide diretamente, sem intermediários ou representantes. É importante afirmar que a eventual interferência dos representantes populares na realização de atos posteriores, não invalida tal medida, tendo em vista a natureza vinculativa da decisão plebiscitária.

Disciplina a Constituição (art.14, caput) que ela se dará “nos termos da lei”. Logo, lei ordinária poderá convocar o plebiscito, sem que haja qualquer limitação temática, destarte, contudo, é preciso que haja uma fundada evidencia e interesse no assunto a ser submetido à vontade popular, não podendo ser utilizado tal mecanismo para decisões ordinárias, as quais a lei prever meios próprios.

Pelo sistema constitucional vigente o plebiscito ou o referendo é previsto em três hipóteses:

a) De forma ampla, nas questões de relevância nacional (Lei 9.709/98, art. 1°, parágrafo único c/c art. 2°)

Esse tipo de consulta aos cidadãos requer os seguintes requisitos:

1 – Convocação mediante decreto legislativo aprovado por 1/3 dos membros de qualquer das Casas do Congresso;

2– Questões de relevância nacional de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo;

3 – Se o plebiscito for contrario à proposta apresentada ele vincula o Congresso Nacional que não poderá deliberar sobre o assunto. No entanto, se a proposta for aprovada através de plebiscito, isto não obriga que o Congresso Nacional, ao deliberar sobre o assunto, transforme-o em lei, pois o plebiscito tem a

finalidade de autorizar o Congresso a deliberar sobre a matéria, e não o obrigar a transformá-lo em lei.

b) Plebiscito em decorrência de subdivisão, desmembramento eanexação de Estados ou Territórios (CRFB, art.18, §3°).

Conforme determina a Constituição Federal, são requisitos para este tipo de proposta:

1 – Convocação mediante decreto legislativo aprovado por 1/3 dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional.

2 – Plebiscito da população interessada. Se o plebiscito for desfavorável, não poderá prosseguir a deliberação (a aprovação da proposta no plebiscito é condição de procedibilidade deste processo).

3 – Após o plebiscito, se este for favorável, a AssembléiaLergislativa será consultada sobre a viabilidade social, econômica, política que decorrerá da mudança do ordenamento territorial (art. 48, VI, CRFB).

4 – Por fim, haverá a necessidade de a nova ordem territorial ser aprovada mediante Lei Complementar do Congresso Nacional, a qual não se vincula nem à consulta realizada à Assembléia Legislativa (negativa ou positiva), nem ao plebiscito favorável.

c) Plebiscito em decorrência da criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios (art. 18, §4°, CRFB).

Esta norma constitucional foi regulamentada pela Lei 9+709/98, deste modo há a necessidade de observância dos seguintes requisitos:

1 – Convocação da Assembléia Legislativa, em conformidade com a legislação federal e estadual;

2 – Plebiscito da população diretamente interessada;

3 – Lei estadual dentro do período estabelecido por lei complementar federal, merecendo salientar a inexistência no ordenamento jurídico desta lei complementar federal, razão pela qual toda criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios, atualmente é inconstitucional.

4 – Estudo de viabilidade municipal cujas diretrizes devem ser estabelecidas em lei ordinária federal.

Em relação a criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios, observou-se que deverá ser realizada por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, ainda diz-se que esta lei federal não

existe, sendo que todas as disposições territoriais municipais seriam inconstitucionais.

O referendo (referendum) também importa na participação do povo, mediante voto, mas com o fim específico de confirmar, ou não, um ato governamental. A decisão do referendo, assim como a do plebiscito, tem eficácia vinculativa, não podendo ser desrespeitada pelo administrador.

Canotilho204 diz que referendo “é o procedimento formal regulado por lei, pois a Constituição assim determin. O poder de iniciativa compete aos órgãos do Estado (somente ao órgão do qual emana o ato, em virtude do princípio da separação dos poderes) ou a certo número de cidadãod (iniciativa popular).

Dessa forma, concorda-se que a participação se dá de forma semi-direta, pois o ato existe e deve apenas ser confirmado. Logo a participação popular não é direta como ocorre no plebiscito, quando o próprio povo decidirá sobre a realização ou não do ato.

Contudo, não se pode negar que sua aplicação mais corriqueira se refere mesmo aos atos do Poder Legislativo. Aliás deixando clara a fragilidade e a imaturidade de nossa democracia, o mecanismo não foi utilizado sequer uma vez nos primeiros dez anos de vida da Carta Magna.

No entanto, cabe, ressaltar por oportuno que, no primeiro referendo foi realizado em outubro de 2005, sobre a comercialização de armamento de fogo, o Legislador adotou a regra de que o referendo vincularia ao Congresso Nacional, pois, expressamente, que a vedação a comercialização de armas de fogo só teria aplicabilidade se o referendo fosse favorável a proibição. Nesse sentido, dispõe o artigo 35 da lei 10.826/2003:

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6º desta Lei. § 1º Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005.

§ 2º Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

204 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Coimbra:

Almedina, 1997, p. 188.