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Fonte: Elaboração própria, com dados de BDEP.

Consolidação do petróleo em terra e a Petrobras como braço do Estado nas atividades de exploração e produção (1954-1973)

Após uma longa e intensa jornada de movimentações populares a favor do monopólio estatal sobre as reservas e atividades ligadas à exploração dos hidrocarbonetos presentes no território brasileiro, vastamente conhecida como campanha do “Petróleo é Nosso” (Cohn, 1968), foi-se colocado para discussão no

interior da Câmara dos Deputados a proposta de criação de uma empresa para esse fim. Dentre as diversas propostas levantas sobre a natureza jurídica da empresa, optou-se pela “sociedade por ações”, assim, a empresa poderia vender suas ações ao público, na forma de ações ordinárias nominativas, podendo ser adquiridas por organizações governamentais e a companhias particulares. Mas para evitar o controle por estrangeiros foi previsto mecanismos para manter o capital estrangeiro em posição minoritária, não podendo individualmente adquirir mais que 1% das ações com direito a voto (Carvalho, 1977).

Desse modo, por meio da promulgação da Lei Nº 2004, de 1953, se instaura o monopólio estatal da pesquisa e lavra de petróleo no território nacional. Para isso, com base na mesma lei, se cria a empresa Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobrás80), que no ano seguinte, em 1954, instala sua sede na cidade do Rio de

Janeiro, então capital federal. Logo ela inicia suas atividades recebendo de forma gradativa as pesquisas e dados sobre os poços já perfurados pelo CNP (Peyerl, 2014), com o objetivo de ampliar as atividades exploratórias de petróleo no Brasil, com vistas a atender a crescente demanda por combustíveis, diminuindo a dependência com relação à importação desses produtos. Todavia, antes era necessário também romper com a forte dependência técnica em exploração e produção do óleo cru que assolava a formação socioespacial brasileira.

80 Quando a Petrobras ganhar a grafia “Petrobrás” (com acento agudo), o intuito é marcar um período histórico específico, a saber, antes da década de 1990. Durante essa década o acento cai durante um processo de internacionalização da empresa e tentativa de privatização pelo governo federal. Até o presente momento existe uma forte disputa política com relação a essa grafia, em que os movimentos defensores nacionalistas da empresa, sobretudo de sindicatos de trabalhadores da companhia, defendem a forma “Petrobrás”, precisamente por sua grafia particular do português brasileiro. Como afirma Moraes (2018, p. 121) “A FUP [Federação Única dos Petroleiros] voltou a acentuar o nome Petrobrás em fevereiro de 2002, após decisão conjunta dos sindicatos da categoria". Aqui, apesar de considerar tal questão de extrema relevância política, deu-se preferência à sua forma sem acento, “Petrobras”, sendo essa a grafia utilizada na maioria dos documentos da empresa atualmente.

Com isso, em 1955, a diretoria da Petrobrás decide criar, com apoio do CNP, o Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisas de Petróleo (CENAP), instalado na ainda Universidade do Brasil (posteriormente UFRJ). Esse centro tinha como primeira grande tarefa a formação e melhor capacitação de profissionais brasileiros que já atuavam ou viriam a atuar na indústria do petróleo, tanto nos segmentos de refino como nos de exploração e produção. Mesmo no CENAP a dependência internacional não foi totalmente rompida, sendo alguns cursos, como o de Perfuração e Produção e de Geologia do Petróleo ministrados, em parte, por professores norte-americanos (Morais, 2013).

Ainda nesse mesmo período, os investimentos da Petrobrás vão além do treinamento de profissionais para o setor e desenvolvimento tecnológico. Por meio de seu Departamento de Exploração (DEPEX), ela dá início a um novo programa de exploração de novas reservas. O primeiro ponto escolhido foi o Recôncavo baiano, com o objetivo de verificar as possibilidades de existência de reservas importantes, já apontadas nos relatórios do CNP, ampliando esses estudos também em direção aos estados de Sergipe e Alagoas. Outro objetivo do DEPEX era iniciar atividades de sondagem nas duas maiores bacias sedimentares do território brasileiro: a do Paraná e do Amazonas. Até o final da década de 60 outras diversas bacias sedimentares tiveram iniciados seus estudos exploratórios realizados por esse mesmo departamento da Petrobrás, a partir da presença de perfuração de poços nesse período. Algumas bacias merecem destaque, pois ganharão maior importância posteriormente: bacia do Rio Grande do Norte, que a princípio não teve grande relevância, mas que a partir da década de 70 se descobre importantes reservas; bacia do Espirito Santo e de Campos, onde se desenvolveram nesse período estudos geofísicos e foram realizadas as primeiras perfurações pioneiras em suas porções terrestres (Dias e Quaglino, 1993).

O crescimento do volume de produção durante esse período foi relativamente significativo, mesmo esta atividade ainda se limitando aos campos localizados no Recôncavo Baiano e em Sergipe e Alagoas. Nesse mesmo movimento, surgem as primeiras grandes refinarias estatais, que começam a operar ainda na década de 50. Segundo (Monié, 2010), esse processo acontece em diversos “países em desenvolvimento” (sic) produtores de petróleo, tendo forte relação com o início da industrialização dessas economias nacionais. Naqueles casos em que as reservas se mostravam mais volumosas o processo se deu com o intuito de elevar o valor agregado dos recursos explorados, comercializando-os internacionalmente, para assim financiar a emergente indústria que neles se instalava. Em países com volumes menores, como era o caso do Brasil, o aumento da capacidade de refino permitiu a construção de uma indústria petroquímica, o que permitiu a produção de uma diversidade maior de derivados, mostrando-se assim como uma importante indústria de base para esses países.

É nesse movimento de instalação de novas refinarias que a Baixada Santista81 passa a participar do circuito espacial do petróleo, em especial na figura da

Refinaria Presidente Bernardes em Cubatão (RPBC). Durante esse período a Petrobras buscava utilizar ao máximo sua alta capacidade de refino para processar o petróleo nacional, em especial o de origem baiana. Todavia, esse petróleo representou no máximo 40% de todo petróleo por ela processado durante as décadas de 50 e 60, sendo o petróleo de origem venezuelana e dos países do Oriente Médio (Goldenstein, 1972). De toda forma, a presença desse fixo geográfico e das atividades ligadas ao refino na cidade de Cubatão fizeram com que aí se desenvolve um centro

81 Importante lembrar que nesse contexto as regiões metropolitanas ainda não haviam sido criadas, o que ocorrerá somente a partir da década 1970. Isso ocorre muito posteriormente no caso da Região Metropolitana da Baixada Santista, criada em 1996.

industrial ligado ao setor de petroquímica, instalando-se outras diversas indústrias que buscavam participar dessa nova economia ligada ao petróleo82.

De forma sintética, durante este período das décadas de 1950 e 1960, as etapas de exploração e produção do CEP do petróleo no Brasil ainda se concentravam nas bacias sedimentares localizadas em terra. A Petrobrás ainda tinha como principal foco de seus investimentos o desenvolvimento dos campos que já haviam iniciado a produção no período anterior, em especial os do Recôncavo e Sergipe-Alagoas (Mapa 14). No entanto, esses campos ainda tinham grande dificuldade de atender a crescente demanda do mercado interno, sendo necessária a importação de quase dois terços de todo o consumo brasileiro. A possibilidade desse cenário se alterar se tornava mais improvável, dada a falta de novas descobertas significantes em terras (Morais, 2013).

Frente a essa situação da produção de petróleo no Brasil, a Petrobrás passa a investir mais efetivamente em pesquisas na plataforma continental, ainda em águas rasas. Poços exploratórios então são perfurados em algumas bacias sedimentares brasileiras, principalmente naquelas localizadas na região nordeste (Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte e Alagoas) e norte (Amapá) do país, onde reservas já se mostravam mais prováveis, tiveram poços exploratórios perfurados.

82 Essa questão será melhor trabalhada no ponto capítulo 4, quando também serão desenvolvidas as análises da participação da RMBS no CEP do petróleo e das transformações de sua economia política.