• Nenhum resultado encontrado

Em Angola, como na generalidade dos países, a pobreza não é homogénea ao longo do território. Apesar de não existirem dados seguros sobre a dimensão da pobreza rural, algumas estimativas da ECP disponíveis apontam para um nível de pobreza rural que nalgumas províncias, poderá ser duas vezes superior ao verificado nos meios urbanos. “A pobreza em Angola é o resultado de uma combinação de fatores históricos, políticos, guerra, ecológicos, demográficos, administrativos e sócio económicos, aliás ela é também um atentado à democracia” (PNUD, 1997).

A linha de pobreza nacional é de 4.973 Cuanzas12 ao mês. O acesso inadequado à

alimentação e a privação de algumas dimensões do bem-estar - como acesso limitado a serviços de saúde, baixo capital humano, habitação inadequada, falta de acesso adequado a bens e serviços. De acordo com as últimas estimativas do INE, 37 por cento dos angolanos são pobres, registando um consumo mensal abaixo da linha de pobreza nacional. A pobreza monetária é muito mais elevada nas áreas rurais, onde 58 por cento das pessoas vive na pobreza, em comparação com 19 por cento da população urbana. Para além das diferenças entre as áreas de residência (rural e urbana), os resultados do inquérito fornecem provas sólidas de que a educação é um dos principais fatores de pobreza em Angola, na medida em que influencia extremamente o acesso aos serviços básicos e a capacidade de gerar ativos financeiros e físicos para o agregado familiar.

Figura 1 - Incidência e Severidade da Pobreza em Angola

Fonte: IBEP, 2008-2009.

Apesar de a agricultura ter sido identificada como área prioritária na estratégia de redução da pobreza, as dotações orçamentais para o setor continuam baixas. “Cerca de dois terços da população depende da agricultura para a alimentação, renda e emprego, sendo que as mulheres constituem a maior parte da força de trabalho e participam em maioria na produção, na colheita, na transformação, na comercialização e na gestão dos lares. Estima-se que 80 por cento dos camponeses praticam a agricultura de subsistência, geralmente produzindo pouco ou nenhum excedente, com produtividade muito baixa. A falta de acesso a fatores de produção agrícolas por parte dos agricultores é um grande obstáculo à produção. A guerra provocou um êxodo maciço da população desde muitas áreas rurais para as urbanas. No fim da guerra cerca de 4 milhões de pessoas (um terço da população) haviam sido deslocadas internamente. No mesmo período, quase 500.000 refugiados angolanos encontravam-se em países vizinhos. A economia rural praticamente entrou em colapso13”.

“A importância da agricultura assenta na redução da fome e da pobreza, na criação de um sistema de segurança alimentar, na geração de emprego e de rendimentos para as famílias, nos papéis associados com a estabilidade, a segurança e a articulação e coesão social e espacial. Estas são razões suficientes para que a agricultura e o mundo rural assumam importâncias estratégicas nas políticas económicas e sociais do país. O mundo rural necessita

[13] FIDA, 2014 - Investir na população rural de Angola. Pobreza rural em Angola. Roma, Itália. Disponível em

http://www.ifad.org/operations/projects/regions/pf/factsheets/angola_port [Acedido a 06 de Setembro de 2014 as 05:04]

de abordagens e de políticas globais e não setorializadas e de curto prazo. A redução e eliminação da pobreza envolve a produção alimentar e de bens geradores de rendimentos para as famílias, a reabilitação da rede comercial e a regulação dos termos de troca entre o campo e a cidade de forma a não penalizar sistematicamente o mundo rural, a oferta e universalização dos serviços básicos14”.

Permita-se-me dizer que apesar das áreas rurais possuírem índices graves de pobreza, mesmo assim algumas pessoas preferem viver nessas regiões em vez das urbanas. Nas regiões rurais em Angola, a oferta dos serviços básicos ainda é deficiente, sobretudo os de saúde, e na ausência dos principais cuidados médicos a taxa de mortalidade infantil é elevada comparativamente com a área urbana. As principais fontes de abastecimento de água faz-se através de chafarizes públicos, cacimbas, e há regiões onde uma parte da população tem que percorrer longos quilómetros à procura de água para o consumo. A educação apresenta as maiores taxas de analfabetismo, com uma redução significativa no ensino primário e secundário. A assistência social é condicionada, porque a exclusão e desigualdade social é gerada pelos sistemas económicos a vários níveis. Há ainda, debilidades nas condições que facilitam a mobilidade de pessoas e bens, mormente em infraestruturas (públicas, privadas e transportes), acesso ao crédito, à terra, a assistência técnica, inserção no mercado de trabalho. Em especial porque uma grande parte das populações que vivem nas áreas rurais estão inseridas no mercado informal, existe fraca atração de obras e projetos edificados e criação de melhores condições técnicas, fluxos altos de migração, tanto por parte de pessoas estrangeiras como nacionais, violência doméstica, fraca formação profissional, entre outros aspetos que caraterizam a ruralidade africana.

O governo tem em carteira programas de auscultação à Mulher Rural e de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza que é um dos maiores programas de inclusão social, no qual tive o privilégio de frequentar um dos workshops realizado a Sul de Angola, na província do Namibe. Este projeto visa reduzir os níveis de pobreza e identificar os principais problemas em particular no meio rural, e promover o acesso da população aos serviços públicos básicos, bem como impulsionar o crescimento e o desenvolvimento sustentável das

[14] MOSCA, 2004. Angola: Agricultura e Desenvolvimento. Piaget, Lisboa/pdf. Disponível em

http://www.saber.ac.mz/bitstream/10857/2108/1/Angola-Agricultura%20e%20Desenvolvimento. [Acedido a 06 de Setembro de 2014 as 05:47]

localidades mais extremas do país. Contempla ainda, vários aspetos de carácter positivo, no domínio dos cuidados primários de saúde, acesso dos cidadãos à água potável, concessão de crédito às microempresas e pessoas individuais, gestão e manutenção de pequenas infraestruturas e do apoio ao associativismo e à participação dos cidadãos na busca de soluções para os problemas das comunidades.

“É de salientar, que a perspetiva do desenvolvimento local vai ganhando corpo com o processo de descentralização rumo à construção de uma paz social baseada na justiça social e económica, o que pressupõe nada menos do que a igualdade de direitos e oportunidades de acessos aos recursos e aos serviços sociais básicos entre homens e mulheres na base de uma planificação estratégica equilibrada do território, que incorpore e potencialize as iniciativas locais, afigurando-se necessária uma maior coordenação intersectorial relativamente aos diferentes programas e projetos para o meio rural que exige uma ação conjugada de toda a sociedade” (MINFAMU, 2014).

“Neste domínio, é notável que há uma apreciação por parte do governo relativamente a estratégia nacional de comércio rural e empreendedorismo, que visa fomentar e diversificar a produção e a comercialização de produtos, fatores de produção e serviços agrícolas, através da construção de infraestruturas logísticas para o armazenamento, processamento e a venda de produtos agropecuários, bem como o escoamento destes para os principais centros de consumo do país. No âmbito da implementação do Programa Nacional de Habitação, foi passado em revista o estado de execução dos subprogramas de construção de casas em todos os municípios, dos subprogramas de construção de diversas centralidades, bem como do subprograma de construção de aldeamentos rurais”, etc. (ANGOP, 14/06/2013).

1.7.Avaliação da Pobreza em Angola com base nos Relatórios de Desenvolvimento

Documentos relacionados