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“Ser pobre para muitos que o são e para a maior parte dos que não são, afigura-se uma coisa desagradável. Se existir diferença de opinião a respeito dos ricos e dos pobres, essa diferença estará na maneira de sentir a questão. É natural que se pense que a pobreza é mais profundamente sentida por quem é pobre, mas isso não é inteiramente seguro” (Galbraith, 1979, p. 15).

“O que se pode observar, apesar disso, é que os sociólogos “fotografaram” a pobreza a partir de diferentes pontos de vista que, evidentemente, não são incompatíveis entre si, mesmo se cada um deles dá propriedade a um aspeto diferente da realidade” (Balsa, 2006, p. 92).

Para as necessidades do exercício que fazemos aqui, Balsa distinguiu quatro leituras, quatro imagens, quatro rostos da pobreza, tal como os sociólogos, parece, a viram ou a veem:

1. “O pobre como marginal: ele é pobre porque está mal socializado ou socializado numa subcultura diferente daquela da maioria das pessoas, ele não tem sucesso porque é estigmatizado (e enclausurado em sua cultura, no seu estigma pelo olhar dos outros);

2. O pobre como explorado: ele é pobre porque é explorado pela classe dominante, porque é alienado, pauperizado, excluído pelo funcionamento do capitalismo, ele não pode ter sucesso porque não é protegido e não é auxiliado;

3. O pobre como dependente: ele é pobre porque não tem autonomia e não tem sucesso, porque não tem capital social suficiente (associatividade, informações, formações, confiança, autonomia);

4. O pobre é desafiado: ele é pobre porque está isolado, atomizado, desestimulado e não tem sucesso porque não participa em formas de solidariedade organizada” (Idem, 2006, p. 92).

“Ainda que a pobreza seja percetível em diversos lugares e situações vem de muitas formas e causa múltiplos danos. Os efeitos da pobreza combinam de diferentes modos e de graus variados, afetando os pobres de forma diferente dependendo dos padrões da sociedade em que cada indivíduo vive. Todavia, as mulheres exceto alguma minoria, têm tendência para serem mais pobres, com raparigas a serem tipicamente as mais carentes” (Psico, 2010, pp. 45- 46).

“Proporcionalmente, a fome e a pobreza atingem mais as mulheres do que os homens. Se alguns dos membros da família têm que passar fome, há uma lei não escrita que diz que tem que ser a mãe. A mãe tem que passar pela traumática experiencia de não poder amamentar o seu filho durante os dias de fome e de penúria” (Yunus, 2007, p. 126). “Nas regiões mais pobres do planeta, há mais raparigas a não frequentar a escola do que rapazes e as disparidades acentuam-se ao nível do ensino secundário, apesar de a escolarização das raparigas nos níveis secundário e superior ser especialmente importante para reduzir a pobreza. O grau de instrução aumenta as potencialidades das mulheres no que diz respeito a obter rendimento, reduz a mortalidade infantil e melhora a saúde em geral. Está também associado a taxas mais baixas de VIH-Sida. Os problemas de saúde reprodutivos constituem a principal causa de morte e de incapacidade das mulheres em todo mundo” (UNFPA, 2005, pp. 2-3).

“Embora um número crescente de mulheres tenha passado a integrar-se na mão-de- obra remunerada, as mulheres vêem-se confrontadas com muitas formas de discriminação, nomeadamente uma escolha limitada de profissões e salários baixos. O trabalho das mulheres das áreas rurais é responsável por 60 a 80 por cento da produção alimentar dos países subdesenvolvidos, mas muitas mulheres são alvo de restrições no que se refere à propriedade, utilização e heranças de terras. A investigação levada a cabo em alguns países da África Subsariana concluiu que a produção poderia chegar a aumentar 20 por cento, se as mulheres tivessem igual acesso ao rendimento da agricultura, aos serviços agrícolas e a terras, bem como ao seu controlo” (Idem, 2005, p. 3).

“Ser pobre, no Bangladesh, é duro para toda gente, mas ser uma mulher pobre é ainda mais duro. Quando lhe é dada a mais pequena oportunidade, ela luta ferozmente para fugir da pobreza. Uma mulher pobre está totalmente desprotegida. Está desprotegida na casa do seu

marido porque ele pode expulsá-la quando quiser. Pode divorciar-se dela dizendo simplesmente três vezes: «Repudio-te, repudio-te, repudio-te.» Ela não sabe ler nem escrever, e, de uma forma geral, nunca foi autorizada a sair de casa para ganhar dinheiro, mesmo que o quisesse” (Yunus, 2007, p. 126). O terceiro Objetivo de Desenvolvimento do Milénio é, efetivamente, promover a igualdade de género e a autonomização da mulher, quer isso dizer, eliminar as disparidades de género no ensino primário e secundário, e se possível em todos os níveis. Com isso, o Banco Mundial assegura que posicionar as mulheres no centro do processo de desenvolvimento não é apenas a coisa certa a fazer, é o mais inteligente que se pode fazer em termos económicos, uma vez que a igualdade de gênero é um impulsor de longo prazo em termos de competitividade e equidade. Os investimentos insuficientes em mulheres e meninas funcionam como um freio na redução da pobreza e limitam o desenvolvimento económico e social. O Banco Mundial está empenhado em integrar o gênero em todos os seus programas.

Neste exercício financeiro, 97 por cento de todas as operações do Banco Mundial tiveram origem no gênero feminino. Isso significa aproximadamente 98 por cento (ou algo em torno de 31 mil milhões de dólares) de empréstimos do Banco Mundial. Na província de Punjabi, no Paquistão, por exemplo, um programa do governo apoiado pelo Banco Mundial fornece remunerações mensais direcionados a mais de 400.000 meninas, com base na frequência escolar (Banco Mundial, 2013, p. 14).

Nesta ótica de ideias, o governo de Angola também tem feito fortes investimentos no sentido de fazer valer a igualdade de género; prova disso é que figura entre os cinco Estados Membros da SADC que estão significativamente perto da meta de paridade no Parlamento, tendo atingido níveis aceitáveis pré - definido previamente pelos líderes regionais para representação de mulheres no Parlamento Nacional. Num universo de 220 parlamentares, 38 por cento de deputadas na Assembleia Nacional (AN) são mulheres, respeitando a quota estabelecida a nível mundial para a participação da mulher no Parlamento, e muitas outras exercem e mostram um exemplo de enquadramento nos cargos de chefia e liderança, destacando-se condignamente da união interparlamentar.

Por outro lado, os serviços de notícias da ANGOP, salientam que o governo de Angola, a partir do Ministério da Família e Promoção da Mulher, implementou Programas Municipais Integrados de Desenvolvimento Rural e de Combate à Pobreza. “Esses Programas assentam em seis eixos, designadamente, empreendedorismo e crédito rural, acesso à alimentação e oportunidades no meio rural, alfabetização, ensino primário e fundamental, solidariedade e mobilização social, acesso aos serviços públicos essenciais e saúde básica preventiva. Este programa foi levado à 58ª Sessão da Comissão das Nações Unidas, na reunião do Comité sobre a Mulher, pelo Ministério da Promoção da Mulher que afirmou que a promoção da igualdade de género é numa área com progressos em que a desigualdade entre homens e mulheres tem vindo a diminuir fruto de investimentos na educação, valorização da cultura e da família, bem como de campanhas de consciencialização e a aprovação de políticas que beneficiam as mulheres em Angola. Um dos programas a implementar pelo governo é o Cronograma de Ações de Combate à Violência Doméstica para o período 2013-2017, o regulamento da Lei Contra a Violência Doméstica, o novo Estatuto Orgânico do Ministério da Família e Promoção da Mulher, a Política Nacional para Igualdade e Equidade de Género como sendo instrumentos que contribuem para o êxito dos programas” (ANGOP, 13/03/2014).

A Ministra da Promoção da Mulher, considerou ainda que, a participação das mulheres nos órgãos de tomada de decisão é uma condição necessária para a igualdade de género, o empoderamento económico e financeiro das mulheres, enfatizando que Angola reconhece e reafirma na sua Constituição que as mulheres e os homens têm direito a desfrutar, em condições de igualdade, todos os seus direitos humanos e liberdades fundamentais. Neste sentido, reafirmou que Angola foi mobilizada para fazer uma auscultação nacional dos problemas da mulher rural para “ouvir-se a voz dela (mulher rural) em prol do desenvolvimento do país.

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