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Poder da comunicação

No documento SIMONE MARIA ABRAHÃO SCAFUTO (páginas 43-46)

1.1 Contextos globais

1.1.5 Poder da comunicação

A expressão poder da comunicação refere-se ao potencial das formas simbólicas veiculadas pelos meios de comunicação de massa para que, tendo efeito de sentido sobre a opinião pública, atinjam determinados objetivos ou fins. Segundo Castells (2009), as narrativas difundidas pelos meios de comunicação tecnológicos são, mais do que nunca, um componente essencial e volátil nas lutas de poder em que a opinião pública seja um fator importante. Para alcançar a confiança do público nas novas mídias, é mantida uma política rotineiramente baseada na suposição de que uma apresentação de qualidade é absolutamente vital em todas as circunstâncias normais. As condições ao exercício eficaz de poder das novas mídias envolvem ações de setores especializados capazes de atingir, por meio da divulgação de mensagens narrativas, alto nível de consenso e de credibilidade.

Mcquail (2013) esclarece que comunicação de massa controlada por relações de poder arraigadas nos negócios da mídia e na política de estado é gerenciada por processos de comunicação que a distinguem de outras formas de comunicação social. Suas propriedades especiais são, em parte, atribuíveis às diferenças entre os meios de comunicação e às tecnologias que eles recorrem. A imprensa baseada na escrita usa as tecnologias de (re)produção fotográfica, de

42 de som, de gravação e de transmissão. A televisão combina as tecnologias de som, de gravação, de imagens e de radiodifusão e relaciona os modos de comunicação orais, sonoros, visuais e escritos. Essas diferenças têm implicações significativas amplas em termos do significado potencial da mídia. A impressão é, em um sentido importante, menos pessoal do que o rádio ou a televisão. O rádio permite que a individualidade e a personalidade da pessoa sejam transmitidas pela voz. A televisão leva o processo mais longe ao fazer com que as pessoas visualmente disponíveis sejam vistas em movimento e ação. Sua tecnologia se harmoniza com a orientação da nossa cultura contemporânea: foco individualismo e na personalidade. A televisão, como tecnologia, também favorece ação, em vez de contemplação e coloca em primeiro plano o presente. Mesmo nos programas pré˗gravados, a ilusão de vivacidade e de imediação é mantida. O corte rápido entre as imagens gera ação e emoção, enquanto o close-up de pessoas reduz a distância social e transmite um

ethos igualitário.

Com Macluhan (1964, 2012), foi possível perceber que os processos comunicativos e as práticas sociais determinadas pelos meios de comunicação são extensões do sistema nervoso humano, capazes de criar um entorpecimento, aos olhos humanos, de tal forma que novos ambientes ‒ imagens, sons, emoções ‒ não são percebidos devido aos efeitos dos meios de comunicação. Mesmo que cresça nos receptores das mensagens midiáticas a falsa sensação de que desfrutam incondicionalmente dos benefícios resultantes da “liberdade de expressão”, tornou- se comum ceder aos novos efeitos sensoriais, fechar os e deixar-se moldar por eles. Pesquisa científica recentemente desenvolvida por Manuel Castells (2009) sobre a comunicação de redes e os processos da mente humana revela que o poder da comunicação está no coração da estrutura e na dinâmica da sociedade. As estruturas determinantes do poder são construídas e gerenciadas por relações de poder e de dominação em todos os domínios da prática social, incluindo a prática política e os negócios da mídia. Isso significa que é por meio da ativação de redes de associação entre eventos sociais e de imagens mentais, via processos de comunicação, que a produção do poder opera, estruturando o modo como pensamos, sentimos e agimos. De acordo com Castells (2009) a linguagem e a mente se comunicam principalmente por meio das metáforas que constroem as narrativas. De acordo com o cientista, as metáforas que constituem as estruturas

43 narrativas não acessam as redes neurais do cérebro humano. O que acessa essas redes são as narrativas construídas por metáforas. São as narrativas que atualizam formas de comunicação políticas, que evocam emoções, sentimentos e componentes do raciocínio aptos a despertar experiências e a provocar tomadas de decisão. Nesse sentido, Fairclough (2012, p.3) assegura que as narrativas funcionam como parte das ações econômicas e políticas, principalmente, quando representam as pessoas como personagens e quando os argumentos mobilizados nelas desencadeiam processos de tomadas de decisão. Também Kress e van Leeuwen (2006) afirmam que a persuasão realizada por representações narrativas compostas por metáforas (frames) definem papéis e valores relacionados às práticas sociais dentro de contextos específicos. A propósito, destacamos um exemplo de como a empatia social e o envolvimento com os participantes representados na narrativa (Figura 18) publicada na capa da revista americana Newsweek foi construída:

Figura 18 – Heróis americanos

Revista Newsweek, 12 de novembro de 2012

44 Os modos semióticos (discursivo e visual) que compõem essa estrutura multimodal acima se integram no todo composicional ‒ a escrita centralizada juntamente com os participantes representados por um processo não transacional os transforma em um evento social. Nessa representação narrativa (VAN LEEUWEN, 2005) os participantes meta ‒ identificados pelo uniforme militar e por intermédio de palavra grafada em fonte „robusta‟ de tamanho grande, são representados visualmente como heróis por meio do ângulo elevado e frontal denotativo de envolvimento e energia. Este é um exemplo que interliga o público leitor a uma identidade militar coletiva. O propósito do texto multimodal possivelmente busca alcançar um resultado: legitimar ações militares americanas.

No documento SIMONE MARIA ABRAHÃO SCAFUTO (páginas 43-46)