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3 A TRIPARTIÇÃO DE PODERES NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

3.3 Poder Judiciário

o Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos previstos pela doutrina e consagrado como poder autônomo e independente de importância crescente no Estado de Direito, pois, afirma que sua função não consiste somente em administrar a Justiça, sendo mais, pois seu mister é ser o verdadeiro guardião da Constituição, com a finalidade de preservar, basicamente, os princípios da legalidade e igualdade, sem os quais os demais tornar-se-iam vazios.

Registra-se que o referido autor refere que esta concepção resultou da consolidação de grandes princípios de organização política, incorporados pelas necessidades jurídicas na solução de conflitos, pois não se consegue conceituar um verdadeiro Estado democrático de direito sem a existência de um Poder Judiciário autônomo e independente para que exerça sua função de guardião das leis.

E isso somente é possível se o Poder Judiciário gozar de algumas garantias, tendo em vista que por se tratar de poder técnico e não político, necessita possuir estabilidade no desempenho de suas funções, bem como não pode se afetar com intimidações do Poder Executivo e Legislativo.

Para que isso ocorra, a Constituição Federal consagrou aos membros do Poder Judiciário, as garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade dos vencimentos.

Moraes (2016) ensina que a vitaliciedade garante ao magistrado que somente perderá seu cargo por decisão judicial transitada em julgado. Salienta-se que a vitaliciedade tem efeito depois de dois anos de exercício efetivo na carreira. Enquanto a inamovibilidade garante que o juiz somente poderá ser removido ou promovido por iniciativa própria, nunca ex officio de qualquer outra autoridade, salvo em uma única exceção constitucional por motivo de interesse público e pelo voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça. Por fim, a irredutibilidade dos vencimentos assegura que o subsídio do magistrado não pode ser reduzido como forma de pressão, garantindo-lhe assim o livre exercício de suas atribuições.

Nesse passo, afere-se que as garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário têm o condão conferir a necessária independência do órgão para o

exercício da Jurisdição, resguardando-a das pressões do Legislativo e do Executivo, não se caracterizando, pois, os predicamentos da magistratura como privilégio dos magistrados, mas sim como meio de assegurar o seu livre desempenho, de molde a revelar a independência e autonomia do Judiciário (MORAES, 2016).

Além disso, há as vedações previstas constitucionalmente ao magistrado, como exercer outro cargo ou função, a não ser uma de magistério; receber custas ou participação em processo; dedicar-se à atividade político-partidária; receber auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração; que têm por finalidade assegurar sua imparcialidade no exercício de suas funções, evitando que exerça determinados cargos e funções, bem como afastando-o de situações que possam criar embaraço no exercício da atividade jurisdicional (MORAES, 2016).

Essas garantias e vedações asseguram a prestação jurisdicional e o exercício da democracia, pelo fato de afetar diretamente a separação dos poderes e a própria estrutura governamental, o que em razão disso o torna um poder independente. Se não fosse assim, o Poder Judiciário careceria pela corrupção ou pressão do Executivo e Legislativo, e tornar-se-ia inócuo diante do princípio da separação dos poderes.

A respeito da defesa da independência do Poder Judiciário, Carl Schmitt (apud MORAES, 2016, p. 791) afirma que:

a utilização da legislação pode ser facilmente direcionada para atingir os predicamentos da magistratura, afetando a independência do Poder Judiciário. Como autoproteção, o próprio Judiciário poderá garantir sua posição constitucional, por meio do controle judicial destes atos, de onde concluímos a ampla possibilidade de controle de constitucionalidade das leis ou atos normativos que desrespeitem o livre exercício deste Poder.

No mesmo sentido, Bandrés (apud MORAES, 2016, p. 791) afirma que a independência judicial constitui-se como um direito fundamental dos cidadãos, inclusive o direito à tutela judicial e o direito ao processo e julgamento por um Tribunal independente e imparcial.

Em razão dessa independência funcional, a função típica do Poder Judiciário se limita a julgar os conflitos de interesses ao caso concreto, aplicando a lei nos seus exatos termos, quando possível, senão julgando os casos de acordo com os princípios e diretrizes do Direito. Sobre isso, pode-se dizer que a função do judiciário consistente na imposição da validade do ordenamento jurídico, de forma coativa, toda vez que houver necessidade.

Por sua vez, entre as funções atípicas encontra-se a legislativa e administrativa. As de natureza administrativa se desenvolvem dentro do próprio corpo judiciário, tais como a concessão de férias aos próprios membros e servidores, bem como a promoção dos cargos de juiz na respectiva jurisdição, enquanto os de natureza legislativa se materializam na medida que edita normas regimentais, dispondo sobre sua competência e funcionamento.

Importa mencionar que o Poder Judiciário possui uma organização estrutural hierarquizada e especializada, para atender a demanda e proporcionar estabilidade jurídica aos julgados, conforme se demonstra na imagem a seguir.

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/426082814728065816/

STF = Supremo Tribunal Federal CNJ = Conselho Nacional de Justiça STJ = Superior Tribunal de Justiça TST = Tribunal Superior do Trabalho TSE = Tribunal Superior Eleitoral STM = Superior Tribunal Militar TJ = Tribunais de Justiça

TRF = Tribunais Regionais Federais TRT = Tribunais Regionais do Trabalho TRE = Tribunais Regionais Eleitorais TM = Tribunais Militares

O órgão que compõe a cúpula do Judiciário denomina-se Supremo Tribunal Federal, o qual tem por função precípua garantir o efetivo cumprimento das normas e garantias constitucionais. Por conseguinte, ao Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho e Tribunal Superior Eleitoral compete julgar os litígios

e conflitos oriundos de norma federal, cada uma em sua área de atuação, conquanto aos Tribunais de Justiça, Regionais Federais, Regionais do Trabalho, Regionais Eleitorais compete a análise dos processos julgados pelo juiz de Direito (estadual), Federal (federal), do Trabalho, das juntas eleitoral e auditoria militar.

Destaca-se, que a Emenda Constitucional n. 45/2004, conhecida como a “Reforma do Poder Judiciário”, inclui na estrutura organizacional do Judiciário, o Conselho Nacional de Justiça, considerado por muitos, como um órgão de “controle externo” da magistratura (art. 103-B da CF/88, grifo nosso).

3.4 Atuação e delimitação das funções exercidas pelos poderes legislativo,

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