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Capítulo 2: Metamorfoses poéticas

O- poeta-que-serve-à-massa-o-biscoito-fino

Para o escritor, ser poeta no Brasil é resistência. A poesia tem um papel muito importante na vida das pessoas, é ela que possibilita o sentir:

A poesia é pra dizer tudo o que a gente poderia ter vivido. Eu gosto muito mais daquilo que eu não vivi, porque aquilo que eu não vivi também é uma forma de vivência. Aquilo que a gente imaginou é uma forma de vivência. Aquilo que a gente sondou é uma forma de vivência. E é importante que a imaginação seja também sua pele. Porque aquilo que não tem cicatriz a gente não encontra. Então, eu vejo o livro de poesia como uma cicatriz para as pessoas encontrarem onde está a sua alegria e onde está a sua dor.

Assim, para Luiz, a poesia deve ser compartilhada. O poeta não deve fabricar seus poemas como um coitado, isolado, recalcado. O autor acredita que é necessário que o poeta seja influente, legível. Vejamos seu relato:

Estamos cada vez mais afirmativos, mais intervencionistas no mundo, mais anárquicos, mais influentes. Ele está interessado em ser legível, não em ser complicado. Porque o bonito é ser compreendido e não perder o mistério.

Posso escrever muito bem sem um motivo, só que a questão não é escrever bem, é o quanto isso que se escreve se transforma, é ter veracidade naquilo que se escreve.

Sua literatura é direcionada ao público que busca a leitura da poesia no cotidiano, em que o autor, conforme Baudelarie (apud PERRONE-MOYSÉS, 1988), atua como aquele que vem evidenciar a vida aos que estão sempre com pressa.

2.1.2 As múltiplas personagens de Luiz

As diversas personagens que estavam potencialmente guardadas na identidade de Luiz e que vieram à tona, possibilitaram, em um movimento emancipatório, o abandono das personagens menino-retardado e também a personagem adolescente-cruz-credo-isolado que estiveram presentes em sua infância e adolescência e poderiam impedir o escritor de assumir o papel de poeta.

A personagem menino-retardado nos permite observar claramente o reconhecimento perverso do médico, que, conforme Lima (2010) sustenta uma personagem fetichizada e reduz as diversas personagens que compõe a identidade dos indivíduos à uma representação que impede os mesmos de serem algo mais que um “doente mental”.

Contudo, a mãe “socorre” o escritor, realizando um reconhecimento social que libertará o filho de uma personagem estigmatizada e fetichizada, o que possibilitará o desenvolvimento de Luiz. A humanização como superação de condições biológicas.

Luiz passa então por um processo de transformação e passa a criar diversos personagens que possibilitaram que abandonasse a personagem menino-retardado e superasse a chamada identidade pressuposta - aquela que o médico queria oficializar socialmente (CIAMPA, 2009 [1987]).

Conforme Ciampa (2009 [1987]), a história de cada indivíduo possui múltiplas personagens e o abandono de algumas destas personagens pode significar um movimento emancipatório de busca de Ser-para-si em que o agir se torna uma atividade fim, relacionando o desejo e a finalidade pela prática transformadora de si e do mundo. Movimento onde o sujeito caminha em direção à autonomia e à mesmidade, na busca pela emancipação. (CIAMPA, 2009 [1987]).

Contudo, a personagem poeta-que-sempre-foi-poeta ressoa diariamente na vida do autor. Porém, novas personagens surgem na reposição do papel de poeta; um exemplo é o poeta-artista-que-faz-da-poesia-um-gesto e o poeta- que-serve-à-massa-o-biscoito-fino. É a coexistência destas personagens que possibilitam a riqueza da identidade de Luiz.

Em nossas análises percebemos que o entrevistado em questão criou e continua criando personagens que têm possibilitado um direcionamento biográfico que expressa suas necessidades e formas de lidar com mundo, gerando um salto qualitativo, uma alterização, uma mesmidade de aprender e ser.

Na articulação das personagens o-jornalista-escritor-apresentador-lírico- poético, o poeta-artista-que-faz-da-poesia-um-gesto e o poeta-que-serve-à- massa-o-biscoito-fino vemos Luiz assumindo uma nova forma em sua vida: a fama. Cada vez mais o autor está presente na mídia. Nas diversas entrevistas o poeta-que-descobre-a-si-atraves-do-outro é equilibrado com poeta-artista- que-faz-da-poesia-um-gesto. Assim, cada vez mais o artista cresce em meio à poesia que o escritor diz que nunca irá abandonar, pois é parte constituinte dele.

Reiteramos, de acordo com Alvarez (2009), que o poeta artista surge por conta das excentricidades estéticas dos chamados bet, em que o autor é showman de si mesmo. Entretanto, a personagem o-poeta-que-serve-à-massa- o-biscoito-fino enfatiza a necessidade de ampliar a literatura para além da função estética, buscando, conforme Borges, ampliar a percepção do mundo e afinar a fruição psíquica do leitor.

A personagem poeta-artesão mostra que a linguagem deve ser trabalhada no que Perrone-Moysés (1988) chamou de manejo da surpresa, a fim de que esta possa ser atrativa aos leitores. Luiz, por meio da personagem poeta-artista-que-faz-da-poesia-um-gesto elucida a surpresa não apenas em sua obra, mas também em seu visual.

Ao afirmar que escreve para si mesmo no futuro ou no passado, Luiz mostra que sua relação com o tempo é contemporânea, pois conforme Agamben (2009) são os contemporâneos que possibilitam “o cruzar e interpolar os tempos (p. 64)”, criando, transformando e até mesmo “costurando” as experiências de diferentes períodos. Permitem irmos além do que somos, partilhando experiências e difundindo conhecimentos.

Luiz afirma: “Eu sou poeta pra mentir a mim mesmo”, o que, conforme Aristótoles, mostra uma das funções do poeta que deve escrever em verso o que poderia ter acontecido, dando espaço para que o leitor, preenche aos poucos as lacunas, e as aberturas existentes. E, como afirma Fischer (1971):

A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suporta-la como a transforma-la, aumentando- lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade (p.57).

É possível que o sujeito tenha dificuldades em continuar seu processo de constituição de uma identidade emancipada, por conta de nossa sociedade, que, atualmente vive a ideologia capitalista. Entretanto, percebemos que a personagem poeta-que-sempre-foi-poeta e outros que podem ser construídos pelo escritor poderão auxiliá-lo neste processo. Ao menos é o que desejamos.

2.2 A história de João - O poeta militante

Não tô escrevendo pra minha família gostar, pro povo ir pro lançamento. É uma coisa de militância, de exército montado, pronto, de batalha conjunta... (João)

O menino-insatisfeito-teimoso

João, como muitos, nascidos no interior do Nordeste, pobre e sem acesso a boa educação, nos mostra que, apesar de todas estas (e outras) dificuldades, por meio do esforço e da teimosia em realizar seus sonhos, conquistou seu espaço na literatura, sendo um dos mais respeitados escritores da atualidade.

Quando tinha três anos de idade, sua mãe e seu pai saíram em busca de um lugar melhor para se viver, atitude que, segundo ele, despertou a coragem e teimosia que ele carrega até hoje. Nas palavras do autor:

Então a minha família saiu, sobretudo a minha mãe carregando esses nove filhos, exatamente carregando... e ela não sabia muito bem o que tinha lá na frente, mas o que ela tinha ela não queria, muita seca, muita dificuldade, então ela saiu com esses filhos de lá. (...) estive há pouco tempo em Cidade em função de um documentário que está sendo feito com meu trabalho e o tanto que minha mãe andava, o tanto que minha mãe andava da fazenda onde ela tinha até a cidade, o centro de Cidade, era um negócio impressionante. E como ela saiu com aqueles filhos todos de lá. Ela disse que não sabe muito bem como é que foi, mas saiu... Eu também não sei muito bem como faço as minhas coisas, mas faço [risos].

A forte admiração pelos pais estimula o escritor a viver as coisas sem medo, sem pensar que são impossíveis. Esta postura irá ajudá-lo a construir e reinventar personagens que lhe permitirão superar supostas limitações.

Acho que me tornei muito uma pessoa que nunca esta satisfeita com as coisas a seu redor. Que quer ser maior do que de fato é. As pessoas dizem assim: como você faz as coisas sem dinheiro? Eu não tenho dinheiro. Eu penso, eu imagino que tenho, aí consigo.

O jovem-palhaço-que-conhece-os-seus-limites

Aos nove anos de idade, João descobre a literatura e as artes cênicas. Pede para mãe para começar a fazer teatro:

Quando muito pequeno, eu fui fazer teatro na escola, na mesma idade com que eu descobri a poesia do Manuel Bandeira, eu descobri o teatro e quis muito fazer teatro, fui fazer na escola aos nove anos de idade, pedi pra minha mãe. E lá eu descobri que eu podia escrever os textos de teatro. Lá descobri que podia produzir, e eu produzia, ia atrás. Comecei fazendo peça de teatro pequenininho, fazia participação nas peças, e fui fazendo isso até os dezenove anos.

Eu gostava muito de fazer palhaço... virava, pulava, dava umas cambalhotas, a criançada adorava... gostava de fazer, eu fiz muito... a primeira peça que eu escrevi se chamava “O reino dos palhaços”, e eu fazia um desses palhaços... eu gostava de fazer, sempre me chamavam, eu pintava o rosto e aí eu ia e trabalhava com isso...

Apesar da identificação com as artes cênicas, João chega à conclusão de que não poderia manter as duas carreiras, pois, conforme ele:

Depois de certo momento, eu percebi que tinha que ter muito pudor, muita preparação mesmo, entrega, preparar o corpo, eu não conseguiria ser um ator parcialmente... aí eu descobri que não ia conseguir ser esse artista inteiro.. esse mergulho que uma arte precisa, então, me afastei, fiquei escrevendo pra teatro, escrevendo meus contos...

Com dezenove anos, quando eu produzi essa peça que eu te falei, da Marina5, essa peça eu produzi e descobri, assim, que

eu tinha muito... não dava pra continuar a carreira de ator assim. As pessoas diziam que eu era até um bom ator, mas... eu escrevo pensando em teatro, exercitando a palavra teatral, o silêncio, a pausa, eu trabalho pensando assim... Mas para estar em cena, em cena como ator, “virge” Maria!, não conseguiria, eu fiz, olha que eu fiz personagem, mas...

Mesmo sendo influenciado pelo teatro para sempre, principalmente em sua forma de escrever e ler, João escolhe dedicar-se à literatura. A literatura que o despertou é a mesma literatura que o encanta e motiva a se dedicar.

5

O poeta-que-nunca-mais-deixou-de-enxergar

Também aos nove anos de idade, João descobre uma poesia de Manuel Bandeira que estava no livro de um dos seus irmãos e fica encantado. É esta literatura, que faz com que ele enxergue coisas que antes não via. Ele diz que antes de Bandeira era cego. Vejamos seu relato:

Aos nove anos de idade com Manuel Bandeira. Eu li uma poesia do Manuel Bandeira e fiquei encantado com aquilo. Fiquei encantado com a poesia dele, encantado com a maneira dele ter me mostrado a rua, ter me mostrado a minha cidade, eu não enxergava a Cidade, eu não enxergava o rio, eu não enxergava o lixo à minha volta, não enxergava a pobreza, a doença, e o Bandeira me acordou pra isso. Aos nove pra dez anos, quando eu li aquele poema algo aconteceu. Eu senti que aquela melancolia do Bandeira era minha melancolia também que a minha inquietação social era também inquietação de Bandeira. Descobri que ele era pernambucano eu também era; eu disse, então, que também posso ser poeta.

Então João passou a escrever poemas, imitando Bandeira e encontrando novos poetas. Quando ele lia:

Descobri que quando eu lia algo se manifestava, eu disse: - Nossa! É isso que eu quero fazer, que eu posso fazer. Queria que a minha trajetória caminhasse por ali. Mas foi o Manuel Bandeira. Manuel Bandeira e todos os outros que vão nos acordando pelo caminho.

O agitado-cultural

João se declara um “agitado cultural”. Uma personagem que veio na adolescência, onde aprendeu que precisava persistir para conseguir. Segundo seu relato:

Eu sou um agitado cultural [risos]. Eu ia atrás dos jornais, eu lembro eu adolescente, eu ia atrás dos jornais para falar das peças que a gente tava encenando. Procurei o melhor teatro da cidade, que era como se fosse o Teatro Municipal aqui de são Paulo, e lá as pessoas diziam, mas é muito difícil um teatro

desses abrir uma temporada pra um grupo amador, eu digo, mas eu não perguntei pra eles, [risos], como vocês vão dizer não pelo teatro. Fui ate lá perguntar e consegui uma pauta, pra um espetáculo que eu produzi, com dezoito anos, o texto era meu, até a atriz era a Marina, que hoje é conhecida na televisão.

O revisor-que-mantem-um-pé-no-sonho

Aos vinte e quatro anos, João resolve ir para São Paulo. O motor que o impulsionava era o desejo de publicar seu livro. Chegou à cidade sem conhecer nada, mas sua teimosia o ajudou a superar diversas adversidades.

Assim, a personagem revisor-que-mantém-um-pé-no-sonho manifesta- se:

Eu chego aqui, procuro na minha área, a área que eu trabalhava que era a revisão de textos, mas enquanto eu revisava os textos eu não esquecia que eu podia escrever um conto. Não esquecia que eu vim pra fazer literatura, eu vim porque eu queria publicar meu livro, que eu tinha que estar ligado a este, a isso, porque se eu fosse só um revisor, eu seria totalmente amargurado, aí pra cada anúncio de iogurte eu escrevia um conto. Eu chamo de, eu chamo de um pé no sonho. Eu vim pra São Paulo, eu tinha que me manter, muito conscientemente, eu sabia que era o trabalho de revisão que dava dinheiro e eu trabalhei com revisão durante muitos anos até muito tarde da noite, em agências grandes, Thompson, DBA, agências grandes trabalhava muito, trabalhei muito, e enquanto eu revisava o material, eu tinha o meu pé esquerdo me lembrando que aquele pé não podia sair do sonho, porque se eu trouxesse os dois pés pra revisão eu estaria revisor até hoje. Então eu ficava o tempo inteiro revisando as coisas mas, ó, não esquece que quando você puder trazer esta outra perna pra, de vez, pra esse lado artístico, do qual você gosta tanto, faça isso. E fui fazendo isso aos poucos. E aí fui sentindo que meu corpo já estava começando a ficar inclinado pra cá pra cá pra cá, até fazer de vez esta transição. Se você pensar, eu estou com 45 anos, eu fiz essa transição definitiva há cinco anos, tinha 40 anos. Publiquei meu primeiro livro com 28. As primeiras peças com 14, 16, então tem um trajetória toda aí.

Esta personagem metamorfoseia-se em poeta-guerreiro, e consegue viver seu sonho inicial, conquistando a vida literária apesar de todas as suas forças e contradições.

O poeta-guerreiro – Davi diante de Golias

João sai de uma situação tida como impossível, com um sonho e o desejo de publicar seu livro. Chega a São Paulo e não se deixa atropelar pela cidade.

É… Eu quando vim pra SP, em 91, eu disse: “essa cidade não pode ser difícil assim”. Se é difícil, vou fazer com que ela pareça fácil. Eu sempre vejo as dificuldades com muito mais simplicidade e quando, se eu fosse pensar em dinheiro, pensar de onde eu vim, pensar nas coisas que eu não tenho, eu não conseguiria ter nada, então eu costumo dizer que eu enumero as coisas que eu tenho. O que não tenho são muitas. O que que eu tenho: vontade, força. Então se fosse dizer “quem é o João”, é essa figura, um guerreiro, é um Davi diante do Golias, sabe, o tempo inteiro assim…

João vive por meio de atividades exclusivamente ligadas à literatura há cinco anos. Segundo o artista, é possível viver de literatura no Brasil, com atividades diretas e indiretas. Diz ele:

Eu vivo de literatura só, somente de literatura, direta e indiretamente tem cinco anos. Eu sempre trabalhei de revisor de texto. Eu fiz o curso de letras incompleto, mas já trabalhava com revisão na Cidade, quando eu vim pra São Paulo eu vim trabalhar como revisor. Não como redação, revisor de texto que era o que eu gostava de fazer.

Há uns cinco anos, eu não consegui mais ficar como revisor de textos, eu tava com a agenda muito lotada, muita requisição, não conseguia mais parar em agência, agência de propaganda, então, hoje eu trabalho direta e indiretamente com literatura, quando eu digo indiretamente, porque hoje você tá aqui no barco, onde já já eu vou coordenar um curso de literatura, das turmas de quartas-feiras. Então, isso é indiretamente, eu coordeno oficina de criação literária, lendo os textos, conversando, trocando impressões, é... isso mantém parte da minha vida, do meu salário, agora curadoria de eventos, é... muito evento no SESC, palestras, é... Direitos autorais também

pra teatro, direitos autorais de livros didáticos, mas estes direitos autorais não são constantes, não são fixos, não é uma coisa que eu diga “ah todo mês eu tenho” não, todo mês, o que eu tenho certo são os eventos, as coisas que eu coordeno... João mostra que é um poeta-guerreiro, que enfrenta as dificuldades e que aprendeu a não limitar si mesmo. Como podemos observar:

Então, nunca, nunca, é aquilo que eu te falei, nunca fui de é de colocar uma régua no meu tamanho, de colocar uma régua no meu caminho, eu sempre fui além, eu sempre acho que, você pode ir muito além, das tuas “reais” possibilidades, e encontrar possibilidades que você nem imagina que você tem. Nesse sentido, ter vindo morar em São Paulo me revelou forças que eu julgava que não tivesse. Porque enfrentar uma cidade dessa, chegar aqui sem emprego, sem trabalho, sem conhecimento nenhum, sem conhecer ninguém...

Apesar das dificuldades constantes, o escritor não se deixa abater na luta diária contra Golias:

As dificuldades são muito grandes de fato, são muito grandes de fato, muito pesadas, se você pensar em levantar qualquer coisa, de literatura, quando eu me determino a fazer as coisas, as coisas são muito grandes, as dificuldades são muito grandes, a falta de dinheiro, as exigências, as pressões, no entanto, eu acho que tudo é forma muito mais simples, você tem que caminhar com muita vontade, muito mais simples. O poeta-artesão-que-escreve-acordado

A literatura de João é trabalhada em cada palavra, em cada vírgula. Embora não tenha formação no ensino superior, o autor diz que os textos precisam de dedicação e preparação de seus autores:

Um amigo meu, escritor, romancista, eu tava vendo uns desenhos dele, que a Cia das Letras relançou, toda uma obra dele com desenhos dele, eu digo: “gente do céu!”. Esse homem aqui passou, digo a ele, você passou quantas horas pra desenhar cada página dessa? Eu digo: “é muito empenho, são muitas horas sentado, ali debruçado naquelas tintas”. Coordeno oficinas de literatura e percebo que as pessoas

precisam acordar pra esta dedicação mesmo... não parcial, mas pelo menos algo em si tem que querer muito a literatura pra poder fazer sentido...

João se dedica à literatura o tempo todo, buscando aprimora-se e aperfeiçoar seus alunos das oficinas literárias:

Eu me dedico o tempo inteiro, né? Vinte e quatro horas. Quando não estou pensando nas oficinas, estou pensando nos textos, nos eventos... (...) e o tempo inteiro eu to envolvido com isso... quer seja na oficina, e prestando atenção, o tempo inteiro no pessoal e, que o pessoal possa fazer um trabalho bom, encontrar o seu livro, encontrar sua voz literária...

Embora seu olhar seja sempre literário, o autor precisa também se dedicar quando vai escrever os seus contos, como nos revela:

É isso, então o tempo inteiro tenho que tá, tem um conto que eu não consigo escrever, também, eu preciso, às vezes eu preciso parar um momentinho só, que eu não tenha é... nenhuma, nenhum compromisso ao redor de mim, ou seja, eu tenho que parar, tem dias mesmo que eu desligo o telefone, fecho a porta do apartamento, fico lá, sem fazer nada do nada.. e aí é onde eu consigo escrever um conto, que eu tenho que escrever um conto, que ela já tá me perseguindo, que tá conversando comigo, e que eu já, eu fico escrevendo no juizo agora eu preciso colocar ele no papel... então é o tempo todo pensando em literatura, é assim...

João confessa sua preguiça e diz que apesar de preferir dormir, estando acordado sempre irá escrever:

Eu prefiro dormir a escrever. Só escrevo porque tô acordado, (gargalhadas), acordado eu escrevo, mas eu prefiro dormir...

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