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Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE)

III. Evolução das Informações em Portugal

2. Do Golpe de 28 de Maio de 1926 até à Revolução de 25 de Abril de 1974

2.2 Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE)

Decorridos cerca de sete meses desde a edificação da Polícia de Defesa Política e Social voltou-se a dar uma tentativa de unificação com a Polícia Internacional Portuguesa, sendo que desta vez o resultado final viria a ser duradouro e, por isso, coroado de sucesso. Da unificação das duas forças policiais emergiu então, a 29 de Agosto de 1933, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, comummente conhecida pela sua sigla PVDE. Desse modo, foram agregadas num único serviço as atribuições de segurança interna, exercidas essencialmente sobre cidadãos portugueses e adstritas à Polícia de Defesa Política e Social, e as de segurança predominantemente externa, por visarem a fiscalização quer das fronteiras nacionais quer de indivíduos estrangeiros a residirem em Portugal e que estavam a cargo da Política Internacional Portuguesa. Para dirigir a PVDE foi escolhido Agostinho Lourenço, transitando da Polícia Internacional Portuguesa onde era também director. Apesar do papel fulcral que Agostinho Lourenço viria a assumir em todo o desenvolvimento da PVDE, esta polícia ficou sob a jurisdição do ministro do Interior tal como acontecia com a Polícia de Defesa Política e Social.

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Apesar deste processo de fusão, as duas polícias não cessaram as suas actividades uma vez que cada uma delas deu corpo a uma divisão específica da PVDE: a Secção Internacional e a Secção de Defesa Política e Social. Inclusivamente o âmbito de actuação de ambas não sofreu transformações assinaláveis, pois à Secção de Defesa Política e Social continuou a caber o combate à criminalidade social e política mantendo-se difusa e, por isso, extensa a caracterização desses crimes. A juntar a esse campo de acção bastante alargado preservou-se a capacidade desta força de instruir processos penais pelos delitos que perseguia, passando para a PVDE poderes de livre-arbítrio desprendidos de limites que os balizassem. No que à Secção Internacional dizia respeito a principal nota de destaque foi o facto de lhe ter sido entregue, para além das fronteiras terrestres, também o controlo da fronteira marítima, não havendo quaisquer mudanças nas suas missões de protecção do país contra a espionagem e de contenção dos ideais comunistas provenientes do exterior.

Subjacente a essas duas secções centrais da PVDE existiam os Serviços de Informação e Ligação, vulgarmente conhecidos como serviços secretos. Estes serviços funcionavam em apoio a toda a organização sempre que era necessário encetar tarefas de reconhecimento, vigilância, cadastragem e análise de cenários e suspeitos, ou seja, tarefas inerentes a qualquer unidade de intelligence. Neste ponto parece-nos igualmente importante de realçar a vertente internacional inaugurada pela PVDE, isto é, o desenvolvimento de contactos formais e informais com as suas congéneres estrangeiras desde polícias políticas até serviços de informações. Quanto aos serviços de informações estrangeiros não podemos deixar de referir que, durante o período da II Guerra Mundial, estes fizeram de Portugal e, especialmente, de Lisboa o centro nevrálgico da espionagem internacional, coexistindo agentes do Eixo e agentes dos Aliados num clima de grande conspiração.

Na sequência do que já acontecia anteriormente com a Polícia Internacional Portuguesa, parte das informações que suportavam o trabalho da Secção Internacional, e com isso naturalmente de toda a restante estrutura da PVDE, provinham dos diplomatas portugueses espalhados pelo mundo. Retomando o exemplo da vizinha Espanha após a implantação da república, este foi o país a partir do qual chegou a maior corrente de informações transmitidas pelos postos diplomáticos de Portugal aí sediados, ainda que a ameaça que esse governo republicano representava para o regime português tenha mesmo levado a PVDE a estabelecer uma repartição de intelligence em território espanhol. Além das informações veiculadas por meios oficiais como a diplomacia ou as “antenas” da PVDE, não podemos deixar de salientar

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a origem oposta de outras informações que eram utilizadas, ou seja, aquelas que chegavam oficiosamente através de informadores externos à polícia.

O recurso a informadores era explicado, em parte, pela falta de meios, desde humanos a materiais passando pelos logísticos, que historicamente afectou os serviços que antecederam a PVDE e da qual esta última não foi excepção. Dessa forma, inicialmente a PVDE socorreu- se dos informadores apenas para conseguir colmatar as limitações supra mencionadas, porém, com o passar do tempo a situação foi ganhando outros contornos visto que de solução temporária os informadores passaram a deter um espaço próprio dentro da orgânica policial. É isto que nos diz Maria da Conceição Ribeiro (2000: 145) quando se refere ao carácter evolutivo desta colaboração que se tornou mais regular e sistemática ao ponto de ter permitido construir, paralelamente ao quadro de agentes da PVDE, uma autêntica rede secreta e informal de elementos recrutados em diferentes contextos políticos, sociais, económicos e sociais espalhados pelos diversos pontos do país.

Esta evolução transportou consigo um facto novo no que toca ao pagamento dessa teia de informadores pois muitos deles começaram a ser remunerados com ordenados regulares, o que cativava profissionais tão distintos como, meramente a título de exemplo, professores, motoristas, funcionários públicos, comerciantes ou porteiros que encontravam neste emprego uma resposta para ultrapassar as dificuldades decorrentes dos parcos rendimentos de que dispunham. Tendo como pano de fundo esse ponto de partida, e recorrendo às palavras de Maria da Conceição Ribeiro (2000: 145), podemos concluir que:

O constante recurso aos informadores, permitindo à PVDE uma vigilância muito mais efectiva do que o seu pessoal próprio poderia garantir, contribuiu decisivamente para a criação de um clima de medo e suspeição fortemente interiorizado que se insinuava em todas as relações sociais. A imagem, amplamente difundida, de uma polícia política omnisciente e omnipresente confunde-se, em grande medida, com a figura do informador, instrumento central – oculto e, por isso mesmo, mais receado – da sua lógica de actuação e prolongamento natural do carácter secreto que sempre se procurou imprimir à PVDE.

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