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CAPÍTULO I O NEOPENTECOSTALISMO E A EMERGÊNCIA DA IURD NO

1.4 A atuação da Igreja Universal nos campos midiático, político e assistencial

1.4.2 Política

A Igreja Universal também se inseriu no campo político destacando-se em comparação com outras denominações evangélicas. Para analisar a atuação da Igreja na política brasileira realizaremos um breve histórico desta atuação. Segundo Nunes (2006, p. 129) a Igreja inicia sua inserção no campo político em 1986 elegendo seu primeiro deputado federal. Em 1990 elegeu três deputados federais e seis estaduais. Em 1994 seis federais e oito estaduais, 1998 dezessete federais e vinte e seis estaduais, 2002 dezesseis e dezenove. Vejamos no gráfico abaixo a progressão da IURD na política brasileira de 1990 a 2002.

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 16,0 17,0 18,0 19,0 20,0 21,0 22,0 23,0 24,0 25,0 26,0

Dep Fed Dep Est

1990 1994 1998 2002

Gráfico 1 – Número de deputados da IURD eleitos no Brasil

Vale ressaltar que em 1989 a cúpula da Igreja declarou abertamente seu apoio ao então candidato a presidente Fernando Collor de Mello, conforme podemos ver na fala de Edir Macedo “[...] após orar e pedir a Deus que indicasse uma pessoa, o Espírito Santo nos convenceu de que Fernando Collor de Mello era o escolhido” (NUNES, 2006, p. 129). E no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 – 1998) a Igreja fez parte da base de sustentação do governo, e no

segundo mandato rompeu com a justificativa de que o governo não estava dando muita atenção aos problemas sociais. Segundo Oro (2003, p. 287),

No entanto, além dessa razão que, digamos, se prende ao plano simbólico, há provavelmente também outra, não dita, que se relaciona ao plano material, para justificar o posicionamento crítico da Igreja com relação ao governo Fernando Henrique. Trata-se da multa de 98 milhões de reais aplicada à Igreja pela Receita Federal no ano de 1997.

Já nas eleições de 2002 articulou uma aliança entre o PT (Partido dos Trabalhadores) e o PL (Partido Liberal) haja vista que esse segundo partido contava com uma participação elevada de membros da Igreja. O bispo Marcelo Crivella ao se candidatar a Senador pelo Rio de Janeiro e ter mais de 3 milhões de votos conseguiu derrotar adversários como Artur da Távora, Leonel Brizola (políticos tradicionais) e o pastor Manoel Ferreira da Assembléia de Deus. Além disso, o Deputado Federal bispo Rodrigues articulou no segundo turno das eleições para Presidente, um Bloco Evangélico Pró-Lula com vistas à adesão dos evangélicos à candidatura de Lula (ORO, 2003).

A Igreja Universal é pluripartidária, pois seus políticos estão espalhados por diversos partidos. Entretanto, o Partido Republicano Brasileiro (PRB) é o partido que recentemente tem mais atraído candidatos ligados à Igreja, principalmente após o lançamento da candidatura do Senador Marcelo Crivella à governador do Rio de Janeiro. Mas, ainda se mantém o pluripartidarimos como podemos observar no caso da Bahia onde ainda encontramos deputados da Igreja vinculados ao DEM. Em Salvador nestas eleições (2008) foram eleitos três vereadores da Igreja: Sidelvan Nóbrega (PRB) com 13.921 votos, Isnard Araújo (PR) com 13.887 e Tia Eron (DEM) com 12.522 votos, que ficaram entre os cinco mais votados. Realmente, no caso particular de Salvador, vimos o Bispo Marinho se candidatar a vice-prefeito juntamente com ACM NETO (prefeito) onde lideraram as pesquisas eleitorais até perto da eleição, porém, ficando em terceiro lugar com 26% dos votos, contabilizando 357 mil votos. Embora, não tenha conseguido lograr êxito na candidatura de prefeito, já para vereador conseguiram eleger seus três candidatos entre os mais votados conforme citamos anteriormente.

Já no segundo turno enquanto que o candidato a prefeito ACM NETO declarou seu apoio ao candidato João Henrique, o candidato a vice Márcio Marinho apoiou Walter Pinheiro, rompendo assim com coligação com o DEM. Isso demonstra claramente que a Igreja não possui um projeto político, uma ideologia, nem tão pouco uma bancada. Desse modo podemos afirmar que a preocupação principal da Igreja é com seus interesses. Afinal, como afirma Nunes (2006, p. 131),

Com tudo isso, o surpreendente crescimento da IURD e seu grande potencial de votos não podem ser ignorados. Praticamente todos os grandes partidos políticos brasileiros tentam obter o apoio iurdiano, tornando dessa forma a Igreja Universal do Reino de Deus uma importante e decisiva componente do cenário político brasileiro.

A Universal justifica sua participação no campo político pautando-se não só na questão da ética e moral, mas também na proteção contra a perseguição. Seus responsáveis afirmam que pelo fato de a Mídia e o Estado ainda estarem sob domínio da Igreja Católica e também o rápido e surpreendente crescimento da prosperidade da IURD gera muita inveja, a mesma, sobre constantes críticas e acusações infindáveis. Por isso a necessidade de sua inserção na política para contar com seus representantes prontos para defendê-la, como está registrado na Folha Universal:

[...] O povo de Deus tem que ficar atento nas próximas eleições, escolhendo os melhores candidatos. Se ficarmos indiferentes à política e não lutarmos pelos nossos direitos, os corruptos entrarão novamente [...]. Sabemos das perseguições que a Igreja do Senhor Jesus enfrenta, por isso, temos que votar em homens e mulheres de Deus para deputado federal, estadual e governador. [...] Quando tomamos atitudes com sabedoria e votamos em candidatos ungidos com o Espírito Santo, com certeza, a história da política brasileira será outra (FOLHA UNIVERSAL, 15 a 19/2006, n. 724 apud NUNES, 2006, p. 131).

Carlos Rodrigues ex-bispo da IURD foi por muito tempo o coordenador político da Igreja. Ele foi eleito em 1998 Deputado Federal (Partido da Frente Liberal - PFL) pelo Rio de Janeiro com 76 mil votos e reeleito em 2002 pelo PL com 192.640 votos que representou a quarta votação dos candidatos à Deputado Federal do Rio de Janeiro. Ele coordenava candidaturas, definia estratégias políticas da Igreja e conduzia as ações dos parlamentares no que se referia aos interesses da IURD (ORO, 2003, p. 286). Contudo, “[...] em 2005, envolveu-se no ‘esquema do mensalão’”, de Marcos Valério, sendo acusado de receber R$ 400 mil reais. Foi preso em maio deste ano,

suspeito de envolvimento na “máfia das sanguessugas”, que vendiam ambulâncias superfaturadas a prefeituras (NUNES, 2006, p. 130).

Embora Carlos Rodrigues tenha sido um dos fundadores da Universal, ajudado a fundar igrejas na Argentina e Espanha, trabalhando em Portugal, Angola, África do Sul e Moçambique e coordenado por muito tempo a ação política da Igreja e ter sido o principal líder da Igreja no Congresso, o discurso de moralização da Universal a obrigou a expulsá-lo devido aos escândalos. Este fato abriu o leque para que atualmente, Marcelo Crivella assuma a liderança política da Igreja, ainda, que ultimamente também tenha sido citado em eventos ligados à corrupção, mas ainda sem comprovações.

No que diz respeito à inserção da Igreja Universal no campo político brasileiro Oro (2003, p. 283) sustenta o seguinte argumento, dentre outros:

a) o sucesso eleitoral alcançado por esta Igreja, até o presente momento, relaciona-se fundamentalmente ao seu carisma institucional, associado ao uso extensivo e intensivo da mídia e de um discurso que traz pra o campo político importantes elementos simbólicos do campo religioso; [...].

A eficácia política da Igreja Universal se dá devido à sua forma institucionalizada e organizada de gerenciamento das candidaturas. Primeiro porque a Igreja trabalha com candidatura oficial, isto é, define previamente quais são seus candidatos, definindo inclusive a quantidade e onde cada um irá atuar. Isso para organizar a distribuição dos votos. A escolha dos candidatos é definida exclusivamente pela cúpula da Igreja, ou seja, pelos dirigentes regionais e nacionais. Segundo, pelo fato da Igreja fazer a divulgação de seus candidatos por meio dos cultos e mídia própria (ORO, 2003). Quanto à utilização do culto e mídia para fins políticos podemos verificar na reportagem abaixo:

[...] em palanque eleitoral de Marcelo Crivella, candidato do PRB-RJ ao governo do Rio de Janeiro. Na Catedral Mundial da Fé, o bispo Romualdo Panceiro ignorou a lei eleitoral que proíbe propaganda política em templos religiosos e pediu voto dos fiéis para Crivella e para os candidatos a deputado ligados à Igreja. [...] No término do culto, assistido por mais de 10 mil pessoas e transmitido ao vivo pela Rede Aleluia de rádio, Panceiro discursou em favor de Crivella. [...] Panceiro foi cuidadoso ao fazer seu discurso, pediu que a transmissão na rádio fosse cortada e só começou a agir explicitamente como cabo eleitoral após receber a confirmação que suas declarações não eram veiculadas. [...] Logo no início do ato político, o bispo disse que Crivella era o melhor candidato e combateu o voto ao

candidato do PMDB, Sérgio Cabral (Folha de São Paulo, 2/10/2006, apud NUNES, 2006, 130).

Além do uso midiático a Universal também faz proveito político de sua a ação assistencialista através da ABC – Associação Beneficente Cristã, como por exemplo o Projeto Canaã idealizado por Marcelo Crivella que lhe deu destaque nacionalmente. Outro fator importante é que a Igreja insere na sua atuação política elementos doutrinários e discursivos relativos à sua cosmovisão religiosa. Como afirma Semán (2001, p. 96) apud Oro (2003, p. 295),

Portanto, a Universal mobiliza na esfera política crenças, valores, símbolos e cosmovisões do seu universo simbólico, e com base neles produz uma ressemantização do voto, inscrevendo-o “numa lógica cosmológica, na perspectiva da guerra santa.

Nesse sentido é que dentro da cosmovisão iurdiana votar passa a ter um sentido muito mais amplo do que apenas um direito cívico. Passa a ser um ato de exorcismo, haja vista que se trata de uma guerra contra o diabo, pois o mesmo também se encontra na política. O voto se torna para o fiel da Igreja Universal uma arma para lutar contra o diabo, pois a função dos candidatos da Igreja é libertar a política das influências maléficas do diabo. Conforme nos mostra Oro (2003, p. 295) “[...] este significado simbólico do voto para os fiéis da IURD ficou bem caracterizado nas últimas eleições de 6 de outubro de 2002”. O autor nos apresenta uma campanha realizada pela Igreja, onde a partir do dia 27 de setembro todas as pessoas que comparecessem aos templos receberiam um envelope contendo dentro um cajado de papelão de treze centímetros escrito a frase: “Os dez dia da Libertação), com isso ocorre uma relação do voto com o cajado de Moisés, conforme conta:

Ao explicar a campanha, o dia 22 de setembro, o bispo que presidiu o culto matinal frisou que no dia 06 de outubro “nós vamos votar com o cajado”. E acrescentou: “assim como o Senhor disse a Moisés: levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar, e o Mar Vermelho se abriu, assim também nós vamos apertar os números na urna eletrônica com o nosso cajado e vamos abrir o mar do Evangelho, elegendo os homens de Deus. Vamos eleger os homens de Deus que vão trabalhar para a obra de Deus (ORO, 2003, p. 295).