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4- O CENÁRIO MACROECONÔMICO GERAL

4.2 ANÁLISE MACROECONÔMICA

4.2.7 Política cambial

A taxa de câmbio está numa trajetória de desvalorização como observado no gráfico 13. Entre 2001 e 2003, o franco congolês teve uma desvalorização de 96% frente ao dólar americano. Depois de ter passado por período de crescimento baixo, a moeda congolesa passou de 559,29 CDF para 905,91 CDF por um dólar entre 2008 e 2010.

Segundo o Banco Central do Congo (2009), essa depreciação é devida aos choques endógenos e exógenos. Em relação aos choques endógenos, a causa principal foi o efeito de decalagem do déficit público. No que tange aos choques

-4000,00 -3000,00 -2000,00 -1000,00 0,00 1000,00 2000,00 3000,00 4000,00 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Saldo balança de pagamentos Saldo transações correntes Saldo conta de capitais e financeira

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exógenos, A crise financeira internacional seria a principal causa dessa desvalorização (Banco Central do Congo, 2014). Os principais impactos foram a deterioração da balança comercial e dos serviços, mas também a queda no mesmo período dos Investimentos Estrangeiros Diretos.

Gráfico 13: Taxa de câmbio nominal e real (CDF/US$)

Fonte: Banco Mundial (2015)

Observa-se uma desvalorização do câmbio nominal entre 2005 e 2009. e uma estabilização logo depois. Essa estabilização indica como o plano de estabilização do FMI para controlar o câmbio, conseguiu derrubar a inflação.

Entre 2011 e 2014, o Franco Congolês ficou muito estável em termos nominais. Em relação ao IPC do Congo, as duas variáveis seguiram a mesma trajetória de crescimento apesar do aumento muito significativo da taxa de câmbio entre 2008 e 2010.

Ao contrário da taxa de câmbio nominal, a taxa de câmbio real está com tendência à valorização no longo prazo, além do período entre 2001 e 2002 em que houve pouca desvalorização. A série mostra que houve uma exceção, a grande desvalorização de 2008 causada pela crise financeira. No entanto, desde 2010 o câmbio real está valorizando-se. No acumulado, a variação da taxa de câmbio real foi de 23%.

A dívida externa no gráfico 14 caiu drasticamente a partir de 2009 de 13,09 para 6,19 bilhões de dólares em 2010. Isso é justificado pelo fato de que a RDC atingiu em 2009 o ponto de chegada da iniciativa PPTE30. Essa iniciativa tinha por objeto de

30 PPTE quer dizer Países Pobres Muito Endividados (Pays Pauvres Très Endettés)

0 200 400 600 800 1000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Tx de câmbio nominal tx de câmbio real

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ajudar os países com dívidas muito elevadas de acelerar o processo de redução da pobreza e acrescentar seus potenciais para atingir os Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento “OMD” (Banco Central do Congo, 2009).

Gráfico 14: Dívida externa e reservas internacionais (US$ bi, 2005-2015)

Fonte: Banco Mundial (2015)

Em 2014, a dívida externa foi de 5,51 bilhões de dólares. Quase todo esse estoque é constituído de dívida de médio e longo prazo, principalmente contratada pelas instituições multilaterais.

As reservas internacionais estão apresentando certa estabilidade durante toda série disponível no gráfico 14, com exceção do período entre 2008 e 2009 no qual o país recebeu fundos do FMI para enfrentar a crise financeira internacional como visto acima. 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

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Gráfico 15: Razão entre dívida externa, reservas internacionais e exportações (2005-2014)

Fonte: Banco Mundial (2015)

O gráfico 15 mostra a razão entre a dívida externa, reservas internacionais e exportações. De um lado a relação entre dívida externa e reservas internacionais, a série estudada aponta um decréscimo entre 2005 e 2006. Em 2007, há um aumento como fruto dos choques exógenos derivados da crise financeira internacional, como mencionado acima. Já em 2008 e 2009, a razão cai e estabiliza-se de 2010 até 2014. Do outro lado, a razão entre a dívida externa e as exportações apresentou a mesma tendência de queda ao longo da série. Entre 2005 até 2007, ela caiu de 3,9 para 1,6. O ano 2008 apresentou aumento, mas logo em 2009 voltou a cair e estabilizou-se de 2010 até 2014 com pequena oscilação.

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Dívida externa/Reservas internacionais (eixo esquerdo) Dívida externa/exportações (eixo direito)

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5 - ANÁLISE FINANCEIRA DO GOVERNO NACIONAL E DAS

PROVÍNCIAS

Esse capítulo faz uma análise empírica dos dados das finanças públicas das províncias da RDC. Contudo, duas províncias foram escolhidas e serão estudadas especificamente com maior profundidade: Kinshasa e Sud-Kivu. A escolha pelas duas províncias é justificada principalmente porque seus dados estavam disponíveis e acessíveis, apesar de algumas pendências. Além disso, é conveniente fazer uma análise de uma província que tem maior contribuição tributária em relação ao total das receitas (Kinshasa), e de outra que tem menor (Sud-Kivu).

A cidade província de Kinshasa é a capital da República Democrática do Congo. Segundo a Constituição de 2006 (Artigo 2), ela é a sede das instituições e tem um estatuto de cidade. Situada na parte oeste do país, tem uma superfície de 9.965 km², e estimativa de população de 11.587.000 habitantes em 2015 (ONU, 2014). A cidade é o maior centro de consumo do país. Os setores mais importantes da sua economia são: financeiro, comércio e agropecuário (ADEJUWON E AL., 2017).

A província de Sud-Kivu é situada na parte leste do país, tem uma superfície de 64.851 km² e uma população de 3.874.059 habitantes. Sua economia é baseada principalmente na extração de minerais, tais como o ouro e o colombo-tantalita (coltan). Além disso, o setor agropecuário e o comércio também são importantes (Sud- Kivu, 2017)31.

Para atingir plenamente nosso objetivo geral do trabalho, as seções a seguir fazem, em primeiro, uma descrição dos dados das finanças públicas nacional, e da província de Sud-Kivu e da cidade-província de Kinshasa pelas análises contábeis vertical e horizontal (4.1) no intuito de compreender melhor as contas públicas dessas províncias e ver sua evolução ao longo do tempo. Em segundo, apresentaremos a metodologia (4.2) e a simulação das receitas e despesas das províncias (4.3). Finalmente, faremos uma análise de sustentabilidade fiscal (4.4) das províncias no ano 2015 para enxergar quais foram às repercussões da implementação do desmembramento e a descentralização fiscal conforme a Constituição de 2006 sobre

31 Em relação às pendências de informação, não foram encontrados dados sobre as multas no nível nacional. No

âmbito das províncias, em 2012, a cidade-província de Kinshasa não registrou despesas de equipamentos. Em 2013, faltaram as despesas de construção e reabilitação e as despesas de investimentos executados pelo governo central na conta da província. No Sud-Kivu em 2011 e 2014, não foram encontrados os dados de gastos sobre as subvenções do governo central. Em 2013 e 2014, faltaram os dados sobre gastos e receitas sobre orçamentos das ETDs.

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as finanças públicas das províncias. Isso quer dizer que essa análise vai mostrar qual foi o impacto da reforma sobre as contas públicas em relação ao endividamento público das províncias.