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Política de Assistência Estudantil no contexto da educação profissional no Brasil

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3 POLÍTICAS PÚBLICAS

3.4 Política de Assistência Estudantil no contexto da educação profissional no Brasil

De acordo com Sposati (2000), a política de assistência estudantil pode ser definida como um conjunto de políticas voltadas para a permanência de estudantes nos espaços educacionais. Partindo dessa perspectiva é que desenvolvemos a pesquisa, com a finalidade de conhecer se essa política oferece condições satisfatórias de apoio para os estudantes que se encontram em situação de dificuldade, de modo a reduzir as desigualdades que afetam o seu percurso escolar.

Eficácia e equidade são dimensões consideradas indissociáveis e essenciais para a garantia de uma educação de qualidade que promova a igualdade social. Partindo desse lugar, procuramos examinar se a Política de Assistência Estudantil alcança os propósitos estabelecidos e consagrados em seus dispositivos legais, de desenvolver “ações que garantam o acesso, a permanência e a conclusão de cursos dos estudantes do IFBA, com vistas à inclusão social, formação plena, produção de conhecimento, melhoria do desempenho acadêmico e ao bem estar biopsicossocial”(IFBA, 2014, p. 1). Dito com outras palavras, as indicações aqui apresentadas são uma tentativa de contribuir para o aprimoramento das ações da Assistência Estudantil (AE ) no IFBA.

Para adentrar na temática da política de assistência social, precisamos situá-la no campo da política social. Nessa direção, emerge a necessidade de apontarmos para os estudos de Abranches (1994) e Faleiros (2006), afirmando que na sociedade capitalista são atribuídas várias funções para a política social, tais como: mecanismo de reprodução da força de trabalho; conquista de parte dos trabalhadores visando garantir direitos de cidadania; estratégia política para reduzir os conflitos sociais ou atenuar o desequilíbrio do mercado, corrigindo-o sem, contudo, alterá-lo significativamente.

Ao verificarmos a diversidade de entendimento acerca do papel da politica social, concordamos com Reis (2000) que as ações nesse campo são:

“empregadas tanto para buscar amenizar as desigualdades sociais inerentes ao modo de produção capitalista, em decorrência da apropriação privada das riquezas socialmente produzidas; quanto para atender parte das reivindicações de parcelas da população, sendo o Estado não o único responsável, mas o principal agente na prestação dessas ações (REIS, 2002, p.43).

No contexto brasileiro, outro aspecto a ser mencionado, conforme Behring e Boschetti (2011, p.13), é a conexão entre política social e Serviço Social, em

decorrência do incremento da ação estatal, em 1930, tendo em vista as latentes expressões das questões sociais a ensejar a profissionalização desse campo.

Em 1938, é instituído o Serviço Social, por meio do Decreto nº 525, atendendo ao disposto na Constituição de 1934 que declarava ser obrigação do Estado assegurar assistência e proteção social aos desvalidos, cujas atribuições seriam realizadas através do Conselho Nacional do Serviço Social (CNSS). Apesar disso, as ações do Serviço Social passaram a ser realizadas no âmbito da Legião Brasileira de Assistência (LBA), criada no contexto da Segunda Guerra Mundial.

Na década de 1940, a Assistência Social estava instituída como uma área de intervenção do estado, mas com poucas mudanças significativas. Somente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o serviço social ganha uma nova dimensão, confirmando-se como uma política de direito social e rompendo com a visão assistencialista. Com isso a assistência social, a saúde e a previdência social passaram a compor a tríade de seguridade social. Esse novo cenário ensejou muitas discussões, versando sobre a sua natureza e as diretrizes e princípios que iriam nortear os novos passos (BRASIL, 1988).

Traçadas essas considerações, constatamos que no período de 1930 a 1980 a assistência social foi um instrumento utilizado para legitimar os governos que reforçavam cada vez mais a situação de dependência que se estabelecia dos assistidos em relação ao governo. Percebe-se também que os avanços evidenciados nos textos legais não se confirmam na prática cotidiana da ação social que sempre enfrentou bastante entraves.

A concepção assistencialista em que prevalecia o clientelismo político e a inconsistência dos recursos financeiros são aspectos quem responde fortemente pelo entraves e limites da assistência social. Desde a redemocratização, em 1980, as práticas clientelísticas vão regredindo como resultado do reconhecimento do papel das políticas públicas sociais e a sua emergência. Contudo, o antagonismo entre assistencialismo/clientelismo e direito social, continua sendo o grande dilema que persegue a assistência social. Essa contradição tanto pode contribuir para a ampliação do acesso aos direitos sociais favorecendo a conquista da cidadania, quanto pode servir para manter a submissão necessária à manutenção do poder. Por isso, a emergência da superação dessa ambivalência que pode comprometer esse campo de atuação.

Para Iamamoto e Carvalho (2006), há um vínculo estrutural entre a constituição das políticas sociais e o surgimento da profissão. Em seu livro “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil”, as autoras, fazem uma discussão sobre a perspectiva histórico-ideológica do Serviço Social afirmando que ele se desenvolveu como profissão reconhecida na divisão social do trabalho, no contexto da hegemonia do capital industrial e financeiro. Ainda segundo as autoras, o Serviço Social no Brasil teve a sua origem nas iniciativas da Igreja, mas cresceu integrado ao serviço público e ampliou-se com a evolução do controle e do âmbito da ação do estado. Vinculou- se, também, com as organizações patronais privadas responsáveis pelos setores produtivos e de prestação de serviços (IAMAMOTO E CARVALHO, 2006, pp. 77- 79).

Em 1993, o status de política pública é ratificado e regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), revelando um avanço político dos direitos de cidadania. Boschetti (2003) chama a atenção que, em 2002, quase dez anos após a implantação da LOAS, apenas 16% dos municípios haviam constituídos os seus Conselhos, em que pese a definição da LOAS sobre a necessidade da fundação dessas instâncias para o repasse e viabilização dos recursos da União (BRASIL, 1993).

Desse modo, a discussão sobre a assistência social precisa ser considerada no contexto mais amplo das políticas públicas. Nas últimas três décadas temos o ressurgimento da importância deste campo de conhecimento, assim como das instituições, regras e modelos que regem sua decisão, elaboração, implementação e avaliação (SOUZA, 2006).