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POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO

Figura 4: Grid Gerencial.

3.4 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO

CONTÍNUO DA LIDERANÇA

A Política Nacional de Educação Permanente fundamenta-se em experiências bem sucedidas desenvolvidas por profissionais que assumiram posições de destaque no Ministério da Saúde, os quais tinham como objetivo disponibilizar um projeto educacional que atendesse as necessidades do SUS, na busca pela sua consolidação e qualificação, uma vez que esta última somente se tornará realidade através da educação profissional (MANCIA; CABRAL; KOERICH, 2004). Desta forma, em fevereiro de 2004, conforme a Portaria 198/GM/MS, o Ministério da Saúde implantou a Política Nacional de Educação Permanente, com a finalidade de formar e capacitar profissionais da saúde para atenderem as reais necessidades da população, conforme os princípios do SUS (BRASIL, 2004).

De acordo com Zabalza (2004), a formação é entendida como um processo contínuo que ocorre no transcorrer da vida, não se reduzindo a um curto espaço de tempo, ou seja, a duração de um curso, sendo atualmente vinculada tanto ao desenvolvimento profissional como ao crescimento pessoal. Já a capacitação refere-se à habilidade que as pessoas devem possuir para serem formados e reformados de maneira mais adequada, de acordo com as exigências tecnológicas, organizacionais e de mercado (BERNSTEIN, 2003).

A Política Nacional de Educação Permanente consiste em uma proposta que visa à transformação do trabalho na área da saúde, aderindo a novas atividades como a atuação crítica, reflexiva, compromissada e tecnicamente eficiente. Para que isso ocorra efetivamente, torna-se necessário descentralizar e disseminar a capacidade pedagógica entre os trabalhadores, gestores e serviços, possibilitando também a participação social (CECCIM, 2005).

Com o intuito de alcançar o objetivo proposto pela Política foram criados, na época, os pólos de educação permanente, comprometendo-se socialmente em nível locorregional, interinstitucional, utilizando-se a dinâmica da roda de gestão. Cada pólo de educação permanente era

responsável por um determinado território, não podendo haver nenhum município sem referência a um pólo, os recursos para financiamento e apoio técnico provinha do orçamento do Ministério da Saúde e tinham a responsabilidade de identificar as necessidades de formação e de desenvolvimento dos trabalhadores de saúde, incentivar a formação de gestores a fim de obter maior integração na rede de atenção, propor políticas e estabelecer negociações nos níveis interinstitucionais e intersetoriais orientadas pelos princípios do SUS e também estimular a criação de políticas com vistas à formação e desenvolvimento dos docentes (BRASIL, 2004).

Convém destacar que esta política conta com o apoio de diversos setores e instituições, tais como: gestores estaduais e municipais de saúde, instituições e hospitais de ensino, trabalhadores e estudantes da área, conselhos municipais, estaduais e movimentos sociais. Visando possibilitar um processo de comunicação efetivo, no qual todos os integrantes participem igualmente, é utilizada a dinâmica da roda, rompendo-se com a hegemonia da verticalidade (BRASIL, 2004).

A educação permanente em saúde atua frente ao quadrilátero da formação criado por Ceccim, sendo composto pela interação entre os segmentos da formação, da atenção, da gestão e do controle social em saúde objetivando-se através desta aliança valorizar as características locais, a capacidade de crítica, estabelecer aprendizagem significativa, a auto-análise e autogestão (CECCIM, LAURA, 2004; CECCIM, 2005).

A seguir se destaca os principais objetivos de cada componente do quadrilátero: a) formação: visa à modificação da educação tradicional centrada no professor e na transmissão por uma educação interacionista e problematizadora; b) atenção: busca construir novas práticas de saúde, considerando os princípios da integralidade, equidade e da humanização; c) gestão: tem a função de disponibilizar redes de atenção que assegurem a resolutividade das necessidades individuais e coletivas, considerando a avaliação e satisfação dos usuários e d) controle social: deve apoiar as lutas a favor da saúde pública (CECCIM, 2005).

Na concepção de Rovere (2005), o quadrilátero da formação é um dispositivo interessante para conectar processos que até o momento eram pensados de maneira individualizada. Todo o processo que esteja vinculado à educação permanente tem o poder de originar nos profissionais e no seu cotidiano transformações da sua prática.

Nesta proposta, a educação permanente engloba a educação formal, ou seja, os cursos de atualização, especialização, mestrado e doutorado, bem como, as atividades educativas desenvolvidas no ambiente de trabalho com o intuito de proporcionar o crescimento

profissional. Ainda, considera-se inserida neste contexto a educação informal, compreendida como o intercâmbio de conhecimento realizado entre os profissionais integrantes da equipe, os estudantes e docentes.

A preparação de profissionais e estudantes de acordo com os princípios do SUS visa romper com a atual organização do trabalho desempenhado nos serviços de saúde, pois esta tem sido realizada de forma fragmentada, ou seja, a saúde coletiva separada da clínica, a gestão separada da atenção e assim por diante. Cresce a necessidade da adoção de práticas educativas que se constituem em ferramentas que permitam uma análise das experiências locais, da organização de ações em rede, da formação, da pós-graduação, da qualificação dos docentes, das modificações na gestão e atenção à saúde e por fim o fortalecimento da participação da população (CECCIM, 2005).

Em 2007 entrou em vigor a Portaria GM/MS nº 1.996 que dispõe sobre as diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, a qual propõe a condução regional da política, através da criação de Colegiados de Gestão Regional e de Comissões Permanentes de Integração Ensino-Serviço (CIES), as quais são definidas como instâncias intersetoriais e interinstitucionais permanentes que participam da formulação, condução, desenvolvimento e avaliação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Salienta-se que as CIES surgiram em substituição aos Pólos Locorregionais de Educação Permanente em Saúde para o SUS.

Esta portaria reforça que a educação permanente representa um conceito pedagógico no setor saúde, a fim de articular as relações entre formação e gestão setorial, bem como desenvolvimento institucional e controle em saúde (BRASIL, 2007). Desta maneira, as ações educativas devem ser revistas para possibilitar sua incorporação na prática, sendo utilizadas também pelos profissionais e estudantes, fazendo com que ocorra uma interligação entre os conhecimentos formais elaborados pelos estudiosos e os conhecimentos utilizados pelos profissionais, conforme sua realidade.

Considera-se a educação permanente como uma estratégia que oportuniza o desenvolvimento da liderança. Compreende-se que as competências propostas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais associadas à Política Nacional de Educação Permanente respaldam legalmente o processo de ensino-aprendizado formal da liderança, bem como a necessidade de ampliá-lo no cotidiano profissional do egresso. Frente ao exposto, sente-se a necessidade de uma maior conexão entre as instituições de ensino e os serviços de saúde, para que o ensino

proporcione a formação de profissionais comprometidos, éticos e que estejam dispostos a deixar posições confortáveis para se exporem, tornando-se agentes de transformação, ou seja, enfermeiros-líderes.

No que se refere ao processo de ensino-aprendizado da liderança, pode-se afirmar que a necessidade de formação de líderes ainda mantém-se como um desafio a ser perseguido, não apenas pelas instituições de ensino, mas também por todos os enfermeiros, pois se trata de uma condição essencial, a qual possibilita a visualização de um futuro com novas perspectivas e propostas de atuação, podendo contribuir para um maior prestígio e valorização da enfermagem (SIMÕES; FÁVERO, 2000). Somente pode ser líder de uma equipe, a pessoa que promove seu autoconhecimento, traça metas e estratégias para seu crescimento pessoal e profissional, bem como de seus colaboradores, visando fortalecer as potencialidades do grupo e superar suas fragilidades.

Conforme o objetivo do estudo, o qual visa compreender o exercício da liderança como competência profissional na prática desenvolvida no âmbito hospitalar, torna-se importante destacar que as instituições hospitalares são entendidas como locais propícios para o desenvolvimento profissional, as quais são consideradas sistemas complexos que absorvem grande parte dos profissionais da saúde e disponibilizam empregos para diversos trabalhadores que atuam na administração, higienização, manutenção entre outras áreas que se fazem necessárias (MATOS; PIRES, 2006).

No entanto, o processo de trabalho dos profissionais de enfermagem desenvolvido em tais instituições é, comumente, executado de forma fragmentada, o que intensifica a lacuna existente entre as ações realizadas pelos profissionais de enfermagem, acarretando na compartimentalização da pessoa a ser cuidada. Desta forma, pode contribuir para que o cuidado, tarefa profissional da enfermagem, seja alvo de críticas relacionadas à forma mecanicista e burocratizada como é desenvolvido, sofrendo, em contrapartida, questionamentos sobre os recursos e instrumentais utilizados para a sua consecução, os quais permanecem interligados a paradigmas tradicionais, que acabam ferindo o viver humano, em sua subjetividade e complexidade (CAMPONOGARA; BACKES, 2007).

Frente a esta realidade, pode-se afirmar que a educação permanente é uma estratégia utilizada pelas três esferas governamentais, a fim de colocar em prática os princípios norteadores do Sistema Único de Saúde. Mediante a capacitação profissional, busca-se a integralidade da atenção a saúde, a qual consiste em uma competência profissional a

ser desenvolvida e aprimorada pelo enfermeiro. Reibnitz et. al.(2009) afirmam que a integralidade envolve o entendimento de fazer saúde como ação coletiva e não enquanto trabalho fragmentado, no qual o conhecimento é utilizado como instrumento de poder, de adaptação social ou de defesa do já instituído.

Salienta-se que a adoção no país da Política Nacional de Educação Permanente foi compreendida como uma estratégia de consolidação do Sistema Único de Saúde, promovendo um forte movimento de articulação intersetorial e interministerial. Tal movimento tem gerado espaços dialógicos entre os distintos setores e agentes responsáveis pela implementação das práticas em saúde no Brasil (REIBNITZ et al., 2009).

De acordo com Amestoy et. al. (2007) pode-se reconhecer a educação permanente como o primeiro passo para a amenização das condições atuais do trabalho nos serviços de saúde, através do distanciamento do modelo institucional desgastante, por um local promotor de satisfação, desenvolvimento e capacitação pessoal.

Diante da situação problemática que se encontra a saúde da população brasileira, a criação e adoção de políticas públicas que contribuam positivamente para a promoção da saúde e geradoras de condições que colaborem para o trabalho em equipe entre professores, alunos, profissionais, gestores e comunidade, com vistas ao bem-estar individual e coletivo, são indispensáveis no contexto atual. Entende-se que a adoção da educação permanente poderá contribuir positivamente para a modificação das condições de trabalho enfrentadas, atualmente, pelos profissionais da saúde, em especial os da enfermagem (AMESTOY et al., 2007).

A educação permanente considera o saber adquirido pelo enfermeiro originado a partir de suas experiências de trabalho. Essa valorização permite assinalar com maior propriedade a realidade dos serviços de saúde, a expressão das fragilidades e potencialidades dos sujeitos, estimulando no processo de formação, a troca mútua de experiências, a criação e socialização de um novo saber e uma nova prática, a partir da crítica e instrumentalização mediante a educação transformadora (BACKES et al., 2008).

Conforme Ferraz (2011) esta perspectiva só poderá ser alcançada, a partir do momento em que os homens sejam capazes de considerarem- se seres na busca constante de “ser mais”, que, mediante sua autorreflexão, podem descobrir-se enquanto seres inacabados e sujeitos na sua própria educação. Nesse ponto está centrado um dos grandes

desafios da Política Nacional de Educação Permanente.

Desta forma, busca-se oportunizar o desenvolvimento dos recursos humanos na área da saúde, a fim de que os mesmos possam ampliar a qualidade da assistência, bem como promover espaços para crescimento e aprimoramento profissional, tendo em mente que os trabalhadores são agentes de transformação e não de reprodução passiva da realidade.

3.5 MANUSCRITO 1: PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE