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Dentre as políticas públicas têm destaque as de Recursos Hídricos, que são elaboradas através de seus planos. Os Planos de Recursos Hídricos configuram-se como um dos instrumentos previstos na Lei Federal nº 9.433/97, conhecida como Lei das Águas, e devem ser elaborados em três níveis hierarquicamente organizados, a saber:

• Nacional - Plano Nacional de Recursos Hídricos; • Estadual – Plano Estadual de Recursos Hídricos;

• das Bacias Hidrográficas – Plano de Bacia Hidrográfica.

Aprovado no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em 30 de janeiro de 2006, o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) traz um conjunto de diretrizes, metas e programas para assegurar o uso racional da água no Brasil até 2020. A Figura 2.1 sintetiza as estratégias para assegurar o planejamento e o monitoramento dos recursos hídricos no Brasil.

Figura 2.1 – Fluxograma Política Nacional de Recursos Hídricos

Fonte: PNRH

Sabe-se que os recursos hídricos são finitos e a sua distribuição é significativamente irregular por toda a crosta terrestre. Apesar do extraordinário volume de água existente em no planeta Terra, apenas 2,8% são adequados para o consumo humano, sendo que 2,2% encontram-se nas geleiras e apenas 0,6% nos rios, lagos e lençóis subterrâneos (COÊLHO, 2001). Ademais, de acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2006, cerca de 1,1 bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento não têm acesso à água potável. “[...] Nos últimos cem anos, a população quadruplicou, enquanto o consumo de água cresceu sete vezes” (PNUD, 2006, p. 137). No Brasil, cita-se a Região Amazônica como sendo a que detém o maior volume de água doce, o que corresponde a aproximadamente 70% do volume total disponível no país, para abastecer pouco mais de 5% da população brasileira. Mas o mesmo não se dá na Região Nordeste, onde as estatísticas apontam para 3,3% de disponibilidade hídrica para atender a uma população cada vez mais concentrada nos centros urbanos (ANA, 2001).

Com respeito à água e sua importância irrefutável para a manutenção da vida de todas as espécies, sobretudo a humana, o Relatório de Desenvolvimento Humano destacou: “O ponto de partida e o princípio unificador da ação pública para a água e o saneamento é o reconhecimento de que a água é um direito humano básico” (PNUD, 2006, p. 60).

A gestão dos recursos hídricos deve ser parte integrante da agenda de governo de qualquer país, inclusive o Brasil, a despeito de ter áreas de grande abundância hídrica como a Amazônia. Cumpre ressaltar que o território brasileiro é bastante irregular, no tocante à distribuição de água; lançando-se um olhar acurado sobre o semi-árido nordestino, onde parcela relevante da população sofre a estiagem a cada ano, percebe-se tal irregularidade. Pode parecer contraditório o fato de municípios nordestinos inteiros, ocasionalmente, entrarem em colapso por falta de água, uma vez que a Bacia do São Francisco carrega volumes de água monumentais. Sobre esse aspecto, de acordo com o relatório das Nações Unidas, a problemática está no gerenciamento e não na insuficiência do bem:

A escassez física de água, definida como quantidade insuficiente de recursos para satisfazer a procura, é uma das características inerentes à questão da segurança da água em alguns países. Mas as situações de penúria absoluta ainda são a exceção e não a regra. A maioria dos países dispõe de água suficiente para satisfazer as necessidades domésticas, industriais, agrícolas e ambientais. O problema está na gestão (PNUD, 2006, p. 133).

Considera-se que os recursos hídricos acessíveis ao consumo humano direto constituem uma fração mínima do capital hidrológico, porém sua escassez em escala mundial é perceptível, seja pelo crescimento da população ou por aumento da demanda de atividades econômicas que justifiquem seu uso. Observa-se, também, uma redução da oferta da água, ocasionada especialmente pela poluição dos mananciais. Em decorrência desses fatores o preço por m³ tende a aumentar, utilizando-se da lógica de mercado: oferta x demanda.

A falta de água é um problema de ordem ambiental, cujos impactos tendem a se agravar, caso o manejo dos recursos hídricos não seja revisto pelos gestores públicos. Não apenas os detentores do poder público têm a incumbência de tal responsabilidade, como também a sociedade civil: “a gestão dos recursos hídricos

deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades” (PNRH, art. 1°, § VI).

A priorização da água, em situação de stress hídrico, de acordo com a Lei Federal 9.433/1997, é o consumo humano e a dessedentação de animais. Essa nova Lei, que passou a ser conhecida como a Lei das Águas, anuncia uma significativa mudança no modo de apropriação e adequado uso dos recursos hídricos. A Lei estabelece cinco instrumentos de gestão: a) Os planos de recursos hídricos; b) o enquadramento dos corpos d’água em classes, segundo os usos preponderantes; c) a outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos; d) a cobrança pelo uso da água e finalmente e) o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. O capítulo 18 da Agenda 21 enfatiza a proteção e manejo dos Recursos Hídricos como forma garantir a sustentabilidade, “A água é necessária em todos os aspectos da vida. O objetivo geral é assegurar que se mantenha uma oferta adequada de água de boa qualidade para toda a população [...]” (MMA/PNUD, 2000). Sobre esse aspecto, Sobral et al., (2006) destacam a importância do uso de instrumentos legais para reduzir os impactos causados nos recursos hídricos. Tais medidas visam minimizar os riscos ao bem-estar das populações humanas que habitam próximo àqueles recursos.

No intuito de um efetivo regramento sobre os recursos hídricos, foram criadas instâncias institucionais, bem como instrumentos legais nos diversos níveis dos entes federados. A idéia da elaboração dos arranjos organizacionais e institucionais é fomentar mudança de paradigma em relação ao uso dos recursos hídricos. A Figura 2.2 apresenta as instâncias de políticas sobre recursos hídricos no âmbito federal e suas interfaces. O Ministério do Meio Ambiente e sua Secretaria Nacional de Recursos Hídricos, além da Agência Nacional de Águas (ANA), uma autarquia especial dotada de autonomia administrativa compõem a primeira linha. O Ministério das Cidades, especialmente sua Secretaria de Saneamento Ambiental, juntamente com o Ministério da Integração e sua Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica também estão incluídos no primeiro escalão. O Ministério da Saúde contribui com ações relacionadas com saneamento através da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). As ações e investimentos aplicados em recursos hídricos e saneamento, principalmente quanto às obras e intervenções são oriundos do Orçamento Geral da União (OGU), de acordo com ANA (2005). Acredita-se que essas instituições devam

trabalhar no sentido da promoção de ações conjuntas para garantir um saneamento básico efetivo.

Figura 2.2 - Desenho e Integração Institucional - Federal