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Política social no governo Lula: um olhar sobre as políticas para a juventude

2 POLÍTICAS PÚBLICAS, EDUCAÇÃO E JUVENTUDE

2.2 As políticas educacionais no Brasil a partir dos anos de 1990: considerações sobre

2.2.2 Política social no governo Lula: um olhar sobre as políticas para a juventude

Com a política social do governo Lula, a partir de 2003, visando ao desenvolvimento social com vista ao desenvolvimento econômico, foram priorizadas as políticas que objetivam combater a fome e a pobreza através de programas de responsabilidade do Ministério do

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De acordo com o site do Ministério da Educação (http://www.inep.gov.br/basica/saeb/default.asp) O SAEB é composto por dois processos: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) realizada por amostragem das Redes de Ensino, em cada unidade da Federação, e tem foco nas gestões dos sistemas educacionais. Por manter as mesmas características, a Aneb recebe o nome do Saeb em suas divulgações; e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), mais extensa e detalhada que a Aneb e tem foco em cada unidade escolar. Por seu caráter universal, recebe o nome de Prova Brasil em suas divulgações.

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Segundo o Ministério da Educação “[...] O Enem é utilizado como critério de seleção para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Além disso, cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame como critério de seleção para o ingresso no ensino superior, seja complementando ou substituindo o vestibular.”. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=183&Itemid=310. Acesso em: 14 de maio de 2010.

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O SINAES é constituído de três componentes: “[...] a avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. O Sinaes avalia todos os aspectos que giram em torno desses três eixos: o ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, o desempenho dos alunos, a gestão da instituição, o corpo docente, as instalações e vários outros aspectos. Ele possui uma série de instrumentos complementares: auto-avaliação, avaliação externa, Enade, Avaliação dos cursos de graduação e instrumentos de informação (censo e cadastro). Os resultados das avaliações possibilitam traçar um panorama da qualidade dos cursos e instituições de educação superior no País. Os processos avaliativos são coordenados e supervisionados pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes). A operacionalização é de responsabilidade do Inep. As informações obtidas com o Sinaes são utilizadas pelas IES, para orientação da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social; pelos órgãos governamentais para orientar políticas públicas e pelos estudantes, pais de alunos, instituições acadêmicas e o público em geral, para orientar suas decisões quanto à realidade dos cursos e das instituições.”. Disponível em: http://www.inep.gov.br/superior/SINAES/, Acesso em: 14 de maio de 2010.

Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Os principais são: Programa Bolsa Família, cujo objetivo é utilizar a transferência direta de renda com condicionantes que beneficiam famílias com renda mensal por pessoa de até R$120,00; Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil (PETI), com o objetivo de retirar crianças e adolescentes do trabalho precoce por

intermédio de três eixos básicos: transferência direta de renda a famílias de crianças e adolescentes em situação de trabalho, oferta de atividades socioeducativas a crianças e adolescentes, organizadas pelos municípios, e acompanhamento sócio-familiar; Programa de

Proteção Social Básica, destinado aos indivíduos e às famílias em situação de vulnerabilidade

social.

Integram a Proteção Social Básica o Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), desenvolvido nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS)20, os serviços socioeducativos e de convivência para pessoas idosas, os serviços para crianças de zero a seis anos, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e projetos de estruturação da rede (BRASIL, 2008).

Além desses, foram criados também o Programa Ações Integradas e Referenciais de

Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil no Brasil, de responsabilidade da

Secretaria Especial dos Direitos Humanos, com o objetivo de criar ou fortalecer as redes locais associadas, através da participação social, possibilitando a articulação e a integração dos serviços que visam à atenção às crianças, adolescentes e famílias envolvidas em situação de violência sexual; e o Programa Comunidades Tradicionais, de responsabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia, com a finalidade de contribuir para a garantia da territorialidade das comunidades tradicionais, de maneira a possibilitar a valorização da cultura e das formas de organização social, e dinamizar as atividades produtivas e o uso sustentável dos ambientes antes ocupados de modo tradicional (BRASIL, 2008).

Cabe evidenciarmos que estes programas possuem finalidades semelhantes, quando objetivam atender à população pobre, grande parte em estado de vulnerabilidade social21, que

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O Centro de Referência de Assistência Social é a unidade pública da assistência social, de base municipal, localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à prestação dos serviços sócio-assistenciais às famílias. (BRASIL, 2008)

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Para conceituar o termo vulnerabilidade social nos reportamos a autores, como Ruben Kaztman e Fernando Filgueira (2006, p. 36) que afirmam “[...] Em geral, quando se aplica às pessoas ou aos grupos, ele denota uma escassa capacidade para resolver situações de risco ou situações adversas. Neste sentido, tem sido usado freqüentemente como sinônimo de pobreza, mas respondendo mais à ressonância semântica que o termo desperta no bom senso do que a uma definição apoiada em outros conceitos e a eles articulada, [...] chamamos de vulnerabilidade ante a pobreza ou a exclusão social às situações que surgem quando as configurações de recursos que controlam e podem movimentar os domicílios não são suficientes para aproveitar as estruturas de oportunidade de acesso ao bem-estar. Esse conceito de vulnerabilidade social é fruto da acumulação de inúmeras contribuições.”

sofre as mazelas sociais, como fome e pobreza, e alguns voltam-se para o desenvolvimento de ações destinadas às famílias e às crianças que se encontram em situação de risco pessoal e social.

Entretanto, apesar de estas medidas representarem uma preocupação por parte do governo com a população pobre, este discurso que firma a necessidade de reduzir a magnitude da pobreza, na verdade encontra-se mais no discurso da caridade; que não busca compreender os mecanismos sociais e econômicos que geram tal pobreza, mesmo com a “disposição” dos meios científicos e tecnológicos para encontrar tal resposta. Então, o que constatamos são políticas públicas emergenciais que resolvem os problemas sociais superficialmente, visto que tais problemas são estruturais e não podem ser resolvidos por meio de tais políticas.

Sobre as políticas sociais que objetivam findar as desigualdades sociais e a pobreza, de acordo com Fernandez Soto citado por Siqueira (2007), o que podemos verificar é, na verdade, que

A funcionalidade essencial das políticas sociais diz respeito ao controle da força de trabalho e a garantia de condições adequadas ao desenvolvimento do sistema. As políticas sociais intervêm no ordenamento das relações sociais, participando do processo de manutenção da ordem em processos de legitimação dos projetos sociais vigentes. Além disso, elas desempenham impacto na materialidade visto que afetam o nível de vida da população, e exercem uma regulação sobre o mercado de trabalho (FERNANDEZ SOTO apud SIQUEIRA, 2007, p. 42-43).

As políticas públicas voltadas para educação são efetivadas com a implantação dos programas de responsabilidade do Ministério da Educação, com vista a atender às exigências da sociedade e do mercado, na tentativa de manter os alunos na escola e de prepará-los para os desafios sociais. Atualmente, os principais programas são:

• Programa Brasil Alfabetizado, que busca contribuir para a universalização do Ensino Fundamental por meio do apoio a ações de alfabetização de jovens, adultos e idosos, nos cursos de educação de jovens e adultos das redes públicas de ensino;

• Programa Brasil Profissionalizado, cujo objetivo é estruturar o Ensino Médio e articular as escolas aos arranjos produtivos e as vocações locais e regionais, em um contexto de integração da educação profissional com o Ensino Médio, combinando formação geral, científica e cultural com formação profissional dos estudantes;

• ProJovem Campo – Saberes da Terra (modalidade do ProJovem). Seu objetivo é promover a oferta de escolarização em nível fundamental, na modalidade

educação de jovens integrada à qualificação social e profissional, para jovens agricultores familiares de 18 a 29 anos, garantindo-lhes a elevação da escolaridade e resgatando para a escola esta clientela excluída, involuntariamente, da educação básica, além de proporcionar, aos profissionais, oportunidades de formação continuada com conteúdos inovadores. (BRASIL, 2008).

A respeito da preocupação com a educação e o papel que lhe é requerido, nos programas elencados, é relevante evidenciarmos que expressam concepções de educação e de conhecimento dados como imprescindíveis para a elevação da produtividade, para a diminuição da pobreza e para o exercício da cidadania, representando, assim, possibilidades de inserção do país na sociedade dita globalizada.

A educação, nesse cenário, é compreendida como um instrumento para promover o crescimento e reduzir a pobreza. Era necessário, para se atingir o desenvolvimento pleno, que os países subdesenvolvidos tomassem atitudes severas em relação à miséria, entendida como ameaça constante à democracia. A educação é assim concebida como um instrumento econômico indispensável ao desenvolvimento, ao progresso. (OLIVEIRA, 2000, p. 197).

Constituem também referências à política educacional, os programas que têm como meta prioritária pôr e manter todas as crianças na escola, caso da meta de Educação para Todos. Mais do que a definição de conteúdos e conhecimentos básicos, que correspondam a uma determinada concepção de formação geral, o que se tem como proposição cognitiva para a reforma da Educação é a valorização da capacidade de aprender, de processar informações, de interpretar e resolver os problemas colocados em uma sociedade em permanente mudança, segundo o discurso que sustenta essa reforma.

Destacamos ainda a política social voltada para os Direitos da Cidadania, como o

ProJovem, de responsabilidade da Presidência da República. Este Programa representa o

resultado da integração de seis programas já existentes voltados para a juventude – Agente Jovem, ProJovem, Saberes da Terra, Consórcio Social da Juventude, Juventude Cidadã e Escola de Fábrica.

A sua primeira versão foi criada no ano de 2005 pelo Projeto de Lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005. O Programa era voltado para jovens de 18 a 24 anos, que cursaram até a quarta série e não conseguiram concluir a oitava série do Ensino Fundamental, delimitando como público-alvo os jovens tidos como analfabetos funcionais, que representam um

significativo número no país. Possuía um caráter emergencial, pois atendia a uma parcela da população que precisava chegar ainda jovem ao ensino médio, e um caráter experimental, visto que em sua proposta curricular existia um embasamento teórico, paradigmas que tratavam da articulação entre a formação geral, a qualificação profissional e a ação comunitária. Sua finalidade ainda é proporcionar formação integral ao jovem, a partir da efetiva associação entre: a elevação da escolaridade, com a conclusão do ensino fundamental, a qualificação profissional, com certificação de formação inicial, e a formação para a cidadania, com o desenvolvimento de ações comunitárias; busca, assim, contribuir para a re- inserção dos jovens na escola, a capacitação para o mundo do trabalho e a integração na sociedade.

Atualmente, na sua segunda versão, implantada pela Lei nº 11.692 de 10 de junho de 2008, destina-se aos jovens de 15 a 29 anos, em situação de vulnerabilidade social, que tenham terminado a 4ª série, não tenham concluído a 8ª série do Ensino Fundamental, hoje 9º ano, e não tenham emprego com carteira assinada. Atua nas modalidades: Adolescente, Campo, Trabalhador e Urbano, e é coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, por meio da Secretaria Nacional de Juventude, e tem sua gestão compartilhada com os Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Educação e do Trabalho e Emprego.

Devido às suas várias especificidades, escolhemos como foco de investigação este Programa, tendo em vista estar dentro de uma política social que tem a pretensão de acabar com a pobreza, enfrentar a baixa escolaridade nos bolsões de miséria presentes no País e contemplar a juventude em situação de vulnerabilidade social.

Constatamos, tal qual vem ocorrendo desde o início da década de 1990, que

A preocupação é com a justiça social, que se faz a partir do desenvolvimento das condições humanas, da possibilidade de oferecer um mínimo de dignidade aos pobres em todo o mundo, envolvendo melhores condições de saúde, educação e trabalho. Tais condições são chamadas, pelos organismos internacionais ligados á ONU, de equidade social, e estarão fortemente presentes nos estudos e pesquisas dessas instituições, bem como nas suas referências políticas [...] (OLIVEIRA, 2000, p. 111).

Notadamente, o significado de pobreza utilizado nos programas e projetos do Governo Federal segue a linha de definição internacional, exposta nos documentos elaborados pelos organismos multilaterais, nos quais a pobreza é vista

[...] como a incapacidade de alcançar padrões e saber se são ou não alcançados. As pessoas de baixa renda vivem sem as liberdades fundamentais para levar o tipo de vida que valorizam. Com freqüência carecem de alimentos, abrigo, educação e cuidados de saúde adequados. São extremamente vulneráveis a doença, violência, deslocamento econômico e desastres naturais. Recebem atendimento precário de instituições tanto do Estado como da sociedade. E freqüentemente se sentem impotentes para influenciar decisões-chave que afetam sua vida. [...] Por conseguinte, a pobreza absoluta é atualmente reconhecida como a incapacidade de alcançar os padrões básicos em nutrição, saúde, educação, meio ambiente e participação nas decisões que afetam a vida das pessoas de baixa renda. (BANCO MUNDIAL, 2004).

Nessa situação, a política de reforma, com vista ao crescimento econômico, além de comprometer a sociedade para o desenvolvimento de ações que possam progredir nas múltiplas dimensões de combate à pobreza, agora transmite a ideia de integração com envolvimento da justiça social, com os direitos humanos, imprimindo a ideia de participação dos indivíduos em estado de exclusão social nas ações da comunidade.

Assim,

Esforços para integrar as diversas partes do pensamento de desenvolvimento foram ainda mais longe para envolver a justiça social e os direitos humanos. Em anos recentes a comunidade internacional tem ressaltado vigorosamente a proteção dos direitos humanos nos países pobres. A forma como os direitos humanos abordam a pobreza destaca a responsabilidade das instituições que afetam o cumprimento dos direitos dos indivíduos. Essa perspectiva é semelhante à abordagem ao desenvolvimento – e à redução da pobreza – baseada na promoção de oportunidades, facilitação do empoderamento e aumento da segurança. É uma perspectiva útil em uma ampla gama de áreas – tais como proteger as minorias, assegurar o respeito pelo regime de direito e tornar o processo de formulação de política participativo, transparente e eficaz. (BANCO MUNDIAL, 2004).

Todos estes elementos fazem parte da política nacional de inclusão de jovens que está diretamente relacionada com o processo histórico e político-social da educação de jovens e adultos excluídos da educação e da participação plena da cidadania.