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O ProJovem em São Luís MA: um olhar situacional das políticas para a

3 AÇÃO COMUNITÁRIA: NO CONTEXTO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA

4.1 O ProJovem em São Luís MA: um olhar situacional das políticas para a

Em 1965 foi assinada a Declaração sobre o Fomento entre a Juventude dos Ideais de

Paz, Respeito Mútuo e Compreensão entre os Povos pelos Estados-membros das

Organizações das Nações Unidas (ONU), que representou o marco inicial do compromisso internacional para com a juventude.

Porém, conforme Silva & Andrade (2009, p. 45-47), “[...] foi apenas em 1985, com a instituição pela ONU do Ano Internacional da Juventude: Participação, Desenvolvimento e Paz, que o tema alcançou materialidade e ampliou sua visibilidade”, significando “[...] um grande impulso para que as questões de juventude entrassem na pauta de políticas públicas dos países da América Latina, ao longo da década de 1990 [...]”. Ou seja, representando um relevante incentivo e notadamente obrigação dos países em desenvolver uma política nacional de juventude que pudesse combater e/ou amenizar os indicadores de acesso dos jovens aos direitos sociais, culturais e econômicos, presentes no Informe sobre a Juventude Mundial da ONU, que apontava um quadro desolador da não concretização de direitos humanos para os jovens.

Ainda, segundo Silva & Andrade (2009, p. 46),

Incentivados pela agenda da ONU para a juventude, principalmente após a instituição do Ano Internacional da Juventude, uma importante organização entre os países ibero-americanos começou a ser gestada. O início do processo de aproximação destes países tem como marco o ano de 1987, quando o Instituto da Juventude da Espanha convocou a Conferência Intergovernamental sobre Políticas de Juventude na Ibero-América. A partir de então, os países participantes decidiram ampliar o conhecimento recíproco sobre a situação da juventude, deliberando pela realização de reuniões anuais. Em 1992, por ocasião da realização da VI Conferência Ibero-Americana de Ministros de Juventude, a Organização Ibero- Americana de Juventude (OIJ) – instituição internacional de caráter governamental – foi criada formalmente. Atualmente, a OIJ é o único organismo multilateral governamental de juventude e promove a cooperação e o diálogo, nesta área, entre 21 países ibero-americanos: Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba,

Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Uruguai, Venezuela e Bolívia.

A ONU, após dez anos de instituição do Ano Internacional da Juventude, especificamente em 1995, recomendou aos países-membros a adoção de uma estratégia internacional a partir da implementação de políticas integradas para a juventude, que pudessem contemplar os vínculos entre as diferentes áreas prioritárias do Programa Mundial de Ação para a Juventude (PMAJ), que tivessem atenção especial aos direitos dos jovens considerados mais vulneráveis socialmente, uma vez que segundo o Informe sobre a Juventude Mundial organizado pela ONU, o maior desafio que precisaria ser “urgentemente” enfrentado pelos Estados e pela sociedade em geral era “[...] encontrar formas sustentáveis para concretizar os direitos humanos dos jovens e romper o ciclo intergeracional da pobreza. O caminho apontado pelas Nações Unidas destacava a necessidade de intervenções públicas nas áreas de educação, saúde e emprego” (SILVA & ANDRADE, 2009, p. 44).

Em 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas lançou o Informe 2005, que apresentou a situação dos jovens no mundo. Este informe repercutiu intensamente na mídia e entre os organismos internacionais e nacionais da sociedade e do governo, visto que apresentava uma avaliação das graves situações vividas pelos jovens no mundo e das conquistas ocasionadas pela implementação do Programa Mundial para a Juventude. De acordo com este documento, aconteceram “[...] avanços em várias das áreas prioritárias do programa no período analisado; todavia, enfatizava que os jovens do início do terceiro milênio continuavam enfrentando problemas muito mais complexos, destacando-se a epidemia da AIDS e a pobreza [...]” (SILVA & ANDRADE, 2009, 46). E neste Informe, constava, conforme evidenciam Silva & Andrade (2009, p. 46), que “[...] a pobreza continuaria por muitas décadas a representar o maior desafio na vida de milhares de jovens no mundo”.

No Brasil, somente a partir de 1997 se materializa a emergência de ações na esfera federal voltadas para a juventude. Entretanto, apesar das iniciativas e de algumas políticas focalizadas em setores que apresentavam as características de vulnerabilidade, risco ou transgressão, ainda assim, não conseguiram se estruturar como uma Política Nacional de Juventude. Diante disso, passaram a “surgir” organizações e grupos juvenis com representação em vários campos instituídos pela sociedade civil “[...] que pressionavam o poder público a reconhecer os problemas específicos que os afetavam e a formular políticas que contemplassem ações para além daquelas que apenas viam os jovens como sinônimos de problema [...]” (SILVA & ANDRADE, 2009, p. 49).

A partir da segunda metade da década de 1990, o tema da juventude começou a ganhar maior espaço nas políticas públicas brasileiras, ao mesmo tempo em que aumentava a proporção de indivíduos na faixa etária de 15 a 24 anos, afetados pelo aprofundamento da má distribuição de riqueza no conjunto da população nacional. De modo geral, essas vozes começaram a chamar atenção da sociedade como vítimas ou protagonistas de problemas sociais através de vários discursos atribuídos ao seu comportamento, presente nas manchetes de jornal, nas letras de músicas e nas diretrizes dos programas e projetos sociais que seriam ‘salvadores’ de uma geração ‘perdida’. (RIBEIRO; LANES; CARRANO, 2006, p. 105).

Desse modo, no ano de 2004, ocorre um amplo processo de discussão entre o governo e os movimentos sociais a respeito da necessidade de implantar urgentemente uma Política Nacional de Juventude que pudesse oferecer múltiplas oportunidades de inserção social à juventude, favorecendo a integração na sociedade dos jovens que se encontravam em diversas situações de vulnerabilidade e risco social, pois algumas pesquisas demonstravam que de “[...] quatro milhões de jovens sem ocupação [...], número que corresponde a 50% dos desempregados do país. [...] somente 34% dos jovens de 15 a 17 anos estão matriculados no ensino médio e um terço [...] está fora da série escolar correspondente à faixa etária [...]” (RIBEIRO: LANES; CARRANO, 2006, p. 105).

Considerando essa realidade, o Estado capitalista brasileiro tentava atender aos anseios e reivindicações da sociedade civil, acatar as imposições dos organismos internacionais, evitar uma crise estrutural e manter o controle social.

Neste período, as principais iniciativas tomadas pelo governo federal foram:

[...] i) realização da Conferência Nacional de Juventude pela Comissão Especial de Juventude da Câmara dos Deputados, que organizou debates – conferências regionais – em todo o país sobre as principais preocupações dos jovens brasileiros e possíveis soluções para seus problemas; ii) criação do Grupo Interministerial ligado à Secretaria-Geral da Presidência da República (SGPR), que realizou um extenso diagnóstico das condições de vida dos jovens do país e dos programas e das ações do governo federal voltados total ou parcialmente para a população juvenil; iii) realização do Projeto Juventude, do Instituto Cidadania, que também propôs como metodologia debates regionais e temáticos e organizou uma pesquisa nacional para traçar o perfil da juventude; iv) encaminhamento de projeto de lei (PL) propondo a criação do Estatuto de Direitos da Juventude (PL nº 4.529/2007); e v) encaminhamento de PL versando sobre o Plano Nacional de Juventude (PL nº 4.530/2004), o qual estabelece os objetivos e as metas a serem alcançadas pelos governos para a melhoria das condições dos jovens brasileiros. (SILVA & ANDRADE, 2009, p. 49-50).

Como já evidenciamos nos capítulos anteriores, em meados da década de 2000, a precária situação social vivida por um tipo de juventude passou definitivamente de “estado de coisas” para problema político, tendo sido esta inserida na agenda governamental para a

formulação de uma política, cuja implementação ocorreu depois. E assim, em 2005, foi implementada a Política Nacional de Juventude, que possibilitou a institucionalização da Secretaria Nacional de Juventude, do Conselho Nacional da Juventude e do ProJovem. Este Programa foi implantado no Distrito Federal e em todas as capitais do Brasil, contemplando os jovens excluídos com educação, formação profissional, emprego e participação social.

O estado do Maranhão, em 2005, possuía uma população de aproximadamente 6.109.684 pessoas, todas distribuídas nos 217 municípios que compõem a 8ª maior área territorial do Brasil, cerca de 331.983,293 km². Mesmo sendo um estado territorialmente grande, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com base nos Relatórios de Desenvolvimento Humano (RDH) e no Atlas de Desenvolvimento Humano (ADH), o Maranhão apresentava em 2005 o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)43 dos estados brasileiros, 0,683 perdendo somente para Alagoas, que apresentou um índice de 0,677. E conforme o IBGE (2000), a média da Renda Familiar Per Capita em salários mínimos no Maranhão era de aproximadamente 0,66 e seu percentual de pobres era de 66,81% e 40,99% de indigentes, caracterizando assim um estado com grande área territorial, um número populacional apropriado, mas pobre, carente e com grandes necessidades de implantação de políticas públicas para diminuir os graves problemas acarretados pela pobreza.

A educação maranhense, segundo o PNAD (2005), possuía uma taxa de analfabetismo de 35% entre as pessoas de 15 anos ou mais e 6,6% entre os jovens de 15 a 24 anos de uma população juvenil de 1.358.958. Deste número, 51,6% não estudavam, tendo apenas 26,2% na escolarização adequada e 22,2% estavam na escolarização defasada. Destes, 0,3% estavam matriculados na Educação de Jovens e Adultos. Do total de jovens maranhenses, 22,7% não estudavam nem trabalhavam.

Verificamos também que menos de 50% dos jovens maranhenses acima de 18 anos tinham conseguido concluir o Ensino Fundamental em 2005. A taxa de distorção idade- conclusão no Ensino Fundamental era de 74,6% e no Ensino Médio de 61,6%. Ou seja, mais da metade dos jovens não conseguiam concluir os níveis de ensino fundamental e médio na

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De acordo com Waiselfisz (2007, p. 13), “O IDH retrata o grau de desenvolvimento de uma localidade, levando em conta não só esse indicador, mas também a expectativa de vida da população (esperança de vida ao nascer), o acesso ao conhecimento (alfabetização, taxa de escolaridade bruta combinado do Ensino Fundamental, Secundário e Superior) e o acesso a serviços básicos que proporcionem uma condição de vida considerada digna. Ou seja, é uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população, especialmente o bem-estar infantil”. A metodologia de cálculo do IDH, envolve transformações nos índices de longevidade, educação e renda. O índice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano total).

idade apropriada estabelecida pela LDB nº 9.394/96, de 15 anos para o Ensino Fundamental e de 18 anos para o Médio.

De acordo com o ADH, o Maranhão sustentava o pior índice de acesso de jovens de 18 a 24 anos ao Ensino Superior em 2000. Isto é, apenas 1,86% dos jovens nesta faixa etária conseguiam entrar neste nível de ensino. A escolaridade média dos maranhenses era de 3,6 anos de estudos e somente 39,1% tinham conseguido concluir a educação básica. E o tempo médio de permanência no Sistema Educacional era de 7,9 anos.

Ainda conforme este Atlas, o Maranhão foi campeão brasileiro na taxa de gravidez na adolescência, entre jovens de 15 e 17 anos, visto ter apresentado uma taxa de 12,4% na evolução de gravidez na adolescência, sendo a mais expressiva entre os estados do Brasil. Entretanto, constatamos que no ordenamento das Unidades Federativas, segundo as taxas de homicídios na população jovem em 2004, o Maranhão ficou em 26º lugar, ficando à frente somente do estado de Santa Catarina que se encontrava na 27º posição, o que demonstra que o estado maranhense ainda apresenta-se como um dos mais calmos em relação à violência entre os jovens.

Diante destes dados, podemos inferir que a juventude do estado do Maranhão mostra- se sujeita a sérias limitações que se relacionam com direitos básicos, como, por exemplo, o acesso ao conhecimento, a permanência escolar e o direito a uma vida longa e saudável, indicados pelos déficits educacionais, limitações ou inserção no mercado de trabalho, apoio informacional com orientações sobre a prevenção sexual na adolescência e padrões de mortalidade da juventude.

Desse modo, como já frisamos, a Política Nacional de Juventude, em meados da década de 2000, a partir de orientações internacionais, reivindicação popular e pretensão de diminuir os graves problemas sociais vividos pela população juvenil que afetam o crescimento social do Brasil, direciona suas ações para a elevação da escolaridade, qualificação profissional e atuação social dos jovens. Porém, tal política não objetiva contemplar todos os jovens que fazem parte deste quadro situacional demonstrado, isto é, com altos déficits educacionais, carência de informação sobre prevenção sexual, dificuldades para a inserção no mercado de trabalho, entre outros aspectos. Isto porque o ProJovem, quando foi implantado, apenas contemplava os jovens que viviam nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, deixando um número expressivo de jovens excluídos dessa política em todo o País.