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Políticas compensatórias implementadas pelo setor elétrico

CAPÍTULO 3 A REGIÃO HIDROGRÁFICA DO RIO URUGUAI

4.4 Políticas de Ação Afirmativa e Compensatória

4.4.1 Políticas compensatórias implementadas pelo setor elétrico

Em função da consolidação do modelo de Estado Regulador e da parceria público privada, a atuação estatal com relação às medidas compensatórias passou a ser a de fiscalizar e regular a efetividade das ações do empreendedor (Penna, 2011), passando este:

[...] a ter que prever, dentre os custos realizados para a operação da usina, não apenas as despesas realizadas com as indenizações pagas aos proprietários das terras atingidas. Deve, também, prever as despesas com a adoção de medidas compensatórias àqueles indivíduos que, apesar de não serem proprietários das áreas afetadas, têm nestas a garantia de sua subsistência (PENNA, 2009, p. 52).

Dessas medidas compensatórias as mais conhecidas, no caso dos atingidos por barragens, são as políticas de remanejamento. Isso em decorrência de que a construção e a implantação de grandes empreendimentos hidrelétricos implicam na ocupação de extensas terras, que são destinadas “à instalação física da UHE, como a construção de reservatórios para armazenagem de água, canais de adução, estações e subestações de geração energética e linhas de transmissão” (PASE, MULLER e MORAIS, 2012, p. 58).

Sendo necessário, para isso, o deslocamento compulsório das comunidades que vivem nas regiões atingidas pelo projeto.

Conforme Rocha (2012) o remanejamento dessas populações:

[...] é o processo de realocação das pessoas, e das comunidades, bem como de indenização dos meios de produção (terras, instalações, prédios) inviabilizados pela barragem. Essa inviabilização é direta quando o meio de produção é inundado pelo reservatório ou ocupado para a formação do canteiro de obras para a construção do empreendimento, ou indireto, quando influenciado negativamente, por exemplo, quando inviabiliza o deslocamento de uma família ou parte de uma propriedade rural (ROCHA, 2012, p.108).

É preciso atentar, como constata Locatelli e Rocha (2013, p. 30), que a “exploração do potencial hidrelétrico da bacia do Uruguai corresponde a um processo social amplo onde cada nova usina a ser instalada parte de ações adotadas e que são readequadas segundo a nova especificidade”. Por essa razão é elaborado, conforme apresentado no capitulo 3, um Termo de Acordo, entre os atores envolvidos nesse processo, que busca especificar as diretrizes que conduzirão o andamento da implantação das UHEs (ROCHA, 2012).

Para efetuar o remanejamento tem-se utilizado as modalidades de indenizações em dinheiro e reassentamento em outros locais. Este último se subdivide em Reassentamento Rural Coletivo (RRC), Pequenos Reassentamentos (PR), Auto-reassentamento ou Cartas de Crédito (CC) e Reassentamento em Áreas Remanescentes (RAR). Em decorrência da construção da UHE de Itá, utilizou-se uma outra modalidade, o Reassentamento Urbano (RU) (ROCHA, 2012).

Na modalidade de Indenização em dinheiro é realizada a “compra”, em moeda corrente, do imóvel atingido pelo projeto. Esta propriedade pode ser adquirida integral ou parcialmente, dependendo da necessidade de utilização pela UHE. Podem ser contemplados os proprietários e posseiros de boa-fé, “estes últimos desde que já vinculados à área atingida anteriormente à data do Cadastro Socioeconômico” (ROCHA, 2012, 254-255).

A avaliação do imóvel deve ocorrer através das normas da ABNT e do termo de acordo (ROCHA. 2012). Além disso:

[...] as matas e culturas temporárias (lavouras) são indenizadas, exceto quando os proprietários tenham sidos notificados seis meses antes em

decorrência da desocupação das áreas. O pagamento dos valores para indenização deverá ser realizado pelo empreendedor num prazo de trinta dias a partir do acordo, disto, o atingido tem um prazo de seis meses para entregar a área (ROCHA, 2012. p. 257).

A outra modalidade é o reassentamento, que como a indenização em dinheiro, contempla os proprietários e os posseiros de boa-fé. Somam-se também, os não-proprietários - arrendatários, meeiros, parceiros e agregados. Entretanto, estes últimos devem comprovar que “mantinham vínculo efetivo e dependência econômica com a propriedade atingida desde antes da expedição da Licença Prévia e que continuem nesta situação até o Levantamento Físico da Propriedade (LFP)” (ROCHA, 2012, p. 258).

Ainda segundo Rocha (2012), os beneficiados:

[...] têm direito às despesas de mudança e escrituração da nova área custeada pelo empreendedor, além de uma “verba de manutenção” que deve perdurar até a primeira safra ou nove meses após a transferência (o que vier antes) constando de 1 salário mínimo para casais sem filhos, 1,5 salários mínimos para casais com até 2 filhos e 2 salários mínimos para casais com três filhos ou mais (ROCHA, 2012, p. 257)

Essa forma de remanejamento é subdividida (Rocha, 2012), em:

a) Reassentamento Rural Coletivo (RRC): este tipo de remanejamento está disponível para grupos a partir de 20 famílias, e que corresponde a lotes rurais individuais compostos por residência e benfeitoria, cujo tamanho pode variar em razão da avaliação da propriedade atingida; e por uma infraestrutura coletiva que inclui, entre outros elementos, escola, centro comunitário, água encanada e energia elétrica (ROCHA, 2012).

Além disso, nessa modalidade o empreendedor fica obrigado a dar aos reassentados “assistência técnica através de visitas de técnicos agropecuários e engenheiros agrônomos pelo prazo de 5 anos, além de assistência social através de visitas periódicas de sociólogos e assistentes sociais pelo prazo de 1 ano” (LOCATELLI e ROCHA, 2013, p. 35)

b) Pequenos Reassentamentos (PR): essa modalidade se assemelha à anterior, excetuando-se que devem haver no mínimo cinco lotes, e não se faz necessário a realização, pelo empreendedor, de uma infraestrutura coletiva.

Ademais, todas as características se equivale ao Reassentamento Rural Coletivo.

c) Auto-Reassentamento (AR) ou Carta de Crédito (CC): os próprios atingidos apresentam a área (rural ou urbana) que desejam adquirir, e o empreendedor faz a análise para garantir que o imóvel é adequado às características da família, sendo que a aquisição se faz por Carta de Crédito.

O valor da CC é calculado:

[...] através do Levantamento Físico da Propriedade (LFP) e da Força de Trabalho (FT), nos casos dos proprietários e posseiros de boa-fé. Já nos casos dos não proprietários (arrendatários), o valor é determinado com base no módulo rural regional, com distribuição da terra e benfeitorias tal qual ao Reassentamento Rural Coletivo (LOCATELLI e ROCHA, 2013, p. 36).

Essa modalidade, tem características iguais ao RCC e a PR, afora que a assistência técnica e social só é disponibilizada no momento da ocupação do imóvel.

d) Reassentamento em Áreas Remanescentes (RAR): essa modalidade se caracteriza pela “reorganização fundiária de áreas que foram adquiridas na sua totalidade, mas que não serão inundadas nem fazem parte da área de preservação permanente ao redor do reservatório” (BARROS e OLIVEIRA, s/d, p. 3). A questão relacionada a assistência técnica e social é igual a modalidade CC, no restante, as características são idênticas aos demais reassentamentos (ROCHA, 2012).

É importante lembrar que, tais alternativas de remanejamento devem ser apresentadas, em um plano já na elaboração do EIA/RIMA, sendo este, necessário para a liberação da Licença Prévia. Nele deve conter a caracterização das modalidades, anteriormente apresentadas (PENNA, 2009).

Entretanto, as políticas compensatórias devem ser elaboradas e executadas pensando além da manutenção econômica dessas famílias (médio e longo prazo) e do apoio técnico. Elas devem visar o bem-estar dos remanejados, e para isso elas precisam também, garantir a manutenção de suas relações socioculturais.

Para isso, é necessário respeitar as afinidades, os laços familiares e de amizade, quando do fechamento dos grupos a serem remanejados. Também se

faz necessário o acompanhamento psicológico para essas famílias, visto que, no meio rural a relação com a terra está diretamente relacionada com a identidade social, ou seja, o espaço vivido liga esses indivíduos com suas raízes e sua história.