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Políticas e estratégias de formação em Saúde Mental

No Caderno Informativo da III Conferência de SM (2001, p. 23), convocada logo após a promulgação da Lei nº 10.216/2001, assinala-se que ―a construção de

um novo modelo de atenção requer uma profunda transformação nas formas de compreensão e abordagem dos fenômenos e das problemáticas do campo da saúde mental, em uma direção interdisciplinar‖, e aponta-se a necessidade de propostas de programas de formação descentralizados, contínuos, pautados na articulação entre universidade e serviços, ―nos quais os conhecimentos e as práticas adquiridas estejam em consonância com as diretrizes de formação para o serviço público, o SUS, a reforma e a reorientação do modelo assistencial‖.

Indica-se a necessidade de capacitação dos trabalhadores e dos diversos atores implicados no complexo processo de transformação das práticas: gestores, conselheiros das instâncias de controle social, participantes das associações de usuários, familiares, profissionais e das múltiplas entidades da sociedade civil. Deste modo, sugeriu-se a criação de bases para um programa nacional permanente de capacitação pautado nas diretrizes acima mencionadas, que contemple as necessidades e problemáticas locais e as diversas formas de produção do saber e os intercâmbios entre os atores envolvidos nos processos da Reforma.

No relatório final da III Conferência Nacional de SM ficou reconhecida a importância e necessidade de uma política de recursos humanos, integrada entre os planos municipal, estadual e federal, no sentido de consolidar os princípios da Reforma Psiquiátrica, do trabalho interdisciplinar e multiprofissional, que rompa com os ―especialismos‖ e construa um novo trabalhador em SM, com visão integral, atento e sensível aos diversos aspectos do cuidado (SUS, 2002, p. 68).

Foi proposta a criação de programas estratégicos interdisciplinares e permanentes de formação em SM para o SUS para os diversos atores envolvidos, por meios de capacitação/ educação continuada descentralizada, cursos de pós- graduação, estágios, residências multiprofissionais, integração docente-assistencial, supervisão clínica e institucional, entre outros.

Enfatiza-se a importância da ―integração entre assistência, ensino e pesquisa, pela qual todos os serviços da rede substitutiva sejam voltados para o ensino e a pesquisa das práticas inovadoras criadas pelo novo modelo assistencial‖ (SUS, 2002, p. 73). Além disso, aponta-se a necessidade de ―estimular e/ou facilitar os estágios acadêmicos ou voluntários, para que os universitários tenham sua formação e campo de atuação ampliados, possibilitando, também, a vivência interdisciplinar desde a sua formação acadêmica‖ (SUS, 2002, p. 78).

O relatório ainda aponta algumas propostas específicas. A de nº 247 considera a importância de:

Formalizar e ampliar as parcerias com as instituições formadoras (instituições de ensino e outras), mediante contrato elaborado por comissão paritária (prefeituras municipais e instituições formadoras) que regulamente os estágios curriculares e extracurriculares prevendo a realização de projetos de pesquisa e extensão, internato rural, especialização, residência, para todos os profissionais de áreas afins, a partir do eixo preconizado pela Reforma Psiquiátrica, possibilitando intervenções no campo da saúde, cultura, lazer, etc. (SUS, 2002, p 79).

A proposta nº 255 sugere a promoção de mudanças curriculares dos cursos universitários em sintonia com a Reforma Psiquiátrica, que as Universidades acolham as experiências desenvolvidas nos serviços e que as parcerias contribuam para a reformulação curricular (SUS, 2002, p. 80).

A proposta nº 257 é a de garantir a inclusão de disciplinas de SM nos currículos dos cursos profissionalizantes, com ênfase nos cuidados com a saúde pública, SM coletiva, educação social e atenção ao portador de necessidades especiais (SUS, 2002, p. 81).

A proposta nº 258 sugere estimular, ampliar e garantir os aparelhos de formação de pessoal em SM, com caráter interdisciplinar e multiprofissional, em disciplinas que vão do campo específico da SM às de Políticas Públicas de Saúde (Educação Social34, Saúde Coletiva, Saúde Pública, Planejamento, Epidemiologia, bases históricas e princípios do SUS), e atenção ao portador de necessidades especiais, ―assim como uma base de formação prática nos serviços substitutivos e nas práticas territoriais/ comunitárias de atenção psicossocial‖ (SUS, 2002, p. 81).

Em 2005, no documento Reforma Psiquiátrica e Política de SM no Brasil (Brasil, 2005, p. 45), a questão da formação técnica e teórica de recursos humanos ―capazes de superar o paradigma da tutela do louco e da loucura‖ ainda aparece

34 Educação Social é o campo de trabalho da Pedagogia Social ou Teoria Geral da Educação Social, que constitui base teórica para a atuação do educador na área social, a partir das práticas de Educação Popular (abordagem teórica desenvolvida por Paulo Freire), Educação Sociocomunitária e práticas de Educação não escolares. Mais informações em:

<http://pedagogiasocialbr.wordpress.com/category/publicacoes/>.

A profissão de educador social existe em países internacionais, como Portugal. No Brasil, o projeto de lei PL 5346/2009 dispõe sobre a criação da profissão de educador (a) social. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=437196>.

como um dos principais desafios para o processo de consolidação da Reforma Psiquiátrica.

Desde o ano de 2002 o MS desenvolve o Programa Permanente de Formação de Recursos Humanos para a Reforma Psiquiátrica, como forma de incentivar, apoiar e financiar a implantação de núcleos de formação em SM, através de convênios estabelecidos com instituições formadoras (especialmente Universidades federais), municípios e estados (Brasil, 2005). A importância deste Programa foi reforçada na IV Conferência Nacional de SM (SUS, 2010).

Para as Conferências Nacionais são realizadas as Conferências Municipais e Estaduais. No Relatório Final da Etapa Estadual de SM Intersetorial de São Paulo de 201035, por exemplo, foi aprovada a proposta de Formação, Educação Permanente e Pesquisa em SM (p. 43), que considerou a garantia de inclusão curricular de residência e estágio nos CAPS, na formação universitária ligada à saúde.

Posteriormente, foi deliberada na IV Conferência Nacional de SM a proposta de criação de parcerias com instituições de ensino superior para o desenvolvimento de projetos de pesquisa e metodologias voltadas à SM, com a ampliação de oferta de estágios e residências em serviços substitutivos ―no sentido de embasar e fortalecer ações públicas para melhoria da qualidade da atenção, prevenção e tratamento‖ (SUS, 2010, p. 51).

Os programas de Residências Multiprofissionais em SM são desenvolvidos por IES habilitadas e credenciadas pelo MS e MEC, como citado anteriormente. São estratégias de formação interprofissional desenvolvidas nos cenários da RAPS.

A Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS) possui alguns programas e projetos de formação em SM dentre eles: o Programa de Educação pelo Trabalho para a SM (PET- Saúde/Saúde Mental)36, iniciado em 2011 para a formação interprofissional das graduações em saúde com a integração ensino-serviço, e o Programa Caminhos do Cuidado37, criado em 2013

35 Disponível em: http://www.sedes.org.br/Eventos/relatorio_final_14_06_10.pdf.

36 O PET- Saúde/Saúde Mental, instituído pela Portaria Conjunta n. 6, de 17 de setembro de 2010, busca contribuir para o desenvolvimento da RAPS para atenção integral, humanizada, tecnicamente qualificada e resolutiva. Ver mais em:

http://www.prosaude.org/noticias/petsaudeFormacaoSaudeMental/PortariaConjunta6_17-09- 2010_PET-SaudeMental.pdf.

37Parceria formada pela Fiocruz (RJ) e Grupo Hospitalar Conceição (RS). Inserido no eixo do Cuidado do Plano Integrado ―Crack, é possível vencer‖, o projeto é articulado pela Casa Civil e sob

para formação em SM de agentes comunitários de saúde e auxiliares/ técnicos de enfermagem da AB para cuidado e atenção integral das pessoas que fazem uso prejudicial de drogas, a partir de articulação com estados e municípios, dentre eles o estado e o município de São Paulo.

Em 2014, o DEGES/SGTES e a Coordenação Geral de SM, Álcool e Outras Drogas do MS, abriram inscrições para a segunda edição dos cursos de atualização em SM destinados aos profissionais dos CAPS. As vagas remanescentes puderam ser preenchidas por outros profissionais da RAPS. Os cursos oferecidos na modalidade à distância foram: ―Álcool e outras drogas, da coerção à coesão‖, ―SM na Infância e Adolescência‖ e ―Crise e Urgência em SM‖.

No município de São Paulo, a EMS criou o Programa Rede Sampa – Saúde Mental Paulistana38 com vista à EP dos profissionais da saúde do SUS na perspectiva da Reforma Psiquiátrica, para o fortalecimento da RAPS, a partir dos princípios da PNEPS (Brasil, 2009a).

Este projeto é um convênio firmado entre a SMS - por meio da Área Técnica de SM, Álcool e Drogas e da Coordenação de Gestão de Pessoas (CGP)/ ETSUS- SP - com a SGTES/MS, com a proposta de organização de oficinas, fóruns, seminários, rodas de conversas e cursos de qualificação (presenciais e à distância). Em maio de 2015, já havia atingindo um total de aproximadamente 6.000 trabalhadores que participaram de mais de 20 ações de EP, desde o início o projeto.

Há ainda Associações, tais como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)39 e a Associação Brasileira de SM (ABRASME)40, criadas com o objetivo de atuar como mecanismo de apoio e articulação entre os centros de treinamento, ensino e pesquisa em Saúde Coletiva ou SM para defesa do SUS, a partir do fortalecimento mútuo das entidades associadas e para ampliação do diálogo com a comunidade técnico-científica e desta com os serviços de saúde, as organizações governamentais e não governamentais e com a sociedade civil.

A ABRASCO foi criada em 1979. Apóia e desenvolve projetos, seminários, oficinas e realiza os maiores congressos da área na América Latina. Possui Grupos Temáticos (GTs), dentre eles o GT Trabalho e Educação na Saúde e o GT SM. O

responsabilidade do Ministério da Justiça e conta com a parceria da Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS). Disponível em: http://www.caminhosdocuidado.org/.

38Projeto Rede Sampa

– SM Paulistana. Disponível em:

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/ems/noticias/?p=163630. 39 Disponível em: http://www.abrasco.org.br/site/sobreaabrasco/.

GT SM tem como coordenador Paulo Amarante, também presidente da ABRASME. Este GT participa da organização dos Congressos Brasileiros e das Conferências Nacionais de SM.

A ABRASME foi fundada em 2007. Em 2016 realizará o V Congresso Brasileiro de SM no município de São Paulo. Esses eventos são organizados a partir das necessidades de aproximações dos diversos atores sociais, usuários, familiares, profissionais, acadêmicos e artísticos, do campo de práticas e saberes em SM do SUS. Entretanto, apesar do importante papel da ABRASME no campo da Formação em SM, este não consta como um dos eixos temáticos do próximo Congresso, questão que se espera que seja apontada e problematizada pelos participantes durante o evento.

3 FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM SAÚDE MENTAL