• Nenhum resultado encontrado

Primeira rodada: as experiências de estágio na visão dos participantes

3 FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM SAÚDE MENTAL NA

7.1 Primeira rodada: as experiências de estágio na visão dos participantes

Conforme já apresentado, dos 52 convidados, 28 responderam ao questionário (53,85%), sendo: 14 (catorze) terapeutas ocupacionais, 9 (nove) enfermeiros, 3 (três) psicólogos e 2 (dois) estudantes de Serviço Social.

Desses 14 terapeutas ocupacionais, 5 (cinco) fizeram prática supervisionada pela USP (150 horas), 7 (sete) realizaram estágio supervisionado pela USP (420 horas) e 2 fizeram estágio extracurricular via CIEE (aproximadamente 880 horas).

Avaliou-se que o fato da maior parte das respostas serem dos estagiários de T.O. de prática supervisionada e do CIEE, e dos estagiários de Enfermagem de 2014, pode estar relacionada à minha presença mais próxima e cuidadosa no acompanhamento desses estudantes no serviço. Duas das psicólogas que responderam também estiveram próximas, em Assembleias, grupos e em mini equipe. Pareceu haver, portanto, uma relação afetiva com a disponibilidade para participação na pesquisa.

Os participantes responderam ao primeiro questionário (Apêndice D) e os principais apontamentos sobre os temas das questões foram selecionados para comporem o segundo questionário (Apêndice E), exceto as dissertativas referentes à questão 10, sobre a apresentação do estágio a outro estudante interessado no estágio, material utilizado na análise final.

Além das questões selecionadas para serem confirmadas no segundo questionário, alguns pontos importantes foram observados:

 Somente uma estagiária de Psicologia relatou ter participado de Fórum de SM Lapa/Pinheiros e Pré Conferência Municipal de SM e apenas duas pessoas mencionaram o Conselho Gestor do CAPS, sendo que uma delas apontou a existência deste dispositivo como alguém que o observou à distância:

Pode-se ver a inserção do profissional nos conselhos gestores e na

própria avaliação do serviço (Enfermagem, 2014)51.

Compreende-se dispositivo como a rede que se estabelece entre os elementos ―ditos‖ e ―não ditos‖ de um conjunto heterogêneo ―[...] que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas‖ (Foucault, 1992, p.244).

Observou-se, portanto, pouca participação dos estagiários em dispositivos de controle social, com exceção das Assembleias, que acontecem dentro do CAPS e em horário intermediário. Acredito serem estes os dois fatores de influência, além de não ser comum na nossa sociedade a cultura de participação dos cidadãos nos movimentos e em espaços que implicam maior envolvimento e exercício político e ideológico.

Participação em Assembleias: importante despertar para a tentativa da horizontalização dos discursos (T.O., 2010).

Acompanhava as Assembleias semanais do CAPS, momento importante que marcava a participação de todos na organização e construção cotidiana do serviço (Psicologia, 2012).

 Em alguns relatos foi difícil distinguir a supervisão clínico-institucional (realizada até 2013 por profissional externo ao CAPS para toda a equipe em Reunião Geral e, por vezes, nas Mini Equipes) da supervisão multiprofissional (oferecida aos estagiários pelos coordenadores do CAPS até 2013).

 Com relação à influência da experiência de estágio na formação e atuação profissional, identificou-se que:

 A maioria já tinha interesse pelo trabalho na SM e a experiência do estágio confirmou e potencializou o desejo.

 Alguns participantes, na época da construção dos dados, atuavam na rede do SUS: sete trabalhavam ou já tinham trabalhado em CAPS (sendo cinco terapeutas

51 As opiniões dos participantes da pesquisa que foram citadas incluem em parênteses seus cursos de graduação e os anos de realização dos estágios.

ocupacionais), dois em NASF (uma terapeuta ocupacional e uma psicóloga), uma terapeuta ocupacional no Serviço de Atenção Especializado em DST e HIV/AIDS e uma psicóloga coordenadora de SM da SMS de uma cidade do Paraná.

Trabalho em um município pequeno, o tema da saúde mental com espaços institucionais abertos e equipamentos substitutivos são relativamente recentes na cidade e região. Pude notar que as experiências que eu trouxe dos meus estágios em CAPS me oportunizaram um reconhecimento por parte da equipe e da gestão da saúde no município, surgindo espaço para o convite de coordenar a saúde mental da cidade (Psicologia, 2012).

 Uma terapeuta ocupacional contou ser docente do curso de T.O. do Uruguai. Os conhecimentos, habilidades e competências desenvolvidas na graduação e a potente experiência de estágio realizada no CAPS, passaram a contribuir para o processo de reforma psiquiátrica iniciado em outro país:

Aqui no Uruguay a TO é uma profissão nova e estamos tentando desenvolver práticas na área de saúde mental, onde ainda não é conhecida. Também há um contexto de reforma psiquiátrica onde se está debatendo uma nova lei de saúde mental para o país, sendo um momento bastante importante para a inserção da profissão. A experiência do CAPS tem sido meu principal referencial nesse sentido, onde busco os textos, as referências e as discussões no campo da reabilitação psicossocial que me ajudem a aportar elementos no processo daqui (T.O., 2010).

 Cinco sujeitos relataram que atuavam em serviços particulares, organizações não governamentais (ONGs) ou em projetos do governo do Estado não alinhados à RAPS: uma terapeuta ocupacional atua em clínica psiquiátrica e de reabilitação de álcool e drogas, uma terapeuta ocupacional em Polo de Atenção Intensiva em SM (PAI), uma terapeuta ocupacional em instituição que atende crianças com deficiência, uma terapeuta ocupacional em Associação Assistencial de Integração ao Trabalho (AAIT), uma psicóloga na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e uma terapeuta ocupacional e uma psicóloga com Acompanhamento Terapêutico (AT).

 Uma dessas psicólogas também atuava como Monitora Cultural pela Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo.

 Alguns tinham cursado ou cursavam: Mestrado em Saúde Coletiva (linha de pesquisa: SM), Doutorado (tema: esquizofrenia), Licenciatura em Enfermagem.

Alguns tinham feito ou faziam Residência Multiprofissional em SM (uma terapeuta ocupacional e uma enfermeira) e Residência em Enfermagem e SM e Psiquiátrica (um enfermeiro).

 Três pessoas tiveram um encontro profissional com esta experiência de estágio. Uma terapeuta ocupacional apontou que trabalhava em CAPS, outra em NASF (com Aprimoramento em SM) e uma enfermeira em CAPS III.

Eu fui surpreendida pelo trabalho em equipe e manejo no CAPS, e principalmente a maneira como fui gostando e me experimentando nesta prática, que mudou meu ponto de vista em relação à própria profissão, tendo sido decisivo para a escolha da pós-graduação (T.O., 2009).

Minha maior expectativa no início era ele acabar logo. E depois o estágio proporcionou um encontro profissional. Hoje trabalho em saúde mental, em um CAPS, graças a essa experiência (T.O., 2009). Influenciou totalmente desde minha formação até meu percurso profissional até hoje. Pois apenas depois deste estágio pude ter maior proximidade e entender realmente o trabalho profissional dentro da área da Saúde Mental (Enfermagem, 2009).

 Cinco pessoas consideraram que a experiência influenciou de forma positiva no sentido da aprendizagem de condutas éticas, de formas mais ampla e humanizada de se relacionar com as pessoas com sofrimento psíquico e de conhecimento sobre a rede de atenção.

Foi uma experiência que até hoje no meu trabalho me serve como um outro parâmetro para algumas reflexões e problematizações (T.O., 2010).

Além disso, o contato sempre humanizado da equipe e a preocupação de olhar as pessoas como um todo, foram fundamentos importantes na minha formação (Enfermagem, 2011).

 No momento da pesquisa, duas trabalhavam em hospitais (terapeuta ocupacional e enfermeira), uma em maternidade (enfermeira) e uma com home care (enfermeira). Uma enfermeira informou que realizava Residência em hospital na área clínico-cirúrgica e outra ainda não atuava no campo profissional.

 Apenas uma terapeuta ocupacional verificou que esta não é a área de interesse e que não possui perfil para esse trabalho, que descreveu ser mais ―subjetiva e empírica‖. Segundo ela, o contato com o serviço foi ―frustrante‖, por não

funcionar de acordo com os ideais da Reforma Psiquiátrica propostos pela literatura. Atualmente trabalha com reabilitação física e em contextos hospitalares.

 As duas estudantes de Serviço Social ainda não tinham se formado na época da coleta dos dados e não comentaram sobre as influências.