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Políticas econômicas do novo modelo no mundo e no Brasil

2 As relações de trabalho assalariado desde suas origens até o século XXI

2.3 O toyotismo e a flexibilização no início do século XXI

2.3.5 Políticas econômicas do novo modelo no mundo e no Brasil

No que se refere a políticas econômicas, a partir do final dos anos 1970, houve a implantação do chamado neoliberalismo, em particular nos Estados Unidos e no Reino Unido, com a ascensão de Ronald Reagan e de Margareth Thatcher ao poder. Passando a ser o fundamento das políticas públicas no contexto internacional do Ocidente, o neoliberalismo caracteriza-se pelos princípios de que ao Estado cabe garantir a primazia da liberdade econômica, o reconhecimento da propriedade privada como condição para a liberdade econômica e política e, sobretudo, a supremacia do mercado para, autonomamente, dirimir as diferenças no campo do trabalho (GROS, 2004).

Isso significou, na prática, privatizações de diversos setores onde o Estado atuava, desregulamentações dos vínculos trabalhistas, menos interferência estatal nas relações de trabalho, coibição na atuação sindical e restrição a greves (ANTUNES, 1999). Tudo isso estava alinhado com o toyotismo e com as formas flexíveis de acumulação e reprodução do capital.

As desregulamentações implementadas acabaram favorecendo uma certa precarização para um grande contingente de trabalhadores,

particularmente em relação aos direitos sociais obtidos durante a vigência do Estado do bem-estar social. Aliado a isso, houve recessão nos anos 1980, o que contribuiu para o aumento do desemprego estrutural e conjuntural. Tal situação deflagrou vários movimentos grevistas e de revolta contra o neoliberalismo na Inglaterra, na década de 1990, o que acabou culminando na ascensão ao poder de Tony Blair (ANTUNES, 1999).

Representante da chamada Terceira Via, ou via do meio, entre o neoliberalismo e a social-democracia, não elegendo nem o laissez-faire liberal, nem a interferência estatal, Blair acabou configurando a continuidade da era Thatcher na sua essência, segundo Antunes (1999). Não revisou as privatizações, manteve as flexibilizações trabalhistas e o ideário da competitividade, embora aceitasse o valor da justiça social.

No Brasil, o neoliberalismo teve como principal expoente Fernando Collor de Mello, que abriu o mercado para as importações e começou um programa de desestatização, no início da década de 1990. Seus sucessores, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, deram continuidade às privatizações de vários setores da economia, em particular telecomunicações, energia elétrica, transportes e siderurgia (ALVES, 2002).

Esse período foi marcado pelo que foi chamado de “choque de produtividade”,

que se caracterizou, por um lado, pela introdução de novas tecnologias microeletrônicas na produção, e por outro lado, pelo desenvolvimento de novas formas de organização da produção capitalista que caracterizamos como sendo o toyotismo sistêmico com seus nexos contingentes, tais como just-in-time, kan-ban, kaizen, terceirização, trabalho em equipe, programas de qualidade total, sistemas de remuneração flexível etc. (ALVES, 2002, p. 79).

Alves (2002) acrescenta que se tal choque representou a entrada do Brasil na globalização, o aumento da produtividade das empresas e dos investimentos, o avanço tecnológico, acabou também contribuindo para uma concentração de renda ainda maior no país, para a diminuição do número de postos de trabalho em alguns setores; para o aumento do desemprego e da informalização do mundo do trabalho; para a proliferação de trabalhos temporários e terceirizados em piores condições que antes; para a queda da renda média na década de 1990. O medo do desemprego passou a ser a principal preocupação para um amplo conjunto de trabalhadores.

Se neste final da primeira década do século XXI a taxa de desemprego caiu em todas as regiões metropolitanas do país pesquisadas pelo DIEESE5 e a renda aumentou (DIEESE, 2008), a situação como um todo

ainda se mantém relativamente a mesma. Quer dizer, ainda há um grande número de pessoas sem trabalho, cerca de 2,5 milhões de pessoas para uma população economicamente ativa estimada em 20,1 milhões de pessoas

nas regiões metropolitanas pesquisadas (DIEESE, 2008); a tendência de proliferação de contratação de trabalhadores temporários ou terceirizados continua, bem como a de outras práticas toyotistas; o medo do desemprego continua sendo uma das maiores preocupações para boa parte da população que vive do trabalho6.

Tabela 1 - Taxas de Desemprego Total, Regiões Metropolitanas Dezembro/06-Dezembro/08

% Dez/06 Nov/07 Dez/07 Nov/08 Dez/08

TOTAL 15,2 14,6 14,2 13,0 12,7 Distrito Federal 17,7 16,6 16,5 15,7 15,4 Belo Horizonte 11,6 11,1 11,0 8,3 8,4 Porto Alegre 12,9 11,9 11,3 10,2 9,8 Recife 20,2 18,0 17,9 18,2 17,9 Salvador 22,3 20,5 20,3 19,9 19,8 São Paulo 14,2 14,2 13,5 12,3 11,8

Fonte: DIEESE, Sistema Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), Mercado de Trabalho Metropolitano Dezembro 2007 e Dezembro 2008.

No que se refere ao setor de serviços, estudado nesta pesquisa, viu-se um aumento considerável do número de trabalhadores nele alocados nas últimas décadas. Segundo o DIEESE (2008), em dezembro de 2008 havia cerca de 9,47 milhões de pessoas trabalhando em serviços, 53,73% dos trabalhadores ocupados da população economicamente ativa das regiões metropolitanas pesquisadas.

5 A taxa de desemprego nas regiões metropolitanas pesquisadas em dezembro de 2008

chegou a 12,7% da população economicamente ativa, menor índice desde novembro de 1998 (DIEESE, 2008).

6 Um exemplo disso é a pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, realizada em 2003 pelo Projeto Juventude/ Instituto Cidadania, em parceria com o Instituto de Hospitalidade e o SEBRAE, segundo a qual, para jovens de 15 a 24 anos, o desemprego ou a falta de emprego é a segunda maior causa de preocupação (PROJETO JUVENTUDE, 2003).

Se o setor absorveu parte dos postos de trabalho eliminados na indústria, com as medidas de aumento de produtividade, introdução de novas tecnologias e crises econômicas por que o país tem passado nos últimos anos, não foi capaz de compensar a eliminação desses postos, nem tampouco de absorver todo o grande contingente de jovens que ingressam a cada ano no mercado de trabalho (ANTUNES, 1999).

Além disso, o próprio setor de serviços, a hotelaria em particular, passa por transformações rumo às práticas toyotistas e à acumulação flexível (LIMA, 2003), o que pode significar a eliminação de postos de trabalho e a manutenção do medo de desemprego entre os que mantêm algum vínculo com as empresas. É certo que, como o setor vive um momento de crescimento acentuado, em particular a empresa alvo desta pesquisa, o que tem acontecido, na verdade, é um aumento do número absoluto de postos de trabalho e uma redução do número relativo deles por unidade.

Tendo, pois, feito esse percurso sócio-histórico das relações de trabalho e do momento em que vivemos no capitalismo, neste início de século XXI, em particular no setor hoteleiro, passaremos agora a discutir a questão do sujeito, da relação inconsciente entre ele e a instituição empresa nesse contexto. A ideia é pensar as manifestações de prazer, sofrimento e gozo do sujeito inseridas numa malha de questões institucionais e fantasmáticas (singulares), que são possivelmente inextricáveis. Ou seja, questões que, por um lado, representam o que aparece como prazer, sofrimento, gozo no

sujeito e, por outro, representam a configuração de laço social que se dá na empresa.