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Nos países em desenvolvimento, especialmente na América Latina e no Brasil, a análise de políticas públicas passa a existir na década de 1980, a partir da transição de uma ditadura para um regime democrático, que institui a representação

32 e permite que haja, mesmo que indireta e moderadamente, a participação da

sociedade na definição sobre a alocação dos bens e recursos públicos (PASE; ROCHA, 2010).

Foi a partir da década de 1980 também que a pesquisa na área das políticas públicas e a análise de sua influência nas sociedades que aumentou o empenho dos pesquisadores estadunidenses e europeus pelas instituições, particularmente o Estado (RODRIGUES, 2010, p.58).

Em contraste ao que ocorre na Europa e nos Estados Unidos a análise sistêmica das políticas públicas no Brasil ainda não é uma marca do meio acadêmico. Essa temática enquanto campo de pesquisa específica ainda necessita constituir-se em nosso país.

Faria (2003) corrobora escrevendo que ―basta ver que qualquer manual de análise de políticas públicas mais recente e prestigiado normalmente apresenta pelo menos um capítulo ou seção dedicado ao impacto das ideias e do conhecimento‖ (p.22).

Sucede no Brasil um emaranhado de enfoques, teorizações embrionárias e escolas analíticas, que procuram tornar compreensível à pluralidade dos procedimentos de desenvolvimento e gestão das políticas públicas em um mundo cada vez caracterizado pelas correlações individualistas. Esse é um aspecto elementar e evidenciado, pela escassa produção brasileira em análises sistemáticas sobre os processos de implementação de políticas públicas, e também de análise do andamento das políticas que já foram implementadas pelo governo ou Estado brasileiro (FARIA, 2003).

Segundo Pase e Rocha (2010) ―as políticas públicas são um campo de conhecimento multidisciplinar‖ permitindo, e determinando, a ação de profissionais de diversas áreas do conhecimento, que contribuem teórica e metodologicamente para uma melhor análise das políticas públicas. Convencionando- a como uma subárea da ciência política.

As políticas públicas não são um campo de exclusividade técnica, elas são políticas, estão associadas ao momento político do país. E as análises das políticas públicas no Brasil se alargam na medida em que o Estado se torna mais intervencionista e a sociedade passa a expor necessidades (DI GIOVANNI, 2009).

33 Para elucidar a capacidade de propor e implementar a agenda de governo ou

de Estado cabe ressaltar que poder ―é a capacidade do ser humano de influenciar o comportamento de outro ser humano‖ (RODRIGUES, 2010, p.15)

Souza (2006) faz uma crítica à falta de vinculação das pesquisas empíricas, nos dias atuais, com relação à eficiência das políticas públicas que no presente é vista como o principal objetivo de qualquer política pública. A eficiência aliada à importância do fator credibilidade e à delegação das políticas públicas para instituições com ―independência‖ política.

Souza (2003) assegura que existe a necessidade de ultrapassar a atual gênese de estudos voltados às políticas públicas. Estudos em demasia concentrados em fracassos, pouco preocupados com as questões políticas e densamente vinculados ao pressuposto de que a formulação e a implementação de políticas públicas são processos exclusivamente racionais e lineares, desvinculados dos processos políticos. Essa nova geração de estudos deve seguir na direção do desenvolvimento de tipologias analíticas, e concentrar-se na identificação das variáveis que causam impactos sobre os resultados das políticas. Isso implica na superação da dicotomia dos estudos em se analisar sucessos ou fracassos para um estágio onde se enfatize o melhor entendimento dos próprios resultados.

Através das discussões metodológicas e analíticas sobre políticas públicas proposta pelos autores utilizados neste estudo evidencia-se que no Brasil o debate sobre políticas públicas é marcado pela redemocratização da democracia e evolução do Estado de democrático de Direito, ao menos na manutenção das eleições sem tentativas de golpes.

Esse é um fator crucial para que os membros das diferentes matizes ideológicas, que disputam o poder através do voto, possam se concentrar na elaboração de propostas de políticas públicas, que no caso de vitória eleitoral de determinado grupo possam ser implementadas beneficiando parcelas da população.

Pase e Rocha (2010) citado por Souza (2006) colocam que os enfoques teóricos classicamente formulados no contexto das políticas públicas são sistematizados pela autora como: tipo de política pública (policy arena), incrementalismo, ciclo de política publica, arenas sociais, novo gerencialismo público, participativa, lata de lixo (garbagecan), coalizão de defesa (advocacycoalition).

34 Apesar de os estudos mais detalhados sobre políticas públicas no Brasil se

constituírem como um processo lento e gradual, desde a redemocratização do país é possível se verificar avanços neste campo cientifico.

Faria (2012) evidencia que

a expansão e consolidação do campo da Análise de Políticas Públicas no Brasil, apresentando o forte crescimento, na década de 2000, do número de teses e dissertações devotadas ao estudo das políticas públicas (PPs). Porém, a pesquisa feita nos periódicos do Scielo Brasil revelou que os artigos publicados, que fazem referência ao termo políticas públicas, não constituem uma cifra impressionante (p.32-33).

Com o intuito de tornar este estudo o mais claro possível, intenta-se ponderar de maneira breve sobre o ciclo das políticas, pois devido ao grande número de possibilidades teóricas julga-se importante a utilização de conceitos importantes para as políticas públicas e a ciência política de uma maneira geral.