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A primeira manifestação de apoio institucional a estudantes universitários ocorreu em 1928, com a inauguração da Casa do Estudante Brasileiro. O estabelecimento, mantido pelo governo brasileiro, se localizava em Paris e era destinado a auxiliar estudantes brasileiros que estudavam na capital francesa e não possuíam condições financeiras de se manter até o fim dos estudos (COSTA, 2010). Neste mesmo período, especialmente na década de 1930, surge no Rio de Janeiro, como uma importante ação de assistência estudantil, a Casa do Estudante do Brasil, cujo objetivo era de auxiliar os estudantes com maiores dificuldades econômicas. Essa ação recebia grandes doações do Governo Federal durante a Era Vargas (DUTRA; SANTOS, 2017).

Em 1931, houve a primeira tentativa de regulamentação de uma política de assistência estudantil no Brasil, através da Reforma Francisco Campos, que instituiu a Lei Orgânica do Ensino Superior pelo Decreto no 19.851/1931, que estabelecia medidas de providência e beneficência aos corpos discentes dos institutos universitários. Logo depois, essa lei foi incorporada na Constituição Federal de 1934, que previa, no seu artigo 157, o repasse de verbas para auxiliar os alunos necessitados e o fornecimento gratuito de material escolar, bolsas de estudos e assistência alimentar e dentária (COSTA, 2010; IMPERATORI, 2017).

A constituição de 1946 também assegurou à assistência educacional aos alunos necessitados, assim também como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1961 (IMPERATORI, 2017), conferindo cada vez mais importância e legitimidade à assistência estudantil.

“Entre as décadas de 1950 e 1970 criaram-se universidades federais em todo o Brasil, ao menos uma em cada estado, além de universidades estaduais, municipais e particulares” (VASCONCELOS, 2010, p. 401). Nos anos de 1962-63, o Conselho da

de Assistência Cultural e Material ao Estudante, realizou o II Seminário Nacional de Reforma Universitária em Curitiba com o intuito de debater pontos sobre a assistência ao estudante de forma mais efetiva como assistência habitacional, assistência médica e criação de restaurantes universitários (KOWALSKI, 2012).

No ano de 1970, o governo federal criou o Departamento de Assistência ao Estudante (DAE), este órgão estava vinculado ao Ministério da Educação - MEC, que pretendia manter uma política de assistência estudantil para graduação em nível nacional, dando ênfase para os programas de alimentação, moradia, assistência médica- odontológica. Contudo, tal órgão foi extinto nos governos subsequentes (FONAPRACE, 2012).

Ressalta-se que desde a criação da primeira casa dos estudantes no Rio de Janeiro em 1931 até a década de 1970 com a criação do DAE, as políticas de assistência voltadas ao discente, foram marcadamente pontuais, descontínuas e dispunham de poucos recursos financeiros. Havia uma preocupação em sanar os problemas básicos e emergenciais dos estudantes, como a moradia e a alimentação (COSTA, 2010).

Logo após esse período, verifica-se que a assistência estudantil entra em uma segunda fase, quando a temática novamente começa a ser pensada como objetivo de política pública. A promulgação da Constituição Federal de 1988 foi o marco da garantia da efetividade dos direitos fundamentais e da prevalência dos princípios democráticos (COSTA, 2010). Foi a partir da promulgação da carta magna de 1988 que, através de lutas dos movimentos sociais, professores e estudantes, conquistaram alguns direitos como a gratuidade do ensino público, a autonomia universitária, o atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos, a aplicação de mais recursos pela União, estados e municípios à educação, entre outros pontos importantes (SILVEIRA, 2012).

Nos movimentos sociais de luta pela assistência ao discente, os problemas decorrentes do acesso e permanência na educação superior ganham espaço para serem debatidos nos Encontros Nacionais de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários/Estudantis e nas reuniões realizadas pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES). Esses espaços de discussões criaram condição para ser organizado em 1987, o Fórum Nacional de Pró- Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE), que congregava Pró- Reitores, Sub-Reitores, Decanos, Coordenadores e Responsáveis pelos assuntos comunitários e estudantis das IFES do Brasil, os quais procuravam encontrar meios

apropriados para viabilizar a permanência do aluno nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) (KOWALSKI, 2012).

A regularização da política de educação ocorreu pela Lei de Diretriz e Bases (LDB) de 1996, que reforçou a pertinência do princípio da igualdade na educação, sendo esse um dos seus fins. No texto da LDB, também é possível perceber que há um encaminhamento para se pensar a educação voltada para as necessidades de determinados grupos e situações específicas. Dessa forma, a educação passa a ser pensada sob um viés mais equitativo (COSTA, 2010). Concernente à educação superior, a legislação permite que ela seja ministrada por instituições de ensino superior, públicas ou privadas, condicionadas ao reconhecimento de cursos, credenciamento das instituições e processo periódico e regular de avaliação. A assistência estudantil na educação superior só será regulamentada anos mais tarde (IMPERATORI, 2017).

Importante destacar que, mesmo com a democracia estabelecida no país, consequências dos longos anos de ditadura militar ainda se faziam presentes. Problemas sociais tais como o desemprego, as deficiências nos serviços de saúde, as desigualdades na educação superior decorrentes das dificuldades de acesso e permanência, dentre outros, persistiam. Esses movimentos de disputas se convergem e provocam mudanças na agenda política que, por sua vez, resultam na criação de novas políticas públicas (KOWALSKI, 2012).

Os desdobramentos da carta magna de 1988, podem ser observados na criação do Plano Nacional de Educação (PNE), regulamentado pela Lei no 10.172, em 9 de janeiro de 2001, tendo por objetivos a melhoria da qualidade do ensino, a redução da desigualdade social no acesso e na permanência na escola. O PNE define diretrizes com o objetivo de articulação, de desenvolvimento de todos os níveis de ensino, e da integração das ações do Poder Público (COSTA, 2010).

Sabe-se o quanto a desigualdade social é imensa na sociedade capitalista, sendo gritante, dentro da sala de aula, a diferença entre “ricos e pobres”, na medida em que os primeiros tiveram mais oportunidades no decorrer de sua vida, desfrutando de melhores condições para estudar, enquanto os últimos, muitas vezes trabalhando desde cedo, nunca tiveram acesso pleno ao conhecimento e lutam para adquirir materiais e arcar com os custos de transporte, alimentação e, em alguns casos, até de moradia, gerados pela graduação (SILVEIRA, 2012).

2005/PROUNI/Lei no 10.891, de 9 de julho de 2004, Art. 1o), a edição do Decreto no 6.096 de 24 de abril de 2007 (cf. Art. 1o - REUNI), e, mais à frente, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que começou a ser utilizado como exame de acesso ao ensino superior em universidades públicas brasileiras através do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), trouxe à cena a necessidade de se pensar políticas de permanência, tendo em vista que essas políticas corroboram para a inclusão de jovens de baixa renda que não possuíam condições de frequentar um curso superior (OLIVEIRA, 2014).

No Plano de Assistência Estudantil apresentado pelo FONAPRACE, juntamente com a ANDIFES, em 2007, constava que não seria possível efetivar apenas o acesso à educação superior gratuita, era necessário também a criação de mecanismos que viabilizassem a permanência e a conclusão de curso dos que nela ingressam, reduzindo os efeitos das desigualdades apresentadas por um conjunto de estudantes provenientes de segmentos sociais cada vez mais de baixa renda e que apresentam dificuldades concretas de prosseguirem sua vida acadêmica com sucesso (FONAPRACE, 2007).

Segundo os dados apresentados no relatório da pesquisa sobre o perfil socioeconômico dos estudantes das IFES, realizada pelo FONAPRACE em 2011, revela que 48,2% vivenciavam risco de vulnerabilidade social (ANDIFES, 2011). Todavia, apenas a partir de 2008 é que o poder público, atendendo a antigas reivindicações das IFES e dos movimentos estudantis, passou a destinar recursos para assistência estudantil por meio do PNAES, sendo que, em 19 de julho de 2010, o ainda presidente Lula transformou o Programa em Decreto Lei no 7.234. Portanto, esse Decreto no 7.234/2010 representa a luta coletiva de grupos organizados (pró-reitores, estudantes, sociedade civil) na consolidação da assistência estudantil em âmbito institucional e o reconhecimento legal enquanto política pública de direito (KOWALSKI, 2012).