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Políticas públicas de atenção à saúde da pessoa idosa no Brasil

A

implantação de uma política pública para pessoas idosas no Brasil é recente, pois data de 1994 e coincide com a implantação do modelo neoliberal, cuja consequência foi a adesão ao Consenso de Washington, ou seja, inaugurou-se no país a economia globalizada (SANTOS, 2001).

Em termos de proteção, a pessoa idosa foi citada pela primeira vez, neste país, pela Lei Eloy Chaves em 1923 (BAUER, 2002) que tratou do sistema previdenciário e outras referências significativas em alguns artigos do Código Civil (1916), do Código Penal (1940), do Código Eleitoral (1965) (RODRIGUES, 2001).

De 1923 a 1965, destacam-se os dois períodos de governo de Getúlio Vargas que marcaram, no Brasil, o início do desenvolvimento das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da economia, essencialmente atendendo aos anseios da classe industrial brasileira, tinha o Estado como o principal financiador, impotente para investir em tal empreitada (MENDES, 2010).

Não obstante, as políticas públicas na área da saúde eram direcionadas para uma população de país jovem, a base demográfica apontava para as políticas sociossanitárias direcionadas à população materno-infantil. Nos anos 70, é que se começa a operar mudanças frente ao perfil da população, perante o fenômeno do envelhecimento que

começa sinalizar-se nos países em desenvolvimento. Destacamos, neste texto, alguns marcos legais que influenciaram a sociedade e a vida dos idosos no Brasil.

Em 1988, foi promulgada a Constituição Cidadã – Constituição Federal (BRASIL, 1988) destacando no texto constitucional a referência ao idoso. Essa foi, de fato, a primeira vez em que uma constituição brasileira assegurou ao idoso o direito à vida e à cidadania:

A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e garantindo-lhe o direito à vida. - § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. - § 2º Aos maiores de 65 anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos (CF, art. 230, 1988).

Assim, a criação da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS – lei 8.742/93, garantiu à Assistência Social o status de política pública de seguridade social, direito ao cidadão e dever do Estado, beneficiando os idosos dentro de alguns critérios específicos.

Em janeiro de 1994, houve a criação da Lei nº 8.842/1994, que estabelece a Política Nacional do Idoso e estipula o limite de 60 anos e mais, de idade, para uma pessoa ser considerada idosa (BRASIL,1994).

Em 1999, a implantação da Política Nacional da Saúde do Idoso, por meio da Portaria 1.395/1999 do Ministério da Saúde (MS), estabelece as diretrizes essenciais que norteiam a definição ou a redefinição dos programas, planos, projetos e atividades do setor na atenção integral às pessoas em processo de envelhecimento e à população idosa (BRASIL, 1999).

Em 2003, entra em vigor a lei nº 10.741 que aprova o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados aos idosos (BRASIL, 2003).

Em setembro de 2005, o Ministério da Saúde definiu a Agenda de Compromisso pela Saúde que agrega três eixos: o Pacto em Defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), o Pacto em Defesa da Vida e o Pacto de

Gestão. O eixo do Pacto em Defesa da Vida tem responsabilidades em três áreas que são a saúde do idoso, a promoção da saúde e o fortalecimento da Atenção Básica (BRASIL, 2006a).

Em 2006, visando garantir e ampliar os direitos da pessoa idosa, constrói-se a Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa – RENADI (BRASIL,2005). Nesse mesmo ano, é instituída a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, pela Portaria 2.528/GM, de 19 de outubro de 2006, que tem como objetivo garantir atenção adequada e digna para a população idosa brasileira, visando à integração da população (BRASIL, 2006b).

Essa política veio concretizar um passo importante para a saúde de mais de 18 milhões de idosos no país, que correspondem a aproximadamente 10,5% da população brasileira.

Cabe destacar alguns movimentos, ainda tênues, como experiências de gestores locais, de Estados e Municípios, organizando serviços para essa população, viabilizaram a revisão da Portaria de 1999 (PNI), revogando-a e dando origem, em 2006, à Portaria 2.528 e às diretrizes desse processo serviram de base para um importante documento – o Pacto em Defesa da Vida. Esse Pacto foi assinado pelo Ministério da Saúde, pelos Conselhos de Secretários Estaduais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems) e aprovado pelo Pleno do Conselho Nacional de Saúde.

O Pacto em Defesa da Vida adota o conceito de envelhecimento

ativo que, segundo a WHO (2005), é um processo de otimização das

oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. Envolve políticas públicas que promovem modos de viver mais saudáveis e seguros em todos os ciclos de vida.

No tocante ao conceito de envelhecimento ativo, percebemos que a problemática desse estudo se fortalece, formata seu corpus com mais consistência e coerência na medida em que se compreendeu que a atuação dos profissionais na atenção primária é intrínseca a esse conceito

adotado mundialmente. Além disso, destaca-se o discurso contemporâneo da política pública para atenção à saúde da população idosa e o discurso institucional que precisa dar conta da atenção ao idoso. A população idosa precisa urgente da preservação do pilar da saúde, que é o que lhe garante a possibilidade do viver melhor tanto físico, social, afetivo somando autoeficácia e otimismo ao seu capital de autoestima com vistas à manutenção do gradiente máximo de sua funcionalidade (KALACHE, 2010). O Ministério da Saúde, ao aprovar, em 2006, a Portaria Nº 2.528, ressalta a reestruturação da assistência a ser prestada à pessoa idosa reafirmando a sua finalidade de recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos idosos (BRASIL, 2006b), ou seja, define o que seja a funcionalidade.

Dessa forma, sendo a funcionalidade o bem maior da saúde da pessoa idosa, do ponto de vista da moderna Geriatria, a capacidade funcional se estabelece como o conceito de saúde mais adequado para manejar o cuidado à saúde do idoso (VERAS; LOURENÇO, 2008), ou seja, a saúde do idoso pode ser considerada como a capacidade funcional máxima pelo maior tempo alcançável.

Nesse sentido é que um dos principais objetivos dessa política é a reorientação dos Serviços Públicos de Saúde para identificar o nível de dependência desses idosos, dando a eles um acompanhamento diferenciado em cada situação, somando para, além disso, a promoção de qualidade de vida dessa população na heterogeneidade e diversidades desse contexto.