• Nenhum resultado encontrado

POLÍTICAS PÚBLICAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O NOVO CONTEXTO NACIONAL

No documento EMISSÕES DE GEE DO BRASIL (páginas 63-67)

Limitações dos Dados

3.4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O NOVO CONTEXTO NACIONAL

As políticas públicas sobre mudanças climáticas no Brasil transitaram entre avanços e incertezas ao longo de 2016, quando o país foi sacudido por uma crise econômica e institucional que culminou na troca de governo e continuou em 2017. Apesar de alguns passos positivos, o país ainda não assegurou uma trajetória de desenvolvimento que incorpore entre seus objetivos o controle e a redução de emissões de GEE e a adapta- ção e aumento da capacidade de resiliência às mudanças climáticas.

O Brasil apresentou ainda em 2015 a primeira INDC de um grande país emergente com meta de redução absoluta de emissões para todo o conjunto da economia. O Acordo de Paris tramitou no Congresso Nacional em menos de quatro meses em 2016 e o Bra- sil foi um dos primeiros países dentre os grandes emissores a ratificá-lo.

O Brasil também publicou seu Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA) e a Estratégia Nacional de Redd+, a ENREDD+. Ganhou ferramentas importantes para subsidiar, respectivamente, as políticas de mitigação e adaptação, como os estudos Opções de Mitigação (MCTI/Pnuma), IES Brasil e Brasil 2040 (da extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República).

Tais políticas e instrumentos, porém, continuam não fazendo parte do planejamento de desenvolvimento nacional. O novo governo pautou suas prioridades pelo modelo de desenvolvimento do governo anterior, baseado em forte expansão da infraestrutu- ra e dos setores mineral e de óleo e gás, sem incorporar as mudanças climáticas, seus riscos e oportunidades, em seus planos. Em que pese a prioridade dada na formulação política externa à “especial responsabilidade do Brasil” na área ambiental, em geral, na economia, no planejamento e em diversas outras áreas a mudança do clima ainda prima pela ausência.

Além disso, o presidente Michel Temer passou a atender a demandas da bancada ru- ralista do Congresso Nacional, como redução de áreas protegidas, legalização da gri- lagem de terras públicas, desrespeito a direitos de povos indígenas e flexibilização da legislação ambiental, o que coloca em xeque a própria capacidade do país de atingir suas metas de emissões de gases de efeito estufa para 2020, estabelecidas no âmbito da Lei 12.187/2009 que estabeleceu a Política Nacional sobre Mudança do Clima.

A governança climática no Brasil ainda não é efetiva, e mesmo sua estrutura existente, estabelecida em 2009, cuja instância máxima é o CIM (Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima) não tem sido acionada pelo governo federal.

A Lei nº 12.187/2009, que estabeleceu a Política Nacional sobre Mudança do Clima, define, em seu artigo XI, que as políticas públicas e programas governamentais deve- rão compatibilizar-se com a Política Nacional sobre Mudança do Clima. Não é o que se verifica oito anos depois. Para citar um exemplo, o Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) ainda representa menos de 2% do total investido no Plano Safra, que em 2017/2018 foi de R$ 200 bilhões.

Igualmente preocupantes são as tendências no setor de energia. Ao contrário do setor de mudança de uso da terra, as emissões de energia são contratadas por longo perío- do de tempo a partir do investimento. Quando se faz um leilão de energia com terme- létrica a carvão, ou se concentram investimentos na indústria de combustíveis fósseis, gera-se uma contratação de emissões por 30 a 40 anos. Em 2015, logo após o anúncio da INDC Brasileira, o Ministério de Minas e Energia colocou em consulta pública o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2024), com aumento da participação dos inves- timentos em fontes fósseis de energia, que chegariam, de acordo com aquele plano, a 70,6% de todo o investimento em energia no país até o ano de 2024. Em 2017, o PDE 2026, elaborado já sob o governo do presidente Michel Temer, foi publicado em versão para consulta pública trazendo os mesmos níveis de investimentos em fontes fósseis de energia (70,5% dos investimentos projetados até 2026) do PDE 2024.

Outro fato preocupante é que, embora tenhamos condições de cumprir a meta de redução relativa de emissões prevista na PNMC, chegaremos a 2020 com as emissões em ascensão e não em queda. Seguindo a trajetória atual, é provável que os menores níveis de emissão tenham ocorrido entre 2010 e 2014 e que nos próximos anos redu- ções adicionais do desmatamento sejam compensadas pelo aumento de emissões nos demais setores. A implementação antecipada das ações previstas na NDC brasileira pode ser a chave para evitar que isso aconteça.

3.4.1. Plano Nacional

Até meados de 2017 o governo federal ainda não havia tornado pública qualquer ava- liação sistematizada da implementação do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, lançado em 2008, que deveria demonstrar os impactos positivos da implementação do plano, as suas deficiências e oportunidades de aprofundamento de conceitos e ações. Mesmo sem esta avaliação, o governo iniciou o processo de atualização do plano em julho de 2012, com previsão de seis meses para concluir os trabalhos. Com baixa par- ticipação, o trabalho foi concluído, em 2014. No entanto, até hoje o a versão atualizada do plano não foi publicada.

3.4.2. REDD+

Em dezembro de 2015, o Ministério do Meio Ambiente estabeleceu, através de portaria

(Portaria No. 370 de 2 de dezembro de 2015) a Estratégia Nacional para Redução das

Emissões de Gases de Efeito Estufa Provenientes do Desmatamento e da Degradação Florestal, Conservação dos Estoques de Carbono Florestal, Manejo Sustentável de Flo- restas e Aumento de Estoques de Carbono Florestal (REDD+) do Brasil – a ENREDD+. Ao longo de 2016 e do início de 2017, foram adotadas as primeiras medidas para imple- mentação da ENREDD+ e instituída a Comissão Nacional para Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa Provenientes do Desmatamento e da Degradação Florestal, Conservação dos Estoques de Carbono Florestal, Manejo Sustentável de Florestas e Aumento de Estoques de Carbono Florestal (CONAREDD+).

No entanto, apesar da Amazônia ter gerado um enorme ativo ambiental com as re- duções de emissões de desmatamento na Amazônia entre 2006 e 2014, que é consi- derado a maior contribuição histórica em nível nacional já realizada para a mitigação das mudanças climáticas, a implementação da ENREDD+ se dá de forma pouco efetiva e muito pouco foi investido para garantir a manutenção daqueles resultados a longo prazo. Além disso, devido ao monitoramento incipiente dos outros biomas, hoje não é possível nem mesmo sequer inferir o verdadeiro potencial de captação de recursos do país para aprofundar suas ações para reduzir o desmatamento e degradação florestal

Na Amazônia não houve melhorias significativas em termos sociais e econômicos (o que se pode atesra através de análises de indicadores como o Produto Interno Bruto, Índice de Progresso Social, Índice de Desenvolvimento Humano, etc.) e existe uma for- te demanda reprimida por desenvolvimento que necessita ser suprida para dinamizar a economia regional. Se não forem feitos investimentos para promover o desenvol- vimento com baixas emissões de carbono, o desmatamento poderá voltará a subir, como já foi verificado no primeiro semestre de 2016 (IMAZON, 2016).

O REDD+ pode ser um instrumento de apoio fundamental para se promover esses investimentos em cada um dos biomas brasileiros, seja através da redução de desma- tamento e degradação florestal, seja através de outras atividades, como a restauração florestal. Há várias iniciativas em curso no Brasil. A principal iniciativa no nível federal é o Fundo Amazônia que capta recursos na forma de pagamento por resultado na pro- porção de US$ 5 por tonelada de carbono que deixa de ser emitida pela redução do desmatamento na Amazônia.

As reduções de emissões verificadas entre 2006 e 2014 foram de 4,2 bilhões de tCO2,

o que geraria um potencial de captação da ordem de até U$ 20 bilhões38. Até junho

de 2016 haviam sido recebidos US$1,037 bilhão (Fundo Amazônia, 2016)39 dos Gover-

nos da Noruega (97%) e Alemanha (2%) e da Petrobrás (<1%). No entanto, devido ao aumento no desmatamento verificado em 2016, a Noruega anunciou em junho de 2017 a redução de 50% no repasse ao Brasil (cerca de R$ 200 milhões), aplicando pela primeira o redutor previsto na regra do próprio fundo que condiciona a liberação da verba a resultados.

38 Considerando o valor de referência de U$5/tCO

2 que foi utilizado para o contrato entre Fundo Amazônia

e Governo da Noruega.

Tabela 8 – Total de doações recebidas pelo Fundo Amazônia (jun, 2017)

É necessário diversificar a estratégia de captação de recursos. A implementação de mecanismos de incentivo e operacionalização da captação pelos estados que já possuem sistemas de REDD+ definida (ex. AC, AM, PA e MT) pode ser uma boa estraté- gia a ser explorada.

No que tange a execução o Fundo Amazônia acelerou a aprovação dos projetos nos últimos anos e até maio de 2017 tinha contratado R$ 1,43 bilhões em 89 projetos com desembolsos acumulados de R$ 732 milhões. O volume contratado corresponde a pouco mais de 50% do valor total já recebido pelo Fundo Amazônia.

Figura 37 – Portfólio de projetos no Fundo Amazônia (Junho 2017). NOK 7.342.680.000,00 EUR 21.000.000,00 R$ 14.706.397,21 2.775.082.559,17* 60.697.500,000* 14.706.397,21 2.850.486.456,38 NOK 7.342.680.000,00 EUR 21.000.000,00 US$ 7.301.040,50 1.100.276.320,84 28.323.207,40 7.301.040,5 1.135.900.568,74 Governo da Noruega República Federativa da Alemanha - KFW Petrobras

No documento EMISSÕES DE GEE DO BRASIL (páginas 63-67)

Documentos relacionados