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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF) ): uma análise de custeio e investimento no Rio Grande do

3. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Até o final dos anos 1980, as políticas públicas eram voltadas priorizando as grandes faze das e empresas a rícolas Se u do u es ( 9), esse período de “moder ização co servadora da a ricultura brasileira” a produção era praticada por ra des empresas agrícolas para culturas de exportação, e teve o apoio do Estado brasileiro através de políticas agrícolas, a exemplo do crédito, da pesquisa agropecuária, da assistência técnica e da formação de mercados.

O modo camponês de fazer agricultura era visto como um atraso ao desenvolvimento e, como afirma Ploeg (2008), mesmo com sua existência reconhecida, as realidades camponesas sempre foram vistas pelos defensores da modernização agrícola como um obstáculo à mudança, obstáculo esse que poderia ser melhorado através da transformação desses camponeses em agentes econômicos mais capitalizados e estruturados, apesar de serem produtores simples de mercadorias. Essa visão tornou-se um empecilho para essa categoria, pois a falta de concepção a respeito do modo familiar de fazer agricultura resultou no desvio de políticas públicas, as quais ficaram voltadas exclusivamente para grandes agricultores.

Do dos anos 1980 para o início dos anos 1990, ocorreu no Brasil um processo de transição, fazendo emergir políticas públicas governamentais com certa preocupação com a agricultura familiar, ajudando e tentando resgatar e valorizar a produção de produtos agrícolas tradicionais e, consequentemente, aquecer e fortalecer os mercados locais e regionais. De acordo com Nunes (2009), esse processo de transição possibilitou a valorização daquelas regiões menos favorecidas, a exemplo da região Nordeste e parte da região Sul, as quais ainda não tinham sido predominantemente tocadas pelas ações homogeneizantes da revolução verde e das forças da globalização, mantendo preservada ainda uma considerável heterogeneidade e diversidade regional.

Como afirma Silva (2006), no período acima citado, a economia brasileira também passava por profundas transformações decorrentes da crise fiscal e de ajuste macroeconômico dos anos 1980 e da intensificação do processo de liberalização comercial e financeira dos anos 1990. Dessa forma, mudou-se o foco acerca do papel do Estado no âmbito das políticas públicas e de seus programas, gerando impactos importantes principalmente no setor agrícola.

i corporação da expressão “a ricultura familiar” também a hou pro eção e respaldo em meados dos anos 1990. Para Schneider (2009), a manifestação da expressão agricultura familiar na literatura brasileira parece ocorrer, quase concomitantemente, em duas esferas diferentes, no início da década de 1990. No campo político, a adoção da expressão parece estar relacionada aos embates que os movimentos sociais, especialmente o sindicalismo rural ligado à central única dos trabalhadores (CUT), tiveram nas discussões acerca do espaço e papel dos agricultores familiares.

Através disso, os sindicatos e movimentos sociais de reivindicação ligados ao campo, começaram a se interessar pelos problemas ligados aos agricultores familiares, que até o final dos anos 1980 eram vistos apenas como camponeses opostos aos latifúndios e congregava várias categorias sociais encaixadas sobre uma mesma denominação.

Em nosso país, é notório destacar a rica diversidade e heterogeneidade ainda mantida na região Sul, abrindo mesmo assim, espaço para a modernização. Dessa forma, segundo Nunes & Schneider (2012), surgiram políticas públicas direcionadas cada vez mais para a formação de estruturas organizacionais nos meios rurais (cooperativas, associações, redes, grupos, etc.) e institucionais (cooperativismo, associativismo, cooperação, etc.). Tais políticas buscavam apoiar de forma financeira e organizacional o agricultor familiar, trazendo, conforme Nunes & Schneider (2012), a ideia de que além do apoio financeiro, a formação bem sucedida de estruturas de produção econômica e de organização, como as citadas anteriormente, é de suma importância para uma maior autonomia dos agricultores familiares, assim como para a produção diversificada, podendo assim haver melhor negociação na inserção em mercados e concorrência com as grandes agroindústrias, promovendo desenvolvimento local.

A fim de atender determinadas necessidades, a partir do início dos anos 1990 as políticas públicas tomaram um grau de diferenciação, voltando-se mais especificamente para as temáticas ambientais, sociais, de desenvolvimento rural e de apoio à produção de agricultores familiares.

Em meio ao surgimento de algumas políticas voltadas para o agricultor familiar, pode- se citar como uma das ações de política agrícola mais importante a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o qual surgiu em 1996 para ampliar a oferta de crédito para os agricultores. De Acordo com Schneider,

Este programa, que em larga medida foi formulado como resposta às pressões do movimento sindical rural, aquelas realizadas desde o início da década de 1990, nasceu com a finalidade de prover crédito agrícola e apoio institucional às categorias de pequenos produtores rurais que vinham sendo alijados das políticas públicas ao

longo da década de 1980 e encontravam sérias dificuldades de se manter na atividade. (Schneider, 2009, pg. 35)

Com a criação do PRONAF, os movimentos sociais de reivindicação, principalmente os movimentos coordenados pelos sindicalistas, passaram a exigir mais ajuda governamental para a nova categoria intitulada agora como agricultores familiares, acarretando aprimoramento do PRONAF e a necessidade do surgimento de outras políticas de apoio. As avaliações feitas por Nunes (2009) dão conta de que o PRONAF, na forma de crédito individual ou de subsídio para equipamentos coletivos, beneficiou principalmente os agricultores familiares de maior estrutura econômica e de organização, aqueles mais abastados em capital e articulados com a rede bancária, essencialmente nos estados da região Sul do país.

3.1. O Programa Nacional De Fortalecimento Da Agricultura Familiar (PRONAF)

O PRONAF é caracterizado como uma política com foco na oferta e surgiu em 1996 com o objetivo de subsidiar os agricultores familiares de todo o país para que esses fossem mais capazes de coletivamente desenvolver suas aptidões agrícolas e impulsionar o processo de desenvolvimento rural. De acordo com seu manual operacional, os objetivos gerais do programa são: (i) ajustar políticas públicas à realidade da agricultura familiar; (ii) viabilizar a infraestrutura rural necessária à melhoria do desempenho produtivo e da qualidade de vida da população rural; (iii) fortalecer os serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar; (iv) elevar o nível de profissionalização de agricultores familiares, propiciando-lhes novos padrões tecnológicos e gerenciais; e, (v) favorecer o acesso de agricultores familiares e suas organizações ao mercado.

De acordo com o quadro 1, o programa possui as seguintes classificações principais: Quadro1: PRONAF: Classificação dos agricultores familiares por grupo em 2010-2011.

GRUPO PÚBLICO

Pronaf A Produtores assentados da Reforma Agrária e/ou beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF do INCRA).

Pronaf B Agricultores familiares com renda bruta anual de até R$ 4 mil. Pronaf A/C Egressos do Grupo Pronaf A.

Pronaf C Agricultores familiares com renda bruta anual acima de R$ 4 mil e até R$ 18 mil. Pronaf D Agricultores familiares com renda bruta anual acima de R$ 18 mil e até R$ 50 mil. Pronaf E Agricultores familiares com renda bruta anual acima de R$ 50 mil e até R$ 110 mil. Fonte: MDA/SAF/PRONAF, 2011.

Com o PRONAF, segundo Nunes & Schneider (2012), o Estado tem tentado redirecionar a sua política agrícola para estimular condições necessárias para que forças endógenas possam emergir e se desenvolver através da iniciativa e escolhas dos agricultores familiares no nível local e regional. Porém, ainda ocorrem limitações no ambiente institucional, pois há uma dificuldade para fazer funcionar de forma ampla e eficiente.

Numa comparação feita de acordo com pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Banco Central do Brasil (BACEN), com relação ao destino de recursos financeiros no país, verifica-se que a quantidade maior de custeio do PRONAF é destinada a região Sul. Já a quantidade maior de investimento do PRONAF é destinada a região Nordeste, o que demonstra uma desigualdade regional na distribuição de recursos financeiros. Esta pequena comparação mostra cada vez mais a definição da região Sul como a de maior obtenção do recurso de custeio (recurso importante e destinado à geração de riqueza onde já existe estrutura econômica e de organização), e a região Nordeste se mostrando como de significativa carência em estrutura econômica e de organização para processar recursos de custeio sendo, consequentemente, a que necessita de mais investimento. Os gráficos 1 e 2 confirmam essas proposições.

Gráfico 1: Números de Contratos (custeio e investimento) do PRONAF – Região Nordeste, 2011.

Gráfico 2: Números de Contratos (custeio e investimento) do PRONAF – Região Sul, 2011. Fonte: Bacen, 2011.

Um aspecto que suscita preocupação e tem provocado um longo debate em torno dos agricultores familiares, associações, sindicatos e federações ligadas ao campo, é o fato de que, enquanto a região Nordeste concentra a maior quantidade de estabelecimentos familiares, a região Sul concentra a obtenção da maior parte dos recursos financeiros e, consequentemente, de contratos do PRONAF.

Quanto ao destino dos recursos financeiros do PRONAF por região, a região Nordeste apresenta um desempenho crescente de 2002/2003 até 2006/2007, e depois declina sendo ultrapassada pela região Sudeste que assume a segunda posição, conforme gráfico 3. Dessa forma, percebe-se mais uma vez a desigualdade da distribuição de recursos financeiros do PRONAF, tão importante para o desenvolvimento regional, especialmente em relação à região menos desenvolvida, a Nordeste, e as regiões mais ricas e desenvolvidas, a Sul e a Sudeste.

Gráfico 3: PRONAF - Distribuição de recursos (R$) por região do Brasil no período de 1998 a 2010.

Fonte: IPEA (Anexo Estatístico): PRONAF/SAF/MDA, 2010. Elaboração dos autores.

Numa comparação entre as regiões, os dados do gráfico 4 mostram que 50% dos agricultores familiares do Brasil se encontram na região Nordeste e obtiveram no período de 1998 a 2010 apenas 19,67% dos recursos do PRONAF. Entretanto, 47,14% dos recursos financeiros do PRONAF são destinados para a região Sul que possui apenas 20% dos agricultores familiares do país, revelando uma disparidade regional, condizente com a realidade apresentada nos gráficos anteriores.

Gráfico 4: PRONAF: Agricultores familiares de 1996 a 2008

Fonte: IPEA (Anexo Estatístico): PRONAF/SAF/MDA, 2010. Elaboração dos autores. 0,00 1.000.000.000,00 2.000.000.000,00 3.000.000.000,00 4.000.000.000,00 5.000.000.000,00 6.000.000.000,00 7.000.000.000,00 V al ore s e m R $

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

9% 50% 9% 5% 16% 19,02% 19,64% 7,88% 47,14% 6,32% 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste

A maior parcela dos recursos liberados pelo PRONAF no período acima citado foi direcionada para a região Sul do Brasil, enquanto coube a região Nordeste uma pequena participação, em relação ao seu elevado número de agricultores familiares existentes na região. Nesta monografia a hipótese que defendemos, e que se estende para a comparação entre os municípios de Apodi e Janduís, é a de que o fator determinante que gera essa diferença entre o Nordeste e a região Sul especialmente é o nível de capacidade de estrutura econômica e de organização coletiva para a geração de riqueza por parte dos agricultores familiares.

Como já citado anteriormente, os agricultores da região Sul são mais estruturados, possuem um maior nível organizacional e obtém a partir da combinação entre estes elementos uma renda bem mais considerável que os agricultores familiares nordestinos, podendo ter acesso a mais financiamento, especialmente o de custeio. Isto reforça a necessidade de se repensar em estratégias que possibilitem condições de acesso às linhas de crédito numa relação menos desigual aos estabelecimentos familiares em todo o Brasil, com vistas a reduzir as desigualdades entre as regiões.

Nesse sentido, de acordo com Nunes & Schneider (2012), é necessário enfatizar que a promoção de políticas públicas que vislumbram o estímulo às dinâmicas de desenvolvimento rural local em um formato mais horizontal, irá corroborar com a construção de ferramentas para a introdução de uma política agrícola de crédito rural mais dinâmica, menos burocrática, que responda às singularidades locais e dinamize a produção e a economia no nível local e regional. A política de crédito rural é um dos instrumentos mais relevantes de impulso ao desenvolvimento rural, e o PRONAF, apesar de não ser tão igualmente disseminado em todas as regiões do país como é na região Sul, onde representa a principal política que os agricultores familiares utilizam para produzirem e comercializarem seus produtos.

De acordo com Silva (2006), desde o início dos anos 2000, ocorreram algumas mudanças que, teoricamente, estariam alterando o perfil do PRONAF, no sentido de buscar direcionar os recursos para um número maior de agricultores carentes, estimulando o desenvolvimento rural local.

4. METODOLOGIA

O método utilizado no presente artigo consistiu em um estudo comparativo para interpretar e explicar as ações da política pública PAA na produção agrícola, e sua

contribuição para o de desenvolvimento das formas de organizações coletivas da agricultura familiar nos municípios Apodi (RN) e Janduís (RN).

Quanto à definição da amostra, os dados de caráter descritivo foram retirados dos questionários correspondentes à pesquisa já sistematizada e desenvolvida em dez núcleos/municípios do estado do Rio Grande do Norte pelo grupo de pesquisa “Dese volvime to re io al: a ricultura e petróleo” do D /F / R , através do pro eto “A construção de mercados para a agricultura familiar: processos e práticas da produção agroecológica e de comercialização solidária da Rede Xique- i ue” Foram aplicados na pesquisa 175 questionários em Apodi e 13 questionários em Janduís, conforme tabela 1, aos agricultores vinculados a Rede XiqueXique de Comercialização Solidária, no ano de 2011 tomando como referência o ano agrícola 2010.

Tabela 1: Universo e Número de Comunidades Pesquisadas por Dinâmica (Município) Estudada.

TOTAL APODI JANDUÍS

N = 188 N = 175 N = 13

Comunidades = 30 Comunidades = 24 Comunidades = 6 Fonte: Elaboração dos Autores a partir da Pesquisa de Campo Realizada em 2011.

Para o tratamento das informações coletadas na pesquisa de campo, os dados foram manipulados em ambiente SPSS® versão 16.