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3 TRILHA TEÓRICA

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS

Políticas públicas, enquanto área do conhecimento e disciplina acadêmica, tem origem, segundo Souza, nos Estados Unidos da América, rompendo as etapas seguidas pela tradição europeia, cujos estudos e pesquisas nessa área estavam focados muito mais na análise sobre ações do estado e suas instituições, assim:

Na Europa, a área de política pública vai surgir como um desdobramento dos trabalhos baseados em teorias explicativas sobre o papel do estado e de uma das mais importantes instituições do Estado - o governo - produtor, por excelência, de políticas públicas. Nos EUA, ao contrário, a área surge no mundo acadêmico sem estabelecer relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, passando direto para a ênfase nos estudos sobre a ação dos governos (SOUZA, 2006, p. 22).

Nessa perspectiva, política pública é um campo da ciência política que permite entender como e por que os governos optam por determinadas ações. De acordo com Saravia e Ferrarezi (2006), o processo de política pública mostra-se como forma moderna de lidar com as incertezas decorrentes das rápidas mudanças do contexto. Para Souza (2006), a introdução de política pública como ferramenta das decisões do governo é produto da Guerra Fria e da valorização da tecnocracia como forma de enfrentar suas consequências, resultando daí:

A proposta de aplicação de métodos científicos às formulações e às decisões do governo sobre problemas públicos e se expandem depois para outras áreas da produção governamental, inclusive para a política social (SOUZA, 2006, p. 23).

De acordo com Silveira (2012), entre as políticas públicas existe a modalidade da política social que possui como função a concretização de direitos de cidadania conquistados pela sociedade e amparados pela lei.

Conforme Vianna (2002), a política social é um conceito que a literatura especializada não define precisamente, sendo, de uma forma geral, entendida não só como uma modalidade da política pública, mas também como ação de governo com objetivos específicos. Essa definição é bastante vaga e, de acordo com a autora, é necessário analisar o seu significado a fim perceber algumas nuances:

A primeira armadilha se encontra na expressão ações de governo. Trata-se de uma armadilha porque a expressão se torna vazia quando não vem acompanhada da indispensável qualificação: que governo? No resto da frase, com objetivos específicos está a segunda armadilha. Pois cabem, igualmente, perguntas que qualificam a locução: especificados por quem, em que esferas, com que legitimidade? De novo, faz imensa diferença se a demarcação dos objetivos de determinada ação governamental se dá em circunstâncias democráticas ou autoritárias, se leva em conta interesses amplos ou restritos da sociedade (VIANNA, 2002, p. 1).

Considerando-se essas “armadilhas”, há uma probabilidade de maior precisão conceitual, uma vez que como política pública, a política social deve ser entendida em sua dimensão política e histórica. Diante disso, Vianna (2002) ressalta a dificuldade da conceituação. Nesse sentido, afirma que cuidando dessas “arapucas”, pode-se concluir que é uma ação governamental com objetivos específicos relacionados com a proteção social.

Segundo Silveira (2012), para proteger e concretizar os direitos sociais, constituem-se as políticas sociais, uma vez que mediante a política social os direitos sociais se concretizam e as necessidades humanas são atendidas na perspectiva da cidadania ampliada. Ainda, de acordo com Silveira (2012), a educação, enquanto um direito social, concretiza-se por meio de uma política pública social que, baseada em toda uma legislação, vai se solidificar para que seja garantido às pessoas.

3.1.1 Conceituando Política Pública

Para Saravia e Ferrarezi (2006), política pública trata-se de um fluxo de decisões públicas orientado a manter o equilíbrio social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade. Segundo Souza (2006), política pública é um conjunto do campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente).

Para Silveira (2012), além de concretizar os direitos conquistados pela sociedade, a política pública tem a função de alocar e distribuir os recursos públicos. Matias-Pereira (2008, p. 47) define políticas públicas como um conjunto de ações e procedimentos que visam à resolução pacífica de conflitos em torno da alocação de bens e recursos públicos através do qual se torna possível obter a satisfação de direitos básicos da sociedade.

Percebe-se que não existe uma única definição para política pública, tampouco um conceito melhor que outro, o que se apreende são maneiras diferentes de mostrar o papel da política pública na intervenção de problemas através do conjunto de ações do governo visando ao bem-estar da sociedade. Souza (2006) lembra que a definição mais conhecida continua sendo a de Laswell, ao afirmar que as decisões e análises sobre política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por que e que diferença faz. Em seu próprio entendimento,

Apesar das abordagens diferentes, as definições de políticas públicas assumem, em geral, uma visão holística do tema, uma perspectiva de que o todo é mais importante do que a soma das partes e que indivíduos, instituições, interações, ideologia e interesses contam, mesmo que existam diferenças sobre a importância relativa destes fatores (SOUZA, 2006, p. 25). Souza (2006) chama a atenção, ainda, para o aspecto teórico conceitual de política pública, que de maneira geral está ligada à política social porque são campos multidisciplinares cujo foco está nas explicações sobre a natureza da política e de seus processos. Pensar política pública de maneira mais ampla requer uma visão geral das teorias constituídas no campo da sociologia, da ciência política e da economia. Nesse aspecto, assegura que as políticas públicas repercutem na economia e nas sociedades, daí porque qualquer teoria da política pública precisa também explicar as inter-relações entre Estado, política, economia e sociedade.

De acordo com Vianna (2012, p. 17),

Além de concretizar os direitos conquistados pela sociedade, a política pública tem a função de alocar e distribuir os bens públicos. No que se refere à política pública, é uma estratégia de ação planejada, visando à concretização de direitos, envolvendo diferentes atores. Também está relacionada a conflitos de interesses, não significando só a ação de fazer algo, mas também a não ação.

Segundo Silveira (2012), a proteção social adotada pelo Estado representa intervenções políticas e administrativas garantidas pelas políticas públicas responsáveis pela concretização dos direitos sociais. Direitos esses fundamentados pela ideia de igualdade. Entre eles, o direito à educação, à moradia, ao trabalho, à assistência, dentre outros.

Dessa forma, o Estado visa garantir o acesso à educação através da efetivação de políticas públicas educacionais, introduzidas na agenda do governo caracterizadas como:

[...] um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos e estratégias de atuação e da alocação dos recursos necessários para atingir os objetivos estabelecidos (SARAVIA; FERRAREZI, 2006, p. 29).

Para Matias-Pereira, (2008) há vários tipos de políticas públicas, a saber, as políticas sociais: educação, saúde, cultura, transporte, segurança, habitação, proteção de crianças e adolescentes; políticas estruturais: indústria, reforma agrária, agricultura, meio ambiente; políticas econômicas: políticas monetárias, fiscal e cambial, comercial, internacional; políticas compensatórias ou reparadoras e redistributivas (combate à fome, bolsa-escola, cotas na universidade etc.).

De acordo com Silveira (2012), a política pública social de educação deve ter como proposta a concretização do direito à educação para todos. Desse modo, a política da Educação Profissional e Tecnológica está aqui inserida e foi fortalecida com a criação dos Institutos Federias, como uma forma, segundo (PACHECO, 2010), de se contrapor ao ciclo neoliberal cuja tônica é o individualismo e a competitividade, marcas da sociedade contemporânea, abrindo oportunidades para jovens e adultos trabalhadores, na medida em que pretende ampliar o acesso, a permanência e a saída exitosa. Entretanto, os IFs ofertam educação de qualidade, apenas para uma pequena parcela da população, de acordo com os dados coletados durante esta pesquisa.