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CAPÍTULO II POLÍTICAS DE ATENÇÃO À PESSOA IDOSA

2.1 Políticas Sociais e de Saúde da Pessoa Idosa

O crescente número de Pessoas Idosas incita a novas exigências e desafios à sociedade, exigindo a conjugação de esforços do ponto de vista político-social e de saúde que garantam um envelhecimento ativo e saudável.

Torna-se emergente uma efetiva atuação das políticas públicas e sociais, à criação de leis centradas para as necessidades da Pessoa Idosa, que possam melhorar as suas condições e a QdV na velhice. Essa é uma das grandes responsabilidades atuais dos chefes de estado, principalmente, dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, quando da elaboração das suas políticas e programas.

Em Portugal, a legislação contempla leis específicas para as Pessoas Idosas, que iremos sumariamente referi-las, reportando-nos aos últimos 33 anos da história recente de Portugal.

Nesta direção, e no domínio da Segurança Social, destaca-se a melhoria à proteção social da população mais carenciada através de um conjunto de medidas específicas expressas no Decreto-Lei n.º 464/80. Com o âmbito deste Decreto inicia-se uma fase de reformulação dos comandos normativos da pensão social,

que é atribuída mensalmente às pessoas de idade igual ou superior a 65 anos, que se encontrem em situações de velhice ou de invalidez.

Os princípios orientadores da ação social são definidos no Decreto-Lei n°28/84 que têm como principal objetivo a prevenção de situações de carência, disfunção e marginalização social, e a integração comunitária. Determina igualmente que a ação social destina-se a assegurar especial proteção aos grupos mais vulneráveis, nomeadamente crianças, jovens, deficientes e idosos.

Em 1988, foi criada a Comissão Nacional para a Política da Terceira Idade (CNAPTI), através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 15/88, Diário da República de 23 de Abril. No seu preâmbulo afirma que o Governo incluiu no capítulo III do seu Programa, na área da Segurança Social, “a definição e execução de uma política nacional para idosos, que vise a garantia de um nível de vida condigno, a prestação de cuidados de saúde possíveis para prolongar a vida e diminuir o sofrimento físico, manutenção nos limites realizáveis da autonomia e privacidade pessoais e familiares e o cumprimento pela Família e pela sociedade dos deveres de gratidão e solidariedade para com os mais idosos.

Resumidamente, as funções atribuídas à CNAPTI foram;

• Desenvolver o estudo global da problemática do envelhecimento da população;

• Elaborar um relatório de análise prospetiva das questões relativas ao envelhecimento;

• Definir e propor medidas de política social articuladas e em colaboração com os serviços do Estado, autarquias locais, IPSS´s, organizações não- governamentais e outras entidades;

• Promover a solidariedade intergerações, através de ações de informação sobre a problemática do envelhecimento.

Do trabalho desenvolvido pela Comissão em referência destaca-se a proposta de criação do Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII) criado pelos Despacho-Conjunto dos Ministros da Saúde e do Emprego e da Segurança Social, de 01 de Julho de 1994, publicados, no Diário da República, 2ª série, n.º 166, de 20 de Julho de 1994. O PAII caracteriza-se por um conjunto de medidas inovadoras que contribuem para a melhoria da QdV das pessoas idosas

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(promovendo a sua autonomia), prioritariamente no domicílio e no seu meio habitual de vida, desenvolvendo-se através de projetos de desenvolvimento central e a nível local.

Este programa visa, em termos gerais:

• Assegurar a oferta de cuidados com carácter urgente e permanente; • Estabelecer medidas destinadas a assegurar a mobilidade e a

acessibilidade a benefícios e serviços e implementar respostas de apoio às Famílias dos idosos;

• Promover e apoiar iniciativas de formação inicial de profissionais, voluntários, familiares e outras pessoas da comunidade;

• Desenvolver medidas preventivas do isolamento, da exclusão e da dependência e, bem assim, a criação de postos de trabalho.

O PAII continuou a ser desenvolvido, mantendo-se inalteráveis os objetivos, a forma de funcionamento e de gestão, (Regulamento do PAII criado pelos Despacho-Conjunto dos Ministérios da Saúde e da Solidariedade e Segurança Social, n,º 258/97, publicados, no Diário da República, 2ª série, n.º 192, de 21 de Agosto de 1997), registando-se apenas alterações na composição da comissão de gestão do Programa, com a extinção, da CNAPTI, em 1996, que integrava essa comissão.

No Decreto-Lei n.º 248/97 está aprovada a composição e competências do CNAPTI; pois o Decreto-Lei n.º 35/96, de 2 de Maio, que estabelece a Lei Orgânica do Ministério da Solidariedade e Segurança Social, extinguiu a CNAPTI e, reconhecendo a necessidade de reforçar os laços de articulação com a sociedade civil, instituiu os órgãos específicos de consulta, que, para os vários planos de atuação do Ministério, mantêm uma ligação permanente aos grupos sociais que se constituem como destinatários da sua atuação. O CNAPTI é um desses órgãos de consulta, no âmbito da definição e execução das políticas do envelhecimento e das pessoas idosas.

As funções atribuídas à CNAPTI foram:

• Contribuir para a definição de uma política nacional de apoio à população idosa, formulando as recomendações que tenha por convenientes;

• Emitir parecer sobre projetos de diplomas legais ou quaisquer outras questões respeitantes ao desenvolvimento e concretização da política do envelhecimento submetidas à sua consideração.

Atualmente, e por uma questão de elucidação, os projetos promovidos pelo PAII são (site da Segurança Social, 2013):

Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) - Possibilita a manutenção das pessoas idosas, ou das pessoas com dependência, no seu ambiente habitual de vida, junto dos seus familiares, vizinhos e amigos.

Formação de Recursos Humanos – FORHUM - Este projeto destina-se prioritariamente a familiares, vizinhos e voluntários, bem como a profissionais, nomeadamente das áreas da ação social e da saúde, e outros elementos da comunidade, habilitando-os para a prestação de cuidados formais e informais.

Passes Terceira Idade - Eliminação das restrições horárias para pessoas com 65 e mais anos nos transportes das zonas urbanas e suburbanas de Lisboa e Porto.

Saúde e Termalismo Sénior - Este projeto permite à população idosa de menores recursos financeiros o acesso a tratamentos termais, o contacto com um meio social diferente e a prevenção do isolamento social.

Face a uma pressão constante sobre os encargos da Segurança Social; este aspeto, conjugado com a evolução demográfica do País, traduzida no progressivo envelhecimento da população, foi criado, em 1989, o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. No Decreto-Lei n°25 9/89 está aprovado a adoção de medidas que possibilitem a introdução de maior flexibilidade, no sentido de se adotarem formas mistas de financiamento da segurança social, em que se combinem modalidades de capitalização com o atual sistema distributivo; visando a estabilização financeira do sistema de segurança social e a instituição de uma garantia complementar de maior solidez.

O Decreto – Lei n.º 102/97 cria a Fundação do Cartão do Idoso, destinado à população com mais de 65 anos de idade. O principal objetivo deste cartão consiste em atribuir-lhe indiretamente uma função de socialização da Pessoa Idosa, ou seja, evitar o isolamento e integrar socialmente os mais idosos através de comportamentos coletivos, ainda que por via do consumo. Podemos inferir que

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este cartão foi lançado com um duplo desafio: apoiar e valorizar o estatuto da Pessoa Idosa, e permitir a obtenção de benefícios especiais ao acesso de bens e serviços públicos e privados.

Tendo em conta as dificuldades de saúde vivenciadas pelas Pessoas Idosas, que demonstram que os últimos anos de vida são, muitas vezes, acompanhados de situações de fragilidade e de incapacidade (frequentemente relacionadas com situações suscetíveis de prevenção), e considerando a necessidade de melhorar a atenção de saúde desta população, a Direcção-Geral da Saúde (DGS), em 2004, elaborou o Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas, o qual fez parte integrante do Plano Nacional de Saúde 2004 – 2010. Foi aprovado por Despacho Ministerial em 08 de Junho de 2004.

Este Programa para além de ter sido inspirado em recomendações sobre política para a população idosa, procedidas por organizações internacionais (como por exemplo, o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento 200224 (Organização das Nações Unidas [ONU], 2003), e em experiências nacionais, (como é o caso do PAII), atentou o CNAPTI e conta com o aval científico da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia (Secção da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa), (DGS, 2004).

O Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas assenta-se em três pilares primordiais:

• Promoção de um envelhecimento ativo, ao longo de toda a vida;

• Maior adequação dos cuidados de saúde às necessidades específicas das pessoas idosas;

• Promoção e desenvolvimento intersectorial de ambientes capacitadores da autonomia e independência das pessoas idosas.

Este projeto constituiu assim um marco, pois reconheceu a necessidade de serem criadas condições que concretizassem o objetivo fundamental de obter ganhos de saúde, nomeadamente em anos de vida com independência, visando a manutenção da autonomia, independência, QdV e recuperação global das pessoas idosas, prioritariamente no seu domicílio e meio habitual de vida. Igualmente exigiu

24Este Plano foi o resultado da II Assembleia Mundial do Envelhecimento realizada de 8 a 12 de abril

uma ação multidisciplinar dos serviços de saúde, em estreita articulação com a Rede de Cuidados Continuados de Saúde, criada pela Lei nº. 281/2003 de 8 de novembro. E, foi crucial para a orientação das práticas profissionais no âmbito das especificidades do envelhecimento.

Por último citaremos um estudo, o Plano Nacional de Ação para a Inclusão 2006-2008, que abordou uma série de questões ligadas à temática do envelhecimento populacional. Deste plano, como resultado de diretivas adotadas no Conselho Europeu, em 2006, relativas à proteção social e inclusão social, decorreu uma das principais prioridades políticas do governo “combater a pobreza… dos idosos, através de medidas que assegurem os seus direitos básicos de cidadania” (MTSS, 2006a). Essas medidas passaram por conseguir asseverar uma prestação financeira (Complemento Solidário para Idosos, CSI) tendo em vista o aumento dos seus recursos económicos (para 4.200 Euros/ano, valores de 2006), reforçando e consolidando a rede de serviços de apoio (a meta era atingir a criação de 19.000 vagas para idosos até 2009). Objetivou-se, igualmente, a criação de uma rede nacional de voluntariado na área do apoio às Pessoas Idosas.

Em termos legislativos, o Decreto-Lei n.º 232/2005 – cria o CSI, que constitui uma prestação do subsistema de solidariedade (destinada a pensionistas com mais de 65 anos, residentes em Portugal), assumindo um perfil de complemento aos rendimentos preexistentes, sendo o seu valor definido por referência a um limiar fixado anualmente e a sua atribuição diferenciada em função da situação concreta do pensionista que o requer, ou seja, sujeita a rigorosa condição de recursos. Este complemento permitiu direcionar mais recursos para as Pessoas Idosas mais necessitados, particularmente os idosos isolados e sem apoio familiar. Presentemente, em 2013, a Pessoa Idosa pode receber no máximo até € 4.909,00 por ano, ou seja € 409,08 por mês.

Relativamente à proposta da rede nacional de voluntariado, na área do apoio a Pessoas Idosas, concretamente, o que existe na atualidade é o Programa de Emergência Social (PES), que é um Programa (Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, 2012):

• Que identifica as situações de resposta social mais urgente;

• Focado em medidas e soluções simples e diretas, que minorem o impacto social da crise;

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• Assente na promoção e proteção dos direitos das pessoas em situação de maior vulnerabilidade e em grupos de risco;

• Que aposta na proximidade e experiência de uma rede nacional de solidariedade;

• Dinâmico e aberto a novas medidas e soluções.

O PES teve início em Outubro de 2011 e vigorará, pelo menos, até Dezembro 2014; elege cinco áreas de atuação prioritária: Famílias, idosos, deficiência, voluntariado e Instituições.

Em suma, observamos principalmente, a nível nacional, consolidadas por organizações internacionais (OMS, 2000; ONU, 2003), políticas voltadas para a promoção de um envelhecimento ativo e saudável, ao longo de toda a vida, e para a criação de respostas adequadas às novas necessidades da população idosa. Pretendem, ainda, essencialmente que sejam estimuladas as capacidades das pessoas idosas, assim como a sua participação ativa na promoção da sua própria saúde, autonomia e independência.