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Capítulo 3 – Percurso metodológico: uma operacionalização pelo método quadripolar

3.4. Polo morfológico

A última dimensão do método quadripolar corresponde ao polo morfológico que abrange três características básicas: 1) a exposição e a organização dos conceitos feitas para conduzir a análise dos dados; 2) a causação considerada como uma coerência lógica na articulação do fenômeno científico para a sua operacionalização analítica, isto é, o procedimento que será empregado para a análise; 3) objetivação dos resultados em estrutura formal para a comunicação científica (LESSARD-HÉBERT; GOYETTE; BOUTIN, 2012).

A organização dos conceitos centrais da temática de estudo é um procedimento essencial dentro do processo de investigação. A estruturação e a sistematização dos conceitos através de dimensões assumem duas finalidades distintas: estruturar um modelo pelo qual o investigador irá exprimir os resultados e subsidiar a adaptação do procedimento de análise perante as particularidades do estudo.

Os conceitos principais desta pesquisa são: a informação em imagens (fotografias), a taxonomia e a folksonomia. Eles são pormenorizados, respectivamente, nas dimensões de conteúdo, acesso/uso e etiquetagem. Os conceitos e dimensões explicitam os interesses de investigação designados na questão de investigação, objetivos e hipóteses. Desse modo, os três conceitos elencados balizam e permeiam todas as etapas do processo de investigação científica.

Destarte, a causação demanda a articulação do fenômeno com um procedimento de análise. Para esta investigação, julgamos a análise de conteúdo como a mais adequada. Bardin (2008, p. 44) define a análise de conteúdo como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativo ou não)

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que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”.

Por mensagem compreendemos o conteúdo informacional produzido por um (ou mais) emissor para a comunicação com um (ou mais) receptor. A transmissão da mensagem pode ocorrer por vias verbais, textuais, iconográficas e/ou sonoras e resultar em variados registros, tais como os discursos, cartas, campanhas publicitárias, matérias jornalísticas, documentos, pinturas, dentre outros. Nesse ínterim, todas as formas de explicitação e sistematização de mensagens oriundas do processo de comunicação pertencem ao domínio da análise de conteúdo.

A análise de conteúdo consiste em uma técnica de ruptura do universo explícito. Suas duas principais funções são a heurística e a administração da prova. A primeira é a de explorar as linhas e entrelinhas da mensagem; enquanto a segunda se apresenta como uma diretriz para a confirmação ou não das hipóteses de pesquisa. Portanto, a análise de conteúdo inclui investigações empíricas de qualquer veículo de significados de um emissor para um receptor por diferenciadas variantes analíticas (temática, lexical etc.).

Neste procedimento, “(...) o analista tira partido do tratamento das mensagens que manipula para inferir (deduzir de maneira lógica) conhecimentos sobre o emissor da mensagem ou sobre o seu meio” (BARDIN, 2008, p. 41). Para tanto, a aplicação da análise de conteúdo fundamenta-se em três diretrizes cronológicas: a pré-análise; a exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. Salientamos que estas diretrizes transitam entre os modos de investigação descritivo e analítico, ambos adotados nesta investigação e apresentados no polo técnico.

A pré-análise, de acordo com Bardin (2008, p. 121), corresponde à “fase de organização (...) [e] tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise”. Esta fase envolve o procedimento de três atividades: a escolha dos documentos que integram o corpus da análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores para a interpretação dos dados. Tais procedimentos não ocorrem de forma sequencial, mas possuem relação direta entre si. Dessa forma, nesta investigação, a pré-análise teve início com o estabelecimento dos objetivos e das hipóteses de estudo (apresentadas nos polos epistemológico e teórico, nesta ordem). Posteriormente, procedemos à organização do corpus de análise (este

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consiste nos registros coletados por meio das práticas de folksonomia no Flickr) e à organização das respostas inseridas pelos usuários nos instrumentos de recolha de dados. As atividades folksonômicas, o questionário misto e o guia de observação direta não participante foram elaborados e desenvolvidos segundo os objetivos e as hipóteses que orientam a tese ora apresentada. Por fim, a concepção dos indicadores teve como base os conceitos centrais dos dados interpretados. Os conceitos centrais constituíram-se em categorias de análise, permitindo o processo de categorização dos dados, isto é, a “(...) operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia) (...)” (BARDIN, 2008, p. 145).

A exploração do material, por sua vez, diz respeito à aplicação das decisões tomadas na pré-análise. As respostas ao questionário misto e ao guia de observação direta não participante foram sistematizadas em conformidade com as perguntas ou pontos, a priori, e reorganizadas pelos conceitos centrais (categorias) norteadores do discurso, a posteriori. As etiquetas e os comentários atribuídos às fotografias dispostas no Flickr, em um primeiro momento, foram organizados de acordo com as respectivas imagens e, seguidamente, reorganizados e analisados por categorias, a saber: edificações, pessoas, locais e termos gerais, o que fomentou as recomendações para inclusão dos termos no vocabulário controlado da instituição lócus de estudo.

A terceira diretriz cronológica decorreu com o apoio das técnicas de operacionalização da análise de conteúdo. Bardin (2008) indica seis técnicas da análise de conteúdo: a análise categorial, a análise de avaliação, a análise da enunciação, a análise proposicional do discurso, a análise da expressão e a análise das relações. Nos propósitos da investigação, utilizamos duas técnicas de operacionalização da análise de conteúdo: a análise categorial e a análise da enunciação.

Nas palavras de Bardin (2008, p. 199), a análise categorial:

Funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos. Entre as diferentes possibilidades de categorização, a investigação dos temas, a análise temática, é rápida e eficaz na condição de se aplicar a discursos directos (significações manifestas) e simples.

Operacionalmente, o primeiro parâmetro de análise concentrou-se na categorização temática de dois momentos de análise: 1) na apreciação das sugestões

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registradas pelos usuários para o método de indexação e o serviço de informação da FIMS; 2) no processo de tratamento dos termos, provenientes da atividade da folksonomia, para recomendar a inclusão no vocabulário controlado do acervo em estudo. Especificamente, o trabalho de análise correspondeu à apreciação das recomendações e contributos dos usuários à plataforma AtoM e ao serviço de informação prestado pela instituição. Destarte, o processo de análise se voltou a três procedimentos: extração dos termos atribuídos pelos usuários às fotografias dispostas no Flickr; tratamento linguístico e de convenção das novas unidades conceituais (não existentes na lista estruturada de termos de indexação) e; estabelecimento das relações semânticas entre os termos presentes ao vocabulário controlado.

Já o segundo parâmetro de análise foi instrumentalizado em conformidade com os princípios da análise da enunciação, sendo esta apoiada “(...) numa concepção da comunicação como processo e não como dado” (BARDIN, 2008, p. 215). Como técnica pautada nas formas de expressão (encadeamento do discurso), aplicamos a análise da enunciação para a apreciação dos comportamentos e das respostas registradas com a satisfação, recomendações e possibilidades de contribuição com os serviços de informação da FIMS. A interpretação incidiu no contexto de formação do discurso a partir do seu desenvolvimento, ordem lógica de estruturação das mensagens, dentre outros aspectos, isto é, além das respostas efetivadas no questionário ou no guia de observação direta não participante, também correlacionamos o discurso em face dos gestos e expressões manifestadas pelos usuários quando eram confrontados com as questões.

Convém destacar que a análise de conteúdo é um método empírico de interpretação dos dados. A seleção e a operacionalização do método dar-se-á pelo tipo de mensagem a ser investigada, pelos objetivos e pelo domínio do estudo. Logo, as orientações para o desenvolvimento da análise de conteúdo são flexíveis e devem amoldar-se às especificidades de cada investigação. Bardin (2008, p. 32 – sublinhado da autora) reforça esta assertiva quando escreve:

A análise de conteúdo (seria melhor falar de análises de conteúdo) é um método muito empírico, dependente do tipo de «fala» a que se dedica o tipo de interpretação que se pretende como objectivo. Não existe pronto-a-vestir em análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, por vezes dificilmente transponíveis. A técnica de análise de conteúdo adequada ao

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domínio e ao objetctivo pretendidos tem de ser reinventada a cada momento, excepto para usos simples e generalizados (...).

O processo de análise aplicado nesta investigação pautou-se nas diretrizes que orientam a análise de conteúdo e nos preceitos fundamentais das técnicas de interpretação dos dados, pelos esquemas categorial e de enunciação. Não obstante, toda a sequência da análise de dados sucedeu em face do referencial teórico, o qual permitiu a crítica interpretativa capaz de alcançar os objetivos propostos e atestar as hipóteses que respondem à questão de investigação.

Afinal, o polo morfológico ainda dedicou-se à estrutura convencional da apresentação dos resultados da pesquisa para a comunicação científica. Condizentes com o local onde se insere o investigador (Programa Doutoral em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e da Universidade de Aveiro), a redação, a organização e a apresentação dos resultados se deram pela estruturação padrão de uma tese de doutoramento.

De modo geral, os trabalhos de investigação acadêmica são constituídos em uma lógica formal pelo tripé: elementos pré-textuais, elementos textuais e elementos pós- textuais, conforme está exposto no quadro a seguir.

Quadro 6 – Estrutura do trabalho de investigação científica

Elementos pré-textuais Capa, lombada, folha de título, errata, folha destinada ao júri, dedicatória, agradecimentos, epígrafe, resumo analítico na língua vernácula, resumo em língua estrangeira, sumário, listas (de ilustrações, de tabelas, de abreviaturas e siglas) e glossário.

Elementos textuais Introdução, corpo do trabalho (metodologia, revisão de literatura, análise dos dados, resultados e discussões), conclusão e referências bibliográficas.

Elementos pós-textuais Apêndice(s) e anexo(s).

Fonte: Adaptado de Cornelsen (2011).

Sobre a normatização, concordamos com Cornelsen (2011, p. 13) quando afirma que esta “(...) unifica formatos, procedimentos, favorece e facilita o registro, a transferência das informações para os meios impressos e/ou eletrônicos (...), além de garantir uma padronização que facilita o uso e a disseminação do seu conteúdo”. Em suma, a normatização é condutora da configuração e disposição das informações e

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dados em um texto científico. Assim, adotamos a Norma Portuguesa (NP) desenvolvida em âmbito nacional pelo Instituto Português da Qualidade (IPQ) para a redação do trabalho de tese.

No que se refere à comunicação científica, esta ocorreu por meio da defesa pública da tese de doutoramento na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Destarte, o texto acadêmico foi remetido a revisão final com vistas ao depósito nos repositórios institucionais pertinentes (Repositório da UP e Ria).

Ademais, as digressões teóricas da tese de doutoramento foram estruturadas e divulgadas em artigos submetidos a periódicos e eventos científicos em Ciências da Comunicação e da Informação (CCI) e áreas afins durante o desenvolvimento do curso de doutoramento.

Em síntese, a lógica quadripolar que baliza o processo de investigação assume as seguintes configurações:

• Polo epistemológico: contexto acadêmico (Programa Doutoral em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais da Universidade do Porto, em parceria com a Universidade de Aveiro), área de investigação (representação e organização da informação), acepção paradigmática (paradigma tecnológico e paradigma da complexidade), objetivos (geral e específicos) em consonância com a questão de investigação;

• Polo teórico: sistematização dos conceitos principais que circundam a temática da tese de doutoramento (informação em imagens (fotografias), taxonomia e folksonomia), com o propósito de orientar o levantamento bibliográfico em bases de dados, repositórios, acervos bibliográficos e outros recursos adjacentes para a elaboração do referencial teórico. A partir da revisão de literatura, estruturamos as hipóteses de pesquisa;

• Polo técnico: enfoque (quantitativo e qualitativo), modos de investigação (descritivo e analítico) e instrumentos de recolha de dados (inquérito de tipo questionário com questões abertas e fechadas e observação direta não participante apoiada por um guia de observação); e

• Polo morfológico: organização dos conceitos principais seguidos de suas dimensões analíticas, procedimento de análise (análise de conteúdo) e objetivação dos resultados (estruturação do trabalho científico na modalidade de

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tese), normatização conforme as orientações da Norma Portuguesa e comunicação da investigação por meio de defesa pública, além da publicação de artigos em eventos científicos e periódicos.

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Capítulo 4 – Da folksonomia à taxonomia: o caso do acervo de

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