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CAPÍTULO 5 PROGRESSIVIDADE NO IMPOSTO DE RENDA

5.3 Considerações sobre o Imposto de Renda Retido na Fonte em face

5.3.2 Ponderações sobre a Tabela Progressiva

Em 1965, o Governo Federal estabeleceu que o imposto fosse progressivo em função da soma das parcelas correspondentes por classe, dispostas em uma tabela, conhecida como Tabela Progressiva, e sobre a qual foi determinado o seguinte:

Lei nº 4.86265, de 29 de novembro de 1965

Art. 1º O imposto progressivo, devido anualmente pelas pessoas físicas residentes ou domiciliadas no Brasil será cobrado, no exercício financeiro de 1966, de acordo com a seguinte tabela [...].

[...]

§ 3º A partir do exercício financeiro de 1967, os limites das classes de renda líquida de que trata este artigo serão atualizados, anualmente, em função de coeficientes de correção monetária estabelecidos pelo Conselho Nacional de Economia [...].

Art. 2º As importâncias expressas na legislação do imposto de renda, em função do mínimo da isenção estabelecido para a tributação da renda líquida percebida pelas pessoas físicas, serão atualizadas, anualmente [...].

65 BRASIL. Lei nº 4.862, de 29 de novembro de 1965. Disponível em:

Nesse ínterim, o Imposto de Renda teria a sua base de cálculo e a base de isenções atualizadas anualmente, a fim de que o cálculo para a contribuição da pessoa física permanecesse de acordo com a variação da economia, não promovendo prejuízos quanto à subsistência da população. Desta forma, a tabela do Imposto de Renda se manteria em observância ao princípio da proporcionalidade, e o princípio da razoabilidade, conforme estabelecido na Constituição Federal.

Entretanto, a partir de 1996 a Tabela Progressiva permaneceu inalterada, sem sofrer atualização, o que demonstrou a não execução da justiça social, tendo em vista a não progressividade, conforme fora antes estabelecida.

O fato de não atualizar a Tabela Progressiva do Imposto de Renda provoca oneração sobre o tributo recolhido pelo contribuinte, uma vez que este deveria estar inserido na condição de isento, ou com uma alíquota menor, mas, no entanto, o não cumprimento da lei, no que concerne à atualização, traz prejuízos sobre a renda, e em consequência sobre o patrimônio da pessoa física, e vai ao desencontro com o previsto na criação do imposto, ou seja, a proteção do poder de compra, a manutenção da sobrevivência, a distribuição de renda justa, e a justiça social.

O Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal, no ano 2000, de posse de estudo realizado sobre o descumprimento da lei do Imposto de Renda, observando o prejuízo causado ao contribuinte, promoveu uma campanha intitulada “Chega de Confisco” 66, em que foi solicitado junto ao governo a atualização da

tabela progressiva do Imposto de Renda. Como resultado, foi aprovada a Lei nº 10.451, de 10 de maio de 2002, em que a referida tabela sofreu uma correção de 17,5%.

Ora, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, utilizando como critério o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo – IPCA, índice oficial que apura os reflexos inflacionários na economia do País, verificou que a inflação para aquele período estava no índice de 104,98%, e com a atualização de 17,5% determinada pelo Governo Federal ainda deixou uma defasagem na Tabela Progressiva, sendo necessários outros reajustes.

66Campanha “Chega de Confisco”. Disponível em: <http://www.sindppd-rs.org.br/campanha-chega-

Nos períodos subsequentes, a tabela recebeu reajuste de 10% (em 2005), 8% (em 2006), e 4,5% de 2007 a 2013, o que ainda permitiu defasagem a ser atualizada, de acordo com a tabela elaborada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos – DIEESE, conforme a seguir:

IPCA e a correção da Tabela do IRPF – 1996 a 2013

ANOS IPCA REAJUSTE TABELA IRPF

1996 9,56 0,00 1997 5,22 0,00 1998 1,66 0,00 1999 8,94 0,00 2000 5,97 0,00 2001 7,67 0,00 2002 12,53 17,50 2003 9,3 0,00 2004 7,6 0,00 2005 5,69 10,00 2006 3,14 8,00 2007 4,46 4,50 2008 5,9 4,50 2009 4,31 4,50 2010 5,91 4,50 2011 6,50 4,50

2012 5,84 4,50 2013* 5,79 4,50 Acum. Jan/2003 a dez/2013 86,83 61,67 Defasagem da Tabela Do IRRF – jan/2003 a dez/2013 15,56 - Acum. jan/1996 a dez/2013 206,29 89,96 Defasagem da Tabela Do IRRF – jan/1996 a dez/2013 61,24 -

Fonte: IBGE, BCB e Receita Federal Elaboração: DIEESE67

Nota: (1) Os percentuais estabelecidos para 2013 são estimativas do BCB

Obs.: As correções da tabela em 2002, 2005 a 2010 começaram a vigorar em janeiro de cada ano. Tabela 5

Como se vê, a defasagem relativa ao imposto de renda tem se mantido durante anos, motivando as centrais sindicais a buscar um acordo com o Governo Federal, no intuito de destacar um princípio aparentemente esquecido, contido no artigo 145, § 1º da Constituição Federal de 1988, que estabelece que “sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte...”.

67 BRASIL. DIEESE NOTA TÉCNICA nº 131. Imposto de Renda de Pessoa Física: Proposta para

uma tributação mais justa. Nov. 2013. Disponível:

Ou seja, o princípio da capacidade contributiva tem sido infringido pelo tratamento estabelecido pelo Governo, com a imposição do recolhimento tributário para quem estaria alcançado pela isenção.

A falta de atualização para a tabela atinge e sobrecarrega a renda do trabalhador com menor poder aquisitivo, pois aqueles que em 1996 não teriam que recolher o Imposto de Renda Retido na Fonte, por se encontrarem dentro da faixa onde estavam isentos, com o passar dos anos não obteve reajuste salarial suficiente para sobrepor a inflação, o que manteve defasado o seu salário.

Por outro lado, na proporção em que a tabela não acompanhou a mesma alteração, ou seja, não reajustou as rendas que permaneceriam isentas, o trabalhador que não era contribuinte, agora é!

Como demonstrativo, o DIEESE dispôs em seu sítio duas tabelas demonstrando como está a base de cálculo da tabela atual, e como deveria ser, se a lei estivesse sendo respeitada, quanto à atualização da Tabela Progressiva, como segue:

Tabela atual do IRPF 2014 – ano-calendário 2013

Base de Cálculo Alíquota (%) Parcela a deduzir

Até 1.710,78 -- --

De 1.710,79 até 2.563,91 7,5 128,31

De 2.563,92 até 3.418,59 15,0 320,60

De 3.418,60 até 4.271,59 22,5 577,00

Acima de 4.271,60 27,5 790,58

Fonte: Receita Federal Tabela 6

Se passarmos a considerar a atualização medida pelo IPCA-IBGE, calculada sob o percentual de 61,24%, a tabela de cálculo para o Imposto de Renda Pessoa Física seria a seguinte:

Proposta de Tabela IRPF 2014 – com correção de 61,24%¹

Base de Cálculo Alíquota (%) Parcela a deduzir

Até 2.758,46 -- --

De 2.758,47 até 4.134,05 7,5 206,89

De 4.134,06 até 5.512,13 15,0 516,94

De 5.512,14 até 6.887,51 22,5 930,35

Acima de 6.887,52 27,5 1.274,73

Fonte: Receita Federal e IBGE Elaboração: DIEESE68

Nota: (1) defasagem medida pelo IPCS-IBGE no período de janeiro de 1996 a dezembro de 2013. Tabela 7

Há vários anos a tabela passou a incorporar apenas cinco grupos de faixas salariais, como já visto anteriormente, as tabelas originárias possuíam dezesseis faixas, o que possibilitava uma distribuição de renda maior, com aplicação de progressividade maior.

A falta de atualização mais justa na tabela do Imposto de Renda acarreta sobretaxa, oneração desigual sobre o salário do trabalhador, em especial os que possuem salários mais baixos.

O tema da progressividade vem sendo objeto de alguns estudos, como os elaborados pelo Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil - UNAFISCO SINDICAL (Anexo 1), a Campanha “Chega de Confisco” (Anexo 2), Projetos de Lei no Senado (Anexo 3), e por fim, a OAB impetrou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, com o propósito de demonstrar a defasagem da atualização da Tabela Progressiva, o que infringe a Constituição Federal, naquilo que resta assegurado quanto à correta aplicação da tributação incidente sobre o imposto de renda. A ADI encontra-se em tramitação (Anexo 4).

Em 13 de novembro de 2014, no Jornal Valor Econômico69 foram publicadas

referências sobre uma dissertação de mestrado em que o autor Fábio Ávila de Castro “constata que é preciso fazer avanços na tributação sobre os ganhos de capital”, e ainda entende que “existem poucos estudos sobre a progressividade do IRPF no Brasil”, o que confirma a relevância do estudo sobre o tema.

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