• Nenhum resultado encontrado

Me afasto por poucos dias.

Trabalho como uma rotina regrada de poeira e suor.

Levanto muito cedo e quase não tenho tempo para almoçar, jantar ou dormir.

Alguém sempre trança aos meus pés quando estou em casa.

Suja minha roupa, baba-me, lambe-me, enche-me de pelos, me ama, me acolhe e me cuida.

Dessa rotina de cansaços e solidão, você é quem me salva com saliva e ternura.

Sei que acabado colocando comida logo cedo para durar até a noite.

Sei que faltam afagos, brincadeiras e muito chão com você.

Mas, que loucura, você me entende, você me aceita, você me espera.

Na ponta dos pelos eu vou me enrolando a você como um novelo que procura atenção e carinho.

Amo-te por me amar de um jeito tão livre e genuíno.

Amo-te por me deixar respirar as solidões e saber que em você posso encontrar minha paz em meio a saliva.

É, meu amigo, na ponta dos seus pelos eu me completo; na ponta dos pelos é que eu também sou feliz.

41

Marcos Alencar Nascido em Teresina 46 anos de poesia Ensino médio completo

Poeta e pensador quando preciso

”Faço da vida uma constante filosofia de vida, e da poesia um pedaço de mim”.

42

Livremente

Sempre seremos eternos escravos.

Somos escravos dos sonhos em uma realidade livre.

Somos aprisionados pelos nossos sentimentos momentâneos.

Somos escravos do tempo que deixamos passar livremente sem percebermos.

Somos escravos de caminhos abertos que deixamos de seguir com medo de se perder.

Somos escravos da solidão que nos deixar livres para refletirmos.

Somos escravos do medo que nos abre as portas para enfrentar o mundo com coragem.

Somos escravos da morte que por mais misteriosa que ela seja sempre nos mostra que é essencial e prazeroso viver.

Somos escravos do amor que por mais que nos acorrentar também nos liberta para experimentar outros amores.

43

Doce Solidão

A noite chega e junto com ela a frieza do calor de uma triste alegre solidão.

Então se acende de forma sombria a luz que se apaga em sua breve chegada.

Convidada a não entrar se senta ao meu lado, e com suas doces amargas palavras começa a se lamentar.

Tentar não ouvir ou responder a suas provocações se torna inútil.

Gentil elas se faz passar tão somente na intenção de reviver as dores e desilusões passadas.

Embasadas em sua fonte inesgotável de sofrimento tenta disfarçar as cicatrizes como um alento.

Atento fico a observar seus lábios que a cada palavra dada se tremem

Conforme a dor da ferida não cicatrizada.

Traumatizada então por não conseguir êxito em sua forma de abordagem calculista e dolorida.

Ferida se sente e em um rompante levanta-se, me agradece e de mim se despede.

44

A Margem do Tempo

Hoje me peguei a caminhar livre e sereno pela areia a olhar o mar.

Então me peguei a me perguntar.

Mesmo um pouco perdido sem respostas e a toa continuou a caminhar, olhando em direções sem poder entender, sem perceber a espera de algo acontecer.

Por um momento senti-me enfraquecer, diante da imensidão que me apavora cheguei a me questionar e agora!

Caminhar tendo a dúvida como resposta é uma agonia sem descrição aonde o ser torna-se esquecido e passa

despercebido.

Mas me vem uma voz aos meus ouvidos como um baixo e suave alarido que me conforta dizendo:

Não seja grande nem tão pouco pequeno, pois sorria e contemple o momento que estais vivendo.

45

Côrte Pobre

Às vezes me sinto um analfabeto intelectual com minhas frases corretas, erradamente compreendidas dentre os leigos, mestrados pela faculdade da vida.

Minhas mensagens pouco aceitadas e de grande

compreensão, tornam-se variáveis com um direcionamento disciplinado em formas geometricamente perfeitas.

Aceito as correções erradas de minhas pontuações corretas, não somente por não saber redigir, mas por saber interpretar a mensagem.

Sendo eu um analfabeto intelectual, me oponho a triste realidade poética, que por algum motivo tende a ser complexa.

Posso declamar pequenos versos de uma grandeza simplória em vez de recitar uma linguística incompreensiva aos ouvidos daqueles que nada querem ouvir, a não ser palavras claras, sentidas, simples e emotivas ao coração.

46

Palhaço

Sou a mistura de poeta com palhaço, ambos em tempos paralelos, com alguns devaneios, isso quando se faz preciso.

O poeta em sua personalidade humilde, sincera e maliciosa desperta sentimentos e chega a tocar a alma daquele que tem a sensibilidade aflorada.

O palhaço por sua vez, trás consigo o gosto prazer de sorrir, ao mesmo tempo em que apresenta a alegria como alívio.

O Poeta em suas noites de solidão se depara com

pensamentos que lhe transporta para uma simples folha de papel e os transformam em belos poemas.

O palhaço por sua vez, carrega dentro do peito dores, desamores, desânimos, mas como um dom Divino os colocam para fora fantasiados com um belo sorriso e felicidade.

Poeta e Palhaço podem até serem pessoas com sentidos diferentes, mas em uma coisa temos que concordar, são seres mágicos que fazem da vida um espetáculo à parte.

47 De nada Por Tudo

Às vezes temos que perder o que nunca nos pertenceu.

Temos que sair do sonho dentro da realidade Que sentir o frio mesmo nas chamas

Que olhar longe mesmo com os olhos fechados Às vezes temos que acreditar na mentira contada E responder com verdades mentirosas que ouvimos.

Que desistir mesmo com a confiança que conseguiremos.

Que lutar mesmo quando estamos perdemos Às vezes temos que ler o que não foi escrito Que traduzir palavras que se apagaram Que criar opções de metas sem ter certeza

Às vezes temos que compreender que, por mais que sejamos fúteis podemos ser também especiais.

48

Amar

Amor

Sujeito estranho

Chega sem ser convidado, sem dizer de onde, bem vestido e educado.

Vai se encostando, encostando, quando se vê estar bem acomodado.

Trás consigo alegria, sorrisos de felicidade, beijos e abraços, tudo parece magia.

Sua educação é conquistadora, suas palavras doces, faz a vida ter outro sentido quando tudo parecia perdido.

Às vezes demora por muito tempo, às vezes

temporariamente e quando se nota já partiu de repente.

Deixamos como lembrança lágrimas, dores, desilusão, desestimula a alma, faz nascer a incompreensão.

Amor

Faça-me o favor

Quando de mim se aproximar não se esqueça de pensar.

Que dentro de cada ser existe uma pequena bolsa chamada coração.

Mas dentro dela nem sempre guardo esse tal objeto chamado perdão.

49 Simbiose Humana

Eu sou afiliado ao partido que não foi criado e nunca será.

Voto no candidato que não se candidatou e nunca irá ser candidato.

Sou amante da política de não existir política.

Hoje se prega uma vertente verticalizada direcionada a corruptora de planejamento no intuito de se prolongar a existência maléfica da absorção de tributos adquiridos do sangue dos que fazem do trabalho um forma de

sobrevivência.

Enquanto milhares se alinham na barreira de enfrentamento do injusto.

A favor da peste que rouba e saqueia os lares retirando das mentes pouco absolutista suas últimas gotas de ideologias segmentar e racionais.

Mas está por chegar a hora que irá cair como uma pedra, toda farsa indumentária usada na hipnose do ser homem.

Então hão de se estabelecer a nova consciência que irá não só governar o mundo, mas também que dará origem a nova consciência humana.

50 Aurora Crucial

Uma nova geração está por se construir,

pois começam a deteriorar as muralhas da prisão semiaberta.

A força matriz começa a enferrujar suas engrenagens que há séculos se fazia imaginar onipotente, diante das

ferramentas usadas na castração das ideologias que por precaução se escondem nas cavernas escuras, encandeadas pela luz da liberdade de igualdade.

O sangue da coerência começa escorrer de pouco em pouco empesteando veias que até então se faziam de ressecadas de justiça.

Abrem-se as mentes que por circunstâncias de um

neofanatismo mobralizado, se faziam representar um papel de Lesos.

Como toda transformação ou reformulação tem consigo seus transtornos, devemos medir cada peso por igual, para que não haja sobrecarga nos ombros dos inocentes que por tempos já trazem consigo as marcas e cicatrizes da

carnificina politiqueira.

51

A Reformulação

Vejo-me perdido meio a tanta ideologia camuflada em palavras aclamadas com um fervor frio, de encenações perfeitas, verdades enroscadas em mentiras.

Marcha-se em conformidade arrastando mentes vazias, destorcidas, enganosas e levianas em defesa de valores impertinentes.

Sombrios e rasteiros faz- se valer a sabedoria dos lobos diante da pobre ignorância sadia do tolo

Que se deixa levar por migalhas de um conceito, que fora trocado por falsas moedas cobertas por cédulas que tem como valor a inocência do direto de decisão.

Assim segue a multidão invadindo lares miseráveis, medíocres, impuros, mas que lhes servem como tributos futuros.

Mas o tempo da tempestade que há de cegar os maus e restabelecer a visão dos cegos. Que caminham direcionados por uma pequena chama de lamparina que se é abastecida de óleo da esperança.

Então os falsos sábios, doutores, salvadores, professores da verdade, passaram a serem sepulcros adorados por sua beleza e seu luxo exterior e desmitificados pelos seus podridões da alma.

52

Nunes de Oliveira é piauiense de Teresina. É bacharel em biblioteconomia pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Publicou em 2017, junto com Paulo Goudinho e Érica Barros, a antologia poética “Toda Versidade”. Possui outros trabalhos no gênero conto, ainda não publicados, e arrisca-se na escrita de crônicas despretensiosas.

53

O maníaco

Ele se aproximou da bancada com o sorriso cínico; o andar acomodado, o corpo alto e esguio. Os dedos mirrados dentro do bolso da camisa polo puxavam a plaqueta numérica que era ostentada diante do rosto da bibliotecária como um delegado exibindo sua insígnia de autoridade.

Sem segurar a plaqueta, a mulher deu um giro na cadeira, levantou e foi até o guarda-volumes com o número indicado. Pegou a mochila e a pousou sobre a bancada. Ele olhou ali dentro, retirou e colocou o caderno, remexeu folhas soltas; guardou a garrafa de água e devolveu a mochila.

A bibliotecária, uma jovem que não devia ter mais de vinte e cinco, voltou ao seu assento, pegou o livro e retomou a leitura interrompida, tão convidativa naquele ambiente e que, além disso, ajudava a escoar as horas.

Quinze minutos depois ele retorna de onde estava, sentado diante do computador, onde navegava na internet.

O sorriso petrificado; os dedos esquálidos dentro do bolso da camisa e eis que a plaqueta-insígnia é exibida outra vez diante da bibliotecária. Ela gira em sua cadeira, vai até o guarda-volumes, pega a mochila e a deixa sobre a bancada.

Ele fuça lá dentro, retirando e colocando coisas. Faz que irá liberá-la, mas logo, num gesto rápido, volta ao manuseio vertiginoso. Por fim, fecha a mochila e, empurrando-a um pouquinho para a frente faz a bibliotecária devolvê-la ao guarda-volumes outra vez.

Depois ela retorna ao assento — nunca um assento fora tão desejado — e recomeça sua leitura.

Mais quinze minutos se passam. Ela olha desconfiada por cima do livro e...

54

Olha só, lá vem ele de novo. O sorriso cínico que parece pintado com tinta indelével. Ela larga o livro e lança um olhar cético para o bolso da camiseta dele, os dedos já sumindo ali dentro. Não espera a insígnia ser exibida dessa vez. Gira na cadeira e se dirige até o guarda-volumes, de número já decorado, pega a mochila e a deposita sobre a bancada.

Aí ela o encara, vendo-o remexer seus pertences num ritual tão maligno quanto maníaco. O sorrisinho dele se sobressaindo, divertido, zombeteiro. Ele dá uma empurradinha na mochila em direção à bibliotecária, como uma criança quando abusa o brinquedo.

Quinze minutos e...

Plaqueta numérica. Giro na cadeira. Guarda-volumes.

Mochila.

O zíper zunia aos ouvidos, indo e vindo, abrindo e fechando.

Cadeira — o livro fora esquecido — e por pouco a bibliotecária não esquece que tem pernas também.

Quinze minutos...

Giro na cadeira. Mochila. Sorriso descarado. Ela resolve ficar em pé agora.

Quinze...

A bibliotecária decidiu que ir à academia após o expediente seria desnecessário.

*******

55

O trágico

O ônibus seguia pela avenida. Àquela hora da manhã o trânsito começava a inflamar com o movimento de veículos que seguiam apressados, conduzindo seus ocupantes para mais um dia de trabalho.

Sentado no assento duplo do coletivo, um rapaz com seus 29 anos acompanhava o movimento dos passageiros que entravam; ao seu lado, um senhor de meia idade, calvo e nanico, olhava o celular conferindo algumas notícias em uma rede social. Na atura do parque ambiental, uma grande fileira de veículos, em sentido contrário, seguia com dificuldade, escoltados por alguns policiais que orientavam o trânsito naquele ponto.

— Que foi isso? Terá sido acidente?! — Perguntou o senhor.

O rapaz o encarou, divertido.

— Não, não. O senhor não viu? Lá atrás. Uma pequena barraca armada ao lado da avenida com alguns idosos ao redor. Deve ser um desses postos de saúde improvisados.

— Aaaaah tá. Pensei que fosse mais um acidente de moto. Quantas vidas não foram perdidas por causa de moto, não é mesmo?

— Se é! Meu irmão mesmo, dia desses voltando do trabalho, vinha em sua moto quando um carro desavisado entrou no seu caminho...

— Meu Deus! Pegou ele em cheio, não foi? Deve ter ficado uma coisa... é claro, porque esses acidentes com mot...

56

— Que nada! Ele freou e conseguiu desviar na última hora. Mas foi por muito pouco! Sentiu como se nascesse de novo.

O senhor encarou o rapaz, enquanto mordia o lábio de um lado, as sobrancelhas franzidas.

— Ah sim... Que bom, não?

— Claro. Depois disso ele passou a ficar mais atento.

— Deve mesmo, deve mesmo!

O ônibus seguia caminho. Em certo momento o senhor viu quando uma idosa tentando atravessar a avenida arriscou uma pequena corrida num passo desajeitado para se desvencilhar do carro que vinha em sua direção.

— Minha nossa! Pegou, pegou, ali não teve jeito! - Disse, enquanto puxava o rapaz pela manga da camisa tentando enxergar a cena que ficara para trás.

— O quê?! - o rapaz espantou-se.

— Aquela pobre senhora – ele apontou para trás. – Meu Jesus, que fatalidade...!

Mas o rapaz, que era mais alto, percebendo o que se tratava, esticou o corpo virando a cabeça para trás.

— Não, homem! A senhora conseguiu alcançar a calçada.

Olha lá.

O senhor virou a cabeça devagar, os olhos arregalados encarando o rapaz que agora parecia estranhar alguma coisa.

— Você jura?

57

— Claro - ele deixou escapar um sorrisinho.

— Puxa vida, que coisa.

Ele passou a mão pelos cabelos falhos enquanto ainda tentava visualizar alguma coisa.

— É que... Sabe como é, né? Esses motoristas de hoje são verdadeiros assassinos ao volante! Nunca vi tanta irresponsabilidade nesse nosso trânsito.

— É, o senhor tem razão. Imagine que outro dia aconteceu comigo o mesmo que essa velhinha lá atrás.

Estava apressado e não podia perder tempo. Mas o trânsito estava uma loucura! Aproveitei a primeira brecha e disparei para o outro lado da rua, bem no momento que um motorista ultrapassou outro carro e veio de encontro a mim...

— Ai meu Deus! Pegou você?

— Que é isso! Deus me livre! Se isso tivesse acontecido eu não estaria aqui contando essa história.

— Pois como o seu irmão, você também deveria ser mais cauteloso. Esse trânsito ainda é o que mais mata neste país.

— Pois é, às vezes fica difícil saber quem é mais imprudente: os motoristas ou os pedestres.

O senhor recostou-se no assento. As mãos postas entre as pernas, a boca fazendo um ligeiro bico como se assobiasse enquanto meneava a cabeça de um lado para o outro.

— Veja o senhor - recomeçou o rapaz, percebendo que o passageiro ao lado de algum modo tinha preferência por esses assuntos - um amigo meu, semana passada, no trabalho, enquanto atravessava uma pista para tráfego...

58

desses tratores enormes, que possuem rodas do tamanho de uma cabine de caminhão, estava distraído quando percebeu o monstro de aço se aproximando.

— Hum. Mas ele conseguiu escapar a tempo. - Disse o senhor, olhando sem expectativas para o rapaz.

— Não. Foi esmagado... Um fim triste.

*******

59

Aula de biologia

Sandoval estava firme em sua defesa diante de Omário, senhor zeloso, de índole louvável e bastante vivaz; o típico

“bom entendedor”. Conseguia pegar as palavras no ar. Sob a égide do primeiro, Lucas, rapaz na flor da idade e com dotes diante das meninas da comunidade, encontrara abrigo moral. Inteligente, o rapaz formara-se em biologia ainda cedo, quando completou 19 anos. Guardava peculiar interesse pela constituição do corpo humano, algo, dizia ele:

“de uma magnitude incrível”.

É claro que ele se referia aos mecanismos do corpo, sua dinâmica natural, seus encaixes e finalidades. “Tudo está em seu devido lugar, numa harmonia divina, com funções estabelecidas de modo, hãã...”

Era isso que ele dizia quando começou a ministrar pequenas aulas de reforço às meninas da vizinhança e adjacências.

— Até parece teu filho. — dizia Omário ao amigo, com troça na voz.

— Que nada, gosto do rapaz pela boa alma que é. Não vê? Mal se formou e a primeira coisa que vez foi dar aulas para os jovens da vizinhança.

— Olha, já vi aulas de reforço para matemática e português, mas biologia!

— E o que tem? É uma matéria que a maioria dos alunos reclama. Meus filhos pelo menos nunca gostaram de biologia. Passavam na marra!

— Acho que é uma coisa que devia ficar pra quem quer ser médico. — dizia o outro.

60

— Talvez. Mas o que me deixa triste mesmo é ver como as pessoas não aproveitam a oportunidade que é dada a elas...

— O que quer dizer? — Omário ficou curioso.

— Não vê? — espantou-se. — Essas meninas recebendo aulas de reforço para serem ajudadas e conseguir algo na vida, e o que fazem? Engravidam cedo.

— Ah, é isso?

— E acha pouco?

— Essa meninada de hoje anda muito precoce...

— Falta de taca, isso sim. Onde já se viu? Temos o Lucas, que é um exemplo a ser seguido, e o que vemos?

E as defesas continuavam exaltadas como odes a um deus.

— Veja a Marcinha, a Eloísa, Flavinha — continuou com o discurso. — Todas passaram na prova final depois das aulas particulares. E o que fizeram em seguida?

Engravidaram. A Paulinha já tava até no preparatório para o vestibular. Vivia nas aulas particulares com o Lucas. Essas meninas tinham tudo pra conseguir alguma coisa na vida, agora tão aí, sendo obrigadas a ter responsabilidades na flor da idade.

— É mesmo?! Quer dizer que todas tiveram aulas particulares com o Lucas? — Espantou-se o outro.

— Pra você vê! Quando se tem aula no sangue, ninguém segura. Com o Lucas, o resultado é garantido.

Omário coçou o queixo, pensativo. Ele mesmo tinha a filha, Sandrinha, que era péssima em aprender a matéria.

61

— Mas fazer o quê? — prosseguiu Sandoval, como um advogado implacável. — Essas meninas de hoje querem namorar cedo, e ainda por cima, ficam imitando o que se vê na tevê. Só pode dá nisso.

— Aulas de biologia. — dizia Omário, baixinho para si mesmo.

— Algumas dessas aí — o outro sussurrou as palavras, temendo os ouvidos ao redor. — fiquei sabendo, viu?

Tinham namorados mais velhos. Poxa, Omá... Vai lá, né?!

Mas Omário continuava concentrado.

— Aulas de bilogia?

Sandoval cismou com a atitude do outro.

— Que é que cê tem, Omá?! Parece que tá com os pés no chão e a cabeça na lua, homem!

— Não — pareceu sair do transe. — Não é que... eu tava aqui pensando em minha filha, Sandrinha.

— Que tem ela?

— Nunca gostou de biologia.

— Indico o Lucas, vai lá... Não tem outro melhor.

— Mas parece que já o indicaram pra minha esposa.

— É?

— Humrum. A Odélia a matriculou faz duas semanas. A menina fica entusiasmada sempre que chega o dia das aulas.

— E o resultado? — quis saber Sandoval, ainda mais entusiasmado.

— Ficarei sabendo daqui há nove meses.

*******

62

Fubuia

Foi um vexame. Tânia, que tem um salão de beleza em sua casa e possui uma clientela fiel aos seus práticos e cobiçados serviços, recebeu a breve visita da vizinha. Kele lhe contou sobre a consulta ao médico na véspera e ficou pasma após perguntas sobre perguntas, receber o diagnóstico que sofria de fubuia.

— Fubuia! – reforçou ela à vizinha.

— E o que é isso?! — quis saber a outra.

— E eu sei! Me deu uns conselhos sobre como eu tinha que lidar com isso... e só.

Tânia, pensativa tentando imaginar o que poderia significar tal palavra, logo perguntou à mãe da menina sobre

Tânia, pensativa tentando imaginar o que poderia significar tal palavra, logo perguntou à mãe da menina sobre

Documentos relacionados