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CONTROLE DA POLUIÇÃO / TRATAMENTO DE ÁGUA

3 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO RIBEIRÃO DAS ANHUMAS

3.4 Pontos críticos de inundação

Até a década de 50, o crescimento urbano de Campinas era contíguo, limítrofe e centralizado, o que impulsionou a ocupação e o desenvolvimento do município e das bacias dos córregos Proença e Serafim (canal de Saneamento).

A partir dos anos 70 Campinas passou por um intenso processo de industrialização, atraindo fluxo migratório para a região metropolitana, o que acentuou a expansão urbana na bacia. Novos parcelamentos foram aprovados, mais que dobrando o perímetro urbano do município e, em paralelo, as áreas centrais passaram por processo de verticalização e

adensamento urbano e populacional do Centro.

As enchentes das bacias do Alto Anhumas, especialmente o córrego Proença, são típicas de inundações devido a urbanização, uma vez que a impermeabilização excessiva do centro proporcionou aumento do escoamento superficial, o que sobrecarregou a infraestrutura de drenagem implantada.

A calha do curso de água na Av. Princesa D´Oeste, sem capacidade de descarga suficiente para o hidrograma ampliado, extravasa para as margens, inundando áreas comerciais e residenciais que invadiram as planícies de inundação.

Pontes e bueiros que reduzem a seção livre do canal represam, temporariamente, o fluxo, gerando sobre elevação e remanso à montante, amplificando a inundação do parágrafo anterior.

Frente a este problema, a solução adotada foi a canalização dos trechos críticos do córrego Proença, ampliando a calha e substituindo o revestimento no trecho da Av. Princesa D´Oeste e substituindo a calha na via Norte-Sul por aduelas retangulares subterrâneas.

Procedimento semelhante aconteceu no canal de Saneamento, cuja solução de controle adotou conceitos “higienistas”, que era a tecnologia reconhecida naquela época.

Planícies de inundação e várzeas, que amorteciam as enchentes, foram extinguidas e convertidas em vias expressas; assim, o hidrograma do escoamento superficial passou a ser integralmente transladado a jusante, transferindo as inundações para o “Médio Anhumas”.

A administração pública à época, leniente à dinâmica expansionista acelerada na bacia, concedeu autorização para implantação de novos bairros, sem critérios definidos quanto às taxas de impermeabilização, ocasionando um tecido urbano maior, “retalhado”, com vários “vazios urbanos” carentes de infraestrutura.

A população migrante de baixa renda, sem condições para adquirir terrenos em regiões sobrevalorizadas, próximas ao centro, ocupou as várzeas do Médio Anhumas que são áreas de alto risco, ocasionando um processo de favelização da bacia, surgindo aglomerações humanas como a “Favela Moscou”.

As ruas Luiza de Gusmão e Rua Moscou, que foram implantadas próximas a esses aglomerados de favelas, passaram a ser alvos frequentes das inundações ribeirinhas do Anhumas, tornando-se um dos pontos mais críticos de alagamento.

ocupação recente, cujo percentual de áreas “livres” permeáveis, composta por áreas verdes, agricultura e pastagem, estão acima de 50%.

Esse trecho do ribeirão representa o vetor de crescimento na bacia, cuja urbanização deverá ser planejada, a fim de evitar os problemas de inundação das porções anteriores. É preciso que haja planejamento, especialmente quanto às regras de delimitação e ocupação nas planícies de inundação, que são expressivas áreas do Baixo Anhumas.

Na bacia do Ribeirão das Pedras, cuja especulação imobiliária é intensa devido ao desenvolvimento do distrito de Barão Geraldo, já ocorre problemas de inundação por urbanização.

OLIVEIRA (2004) indica como pontos críticos desse ribeirão os trechos entre as pontes das avenidas Dr. Romeu Tórtima e Prof. Atílio Martini, e entre a última e a ponte da Av. Oscar Pedroso Horta. Trata-se de um trecho urbano do ribeirão das Pedras cuja ocupação residencial, novamente, habita as planícies fluviais. Além disso, as pontes existentes nessas avenidas limitam o escoamento normal do curso de água.

A Figura 3.9, adaptada do PDC (2006), apresenta os pontos críticos de inundação apontados pela defesa civil. Esses locais foram, provavelmente, marcados a partir do evento de 2003, tido como um máximo extremo observado nessa região.

O contexto anteriormente descrito é um “trailer” comum das causas e consequências das inundações urbanas, que são produto da antropização do ambiente em condições inadequadas do uso e ocupação do espaço. Alia-se a esses fatos a ocorrência natural das enchentes, que acabam tornando-se desastres frequentes, acompanhados de prejuízos materiais e humanos.

As soluções pontuais privilegiaram medidas de controle por canalização e retificação dos fundos de vale, que aceleraram a velocidade de remoção dos deflúvios, lançando-os à jusante. Como as “correções” são de montante para jusante, novos pontos de inundação ocorreram e, potencializados pela ocupação irregular das zonas de risco, tornando- se áreas alagáveis frequentes.

Figura 3. 9. Pontos críticos de inundação na bacia do Ribeirão das Anhumas. (Adaptado de TORRES et al., 2006)

3.5 Clima

A região de Campinas apresenta normais climatológicas cujos dados são provenientes da estação do Instituto Agronômico (IAC), Latitude -22,93º, Longitude -47,08º e Altitude 574m. A distribuição pluvial refere-se ao regime das zonas tropicais de baixa altitude, com verão chuvoso e inverno seco. Os dados de temperatura assinalam valores próximos a 18 ºC durante o inverno e superiores a 24 ºC durante o verão, sendo julho o mês mais frio (18,2ºC) e fevereiro o mais quente (24,4 ºC). Os dados dos valores médios de temperatura do ar e de precipitação pluvial encontrados permitem identificar o clima, segundo o sistema de Köppen, como do tipo Cwa, ou seja, clima mesotérmico de inverno seco. Na Tabela 3.2 é apresentado o balanço hídrico normal de Campinas, SP, considerando Capacidade de Armazenamento de Água (CA) igual a 100 mm.

Tabela 3.2. Balanço hídrico normal por Thornthwaite & Matter (1955), para Campinas.

Mês Precip NHD Temp ETP P-ETP NEG- AC

ARM ALT ETR DEF EXC (mm) (horas) (ºC) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) JAN 240,0 13,4 24,0 119,3 120,7 0,0 100,00 0,00 119,3 0,0 120,7 FEV 190,0 13,0 24,4 113,0 77,0 0,0 100,00 0,00 113,0 0,0 77,0 MAR 147,0 12,5 23,9 114,0 33,0 0,0 100,00 0,00 114,0 0,0 33,0 ABR 71,0 11,8 22,0 85,0 -14,0 -14,0 86,90 -13,10 84,1 0,9 0,0 MAI 65,0 11,2 19,5 61,9 3,1 -10,5 90,00 3,10 61,9 0,0 0,0 JUN 48,7 10,7 18,3 49,2 -0,5 -11,0 89,59 -0,41 49,1 0,0 0,0 JUL 36,8 10,6 18,2 49,7 -12,9 -23,9 78,73 -10,86 47,7 2,1 0,0 AGO 37,0 10,9 19,3 59,2 -22,2 -46,1 63,08 -15,65 52,6 6,5 0,0 SET 65,0 11,5 21,0 74,3 -9,3 -55,3 57,50 -5,58 70,6 3,7 0,0 OUT 123,0 12,2 22,1 92,0 31,0 -12,2 88,48 30,98 92,0 0,0 0,0 NOV 137,0 12,9 22,9 102,4 34,6 0,0 100,00 11,52 102,4 0,0 23,1 DEZ 217,0 13,3 23,4 115,3 101,7 0,0 100,00 0,00 115,3 0,0 101,7 ANO 1377,5 - - 1.035,2 342,3 - 1054 - 1.022,0 13,2 355,5 Média 114,8 12,0 21,6 86,27 28,5 - 87,9 - 85,2 1,1 29,6

(Fonte: HBRASIL Balanços Hídricos climatológicos de 500 localidades Brasileiras, disponibilizados pela Universidade de São Paulo)

A Figura 3.10 apresenta o extrato do balanço hídrico mensal elaborado a partir dos valores da Tabela 3.2. Observa-se que, na média, entre os meses de novembro a março ocorrem excedentes hídricos, mantendo o solo frequentemente úmido. A partir de abril a evapotranspiração potencial (ETP) suplanta a precipitação pluvial, progressivamente, extraindo a umidade armazenada pelo “reservatório” do solo. De julho a setembro o armazenamento de água do solo atinge um estado crítico, restringindo a retirada de umidade e estabelecendo condição de deficiência hídrica.

Por essas informações médias normais, pode-se afirmar que a região de Campinas apresenta um período chuvoso com formação de excedente hídrico durante os meses de novembro a março, mantendo a superfície com alta umidade e favorecendo a formação do escoamento superficial. É durante este período que ocorrem as tormentas de precipitação extremas.

Figura 3. 10. Extrato do balanço hídrico normal para Campinas. (Fonte: HBRASIL Balanços Hídricos climatológicos de 500 localidades Brasileiras,

disponibilizados pela Universidade de São Paulo)

A Tabela 3.3 apresenta os valores médios mensais durante o período de 1988 a 2008, da estação meteorológica da Faculdade de Engenharia Agrícola (FEAGRI) na UNICAMP, localizada na Latitude -22,816º, Longitude -47,059º e Altitude 640m. Observa-se

Deficiência, Excedente, Retirada e Reposição Hídrica ao longo do ano -40 -20 0 20 40 60 80 100 120 140

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

mm

que a estação está inserida na bacia do ribeirão das Anhumas e, portanto, representa o clima local.

Pelos valores da precipitação máxima com duração de 24 horas (P24) é possível notar que os maiores valores ocorreram durante os meses de outubro a março, corroborando com a informação anterior. Excetua-se o valor máximo P24 de 143,4 mm, registrado no mês de maio de 1983. Esse valor extremo e fora de época deve-se à ocorrência do fenômeno “El Niño”, durante esse ano.

Tabela 3.3. Dados climáticos da estação meteorológica da CEPAGRI na Faculdade de Engenharia Agrícola da UNICAMP.

MES

Temperatura do ar (°C) Chuva (mm) Umidade média máxima média máxima absoluta mínima média mínima absoluta média máx 24hs (9hs) (%) (15hs) JAN 24,7 29,7 36,2 19,8 14,0 280,3 132,2 78 57 FEV 24,9 30 35,6 19,9 14,2 215,9 104,8 78 54 MAR 24,7 29,9 35 19,6 15,0 162,3 107,6 73 50 ABR 23,05 28,5 34,1 17,6 7,0 58,6 68,0 72 47 MAI 20 25,5 32 14,5 4,0 63,3 143,4 75 46 JUN 18,8 24,8 31,0 12,9 0,0 35,4 35,5 75 43 JUL 18,5 24,8 32,0 12,3 2,0 43,3 50,8 73 41 AGO 20,5 27,2 34,4 13,8 5,0 22,9 34,2 67 36 SET 21,8 27,8 37,6 15,8 5,6 59,5 48,0 68 43 OUT 23,3 29,1 37,4 17,6 9,4 123,5 110,4 70 46 NOV 23,8 29,3 36,8 18,3 10,9 155,6 88,0 72 49 DEZ 24,3 29,6 36,0 19,1 11,6 203,9 126,5 75 54 ANUAL 22,4 28 37,6 16,8 0,0 1424,5 143,4 73 47

(Fonte: Clima de Campinas, disponibilizados pelo CEPAGRI)

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