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A população e suas condições sociais após a implantação do enclave de produção

CAPÍTULO III O AVANÇO DO CAPITAL EM CAMPOS LINDOS E SUAS

3.4 A população e suas condições sociais após a implantação do enclave de produção

O avanço da soja também é acompanhado da violência sobre os posseiros: ameaças de morte, casas incendiadas, roças e plantações destruídas fazem parte de suas vidas atribuladas. Posseiros e proprietários que ainda resistem estão ilhados e impotentes para conter a devastação da terra que provia seus meios para a subsistência. Outros ainda resistem e estão procurando formas de organização.

Casos de trabalho escravo também sido encontrados em fiscalizações conjuntas, numa delas, o Ministério Público Federal no Tocantins denunciou Paulo Alberto Fachin83, proprietário da fazenda Campos Lindos, por reduzir trabalhadores rurais a condição análoga à de escravo, sujeitando-os a jornadas exaustivas e a condições degradantes. Os trabalhadores foram aliciados na cidade de Balsas (MA) para trabalharem como catadores de raízes no preparo de solo para plantio de soja. Auxiliar de serviços gerais, tratorista, mecânico, cozinheira e carpinteiro, ao menos 61 trabalhadores foram arregimentados e levados para a fazenda de propriedade do indiciado, onde permaneceram sob um regime análogo ao de escravo até o dia 7 de outubro de 2006, quando foram libertados em uma fiscalização do Ministério do Trabalho, do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal. Outro sojeiro de nome de Iakov Kalugin consta da "lista suja" do trabalho escravo, em outra fiscalização os Fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) encontraram 20 pessoas em condições análogas à escravidão no Lote 64 da Fazenda Santa Catarina, mais conhecido como Fazenda São Simeão, em novembro de 2003. Outro sojeiro, de nome Lauro de

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Freitas Lemes, proprietário da fazenda Angico, foi flagrado com nove trabalhadores em condição análoga à escravidão, seu nome consta da ‘lista suja do trabalho escravo84’.

A intervenção autoritária do governo do estado, espoliando uma parcela significativa da população rural de suas terras, e com isso tirando delas seus meios de vida, teve consequências imediatas sobre a distribuição espacial da população e sobre uma das componentes da dinâmica demográfica. O deslocamento de fluxos de população no espaço regional. A intensidade dessas consequências pode mensurada tendo como subsídio os dados apurados no município pelo Censo Demográfico do ano 2000.

A tabela 3.6 apresenta os quantitativos por lugar de domicílio e sexo. Na tabela se recuperam os dados de 1991, isto é, seis anos antes da espoliação, para facilitar as comparações intercensitárias. O primeiro fato constatado foi a perda de população rural, entre 1996 e 2000. A população rural do município estava em pleno crescimento, quando se deu o fato da grande expropriação de terras e a consequente expulsão de muitas famílias de posseiros e de proprietários com a utilização de forte aparato policial. O quantitativo da população rural diminuiu drasticamente, a taxa de decrescimento foi equivalente a (-2,99%), em média anual, no período 1996/2000.

Tabela 3.6 – Campos Lindos: População residente, por domicílio e sexo – 1991, 1996, 2000 e 2010 1991 1996 2000 2010 Total 3.276 5.102 5.638 8.139 Total Urbana 22 1.230 2.209 4.819 Total Rural 3.254 3.872 3.429 3.320 Total de Homens 1.706 2.668 2.976 4.264 Urbana 624 1.144 2.419 Rural 2.044 1.832 1.845 Total de Mulheres 1.570 2.434 2.662 3.875 Urbana 624 1.065 2.400 Rural 1.828 1.597 1.475

Fonte: IBGE/Censos Demográficos 1991, 2000 e 2010 e Recontagem populacional 1996/SEPLAN- TO/Diretoria de Pesquisa

Dado que a expropriação e a expulsão das famílias atingidas foi um fato acontecido num curto período de tempo e a taxa de crescimento supõe que o fenômeno

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medido acontece de forma constante ao longo do período de referência, a taxa acumulada nos quatro anos 1996 a 200 é equivalente a uma taxa total de (-11,44%). Esse valor significa que 443 pessoas expulsas de suas posses e de suas propriedades. Contudo, para se chegar a um valor mais aproximado deve-se acrescentar a esse número a quantidade de pessoas que chegaram às terras expropriadas entre a data da expropriação e a data da realização do Censo demográfico. Por essa consideração, na estimativa mais conservadora, o número de pessoas atingidas pela expropriação foi superior a 600 pessoas.

Sob as hipóteses de que não tivesse acontecido o golpe da expropriação e a que a população rural tivesse mantido o ritmo de crescimento observado até 1996, se poderia inferir que no ano 2000 Campos Lindos poderia ter atingido a casa de 5.066 habitantes, o qual representa, em termos absolutos, 50% a mais da população rural recenseada em 2000. Essas evidências censitárias são importantes porque ilustram um pouco o efeito sobre o contingente da população rural. O governo do Tocantins nunca fez sequer um cadastramento, ou uma contagem, das pessoas das quais foram arrancadas, pela violência, seus meios de vida. Levantamento feito por uma pessoa da região e que mantém uma página web sobre os problemas e a história de Campos Lindos85, aponta que aproximadamente 20% da população rural do município, no ano de 1997, foi espoliada das suas terras e lançada à miséria pelo governo e pela maior líder do latifúndio e do agronegócio no Tocantins. As duas estimativas convergem para um quantitativo próximo.

Já no auge da produção no enclave da soja, entre os censos demográficos de 2000 e 2010, se observa o crescimento da população urbana, ao passo que a população rural nesses anos continuou a diminuir, em termos absolutos -0,32% em média anual. A causa imediata mais provável é o avanço dos agentes do agronegócio sobre as terras dos pequenos e médios agricultores que não tinham sido expropriados, os quais sofrem diversos tipos de violência e de pressão para entregar sua terra por preços irrisórios para a expansão da soja, prática que promove a expulsão de famílias das áreas próximas às lavouras de soja; algumas famílias se deslocam para a sede do município na esperança de aceder a alguma forma de subsistência, outras famílias tem-se deslocado para agrupamentos de população rural, conhecidos localmente como comunidades. Em Campos Lindos existem atualmente 17 (dez e sete) comunidades.

85 Júnior Grings. Serra da Cangalha e Serra do Centro - UMA HISTÓRIA DE LUTA E SUOR: Imigrações chegaram à região buscando vida digna e trabalho.

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Para avançar na compreensão das condições de vida da população, a seguir se apresentam alguns indicadores sociais chaves, com o objetivo de destacar algumas características sintéticas dessas condições.

O Censo Demográfico apresenta algumas características dos domicílios. Em 2010, foi constatado que em nenhum domicílio tinha a identificação do logradouro; a pavimentação asfáltica só existia em aproximadamente 10% das ruas; 90% das ruas da sede municipal tem conservação muitíssimo precária; somente 10% das tem algum tipo de calçamento. O município não tem rede de esgotamento sanitário e menos de 10% dos domicílios estavam ligados à rede geral de abastecimento de água. Isto é, mais de 90% da população da sede municipal tem um abastecimento de água potável em situação de precariedade.

Estes indicadores demonstram que as condições de moradia e de infraestrutura de serviços básicos, como esgotamento sanitário, abastecimento de água potável são absurdamente deficitários. As condições de trafegabilidade pelas ruas da “cidade” são muito difíceis.

Os elevados volumes de riqueza gerados no município, na área do enclave da produção de soja, em nada tem contribuído para, pelo menos, atenuar a precariedade das infraestruturas urbana e de serviços da população da sede municipal.

Um bom indicador da condição econômica das famílias e de suas possibilidades de consumo é a distribuição dos rendimentos domiciliares. Isto é, a soma de todas as entradas em dinheiro por diferentes conceitos: aposentadorias, salários, pensões alimentícias, programas oficiais, etc, recebidos pelos moradores dos domicílios. A seguir é comparada a evolução da distribuição dos rendimentos domiciliares apurados nos Censos Demográficos de 2000 e 2010. Não foi possível obter informação da distribuição de rendimentos em 1991, pois nesse ano o município ainda não tinha sido criado oficialmente. Por essa limitação não é possível avaliar as consequências da expropriação em 1997, sobre a distribuição dos rendimentos. Os dois censos, de 2000 e 2010, usados como fonte de informação, são posteriores à fase da espoliação e cobrem já a fase do auge da produção sojeira. Os dados censitários tem a deficiência de não estarem separados por área urbana e rural, isto é correspondem a uma situação média da população municipal.

A variável, rendimentos domiciliares é importante na análise das condições de vida porque é síntese de varias características da estrutura social do local e da inserção

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dos moradores na economia local, e determina, em última instância, a possibilidade de acesso ao consumo alimentar a aos bens e serviços necessários à sobrevivência.

O primeiro fato a destacar é a grande proporção de domicílios que declararam não receber nenhum rendimento monetário. Quase 30% dos domicílios no ano 2000 e 16,62% em 2010 estavam nessa situação de extrema carência econômica. A diminuição do número de domicílios que não tinham rendimentos, muito provavelmente foi consequência do número de famílias incluídas no programa bolsa família. A página web do programa86 informa que, em 2010, eram 812 famílias beneficiárias no município, em setembro de 2013 a quantidade de famílias beneficiárias aumentou para 933.

Outro fato que comprova as precárias condições de vida da população municipal é a significativa proporção da população em situação de pobreza, mensurada pelo critério utilizado pelo IPEA de rendimento mensal de um salário mínimo como linha divisória da situação de pobreza. Supondo que cada domicílio corresponda a uma família, a proporção de famílias em situação de pobreza foi 90,53% em 2000 e 89,78% no ano 2010. Aqui existe a sinalização de que o programa bolsa família somente contribui para melhorar o indicador de pobreza extrema (rendimento mensal de até 0,25 de um salário mínimo), porém não se mostra eficiente no combate à pobreza absoluta, (rendimento de até 0,5 de um salário mínimo), nem à pobreza. O programa Bolsa Família além de influenciar o indicador de distribuição de renda somente do grupo da população de rendimentos inferiores, apresenta um problema estrutural ao programa, ainda mais preocupante: o de ser um “remédio” simplesmente conjuntural para a situação da pobreza, isto é, se ele fosse retirado da população, instantaneamente a população cairia na situação extrema anterior ao programa, isso devido ao não desenvolvimento de ações de qualificação que permitam à população beneficiária melhorar sua condição material de vida mesmo sem receber os benefícios do programa. A precariedade das condições de vida captada pela estrutura de rendimentos domiciliares de Campos Lindos, isto é, a condição de pobreza quase generalizada de sua população, e seu cruzamento com a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002/2003, fez que no Mapa da Pobreza e a Desigualdade de 2003, publicado no final de 2008 pelo IBGE, ficasse comprovado que Campos Lindos era o município mais pobre do Brasil.

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Tabela 3.7- Campos Lindos Domicílios particulares permanentes por classes de rendimento nominal mensal domiciliar em unidades

de salário mínimo- 2000, 2010 2000 2010 Domicílios % Domicílios % Sem rendimento 318 29,77 283 16,62 Até 0,25 S. M 306 28,65 556 32,65 De 0,25 a 0,5 189 17,69 378 22,19 De 0,5 a 1 154 14,42 312 18,32 De 1 a 2 44 4,12 110 6,45 De 2 a 3 26 2,40 19 1,11 De 3 a 5 25 2,30 20 1,17 Mais de 5 6 0,50 25 1,46 TOTAL 1.068 100 1.703 100

Fonte: Censos demográficos 2000 e 2010- IBGE

Os indicadores apurados pelo Mapa da Pobreza e a Desigualdade foram:

Incidência da Pobreza 84,00 %; Incidência da Pobreza Subjetiva 88,86%; Índice de Gini 0,42; Limite inferior da Incidência da Pobreza Subjetiva 74,47%; Limite inferior da Incidência de Pobreza 76,68% Limite inferior do Índice de Gini 0,35 ; Limite superior da Incidência de Pobreza 91,32 % ; Limite superior do Índice de Gini 0,50 ; Limite superior Incidência da Pobreza Subjetiva 103,25 %

O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, traz informação importante sobre a distribuição dos rendimentos domiciliares e sua apropriação pelos diversos estratos da população, distribuição denominada, na linguagem tradicional da Economia neoclássica como “Distribuição de Renda”. O Atlas traz os cálculos finais para os três anos censitários 1991, 2000 e 2010. Essa informação é relevante, pois revela a evolução da forma como está sendo apropriada a massa total dos rendimentos, pelos estratos da população.

De forma panorâmica se observa que, em 1991, o grupo formado pelos 20% mais pobres da população era detentor de apenas 4,55% da massa total de rendimentos, no ano 2000 os 20% mais pobres não tinham nenhum rendimento, isto é os pobres no ano 2000 eram mais pobres do que no ano 1991. Em 2010 a situação do estrato dos 20% mais pobre da população tinha melhorado levemente pois, era detentor de 0,69% da massa total de rendimentos. A participação da população mais pobre na distribuição dos rendimentos observada em 2000 e 2010 é, em parte o reflexo fatual do efeito da

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espoliação acontecida em 1997 e que retirou de uma parcela importante da população rural do município seus meios de vida.

Tabela 3.8- Campos Lindos: Porcentagem da Renda Apropriada por Estratos da População 1991 2000 2010 20% mais pobres 4,55 0,00 0,69 40% mais pobres 12,45 2,11 4,88 60% mais pobres 23,33 10,86 14,21 80% mais pobres 38,70 27,67 30,59 20% mais ricos 61,30 72,33 69,41

Fonte: PNUD/IPEA/FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Atlas do desenvolvimento humano Brasil, 2013 A tendência observada para o estrato dos 20% mais pobres da população se repete quase com a mesma intensidade nos estratos dos 40% mais pobres. No estrato dos 60% mais pobres e no estrato que inclui 80% da população mais pobre do município, nesses estratos se comprova que, comparativamente com o ano de 1991, pelo menos 80% da população do município estava em condições relativas de pobreza mais precárias em 2010 do que em 1991. No sentido contrário, o da acumulação, no estrato que inclui o 20% da população de maiores rendimentos, as pessoas vinculadas aos processos de trabalho no enclave da produção de soja estão incluídos neste estrato, se observa que no período se deu o aumento do processo de acumulação, dito em outras palavras, o 20% mais rico da população em 2010 era detentora de 69,41% de toda a riqueza do município, 8,11% a mais do que no ano de 1991.

A informação do parágrafo acima está demonstrando que a imposição do enclave para a produção de soja teria beneficiado o aumento da renda somente para uma pequena parcela da população, ao passo que, pelo menos para 80% da população do município, a gigantesca produção de soja e de riqueza não teria contribuído para melhorar sua participação na distribuição da riqueza municipal.

Em relação às condições da educação para a população municipal, os dados do Censo Demográfico de 2010, demonstram que na população total de 25 e mais anos de idade, 72,47% não tinham instrução ou não tinham completado o ensino fundamental. Entre, os homens a proporção é ainda maior, pois 76,1% deles estavam nessa condição;

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para as mulheres o indicador é levemente menos precário, 68,1% das mulheres de 25 ou mais anos de idade não tinham escolaridade ou não teriam concluído sequer o ensino fundamental. Esse indicador comprova, de forma facilmente compreensível, a precariedade da formação educacional dessa população, e é um fato preocupante porque para a população de mais de 25 anos de idade as oportunidades de aceder à alfabetização, ou à conclusão da mesma, são muito restritas, pela carência de cursos e de turmas para a alfabetização de adultos. Segundo o mesmo censo, em 2010, somente 88 pessoas maiores de 25 anos frequentavam um curso de alfabetização de adultos em Campos Lindos.

Outro indicador preocupante na educação é a taxa de frequência escolar muito baixa, pois em 2010, somente 21,2% das crianças em idade entre 7 e 14 anos estavam cursando o ensino fundamental. Este indicador está sinalizando que, no futuro próximo, as taxas de analfabetismo fatalmente irão continuar elevadas se não se tiver uma intervenção drástica para que as crianças em idade escolar frequentem efetivamente a escola. Essa intervenção drástica se prefigura com probabilidade muito baixa de acontecer, pois seria necessário o ataque às causas estruturais que levam a que um contingente significativo de crianças esteja fora da sala de aula.

A distorção idade-série que mensura a defasagem média da idade em relação à série que os alunos estão cursando é de 44,5% nos anos finais do ensino fundamental, isto é 44,5% dos alunos que estão nos últimos anos do ensino fundamental tem idade superior à recomendada,87 e 42,5% dos alunos que ingressam no ensino médio tem idade superior à recomendada. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, que mensura a qualidade da educação básica, para os alunos da 4ª série em 2011 colocou essa série da educação básica de Campos Lindos na 4.172ª posição entre os 5.565 municípios do Brasil, e o IDEB da 8ª série na 4.686ª posição; o IDEB da 4ª série foi 3.8 em Campos Lindos e 4.7na média Brasil, o IDEB da 8ª série foi 3.3 em Campos Lindos e 3.9 para o Brasil.

Na área rural do município não existe nenhum estabelecimento de ensino, nem da prefeitura municipal, nem do governo do estado. Na comunidade São Francisco, por iniciativa dos próprios moradores foi construída, em sistema de mutirão, num terreno doado por um morador, a Escola Família Agrícola (EFA), a qual tem o propósito de possibilitar o acesso ao ensino aos membros da comunidade. A escola tem uma

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pedagogia adaptada às necessidades das crianças do local e combina o conhecimento teórico com o ensino e a prática da agricultura orgânica. A escola enfrenta problemas de atraso no pagamento dos salários dos professores pela Prefeitura Municipal e até da diminuição do valor dos mesmos.

Em relação à infraestrutura para a saúde pública e ao atendimento em saúde à população do município a situação também é precária. No Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), o município que tem mais de oito mil habitantes dispõe somente de um centro de saúde para atendimento ambulatorial com um médico, 2 enfermeiros, 2 técnicos de enfermagem e 2 auxiliares de enfermagem. A Organização Mundial da Saúde recomenda, no mínimo, um médico para cada grupo de 1.000 habitantes. O hospital mais próximo para atendimento aos casos de média complexidade fica a 195 quilômetros de distância, na cidade de Araguaína.

As precárias condições de vida da maioria da população de Campos Lindos e o atendimento deficitário na área da saúde causam uma elevada taxa de mortalidade infantil. O censo demográfico de 2010 apurou que de cada mil crianças, em média 56,8 morriam antes de completar um ano de idade. Ações preventivas para diminuir a mortalidade infantil, como as campanhas de vacinação, os dados sinalizam que não atingiam uma cobertura completa, em 2012. Segundo o DATASUS 10% das crianças menores de 1 ano não estavam com todas as vacinas em dia. Outro grave problema constatado em Campos Lindos é o da gravidez na adolescência, dados consultados no site do DATASUS informam que em 2009 32,5% das crianças nascidas no município eram filhos de mães com menos de 20 (vinte) anos de idade.

Numa outra importante dimensão da qualidade de vida, a dimensão ambiental os problemas no município são gravíssimos. Já foi analisada nesta tese a questão ambiental em Campos Lindos, e as constatações encontradas foram que o grande enclave de produção de soja foi implantado de forma absolutamente ilegal afrontando a legislação ambiental federal e estadual, e que até hoje (2013), depois de quinze anos de implantação nenhum dos sojeiros cumpriu sequer os requisitos exigidos para obter a licença de instalação da atividade.

Um indicador síntese das condições de vida de uma população é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Este indicador foi igual a 0,544, em 2010. O município está situado na faixa de IDHM entre 0,5 e 0,599, considerada como a faixa de desenvolvimento humano baixo.

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Entre os anos de 2000 e 2010, das dimensões do desenvolvimento humano

incluídas no cálculo do IDHM88, a dimensão que teve o melhor desempenho, em termos

absolutos, foi a educação, com crescimento de 0,251; seguida pela Longevidade, mensurada pelo tempo de vida esperado de uma pessoa à data de nascimento; a dimensão de menor crescimento foi a Renda, mensurada pela distribuição dos rendimentos domiciliares. O crescimento do índice da educação em grande parte foi consequência do programa Bolsa Família que exige a frequência escolar para as crianças das famílias beneficiárias. Vale lembrar que ainda Em Campos Lindos uma parcela significativa da população entre 7 e 14 anos está fora das salas de aula.

No período anterior, entre os anos de 1991 e 2000, a dimensão que mais tinha crescido, em termos absolutos, também foi a Educação (com crescimento de 0,116), seguida pela Longevidade, a qual cresceu 0,074 e pela Renda que teve um crescimento muito baixo, 0,047.

Tabela 3.9 - Campos Lindos: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes

IDHM e componentes 1991 2000 2010

IDHM Educação 0,010 0,126 0,377

% de 18 anos ou mais com ensino fundamental completo 0,33 10,66 33,65

% de 5 a 6 anos frequentando a escola 5,96 16,39 45,22

% de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino

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