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Populações, materiais, amostragem e técnicas de recolha de dados

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.2. Populações, materiais, amostragem e técnicas de recolha de dados

As análises de implantação e a meta-avaliação previstas realizaram-se com recurso a análise documental e completou-se a informação com recurso a dados obtidos em entrevistas semiestruturadas centradas no problema, em profundidade e a grupo focal. A revisão bibliográfica acompanhou todo o processo.

Revisão bibliográfica

A revisão de literatura, constituindo uma parte vital do processo de investigação, envolve a localização, análise, síntese e interpretação de produção bibliográfica prévia relacionada com a temática em estudo 13.

Optou-se por proceder a uma revisão bibliográfica do tipo narrativo 14,15, ou seja sem utilizar critérios explícitos e sistemáticos para a procura da literatura. A busca não precisa

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de esgotar as fontes de informações e não serão aplicadas estratégias de busca sofisticadas e exaustivas. A seleção dos documentos e a interpretação das informações podem estar sujeitas à subjetividade dos autores. As principais fontes a serem consultadas para a elaboração da revisão bibliográfica são artigos publicados em revistas científicas, livros, teses, dissertações, e relatórios e bases de dados.

A revisão bibliográfica teve como ponto de partida as seguintes palavras/expressões chave e o cruzamento entre si:

 Estados frágeis | fragile states  Sistemas de saúde | health systems  Guiné-Bissau | Guinea Bissau  Políticas de saúde | health policies

 Ajuda ao desenvolvimento | development aid,  Relações internacionais | international relations,  Cooperação internacional | international cooperation

 Planeamento estratégico em saúde | strategic health planning  Resiliência | resilience

 Capital social | social capital  Sociedade civil | civil society

 Recursos humanos em saúde | human resources for health

 Formação de recursos humanos em saúde | education of health professionals

Análise Documental

A análise documental, sendo uma operação ou um conjunto de operações que visam representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente da original, a fim de facilitar, num estudo ulterior, a sua consulta e referenciação16, permite passar de um documento primário, em bruto, para um secundário, facilitando ao observador o acesso à informação.

Envolvendo baixos custos para a obtenção de dados empíricos é muitas vezes combinada com a recolha de dados por entrevistas e observação, permitindo a minimização de viés e

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o fortalecimento da credibilidade dos dados encontrados17. O procedimento analítico implica encontrar, selecionar, avaliar (ou dar sentido), e sintetizar os dados contidos em documentos17.

Foram analisados os PNDS I, II, III e o PNDRHS, bem como os relatórios de implementação dos PNDS I e II. Analisaram-se também documentos de orientação estratégica no âmbito da implementação dos documentos acima referidos, bem como documentos não publicados obtidos de informadores-chave. Os dados encontrados foram organizados em grandes temas, em categorias, tendo sido depois analisados por meio de análise de conteúdo 16,17.

Entrevistas semiestruturadas centradas no problema e em profundidade

Para o presente estudo, foi realizado um total 31 entrevistas semiestruturadas, vinte e seis das quais centradas no problema e cinco em profundidade 18, entre fevereiro de 2016 e dezembro de 2017 a atores chave em matéria de PES e RHS na RGB.

Dos vinte e seis entrevistados com recursos a entrevistas semiestruturadas, quinze foram selecionados pelo investigador por se reconhecer serem detentores de informações pretendidas para o estudo, constituindo assim uma amostra não probabilística intencional 7. Destes quinze, oito dos entrevistados responderam a questões apenas relacionadas com a UA1; dois foram alvo de questões alusivas apenas à UA2; e cinco foram alvo de questões alusivas a ambas as UA (Anexo I).

Caracterizando os referidos quinze entrevistados com recurso a entrevistas semiestruturadas centradas no problema, dois são avaliadores portugueses, um envolvido na avaliação do PNDS I e o outro nos processos de avaliação de implementação do PNDS I e do PNDS II, bem como na redação dos PNDS II e III. Os restantes treze são guineenses. Onze destes entrevistados guineenses estão ou estiveram diretamente implicados nos processos de PES, desde a elaboração do PNDS I até ao atual processo de redação e implementação do PNDS III. Ocupam ou ocuparam cargos de governação do setor a nível nacional, dois deles amplamente relacionados com programas específicos (Luta contra a Tuberculose e Lepra e Saúde Materno-Infantil) e dois dos entrevistados ocupam atualmente

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cargos em organizações internacionais. Seis destes atores chave guineenses estão ou estiveram diretamente implicados nos processos de planeamento de RHS sendo que dois deles exerceram ou exercem cargos de gestão ao nível do MINSAP em matéria de RHS, quatro exercem ou exerceram cargos de gestão em instituições que ministram formação em saúde.

Dos restantes onze entrevistados com recurso a entrevistas semiestruturadas, todos foram apenas alvo de questões alusivas à UA2. Nove são profissionais de saúde e dois integram ONG a operar no campo da saúde e foram selecionados com recurso a amostra bola de neve, no âmbito do estudo da crise de RHS, tendo-se suspendido as entrevistas ao atingir a saturação da informação (Anexo II).

Cinco dos trinta e um entrevistados, selecionados intencionalmente, foram convidados a contar a sua história de vida 19,20, enquanto RHS, desde o seu processo de ingresso na formação em saúde até ao momento presente, com recursos a uma entrevista semiestruturada em profundidade 18 (Anexo III). Foram assim alvo de questões apenas alusivas à UA2.

Destes cinco entrevistados, um é enfermeiro aposentado e é ex-combatente da guerra da independência, um é médico em exercício numa Região Sanitária fora da capital após se ter formado na Bulgária, dois são enfermeiros em exercício – um em Bissau e outro noutra região e um é agente comunitário de saúde.

As entrevistas foram gravadas, com o devido consentimento dos entrevistados (Anexo IV). Posteriormente foi efetuada a análise de conteúdo das entrevistas 16.

Grupo Focal

A utilização dos grupos focais, de forma isolada ou combinada com outras técnicas de recolha de dados, revela-se especialmente útil na pesquisa avaliativa 21. Para o presente estudo foi realizado um grupo focal com sete atores-chave ligados ao ensino em saúde e á gestão de RHS na RGB, sendo que quatro integram o número dos quinze entrevistados

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anteriormente referidos. O grupo focal foi conduzido por dois investigadores portugueses em fevereiro de 2016, na RGB (Anexo V).

Procedimentos de meta-avaliação

No presente trabalho optou-se por utilizar 13 dos 30 padrões de meta-avaliação JCSEE na análise dos relatórios de avaliação supracitados, concretamente: para o Princípio da Utilidade - Credibilidade do avaliador, Clareza dos relatórios, Impacto da avaliação; para o Princípio da Factibilidade ou Viabilidade - Procedimentos práticos, Viabilidade contextual; Princípio da Propriedade - Avaliação completa e justa, Disseminação de resultados, Conflito de interesses; Princípio da Precisão ou Acurácia: - Análise de contexto, Descrição de propósitos e procedimentos, Fontes de informação confiáveis, Conclusões justificáveis, Imparcialidade dos relatórios. A definição textual dos padrões utilizados encontra-se descrita na tabela 1, elaborada com base na literatura consultada 2,3,10,11.

Tabela 1 - Definição dos padrões de meta-avaliação utilizados.

PRINCÍPIO PADRÃO DEFINIÇÃO TEXTUAL

UTILIDADE Atende às necessidades de informação das partes interessadas Credibilidade do avaliador

As avaliações devem ser conduzidas por pessoas qualificadas que estabeleçam e mantenham a credibilidade no contexto da avaliação.

Clareza dos relatórios

Os relatórios de avaliação devem descrever claramente o programa avaliado, incluindo o seu contexto e os propósitos, procedimentos e conclusões da avaliação, de forma a prover informações essenciais que sejam facilmente entendidas.

Impacto da avaliação

As avaliações devem ser planeadas, conduzidas e divulgadas de forma a estimular o seu acompanhamento por parte dos interessados, potenciando a possibilidade de uso dos resultados da avaliação.

FACTIBILIDADE ou VIABILIDADE

A avaliação é realista, realizada sem gastos desnecessários, potenciando a eficácia e a eficiência da avaliação. Procedimentos práticos

Os procedimentos de avaliação devem ser práticos, a fim de evitar perturbações no momento da coleta de informações.

Viabilidade contextual

As avaliações devem reconhecer, monitorar e equilibrar os interesses e necessidades culturais e políticas de indivíduos e grupos. A avaliação deve ser planeada e conduzida tentando antecipar os diferentes posicionamentos dos diferentes grupos de interesse, conseguindo a cooperação e todos.

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PRINCÍPIO PADRÃO DEFINIÇÃO TEXTUAL

PROPRIEDADE A avaliação é conduzida eticamente, com respeito pelos envolvidos. Avaliação completa e justa

As avaliações devem fornecer descrições completas dos principais pontos positivos, limitações e conclusões do programa avaliado, possibilitando a valorização dos aspetos de sucesso e a correção de falhas existentes.

Disseminação de resultados

Os responsáveis pela avaliação devem assegurar que todas as partes interessadas, afetas ao processo avaliativo e aquelas com direito legal tenham acesso aos resultados da avaliação na sua totalidade, a menos que isso viole as obrigações legais e de propriedade.

Conflito de interesses

As avaliações devem, de forma aberta e honesta, identificar e abordar conflitos de interesses reais ou percebidos que possam comprometer a avaliação.

PRECISÃO

Divulga e transmite informação sobre o valor ou mérito dos programas avaliados com a devida validade.

Análise de contexto

O contexto no qual o programa está inserido deve ser descrito com o detalhamento necessário para que suas possíveis influências no programa possam ser identificadas.

Descrição de propósitos e procedimentos

Os propósitos e procedimentos da avaliação devem ser descritos de forma clara e monitorados para que sejam facilmente identificados e examinados.

Fontes de informação confiáveis

As fontes de informação usadas na avaliação devem ser descritas em detalhe, de forma a permitir a análise de adequação da informação coletada.

Conclusões justificáveis

As conclusões de uma avaliação devem ser explicitamente justificadas para que possam ser analisadas pelos principais interessados/afetados pela avaliação e/ou pelo programa. Imparcialidade dos

relatórios

Os procedimentos para elaboração de relatórios deverão incluir métodos que previnam possíveis distorções causadas por sentimentos/vieses pessoais, a fim de que os relatórios reflitam de forma justa os resultados da avaliação.

Foi aplicada uma escala quantitativa de 0-10 a cada um dos padrões, pela qual os valores 9 e 10 correspondem a “excelente; 7 e 8 a “muito bom”; 5 e 6 a “bom”; 3 e 4 a “fraco”; 0 a 2 a “crítico”. Procedeu-se depois à requalificação por principio de avaliação em “Insatisfatório”, “Aceitável” e “Satisfatório” de acordo com a avaliação percentual <33.3%, 33,3%-66,6% e >66,6% respetivamente 3,22,23. Para a atribuição da classificação por padrão e assim obter o valor por princípio de meta-avaliação foi efetuada a análise de conteúdo 16 dos relatórios de avaliação disponíveis.

Procurou-se ainda perceber até que ponto os resultados das avaliações efetuadas foram/estão a ser utilizados em intervenções sequentes, tendo-se procedido à análise de conteúdo do documento de planeamento que se seguiu à avaliação efetuada – o PNDS II.

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A informação obtida foi complementada com recurso a análise de conteúdo das entrevistas realizadas a avaliadores e outros atores chave nesta matéria.

Por ser um processo dinâmico que decorreu no momento de elaboração e aprovação do PNDS III, as entrevistas tiveram também por objetivo obter subsídios sobre o processo de planeamento, concretamente sobre a utilidade e impacto das avaliações anteriores. Porque um dos avaliadores esteve/está atualmente envolvido no planeamento, uma das entrevista teve também por fim salvaguardar a imparcialidade.

Em síntese, descreve-se na figura 6 a estratégia metodológica utilizada.

Figura 6 - Estratégia metodológica do estudo “Analisando respostas em saúde num Estado Frágil - o caso da Guiné- Bissau”

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