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Por último, a requerida procura obstar à sua declaração de insolvência com o

No documento Data do documento. 27 de abril de 2021 (páginas 34-39)

argumento de que valor da fração autónoma que se encontra registada em seu nome ascende a 32.805,00€ [nº 24], ao passo que o seu passivo conhecido, resultante dos factos provados, se circunscreverá a cerca de 31.000,00€.

A requerida tem ainda em seu nome dois veículos automóveis, com matrículas de 2000 e de 2004, respetivamente, tal como é proprietária dos móveis que

compõem o seu escritório [nºs 21 e 28].

É, pois, certo que o ativo da requerida, que se consubstancia praticamente na sua totalidade num imóvel, supera o passivo que lhe é conhecido.

Porém, a existência de um ativo que seja superior ao passivo, enquanto elemento determinativo da exclusão da insolvência, só releva se este ilustrar um quadro de viabilidade económica, do qual flua para a requerida a capacidade de gerar excedentes aptos a assegurar o cumprimento da generalidade das obrigações no momento do seu vencimento.[13]

Sucede que este quadro não se revela no caso “sub judice”, como o atesta a permanência ao longo dos anos, sem serem solvidas, de dívidas de reduzido valor que evidenciam a debilidade económico-financeira da requerida e a sua falta de solvência.

Na verdade, nenhum sentido faz que uma empresa solvente, com capacidade de gerar receitas e cumprir pontualmente as suas obrigações, não proceda ao pagamento de taxas de portagem de valor reduzido ou de quotizações mensais para o condomínio que se circunscrevem a montantes tão insignificantes como 11,47€ ou 12,00€.

Mas mais argumentos ainda se deverão ter em conta no tocante à impossibilidade de, apesar do valor do seu ativo, se fazer qualquer previsão favorável relativamente à solvência da requerida.

É que, conforme se refere na sentença recorrida, a requerida presta serviços, mas quem os fatura aos clientes é a sociedade “I…, Lda.” [nº 5]. Mais: a requerida permite que esta sociedade tenha as suas instalações no mesmo local onde exerce a sua atividade – fração autónoma “R” do Edifício …, sito na Rua …, nº …, Marco de Canavezes – e onde mantém uma funcionária, F… [nº 6]; as sociedades estão especialmente relacionadas, já que têm ou tiveram nos últimos três anos um sócio e gerente comum, tal como têm objectos sociais idênticos.

quo”: “…afigura-se ao tribunal que a requerida tem plena consciência do seu estado de insolvência, porém, vai protelando a sua apresentação à insolvência para evitar a liquidação dos escassos bens que possui, designadamente a fração autónoma designada pela letra “R”, do Edifício … sito na Rua …, nº …, Marco de Canavezes, onde permite que labore uma sociedade consigo especialmente relacionada, sem qualquer contrapartida visível, com o mesmo objeto social e cujo nome facilmente se confunde com o seu, induzindo em erro clientes e credores.”

Assim, no tocante à declaração de insolvência da requerida que se impõe por força da verificação do facto presuntivo da alínea b) do art. 120º, nº 1 do CIRE, há a referir que em nada justifica a exclusão da insolvência a circunstância daquela ser proprietária de um imóvel cujo valor supera o seu passivo conhecido.

É que da propriedade deste imóvel não decorre que a requerida tenha capacidade de gerar receitas que permitam assegurar o cumprimento da generalidade das obrigações no momento do seu vencimento.

Consequentemente, impõe-se julgar improcedente o recurso interposto pela requerida, confirmando-se a decisão que declarou a sua insolvência.

*

Sumário (da responsabilidade do relator – art. 663º, nº 7 do Cód. de Proc. Civil): ………

……… ……… *

DECISÃO

Nos termos expostos, acordam os juízes que constituem este tribunal em julgar improcedente o recurso de apelação interposto pela

requerida “B…, Lda.” e, em consequência, confirma-se a sentença recorrida.

Custas a cargo da recorrente.

Porto, 27.4.2021 Rodrigues Pires Márcia Portela Carlos Querido ________________

[1] Cfr. Ac. Rel. Guimarães de 19.10.2017, proc. 1365/17.0 T8VCT-C.G1, relator José Alberto Moreira Dias, disponível in www.dgsi.pt.

[2] Esta ilustre Professora e Juíza Conselheira escreveu também um estudo intitulado ““O Fundamento Público do Processo de Insolvência e a Legitimidade do Titular de Crédito Litigioso para Requerer a Insolvência do Devedor”, publicado na Revista do Ministério Público, Ano 34, nº 133, Janeiro-Março/2013, págs. 97 a 133, onde apresentou as seguintes conclusões: 1ª) Os titulares de créditos litigiosos não estão inibidos de requerer a declaração de insolvência do devedor, ao abrigo da norma do art. 20.°, n° 1, do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas; 2.ª) O hipotético “excesso de litigiosidade” do crédito não tolhe a legitimidade do credor para pedir a declaração de insolvência do devedor”.

[3] Relator Fernandes do Vale e em cujo sumário se escreveu o seguinte: “I – O titular de crédito litigioso encontra-se legitimado, ao abrigo do preceituado no art. 20º, nº1, do CIRE, para requerer a declaração de insolvência do respectivo devedor; I I – Trata-se, “in casu”, de legitimidade processual ou “ad causam”, não contendente com o mérito da causa a que diz respeito a existência ou inexistência do controvertido crédito.” (disponível in www.dgsi.pt).

[4] Em sentido divergente, de que carece de legitimidade para requerer a declaração de insolvência o requerente cujo crédito que serve de fundamento ao pedido de declaração de insolvência se mostra litigioso, cfr., por ex., Ac. Rel. Coimbra de 3.12.2009, proc. 3601/08.5 TJCBR.C1, relator Emídio Costa e Ac. Rel. Porto de 5.3.2009, proc. 565/08.9 TYVNG, relator Cruz Pereira, disponíveis in www.dgsi.pt.

[5] Preceitua-se aqui que prescrevem no prazo de cinco anos “quaisquer outras prestações periodicamente renováveis.”

[6] Nas suas alegações de recurso a requerida discorre também sobre a não verificação “in casu” do facto-índice previsto na alínea a) do nº 1 do art. 20º do CIRE, o qual, porém, não merecerá a nossa atenção por não ter sido considerado na sentença recorrida.

[7] É a seguinte a redacção destes preceitos: «Nº 3 – A oposição do devedor à declaração de insolvência pretendida pode basear-se na inexistência do facto em que se fundamenta o pedido formulado ou na inexistência da situação de insolvência. Nº 4: Cabe ao devedor provar a sua solvência, baseando-se na escrituração legalmente obrigatória, se for o caso, devidamente organizada e arrumada, sem prejuízo do disposto no nº 3 do art. 3.»

[8] Sobre a questão que se vem apreciando cfr. também os Acórdãos da Relação do Porto de 26.10.2006, p. 0634582, relator Amaral Ferreira, de 4.10.2007, p. 0733360, relator Ataíde das Neves e de 14.9.2010, p. 6401/09.1 TBVFR.P1, relator Rodrigues Pires, todos disponíveis in www.dgsi.pt.

[9] Cfr. Acs. Rel. Porto de 14.9.2010, p. 2793/08.8 TBVNG.P1, relator Guerra Banha, de 18.6.2013, p. 3698/11.0 TBGDM-A.P1, relator Fernando Samões e de 22.9.2014, p. 258/14.8 TJPRT-B.P1, relatora Ana Paula Amorim, todos disponíveis in www.dgsi.pt.

Luís Lameiras, disponível in www.dgsi.pt.

[11] Cfr. também Menezes Leitão, ob. cit., 8ª ed., pág. 143.

[12] Informação Empresarial Simplificada (IES) é a declaração anual que todas as empresas e empresários com contabilidade organizada estão obrigados a entregar para cumprimento das suas obrigações fiscais, contabilísticas e estatísticas.

[13] Cfr. Ac. Rel. Coimbra de 20.11.2007, proc. 1124/07.9 TJCBR-B.C1, relator Teles Pereira, disponível in www.dgsi.pt.

No documento Data do documento. 27 de abril de 2021 (páginas 34-39)

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