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Principiando pela alínea b) – [falta de cumprimento de uma ou mais

No documento Data do documento. 27 de abril de 2021 (páginas 31-34)

obrigações que, pelo seu montante ou pelas circunstâncias do incumprimento, revele a impossibilidade de o devedor satisfazer pontualmente a generalidade das suas obrigações] –, que a Mmª Juíza “a quo” considerou verificada, há desde logo a sublinhar, na linha do que já atrás se escreveu, que este facto indiciador da insolvência não se basta com o mero incumprimento de uma ou de algumas das obrigações vencidas. É igualmente imprescindível que o incumprimento, pelo seu montante ou pelas circunstâncias em que ocorre, revele a impossibilidade de o devedor satisfazer pontualmente a generalidade das suas obrigações, o que impõe que o requerente alegue e prove, para além da obrigação incumprida, as circunstâncias em que ocorre esse incumprimento, de modo a poder-se concluir que se trata de uma impossibilidade de cumprimento do devedor resultante da sua penúria ou incapacidade patrimonial generalizada.[9]

Importam aqui factos que preencham a insatisfação de uma ou mais obrigações e o circunstancialismo que a rodeou, e que sejam tidos como idóneos e vocacionados para, razoavelmente e em consonância com os ditames próprios da experiência comum, fazer concluir pela falta de meios do devedor para solver em tempo os seus vínculos.[10]

satisfazer a generalidade dos seus compromissos.[11] E será que tal é possível no presente caso?

A nossa resposta será afirmativa.

Com efeito, da factualidade dada como assente emerge, de forma clara, a precariedade da situação económico-financeira da requerida, atendendo a que esta não gera receitas que lhe permitam ter liquidez suficiente para pagar uma larga panóplia de créditos vencidos.

Senão vejamos:

- a requerida deve à Segurança Social um montante global de 4.758,36€, que respeita a contribuições vencidas referentes aos meses de setembro a dezembro de 2011, janeiro a dezembro de 2012 e janeiro, fevereiro e dezembro de 2013 – cfr. nº 3;

- a requerida é devedora à Autoridade Tributária do montante global de 15.587,61€, que se reporta a taxas de portagem, vencidas em 3.1.2017, no montante parcial de 255,40€, vencidas em 21.2.2017, no montante parcial de 110,87€, vencidas em 22.5.2017, no montante parcial de 1.467,39€, vencidas em 24.8.2017, no montante parcial de 913,70€, vencidas em 11.9.2017, no montante parcial de 911,03€, vencidas em 3.1.2017, no montante parcial de 3,90€, vencidas em 22.12.2017, no montante parcial de 101,25€, vencidas em 16.2.2018, no montante parcial de 10,38€, vencidas em 13.8.2018, no montante parcial de 174,38€ e vencidas em 9.11.2016, no montante parcial de 51,19€ - cfr. nº 4;

- esse montante global de 15.587,61€ reporta-se também a IVA vencido em 4.12.2015, no montante parcial de 352,68€, vencido em 8.3.2017, no montante parcial de 360,32€, vencido em 5.9.2017, no montante parcial de 238,57€, vencido em 11.12.2017, no montante parcial de 284,92€, vencido em 1.3.2018, no montante parcial de 737,57€, vencido em 8.6.2018, no montante parcial de 395,03€, vencido em 4.9.2018, no montante parcial de 301,36€, vencido em 6.12.2018, no montante parcial de 497,68€, vencido em 30.8.2019, no

montante parcial de 484,55€, vencido em 2.12.2019, no montante parcial de 638,90€, vencido em 11.9.2020, no montante parcial de 800,23€ e ainda a IMI vencido em 30.4.2017, no montante parcial de 71,94€ - cfr. nº 4;

- a requerida também não procedeu ao pagamento das quotizações devidas ao condomínio nos anos de 2015 e 2016 e ainda no período compreendido entre 31.3.2017 e 31.3.2018 nos valores mensais de 11,47€ e 12,00€, tal como não pagou a sua quota-parte nas despesas realizadas com as obras no edifício … no valor de 464,03€ - cfr. nºs 7, 10, 11, 14, 15 e 16.

Constata-se assim que a requerida tem contribuições em dívida à Segurança Social há quase dez anos por remontarem ao período compreendido entre setembro de 2011 e dezembro de 2013.

Tem igualmente dívidas à Autoridade Tributaria que se vêm acumulando ao longo dos anos de 2015 a 2020, sendo que parte delas se referem ao não pagamento de taxas de portagem relativas à circulação por vias concessionadas, situando-se em valores pouco significativos.

Como pouco significativos são os valores em dívida correspondentes a IVA e a IMI e ainda as quotizações mensais a pagar ao Condomínio C… em montantes de 11,47€ e 12,00€.

Tal como se entendeu na sentença recorrida, a dificuldade que a requerida vem evidenciando ao longo dos anos - e estamos a referir um espaço temporal que se aproxima da década – no pagamento de quantias de tão pouca expressão, como são as respeitantes às taxas de portagem e às quotizações do condomínio, não deixa dúvidas quanto à sua falta de liquidez e à incapacidade em gerar receitas.

Aliás, é importante sublinhar que a requerida nem sequer fez prova de que desde 2015 até ao presente tenha pago qualquer quantia a título de quotizações mensais devidas ao condomínio, apesar do seu baixo montante. Por outro lado, se existe todo um largo conjunto de dívidas, algumas delas já bastante antigas, à Autoridade Tributária e à Segurança Social, também se terá

de atentar em que a requerida não apresentou junto da Autoridade Tributária as suas declarações de IES[12] referentes aos exercícios de 2019, 2018 e 2017, nos prazos legalmente previstos para esse efeito, tendo-o feito apenas em 22.12.2020, depois de o Tribunal a notificar para juntar tais documentos aos autos, tal como não depositou as suas contas na Conservatória de Registo Comercial referentes aos anos de 2017, 2018 e 2019 (cfr. nºs 26 e 27).

Assim, neste contexto factual, o valor e a antiguidade da generalidade das dívidas que a requerida contraiu perante a Segurança Social, a Autoridade Tributária e o condomínio C… levam-nos a extrair a conclusão de que estas situações de falta de cumprimento de obrigações, pelas circunstâncias em que este ocorre, onde não é despiciendo salientar a dificuldade que é evidenciada no pagamento de quantias de valor pouco significativo, revelam a impossibilidade do devedor satisfazer pontualmente a generalidade das suas obrigações.

Por conseguinte, tem-se por verificado o facto presuntivo a que alude a alínea b) do nº 1 do art. 120º do CIRE, o que imporá a declaração de insolvência da requerida.

No documento Data do documento. 27 de abril de 2021 (páginas 31-34)

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