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Por que atitudes favoráveis à inclusão são importantes para práticas mais

Acompanhamos nas discussões anteriores os fatores que podem influenciar a formação de atitudes das pessoas e o quão podem ser resistentes a mudanças a depender do enraizamento das cognições, emoções a ela ligadas. Foi possível notar ainda que a psicologia social dispendeu muitos estudos em busca de compreender as atitudes e vimos que as “atitudes envolvem o que as pessoas pensam, sentem, e como elas gostariam de se comportar em relação a um objeto atitudinal” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2010, p. 85). Assim, pressupõem-se que haja uma relação direta entre a atitude que se possui diante de um objeto atitudinal e a ação a ser tomada com base nessa atitude. Uma atitude favorável a determinado objeto parece predispor uma ação também favorável, ou seja, as atitudes estão relacionadas à condução das ações de uma pessoa e, dessa forma, essas ações são diretamente afetadas pelo tipo de atitude que essa pessoa possui (RICHARDSON, 1996).

Em uma revisão da literatura Avramidis e Norwich (2002) elencaram alguns fatores que emergem de estudos os quais podem influenciar as atitudes de professores com relação à inclusão escolar. Variáveis relacionadas à criança/indivíduo, variáveis relacionadas ao professor, e variáveis relacionadas ao ambiente escolar.

As variáveis com relação à criança concentram-se na natureza das deficiências e/ou desafios educacionais oriundos das deficiências. Os autores destacam pesquisas que mostram professores demonstrando maior cautela em aceitar a inclusão de alunos com deficiências mais moderadas do que aqueles com deficiências mais severas, como a intelectual, visto que essas exigem maiores capacidades de instrução, segundo eles. E nesse sentido as atitudes mais favoráveis dependem do nível de comprometimento desencadeado pela deficiência.

Com relação ao professor, embora ainda inconclusivas algumas pesquisas apontem que fatores como sexo, idade, tempo de experiência de ensino, nível de ensino, contato com pessoas com deficiência e outros fatores de personalidade, que podem impactar na aceitação da inclusão pelo professor (AVRAMIDIS, NORWICH, 2002).

Os autores apontam ainda a variável relacionada ao ambiente escolar e nesse sentido pontuam que a (in) disponibilidade de serviços podem comprometer as atitudes dos professores frente à inclusão, sendo que tais serviços incluem recursos físicos e humanos. E para essa variável os autores chamam a atenção, visto que uma reestruturação significativa do ambiente escolar deve ocorrer para que a inclusão ocorra mais efetivamente.

As atitudes são responsáveis por dirigir as ações sociais de um indivíduo, e conhecer essas atitudes pode permitir interferir a respeito da predição e do controle do comportamento de uma pessoa (KRECH; CRUTCHFIEL; BALLACHEY, 1975). Assim, se conhecemos as atitudes de um professor com relação à questão da deficiência e da escolarização de estudantes com deficiência no ensino comum é possível predizer qual será o comportamento desse professor quando em sala de aula com esse aluno PAEE e ainda, esse conhecimento pode permitir planejar abordagens e intervenções, de modo a se trabalhar com esse professor de modo a evitar ou minimizar uma postura negativa frente à inclusão escolar.

Dentre vários fatores envolvidos no estabelecimento de uma educação inclusiva bem sucedida, estudos destacam que as atitudes dos professores em relação à inclusão podem ser um elemento crucial, visto que os professores são atores de suma importância para a implementação da educação inclusiva (MARKOVA, 2015; SMITH, 2000; CARROLL; FORLIN; JOBLING, 2003). Sendo estes os responsáveis por orientar o comportamento, as atitudes podem influenciar positivamente ou negativamente sob a inclusão bem sucedida a depender do quão favorável à inclusão o professor possa ser e para além de influenciar a prática do professor em sala de aula, a aprendizagem também pode ser afetada (GREENE, 2017; SALEM, 2013).

Dessa forma, “como as atitudes consistem em aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais, as atitudes negativas dos professores podem incitar expectativas mais negativas” (MARKOVA et al., 2015, p. 4). Segundo Avramidis, Bayliss e Burden (2000) as atitudes dos professores podem ser uma barreira para o processo de inclusão de alunos com deficiências e estudos tem mostrado o potencial de cursos de longa ou curta duração em promover mudanças de atitudes com relação à inclusão em professores em formação (SHARMA; NUTTAL, 2015).

Dessa forma, há de se inferir que professores com atitudes favoráveis à inclusão tenderão a buscar estratégias mais diversificadas e com maior potencial para promover o acesso ao conhecimento de todos os alunos. O desafio posto é, então, o de promover essa construção de atitudes cada vez mais favoráveis durante a formação desses profissionais, ou em alguns casos promover a mudança de atitudes menos favoráveis e negativas.

No entanto, vimos na literatura o quão difícil pode ser promover essa mudança visto que preconceitos e concepções podem estar enraizados desde muito tempo. Talvez a construção e remodelagem de cursos pautados nos mecanismos da psicologia social ou talvez

maior contato com o objeto atitudinal, no caso as pessoas e estudantes com deficiência. Nesse caminho, pode ser que “a formação de professores é mais efetiva quando se usam demonstrações concretas em vez de apresentações verbais ou abstratas” (EADSEN, 2011, p. 34). Essa colocação é justamente feita quando se refere a uma experiência realizada em Portugal na qual licenciandos em formação para atuar na escola regular foram expostos a uma série de situações de sensibilização e postos no papel da pessoa com deficiência. Segundo o relato, essa experiência permitiu a familiarização com as barreiras impostas e enfrentadas diariamente e ainda vivenciadas acerca da reação da sociedade, e dessa forma, há uma potencial promoção de reflexão. Para os autores os estudantes “Tornam-se defensores dos direitos das pessoas com deficiência, com base em reflexões escritas sobre as suas experiências” (p. 34). Seria essa uma alternativa a se testar? Entendemos que ser “fundamental e necessária a mudança do olhar desses profissionais, principalmente quando se leva em conta a referência que os professores podem exercer sobre seus respectivos alunos” (SOUZA; PEREIRA; LINDOLPHO, 2018, p. 124).

Entendemos que a importância de se investigar as atitudes dos professores em formação bem como estratégias de se obter mudanças nas atitudes desfavoráveis à inclusão encontra-se no fato de que se o professor ao concluir sua formação inicial e iniciar as atividades da profissão docente com confiança e atitudes positivas em relação ao ensino inclusivo possivelmente refletirá no uso de práticas inclusivas mais bem sucedidas e a continuidade dessas práticas (WOODCOCK; HEMMINGS; KAY, 2012).

Diante das abordagens exemplificadas com base nos autores sobre a formação e mudança de atitudes sociais podemos refletir e nos questionar se os estudos podem direcionar para potenciar abordagens em cursos de formação de professores de modo a promover uma construção de atitudes favoráveis à inclusão escolar de estudantes do público-alvo da Educação Especial nesses profissionais.

Qual abordagem adotar para que a mensagem acerca da educação inclusiva atinja o alvo? E se atingir, como descontruir pensamentos preconceituosos? Seria a convivência com pessoas com deficiência favorável a formação dessas atitudes? Essas são questões a serem mais bem exploradas em estudos sobre atitudes sociais, inclusão escolar e formação de professores?