• Nenhum resultado encontrado

Por que índices são baixos

No documento NÚCLEOS E GRUPOS DE PESQUISA (páginas 30-33)

Estudos realizados em países avançados da Europa, e também nos Estados Unidos, revelaram que os índices de participação feminina no campo da pesquisa nas ciências exatas e da natureza continuavam a ser, muitas vezes, bastante baixos no início do século XXI. Apesar de esforços terem sido empreendidos no sentido de ampliar essa participação.

Na atividade acadêmica, nos grandes centros de pesquisa e nos laboratórios de prestígio internacional, nos congressos mundiais organizados por sociedades científicas de prestígio chamava atenção a reduzida presença feminina em deter- minadas áreas do conhecimento.

Que razões explicariam o fato de que apesar das significativas conquistas ob- tidas pelas mulheres graças à ação do movimento feminista, no que se refere à

ciência e à tecnologia, não foram ainda superadas muitas dificuldades, incompre- ensões, diferentes formas de discriminação, estereótipos.

Essas razões foram debatidas pelas próprias mulheres que atuam no campo da pesquisa científica e tecnológica, em diferentes oportunidades. No Brasil, vários encontros foram realizados para debater o assunto. Um dos primeiros, na PUC-RIO (organizados pelo NEM) no início dos anos 90. Mais de dez anos depois, conferências realizadas em fins de 2004 e início de 2005 revelaram que as mesmas razões apontadas antes ainda persistiam, embora algumas vezes ligeiramente atenuadas.

Vejamos algumas dessas “supostas” razões. Persiste a idéia de que a mulher “não gosta”, não tem “vocação” para a carreira científica, não tem a mesma “ca- pacidade” que o homem para o raciocínio abstrato, não é capaz de “conciliar” atividade científica com a responsabilidade pela família e pelos filhos, é domina- da pela “emoção”, não pela razão. Existem outras explicações. Faltam incentivos e informação que contribuam para orientar as mulheres na direção da escolha por uma carreira científica. Ocorre que elas não são estimuladas a vencer bar- reiras e visualizar um futuro profissional a mais longo prazo, no espaço de uma sociedade ainda patriarcal, na qual persistem valores e comportamentos às vezes muito convencionais.

Em seus depoimentos, nos encontros e nas conferências, as cientistas revelam que tais “argumentos” resultam em variadas formas de discriminação nem sempre percebidas por muitas mulheres. A comprovação de como essas falsas razões e justificativas influenciam as meninas na hora da escolha de uma profissão pode ser feita através das proporções ainda insatisfatórias de estudantes do sexo femi- nino em muitas áreas científicas consideradas “difíceis” ou inadequadas para as mulheres. Muitos alegam que a mulher, por sua natureza, tem mais aptidão para ciências humanas e sociais – falam em emotividade, sentimento, amor materno, família, menor propensão para um trabalho árduo, como o da Ciência.

A própria família contribui para desestimular a escolha por profissões ainda hoje consideradas mais adequadas para os homens. Ou seja, o papel muitas vezes inibidor desempenhado pela família, no desestímulo à escolha de uma profissão considerada “masculina”. Continua a persistir a imagem de que existem profissões “femininas” – isso explica a predominância absoluta de alunas em cursos como enfermagem, nutrição, psicologia, ou em especializações dentro de uma determi- nada carreira (Medicina, por exemplo, em que as mulheres se especializam em áreas que teriam mais a ver com os problemas enfrentados pela mulher, como ginecologia, obstetrícia ou pediatria.

As interpretações distorcidas de possíveis diferenças biológicas, como por exemplo a alegada passividade da mulher e a sua falta de aptidão para se desen- volver em algumas áreas da ciência, que manifestam a influência da família, da es-

cola e da sociedade em geral, resultam numa presença muito menor de mulheres na área das ciências, principalmente exatas e tecnológicas.

Por outro lado, as escolas oferecem pouca ou nenhuma informação sobre em que consiste a atividade científica, sobre a especificidade de cada uma das carrei- ras. Apesar de existirem, em muitas escolas, orientadores pedagógicos e coordena- dores de áreas científicas.

Dados estatísticos revelam que apesar da participação cada vez maior de mu- lheres em atividades acadêmicas e de pesquisa, elas ainda são minoria no topo da carreira e raramente ocupam postos de destaque. E apesar de o Censo de 2004 do CNPq (Diretório dos Grupos de Pesquisa) ter divulgado que o número de mulheres envolvidas em pesquisa era maior do que o de homens, o fato é que no que se refere às bolsas de produtividade, a maioria dos bolsistas ainda é do sexo masculino. As mulheres predominam entre os pesquisadores mais jovens (até 29 anos). Acima dos 30 anos, são os homens, que também predominam nas Ciências Exatas e da Terra e nas Engenharias.

Mulheres cientistas que participam de congressos e conferências incluem entre as razões dos baixos índices o casamento, os filhos, as dificuldades de atingir o topo da carreira, a baixa remuneração em vista do investimento feito, o medo da pressão social. Por outro lado, deve ser mencionado o fato de que faltam institui- ções públicas em número suficiente (creches, parques infantis, jardins de infância) que contribuam para facilitar à mulher o exercício de uma profissão – a pesquisa científica – que exige total dedicação.

A maternidade pode ser aceita como uma das possíveis explicações para a re- dução do número de mulheres acima dos 30 anos, supondo-se que algumas são obrigadas a cuidar de filhos pequenos e levadas a interromper a carreira por alguns anos. No entanto, a proporção de mulheres cientistas dificilmente ultrapassa os 30% e em algumas áreas específicas é ainda menor. E nas categorias mais altas de bolsas de pesquisa, segundo classificação utilizada pelo CNPq, apesar de que muitas mulheres dão uma contribuição individual importante e constituem às vezes quase metade dos cientistas em atividade, no topo da carreira os percentuais são muito baixos, para o sexo feminino.

Na realidade, as mulheres são maioria nas bolsas de iniciação científica, na base da pirâmide, mas sua presença vai-se afunilando, à medida que nos aproxi- mamos daquele topo.

Um outro “mito” não confirmado refere-se à questão da produtividade. Al- guns alegam que as mulheres casadas e com filhos seriam menos produtivas que os homens, uma vez que teriam que atender a encargos familiares. Nos encontros realizados na PUC-Rio foi traçado um “perfil” das cientistas presentes e verificou- se que menos de metade não tinha filhos e 20% possuíam três ou mais filhos. Do

total, 60% tinham filhos. E havia mulheres dedicadas à pesquisa científica há 30 e até 40 anos. Pelo menos um terço havia publicado livros e artigos científicos no exterior, além das publicações no país. Mas apesar de sua elevada qualificação, em termos de titulação acadêmica, muito poucas tinham tido a oportunidade de exercer cargos de chefia e direção.

No documento NÚCLEOS E GRUPOS DE PESQUISA (páginas 30-33)