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Porcentagem da população que vive em domicílios sem instalações adequadas de esgoto.

No documento TEXTOS PARA DISCUSSÃO UFF/ECONOMIA (páginas 33-37)

A porcentagem da população que vive em domicílios sem instalações adequadas de esgoto também foi obtida com base nas PNADs. As estimativas que serão analisadas aqui consideram a porcentagem da população que vive em domicílios particulares permanentes, sem acesso a instalações adequadas de esgoto. A pesquisa considera como instalações adequadas àqueles domicílios que têm banheiro de uso exclusivo e com escoadouro conectado a rede coletora de esgoto ou pluvial, ou a uma fossa séptica ligada ou não a uma rede coletora.

A Tabela 11 mostra que, em 2003, 34% da população brasileira vivia em domicílios sem instalações adequadas de esgotamento sanitário. Em 1981 essa porcentagem era 62%, significando uma redução de 28 pontos percentuais no período. As disparidades entre estados ainda são elevadas, conforme podemos ver no Gráfico 12, com apenas os estados das regiões Sul e Sudeste, além do Distrito Federal, situando-se abaixo da média brasileira. Alguns estados como Tocantins e Alagoas a meta a ser atingida até 2005 encontra-se ainda a 35 pontos percentuais de distância a partir de 2003; A distância a ser percorrida pelo Mato Grosso do Sul é ainda maior, 40 pontos percentuais. Pernambuco, Ceará, Paraíba e Goiás precisam eliminar ainda distâncias entre 25 e 30 pontos percentuais.

Com relação à convergência entre as regiões brasileiras ao longo desse período, as disparidades entre as regiões aumentaram em cerca de 10 pontos percentuais. De fato, em 1981, a distância entre a região com o melhor indicador e aquela com o menor indicador era de 50 pontos percentuais; em 2003 essa distância havia aumentado para 60 pontos percentuais.

Gráfico 12: Porcentagem da população que vive em domicílios sem instalações adequadas de esgoto nos estados Brasileiros

1990, 2003 e Meta para 2015 84,0 81,0 56,0 58,0 61,0 55,0 58,0 59,0 42,0 49,0 5,0 54,0 65,0 86,0 27,0 31,0 14,0 9,0 24,0 35,0 19,0 24,5 34,0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 65,0 70,0 75,0 80,0 85,0 90,0 95,0 100,0 Toca ntins Alag oas Piauí Mar anhã o Pern ambu co Bahí a Cear á Para íba Serg ipe R. G rand e Do Nor te Distr ito F eder al Mat o Gr osso Goiás Mat o Gr osso Do Sul Mina s Ger ais Espí rito Sant o Rio de Ja neiro São Paulo Rio Gran de D o Su l Para ná Sant a Ca tarin a Estados do Brasil % 1990 2003 Total Nacional 2003 Meta Nacional 2015 Sudeste

Nordeste Centro - Oeste Sul

Norte

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Nota: Apenas para o Estado do Tocantins são coletadas informações tanto para a área rural quanto urbana.

Com relação aos estados, podemos observar uma aproximação entre os estados das regiões Centro-Oeste, onde a distância entre o estado com o melhor indicador e aquele com o pior caiu em 45 pontos percentuais, entre os estados da região Sudeste, onde essa distância caiu em 8 pontos percentuais, e entre os estados da região Sul, onde essa distância caiu em 4 pontos percentuais. Entre os estados da região Nordeste, no entanto, não houve convergência com respeito a esse indicador. De fato, a distância entre o estado com o melhor indicador e aquele com o pior aumentou em 18 pontos percentuais ao longo de todo o período.

3. Sumário e principais conclusões

Em pleno século XXI podemos ainda encontrar milhares de pessoas vivendo em condições de extrema pobreza, apesar de todo o crescimento econômico e de todas as transformações pelas quais a política social brasileira vem passando, contando hoje com novos desenhos e estratégias, e apresentando grande variedade de programas sociais modernos e descentralizados.

A luta por melhores condições de vida para a população nas regiões menos desenvolvidas tem tido grande ênfase nas últimas décadas. O objetivo é reverter o quadro de extrema pobreza, fome, analfabetismo e doenças que afetam milhares de pessoas. O sentido de urgência torna-se ainda maior quando observamos que a origem do elevado grau de pobreza não é a falta de recursos (absoluta ou relativa) de nosso país, mas sim o fato de que estes recursos encontram-se concentrados nas mãos de uma pequena parcela da população. O

Brasil, longe de poder ser considerado um país pobre é, seguramente, um país com muitos pobres. Portanto, a existência de recursos é importante mas não é suficiente para reverter esse quadro. A elevada desigualdade na distribuição da renda (estável ao longo das últimas décadas) constitui o principal determinante da pobreza em nosso país.

Além de possuir os recursos necessários para reverter esse quadro, nosso país não gasta pouco na área social – são cerca de 200 bilhões de Reais ao ano. Os indicadores sociais, contudo, não refletem toda essa riqueza, revelando uma política social muito pouco efetiva, apesar de todo o seu dinamismo.

Em verdade, as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM) constituem mais uma oportunidade para refletirmos sobre que país se quer construir. Hoje, esse é um país de grandes desequilíbrios. Quando observamos o país como um todo, este já atingiu ou estar prestes a atingir várias das metas estabelecidas internacionalmente, mas quando focamos nossa atenção nas regiões e estados brasileiros, observamos que as disparidades regionais ainda são alarmantes, e que o esforço necessário para que esses estados venham a cumprir as metas estabelecidas parece inatingível.

Apesar da porcentagem de pobres estar diminuindo, ainda que lentamente, a parcela da renda nas mãos dos mais pobres – que reflete o grau de desigualdade na distribuição dos recursos – caiu entre 1981 e 2001. Ou seja, a porcentagem de pessoas abaixo da linha de extrema pobreza é elevada e vem caindo lentamente, e a parcela da renda apropriada por esse grupo, quando não está estacionada, está diminuindo. Assim, muitos estados não vão conseguir atingir a meta de redução da extrema pobreza em função do seu elevado nível de desigualdade na distribuição da renda.

Em educação, a distância da taxa de conclusão do primeiro grau à meta estabelecida para 2015 é hoje de 40 pontos percentuais, sendo que para a metade dos estados brasileiros esse hiato ultrapassa os 50 pontos percentuais. Assim, apesar do acesso à escola estar praticamente universalizado, o desafio pela frente é aumentar o número de crianças que concluem o primeiro grau, sem esquecer, obviamente, da qualidade do ensino pois, apesar das crianças estarem freqüentando a escola tanto nos estados do Nordeste quanto nos estados do Sul, isto é, apesar das diferenças na taxa de freqüência à escola serem mínimas, quando observamos os indicadores de qualidade, as diferenças ainda são alarmantes. Por exemplo, a freqüência à escola de crianças de 7 a 14 anos em Pernambuco e em Santa Catarina é de, respectivamente, 98% e 99%, ao passo que a taxa de analfabetismo de crianças entre 10 e 14 anos nestes mesmos estados é de 9,8% e 0,4%. Ou seja, a diferença entre os dois estados em termos da freqüência à escola é de 1 ponto percentual, ao passo que a diferença entre eles com respeito à taxa de analfabetismo é de mais de 9 pontos percentuais.

No que diz respeito aos indicadores de saúde e saneamento, o Brasil ainda está longe de se encontrar em situação confortável em termos do nível de mortalidade infantil, da incidência das várias doenças analisadas como a AIDS, Tuberculose, Malária e Hanseníase, e do acesso aos serviços de água e esgotamento sanitário. Ou seja, os níveis destes indicadores que prevalecem ainda em grande parte dos estados brasileiros demonstram total incompatibilidade com o nível de desenvolvimento socioeconômico do país.

Em suma, o Brasil apresenta grandes diferenças regionais que precisam ser eliminadas. Evidentemente, o fato dos indicadores em grande parte dos estados do Norte e do Nordeste ainda se encontrarem bem abaixo dos indicadores observados nas demais regiões, apesar de

toda a convergência observada nos últimos vinte anos, revela uma oportunidade para o país atingir as metas estabelecidas, uma vez que é mais fácil melhorar o nível dos indicadores nestas regiões do que naquelas onde estes indicadores já estão próximos dos objetivos. Portanto, o país deveria concentrar seus esforços para melhorar os indicadores nas regiões Norte e Nordeste, aumentando, desta forma, as chances de todos os seus estados atingirem as metas estabelecidas para 2015.

Vale ressaltar, por fim que, apesar da riqueza de informações existente no país, ainda é fundamental empreender esforços para a melhoria da qualidade das informações, principalmente nas regiões Norte e Nordeste onde a cobertura ainda é extremamente precária. Essas dificuldades na obtenção de informações adequadas dificultam sobremaneira conhecer a diversidade dos problemas e sua magnitude e, portanto, dificultam o desenho de políticas voltadas para a solução dos problemas.

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