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Capítulo 3 Conta Satélite de Turismo Regional

3.3 Porque Surgiu?

O aparecimento da CST a nível regional deve-se sobretudo, ao crescente interesse na obtenção de dados económicos relativos ao turismo, quer nas grandes regiões transnacionais económicas, tal como a União Europeia, assim como nas organizações e associações internacionais (OMT, WTTC, OECD, etc.), até às pequenas unidades

2Modelo Bottom-up é um método estimação ascendente, através do qual os dados nacionais são estimados a partir de fontes de dados regionais existentes.

Conta Satélite de Turismo para as Economias Regionais 49 geográficas, incluindo regiões turísticas e pequenas comunidades. Por outro lado, algumas empresas prestadoras de serviço de turismo, nomeadamente hotéis, aeroportos, empresas de transportes, também começam a manifestar interesse em saber mais sobre a importância relativa do seu ramo em particular, na indústria turística (OMT, 1999b). O Turismo, por si só, constitui um fenómeno “desigualmente concentrado” em qualquer país, sob a perspetiva quer da procura, quer da oferta (OMT et al, 2008: 97), surgindo de facto, casos de elevada disparidade em termos de atuação e desenvolvimento económico das regiões (MacFeely, 2008), facto que tem implicações para a análise dos impactos económicos, assim como para a alocação de recursos, e para a própria avaliação e monitorização adequada da atividade turística (Jones, 2008). Assim, a avaliação do impacto económico do sector do turismo é algo de elevada importância, na medida em que as estatísticas do turismo têm um papel relevante no desenvolvimento do sector quer a nível nacional, quer a nível regional (OMT, 1999b).

Segundo o Sistema Europeu de Contas (ESA, 1995) a economia regional de um país é parte da economia total desse país, valorizando deste modo a vertente regional no sistema turístico, ao mesmo tempo que Konttinen (2006: 2) afirma que o “Turismo não acontece em países, acontece em lugares”.

Tal como acontece no contexto nacional, o “peso” económico do sector do turismo não é facilmente identificável nas Contas Económicas Regionais (quando existentes), visto que esta atividade exerce impactos em diversos ramos de atividade que não são contabilizados como parte integrante do sector do turismo, surgindo deste modo, a necessidade de desenvolver CST regionais e, através delas, conseguir identificar e isolar a componente turística da atividade económica de cada região (DREM, SREA, & ICE, 2008). Contudo, segundo Frechtling (2001) a elaboração da CST a nível regional pode constituir um risco se, antes desta, não for desenvolvida e aperfeiçoada a CST a nível nacional, pois tal como já foi referido, não existe um manual de apoio ou normas de elaboração desenvolvidas para o propósito da CST regional.

De acordo com a OMT et al (2008: 105), existem diversas razões para incentivar a adaptação da CST a nível regional:

• Tendência mundial para a descentralização do poder político e, sobretudo, da gestão descentralizada dos recursos nacionais por regiões, municípios, localidades, etc., surgindo a necessidade de uma melhor integração e organização da informação (estatística) regional e local;

Conta Satélite de Turismo para as Economias Regionais 50 • Natureza multifacetada das atividades turísticas, a qual pode potencialmente

beneficiar as áreas rurais em direção à diversidade, assim como as áreas negligenciadas;

• Desigualdade na distribuição geográfica e das características da atividade turística no território nacional;

• Necessidade de melhorar a alocação de recursos nas economias nacionais e regionais, que só pode ser alcançado através da modernização de referências quantitativas e medição dos impactos económicos;

Por outro lado, segundo as OMT et al (2008), o gradual interesse no desenvolvimento da CSTR, por parte dos países, decorre das características específicas do turismo e da sua importância ao nível de cada região do país, assim como das diferentes necessidades das entidades gestoras do turismo regional, tal como é possível verificar na Figura 3.1.

Figura 3.1: Importância atribuída à CST regional Interesse dos países no desenvolvimento da CST regional:

a) Necessidade de destacar ou enfatizar a importância das características específicas das regiões como destinos turísticos

b) O facto de que as características e padrão de despesa dos visitantes podem variar bastante de região para região

c) Necessidade de criar políticas para atrair visitantes (definir mercado-alvo) e investimentos (infraestrutura necessária) que sejam específicas para os objetivos regionais

d) Necessidade de adaptar as classificações de produtos característicos do turismo e de indústria turística através da incorporação de mais detalhes, quando necessário, preservando ao mesmo tempo, a estrutura geral de classificação

e) Necessidade de efetuar comparações no turismo, nomeadamente em termos do número de visitantes, as suas características e despesas, assim como entre regiões e entre os níveis regional e nacional

Fonte: OMT et al (2008)

É notável a semelhança destas necessidades com as vantagens da CST regional, enumeradas no subcapítulo 2.1, na medida em que se verifica cada vez mais a importância e necessidade atribuída ao desenvolvimento da CST, assim como o facto de a sua implementação ir de encontro com as necessidades das diversas regiões.

Pham et al (2010) defende que o crescente envolvimento dos governos na gestão e planeamento do turismo conduziu a uma forte preocupação com a preservação e organização das estatísticas económicas deste sector, a serem disponibilizadas inclusive no âmbito regional, na medida em que a CST nacional não permite, de facto, avaliar a importância do turismo para as diversas regiões, ou fornecer qualquer orientação face ao seu potencial como ferramenta importante para o desenvolvimento regional.

Conta Satélite de Turismo para as Economias Regionais 51 Atualmente, são inúmeras as regiões que procuram desenvolver estudos económicos de forma a quantificar a importância e o significado que o turismo tem para a sua economia (Jones et al, 2003, 2009; Cunha, 2006), enquanto alguns países limitam-se a “regionalizar” a conta satélite de turismo desenvolvida a nível nacional (Jones & Munday 2010). Um problema que se pode enfrentar ao “desenhar” a conta satélite regional de um país, com base nas principais conclusões retiradas da conta satélite de turismo nacional é que surgem elementos, nomeadamente da oferta turística nacional, que não existem na maioria das regiões periféricas com infraestruturas físicas e sociais escassas (Jones, 2008) e, além disso, são adaptadas variáveis da Conta Satélite do Turismo nacional com pouco rigor e consistência (Jones, 2008). Contudo, nos últimos anos têm vindo a ser desenvolvidas ferramentas que, paralelamente, à Conta Satélite do Turismo nacional, fornecem dados e resultados económicos para áreas regionais, nomeadamente, sistemas de contabilização regional para o sector turístico.