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“Tudo acontece no meio” (LATOUR, 2013, p. 43). Talvez uma das expressões que mais caracteriza as ações realizadas numa unidade de internação para adolescentes. Por um lado, tem-se a legislação, os documentos, as normativas

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A instituição total tende ao fechamento. Seu fechamento ou seu caráter total é simbolizado pela barreira à relação social com o mundo externo e por proibições de saída. Além de existir regras claramente definidas, grupos e supervisores, e controle das informações (GOFFMAN, 2007). O novo ordenamento dado pelo ECA, sobre a interdependência das políticas sociais, destaca no artigo 94, parágrafo 2º que, sobre as obrigações das entidades que desenvolvem programas de internação, estas deverão utilizar, preferencialmente os recursos da comunidade, de forma que ela busque o não fechamento, a não institucionalização total. No entanto, esse aspecto também se constitui uma dicotomia, uma condição a ser superada.

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Na mitologia grega Minos é um rei Creta. Ariadne é filha do rei que se apaixonou por Teseu, herói que decidiu livrar Atenas do tributo devido à Creta. E com esse objetivo foi mandado à cidade como sacrifício ao Minotauro que habitava o labirinto. O labirinto foi bem projetado por Dedalo, pois quem se aventurava por ele não conseguia mais sair e era devora pelo Minotauro. Ariadne, a fim de ajudar Teseu a enfrentar o Minotauro, lhe deu uma espada e um novelo de lã para marcar o caminho. Assim, Teseu matou o Minotauro, saiu do labirinto e salvou seus companheiros. Essa expressão “Fios de Ariadne” pode ser usada no sentido seguir, perseguir, acompanhar, conduzir acontecimentos (MARCARELLO; BARROS, 2016).

que orientam, estabelecem, fazem a agir, ou seja, as coisas, os objetos; Por outro, o Estado, a Secretaria, a coordenação estadual, os adolescentes, a estrutura física, que orienta, estabelece, faz agir; Mas, no centro não há essa separação, no meio as coisas se misturam, é a rotina viva, é o dia a dia sendo vivido. Os vínculos se estabelecem, os conflitos emergem, os actantes não param de „tagarelar‟.

A opção foi entrar pelo meio desdobrando a rede a partir dos elementos que fazem cada um dos atores a agir. Assim como, aspectos presente na estrutura física, nos equipamentos, nos documentos e normativas, na composição do quadro de profissionais e na característica dos adolescentes atendidos, cada ator fala, age e faz outros agirem. Porquanto, apresenta-se o Centro de Socioeducação de Pato Branco, cujas informações foram buscadas no Projeto Político Pedagógico da unidade, atualizado no mês de dezembro de 2016.

O Cense de Pato Branco é uma instituição de atendimento às medidas socioeducativas de internação e internação provisória mantida pela Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos sob a coordenação do Departamento de Atendimento Socioeducativo (DEASE). Tem a capacidade de atender 18 adolescentes (possui 18 camas), em privação de liberdade. Está localizado no município de Pato Branco, região sudoeste do Estado do Paraná. O edifício está inserido no pátio da Subdivisão Policial de Pato Branco (5ª SDP).

O Cense atende adolescentes oriundos da Comarca de Pato Branco e, de outras comarcas (via Central de Vagas), nos programas de internação provisória, internação e internação por descumprimento de medidas anteriormente aplicadas. A internação provisória (Artigo 108 e § único do Estatuto da Criança e do Adolescente) é um procedimento aplicado antes da sentença, quando há indícios de autoria e materialidade do ato infracional cometido pelo adolescente, com duração de até 45 (quarenta e cinco) dias.

A Internação (Artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente) é a medida privativa de liberdade aplicada ao adolescente após sentença judicial, quando o ato infracional foi praticado mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou se houve reincidência na prática de atos infracionais graves. A internação por prazo indeterminado é de seis (06) meses até três (03) anos.

A internação por descumprimento de medidas anteriormente aplicadas – conhecida por internação-sanção (Artigo 122, inciso III e § 1º do Estatuto da Criança

e do Adolescente), é aplicada quando há o descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta, não poderá ser superior a 03 (três) meses.

A história moderna atribui as mudanças como rupturas e cortes epistemológicos. Contudo, Latour (1994) aponta as revoluções não como ações pontuais e abruptas que rompe com o passado, mas como processo. E esse processo o autor representa como uma espiral, e assim deixa de ser linear e é mais bem entendida por esta imagem: o passado contido e protegido e o futuro representado por um círculo em permanente expansão. Nessa imagem, algo mais antigo pode estar muito mais próximo do presente do que algo que ocorreu há menos tempo. “Cada volta da espiral define um novo coletivo [...]. O coletivo em permanente renovação que se organiza em torno das coisas em permanente renovação [porque] jamais deixou de evoluir” (LATOUR, 1994, p. 84).

O Cense está se constituindo por meio de seus contrastes, uma arquitetura adaptada, um quadro de servidores não adequado e uma legislação avançada para esta realidade. A trajetória do atendimento a adolescente privados de liberdade sofreu mudanças na legislação, no entanto a adequação desse atendimento às expectativas da lei, em especial ao Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e ao Sinase (2012) não ocorre de maneira imediata. Mas, por meio de avanços e retrocessos, no movimento dos actantes. Sem movimento não há Rede.

Considerando esse processo, na sequência apresenta-se um breve histórico da instituição, na qual é possível visualizar algumas mudanças na gestão e na execução da medida socioeducativa.

O Cense de Pato Branco iniciou suas atividades em 1º de setembro 1997 com capacidade de atendimento para 18 adolescentes, doze masculinos e seis femininos em cumprimento de internação provisória. Nos primeiros anos de funcionamento, 1997-2003, a gestão do trabalho e controle de vagas era coordenada pela Prefeitura Municipal de Pato Branco, pela Secretaria da Ação Social e Cidadania, por meio de um Consórcio Intermunicipal.

Para manter as despesas da Instituição, o repasse financeiro era deliberado pelo Instituto de Ação Social do Paraná (IASP) e o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e Adolescente (CEDCA) com recursos do Fundo para a Infância e Adolescência (FIA). Por meio de Termo de Cooperação Técnica e Financeira, eram repassados os recursos necessários para o município, que era então, o responsável pela execução do atendimento de adolescentes (MORAES, 2010).

Como não existiam espaços para o atendimento dos adolescentes que cometiam atos infracionais nos municípios da região, após a apreensão eram encaminhados para o município de Pato Branco, o qual era sede do convênio e possuía uma estrutura para atendimento. Na ocasião o Serviço de Atendimento Social (SAS), como era denominado, possuía uma equipe composta por cinco funcionários vinculados à Prefeitura Municipal de Pato Branco. O responsável pela unidade era denominado Coordenador Geral e contava com o apoio de quatro monitores. A partir do ano de 2004 o IASP assumiu a coordenação com recursos humanos próprios provenientes de teste seletivo público. No mesmo ano o prédio foi reformado e reinaugurado com nova direção. E a partir daí o IASP inicia a implantação de uma proposta pedagógica e de manutenção das unidades do Estado do Paraná (MORAES, 2010).

No início de 2007, com o vencimento do contrato dos servidores contratados no processo seletivo, houve o ingresso dos servidores estatutários com quadro próprio e completo. Nesse período, o SAS passou a ser denominado Centro de Socioeducação (Cense) e a mantenedora, a então Secretaria de Estado da Criança e da Juventude (SECJ).

A partir de 2012, os Centros de Socioeducação do Paraná passaram a ser mantidos pela Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social (SEDS), que tinha por finalidade o desenvolvimento e a coordenação da Política Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente e abrangia também a política do Sistema de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Em 16 dezembro de 2014 os Centros de Socioeducação do Estado do Paraná passaram a ser mantidos pela SEJU – Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos.