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3. Acolhimento Institucional: complexidade da medida

3.2 Portugal em números – caracterização das crianças e jovens acolhidas

As várias investigações trazem contributos para o domínio da orientação política ao nível de programas e práticas profissionais. Mas, com todo o leque de informações é possível afirmar que os resultados dos estudos futuros podem trazer novas diretrizes ou sustentar outras práticas (Silva, 2004).

No ano de 2013, Portugal tinha 8.445 crianças e jovens no seu sistema de acolhimento, dos quais 2.253 correspondiam a novos acolhimentos6.

No reverso do acolhimento, 2.506 crianças e jovens saíram deste sistema, maioritariamente, com uma medida em meio natural de vida (91,2%).

Como expunha Martins (2005), há quase uma década atrás, já em 2005 a taxa de crianças/jovens em instituições de acolhimento era colossal.

De 2006 a 2013, houve um decréscimo de 3.800 crianças/jovens acolhidos. Tem-se vindo a verificar uma tendência de diminuição quanto ao número de crianças e jovens acolhidos, correspondendo ao período em análise um decréscimo de 31%.

Distinguindo as modalidades do sistema de acolhimento português, a distribuição de crianças e jovens faz-se, principalmente, em acolhimento institucional com 5.492 em LIJ (65%) e

5 Os dados apresentados ao longo deste ponto do trabalho são retirados dos CASA 2013 – Caracterização Anual da Situação de

Acolhimento das Crianças e Jovens, realizada pelo Instituto da Segurança Social e que descreve e interpreta as características das crianças e jovens acolhidas ou que saíram do acolhimento no período em análise.

6 Os novos acolhimentos dizem respeito a crianças e jovens que entraram ou reentraram no sistema de acolhimento no período de

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2.038 em CAT (24%), 374 em Família de Acolhimento (6,4%) e 541 noutras respostas (6,4%), como se pode constatar no gráfico seguinte:

Gráfico 1Distribuição do número de crianças e jovens pelas respostas de acolhimento

FONTE: ISS,2014

Portugal segue a mesma linha interventiva que a Alemanha e a Polónia em que o acolhimento institucional detém uma representatividade significativa. Outros países do norte da Europa, como Inglaterra, Eslovénia e Finlândia, seguem outra vertente – o acolhimento familiar (Santos, 2010). Estas intervenções são consonantes com os princípios e objetivos de cada país.

Além das respostas de acolhimento, encontram-se os Apartamentos de Autonomização (jovens em transição para a vida adulta), Centros de Apoio à Vida (adolescentes grávidas ou puérperas com filhos recém-nascidos), Comunidades de Inserção (mães adolescentes com filhos dos 0 aos 5 anos), Comunidades Terapêuticas (jovens entre 15 a 17 anos que precisam de apoio psicoterapêutico), Lares de Apoio (crianças e jovens com necessidades educativas especiais que frequentam estruturas de apoio específico longe da residência), Lares Residenciais (jovens e adultos com deficiência), Colégios de Ensino Especial (resposta especializada para quem tem necessidades educativas especiais). No entanto, o número de crianças e jovens acolhidas nestas respostas é menos significativo, contabilizando-se 541 crianças e jovens acolhidas.

Algumas das respostas apresentadas ainda não se encontram totalmente desenvolvidas. O Sistema de Acolhimento tem vindo a seguir um caminho de qualificação e especialização, todavia registam-se algumas dificuldades em assegurar especificidades das necessidades destas crianças e jovens. Paralelamente à dimensão das modalidades de acolhimento, não pode ser descurado o contexto familiar e a premência de se trabalhar a família em tempo útil e, sempre, numa abordagem preventiva (ISS, 2014).

5492 2038 374 541 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

Caracterizando estas crianças e jovens ao nível do género, encontram-se 4.330 rapazes e 4.115 raparigas (51.3% para 48.7%, respetivamente). As faixas etárias da adolescência representam a maior percentagem de acolhidos (4.742 dos 12 aos 17 anos).

A distribuição geográfica das crianças e jovens acolhidos faz-se, sobretudo, nos distritos do Porto (18,3%), Lisboa (19,3%) e Braga (7,5%). A região do Alentejo é a zona com registo de menor número de acolhimentos.

No que diz respeito aos motivos de acolhimento, as retiradas interligam-se, principalmente, com a família, nestes casos com os problemas que ocorrem na célula familiar: falta de supervisão e acompanhamento familiar, exposição a modelos parentais desviantes, negligência ao nível dos cuidados de educação e de saúde. Facilmente se depreende, que trabalhar na linha da desinstitucionalização só é possível se estas famílias forem orientadas a assumirem, plena e corretamente, os papéis parentais.

Destas crianças e jovens, 34% necessita de ser acompanhada no domínio da saúde mental. É exequível relacionar este dado com uma percentagem de 6% de debilidade ou deficiência mental e um valor de 30% de crianças e jovens com problemas de comportamento.

Quanto à duração do acolhimento, o tempo de institucionalização tem vindo tendencionalmente a diminuir ainda que em contexto institucional de LIJ, a taxa de acolhimento superior a 4 ou mais anos corresponde a 44%, isto é, quase metade dos acolhidos em LIJ passam mais de 4 anos a viver numa instituição.

Este período temporal supracitado corresponde a um período longo se se considerar que o acolhimento deve ser temporário e não assumido como projeto de vida (Gomes, 2010). As diferentes investigações têm evidenciado que quanto mais prolongado o acolhimento, mais graves serão as consequências (Martins, 2004).

Se, por um lado, o acolhimento só pode cessar quando estiverem reunidas todas as condições para uma desinstitucionalização segura e estável, por outro lado, os responsáveis pela análise dos dados dos CASA (ISS, 2014) alertam para a falta de dinamização dos Planos de Intervenção Individuais, que se traduzem em acolhimentos demasiado longos.

Focando a atenção nos Planos de Intervenção Individuais, cabe a cada equipa defini-los de forma segura e adequada à realidade específica. Dentro destes projetos, encontra-se a adoção (987 crianças), a (re)integração na família nuclear (2.363 crianças e jovens), autonomização (2.759 jovens) como os projetos mais comuns. Menos significativamente, mas igualmente importante, até porque reflete uma realidade que necessita de ser analisada e intervencionada, surge o projeto de

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acolhimento permanente. Trata-se de um acolhimento prolongado, que inclui 704 crianças e jovens que, por questões de saúde ou de incapacidades diversas associadas à ausência de suporte familiar, inviabilizam a possibilidade de ter uma vida noutro contexto que não o de uma instituição.

De forma menos expressiva, surgem os projetos relativos à reintegração familiar alargada, a confiança à 3ª pessoa e o apadrinhamento civil. Uma medida recente e, ainda, pouco divulgada.

Neste seguimento, importar referir o número de jovens com mais de 21 anos, os quais no total correspondem a 385 jovens, que não integram nenhuma medida de promoção e proteção uma vez que esta cessa impreterivelmente aos 21 anos. Entre os motivos para se manterem acolhidos, encontram-se a deficiência mental, a conclusão dos cursos, a ausência de atividade profissional, uma realidade que não lhes permite autonomizarem-se de forma segura. Quanto a este cenário preocupante, pode ler-se, nos CASA (ISS, 2014:20):

“É (…) fundamental a consolidação de respostas no interior do sistema, mas fora do âmbito da promoção e proteção, que possam garantir esta continuidade de enquadramento quando a intervenção protectora esgota o seu tempo e propósito, e para as quais estes jovens adultos possam transitar quando se identifica essa necessidade.”

Esta situação poderá ser associada à parca resposta da modalidade de apartamentos de autonomização. Nesta modalidade, os jovens são supervisionados e apoiados na sua transição para a vida independente, num contexto muito próximo à realidade que os aguarda. Deste modo, são trabalhadas as competências pessoais e sociais para a autonomia. Será que, se este trabalho abarcasse mais jovens, poderia modificar os dados anteriormente apresentados? Levanta-se esta hipótese uma vez que estes jovens, aos 21 anos, poderiam estar mais preparados para enfrentar uma nova etapa de vida.

No relatório CASA 2013 (ISS, 2014) são lançados alguns desafios quanto a estes jovens, nomeadamente a necessidade de o sistema implementar soluções adequadas através de um trabalho da rede social com a ação social geral. Nos casos da deficiência ou da doença mental, Portugal tem que ser capaz de os acolher em estruturas específicas.

Gomes (2010) apresenta, neste sentido, a relevância de trabalhar a autonomia em contexto institucional para que os jovens adquiram as competências necessárias – garantia de uma saída apoiada. Contudo, este trabalho não deve ser interpretado só na linha de capacitação de jovens, deve ser iniciado cedo, pois a saída pode ocorrer sozinho, sem retaguarda, e até “acompanhada de uma resistência para sair do LIJ onde se encontram acolhidos” (Ibidem: 199).

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