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3. Acolhimento Institucional: complexidade da medida

3.1 Potencialidades e constrangimentos do acolhimento institucional

Falar desta medida de colocação, além de se poder debater formatos, modelos de instituições, pode-se, e deve-se, questionar os seus próprios fundamentos, a sua própria existência (Martins, 2005). Por isso, o acolhimento institucional tem que ser analisado e enquadrado no sistema de proteção infantil (Martins, 2005).

O acolhimento visto com diferentes olhares também é sentido distintamente. Está-se perante uma panóplia de interpretações. As respostas institucionais correspondem a uma realidade diversa (Martins, 2005).

As instituições carregam uma imagem muito negativa, preenchida de estereótipos que se traduzem em discriminação social (Alberto, 2008).

As dimensões das instituições de acolhimento não permitem que a resposta seja personalizada, definindo-se horários mais rígidos no dia-a-dia, menos privacidade/individualidade porque os espaços são partilhados, uma proporção desequilibrada entre técnicos e crianças/jovens, dificuldades que impedem uma boa autonomia e autoestima, e resultam em afeto insuficiente (Rei, 2013; Alberto, 2008; Martins, 2005).

Isabel Alberto (2008) vem alertar para uma consequência danosa - as famílias desqualificadas das suas responsabilidades parentais, ao constatarem que assumem em menor instância, ou até nem assumem qualquer papel, podem afastar-se da criança/jovem. Previsivelmente, a criança/jovem sente-se esquecida e o seu projeto de vida é comprometido por este tipo de obstáculos (Ibidem; Rei, 2013). Por tudo isto, é preciso intervir junto das famílias, como referido anteriormente. É o trabalho com as famílias que permite a sua autonomização e responsabilização, através de uma intervenção concertada (equipas administrativas e equipas de acolhimento), otimizando todos os recursos, desde sociais, saúde, escolares, aos da própria família. Só assim se pode assegurar o regresso à família (Gomes, 2010).

Até ao momento tem-se vindo a mencionar as equipas de acolhimento mas considera-se necessário voltar a incidir em torno desta dimensão profissional do acolhimento, concretamente nas suas formas de atuação. Deste modo, o seu trabalho deve assentar, entre outros aspetos, em reuniões de equipas interdisciplinares (a partilha de saberes); em reuniões com os parceiros gestores do processo no sentido de definir estratégias coerentes, adequadas e integradoras; em reuniões com os parceiros locais (escola como pilar) e, na linha de pensamento do DOM, em reuniões de supervisão (elemento externo que permite refletir criticamente, que incentiva e aconselha) (Gomes, 2010). Boas estratégias de trabalho permitem, de certeza, boas práticas no acolhimento institucional.

 Mas será esta medida tão prejudicial?

De imediato é preciso mencionar que o acolhimento institucional surge para colocar a criança/jovem em segurança, retirando-a de uma situação de perigo. Como defende Gomes (2010:79):

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“A criança tem direito a ser protegida da situação de perigo que está a vivenciar e a ser acolhida numa instituição de acolhimento, onde possa obter resposta às suas necessidades específicas, ter protecção e um ambiente estável e securizante.”.

A dimensão securizante da instituição permite à criança/jovem viver num espaço organizado, com rotinas e limites previamente definidos. Esta vertente traz alguma estabilidade e a instituição, em si, pode favorecer a construção da identidade, uma vez que são dadas às crianças/jovens estratégias para enfrentar experiências vividas e se construem futuros (Alberto, 2008). Contudo, no olhar das crianças/jovens há um sentimento de “perda” porque se separam dos pais, às vezes, até dos irmãos. Perdem amigos, vizinhos e, quase sempre, têm que mudar de escola (Gustavsson et al., 1994). Uma alteração nas referências, na identidade, na pertença.

Zurita e Valle (cit. in Martins, 2005) também se pronunciam quanto às potencialidades do acolhimento institucional: encontram-se menos situações de más adaptações; não impõe relações de afetividade próximas com estranhos; facilitam a relação com a família biológica, as estruturas e organizações impõem limites aos comportamentos; a resposta pode ser especializada a uma problemática, a vivência em grupo pode facilitar a relação com os pares e o sentimento de identidade e pertença. Alberto (2008) refere, ainda, outro aspeto conveniente ao bom desenvolvimento das crianças/jovens – a instituição é contentora de angústias, informa adequadamente, apresenta discursos e ações coerentes.

É extremamente relevante, segundo Montagner (1993), que os profissionais que se inserem no acolhimento tenham consciência da importância da vinculação no desenvolvimento de cada ser humano e, por isso, desenvolvam ações de estímulo, apostem na interação e promovam as capacidades de quem se encontra em situação de acolhimento. A falta de afeto é uma das principais lacunas e que mais efeitos negativos repercutem no desenvolvimento da criança/jovem.

Ao refletir e analisar o acolhimento institucional, Isabel Gomes (2010), considera-o uma mais-valia quando este período é transitório mas com caráter reparador e terapêutico. Para além destes aspetos, é fundamental que se apresente um serviço qualificado, se assegure o acompanhamento à criança e respetiva família e se permita a ser avaliado (Ibidem).

Martins (2005) vem elucidar que o acolhimento institucional não é unicamente marcado por fragilidades ou potencialidades, a linha da censura e a linha defensiva cruzam-se consoante os casos.

Cada caso é uma criança/jovem única e singular, a sua vivência será sempre em função da sua auto-estima, resiliência, experiências de vida, valores, sonhos, ambições, ou seja, para analisar

o acolhimento é importante acolher, numa visão sistémica, aquela criança, que não é só o menor acolhido. Além disso, cada criança só vive a sua infância uma vez (Corsaro, 1997), pelo que se deve proporcionar a melhor experiência de vida. Portanto, como nos indica Silva (2004:109),

“apesar de não podermos negar os riscos que a institucionalização acarreta, não lhe podemos atribuir todos os problemas que as crianças que passam por essa condição revelam, nem podemos dizer que ele é sempre a pior opção.”

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