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A situação do mercado de trabalho em Portugal tem vindo a mudar nos últimos anos, em parte devido às crises económicas e financeiras e à instabilidade e precariedade do mercado de trabalho. Isso é também transmitido pelo índice “Better Life Index” no qual participam 35 países da OCDE e seis países parceiros (OCDE, 2017). Portugal apresenta, contudo, bom desempenho em algumas medidas de bem-estar em comparação com outros países no Índice para uma Vida Melhor. Portugal está acima da média nos requisitos moradia, equilíbrio vida-trabalho, segurança pessoal e qualidade do meio ambiente, porém está abaixo da média no rendimento e riqueza, condições de saúde, conexões sociais, envolvimento cívico, educação e qualificações, bem-estar social e emprego e rendimentos.

Mendes et al. (2016) concluem que devido à necessidade de estabilidade económica por parte dos casais existe um adiamento para a formação de família e da transição para a parentalidade com aparente efeito na redução no número de filhos. Devido ao casamento tardio que leva ao nascimento também mais tardio do primeiro filho, existe também uma menor probabilidade de ter um segundo filho, ainda que este seja desejado. Para além disso, Gonçalves et al. (Gonçalves et al., 2017) acrescentam que os baixos salários explicam também a necessidade de alguns trabalhadores terem dois empregos (um a tempo inteiro e outro a tempo parcial) de forma a lidarem com o mercado de trabalho precário. Esta precariedade está associada à instabilidade, à alteração do ritmo de vida e à incapacidade económica (Sá, 2010). De acordo com Gonçalves et. al. (Gonçalves et al., 2017), estas situações têm caracterizado o mercado de trabalho português nos últimos anos, desde que este foi marcado por um aumento no trabalho atípico, ou seja, trabalhos com contratos a termo que são temporários, inseguros

e mal pagos e que consequentemente apresentam perda de certos direitos e benefícios.

A entrada massiva das mulheres nas tradicionais esferas masculinas (tais como a educação e o mercado de trabalho) é uma das mudanças ocorridas em Portugal, especialmente entre os anos de 1960 a 1970 (Wall et al., 2010). Relativamente à educação em Portugal, 47% dos adultos com idades entre 25 e 64 anos concluíram o ensino secundário, muito abaixo da média da OCDE, de 74%. Isto aplica-se mais às mulheres do que aos homens, uma vez que 43% dos homens concluíram o ensino secundário, comparado com 50% das mulheres. A crescente presença das mulheres na educação e no mercado de trabalho tem levado à alteração gradual nos papéis de cada género e consequente alteração do modelo tradicional em que os homens eram considerados os provedores da família para um modelo de emprego duplo em que tanto o homem como a mulher exercem trabalhos remunerados.

A Figura 1, indicada a seguir, revela a evolução das taxas de emprego dos homens e das mulheres, entre os 24 e os 64 anos, ao longo do tempo desde 2005 até 2016 tanto na UE28 como em Portugal. A diferença entre géneros relativamente ao emprego a tempo inteiro embora constitua uma realidade, tem vindo a diminuir ao longo do tempo.

Em Portugal, a diferença das taxas de emprego entre os homens e a mulheres era de 12,7 pontos percentuais em 2005, em 2016 esta diferença é de 6,8 pontos percentuais. Até 2013, Portugal apresentava uma taxa de emprego feminina superior à média dos países europeus. Nestes (UE28) a diferença registada em 2005 é de 15,9 pontos percentuais e em 2016 esta diferença cai para 11,6 pontos percentuais o que demonstra que, relativamente à média dos países europeus, Portugal apresenta uma menor diferença entre as taxas de desemprego dos homens e das mulheres embora os valores absolutos das taxas de emprego em Portugal sejam menores aos apresentados na média dos países europeus. Esta menor diferença entre géneros registada em Portugal poderá ser apoiada pelo artigo 30º do Código Civil que promove a igualdade de género no trabalho, dizendo que “A exclusão ou restrição de acesso de candidato a emprego ou trabalhador em razão do sexo a determinada atividade ou à formação profissional exigida para ter acesso a essa atividade constitui discriminação em função do sexo”, a violação deste artigo constitui uma contraordenação muito grave.

Desde que estas mudanças ocorreram, os desafios enfrentados pelas mulheres que experienciam mais responsabilidades entre trabalho, casa e filhos, tem aumentado (Wall et al., 2010). Em Portugal as mulheres são responsáveis pela maioria das tarefas domésticas e familiares (Perista, 2002) e o modelo do homem como o provedor da família tem vindo a alterar, tendo até o homem começado a entrar nas esferas tradicionalmente femininas (como a esfera familiar e doméstica) (Perista, 2002; Torres, 2001; Wall, 2005 citado em Gonçalves et al., 2017). A entrada das mulheres nas esferas tradicionalmente masculinas, como acontece com a gestão, por exemplo, e posições que por longos períodos de tempo foram ocupadas somente por homens, também é uma realidade. Porém, os homens têm vindo a reconhecer a necessidade de entrarem nas esferas familiares, de participarem nas tarefas domésticas e tomarem conta dos filhos, aperceberam-se que não é suficiente providenciarem apenas apoio financeiro à

família, o tempo dedicado à família tem vindo a tornar-se numa preocupação cada vez maior. Estas alterações ocorrem num contexto de alteração dos valores individuais e da importância dada à família, à autonomia das mulheres, e ao desejo de uma vida que possa oferecer às crianças melhores condições de vida (Gonçalves et al., 2017). Os resultados do Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de

Homens e de Mulheres em Portugal, promovido pelo CESIS - Centro de Estudos

para a Intervenção Social (Perista et al., 2016), indicam que “os padrões de participação de mulheres e de homens no trabalho pago, apesar de terem vindo a conhecer uma aproximação progressiva, evidenciam ainda assimetrias significativas” (p.3). Tais assimetrias dizem respeito a diversos aspetos no que respeita ao trabalho.

Homens e mulheres recorrem diferenciadamente a formas de trabalho consideradas mais precárias, como o trabalho a tempo parcial, mais procurado por mulheres. Ao contrário, os horários que excedem as 40 horas semanais ainda abrangem um em cada três trabalhadores, sendo uma prerrogativa essencialmente masculina. Para além disso, quase quatro em cada dez pessoas, 38,5% das mulheres e 36,9% dos homens, consideram que o seu horário de trabalho não se adapta muito bem ou mesmo nada bem aos compromissos familiares, pessoais ou sociais, que possuem fora do seu trabalho. São sobretudo as pessoas de famílias com crianças menores de 15 anos e as mulheres em particular, quem mais negativamente classifica a adequação dos horários de trabalho aos seus compromissos de natureza familiar, pessoal e social (Perista et al., 2016). O nascimento de filhos – principalmente o nascimento do primeiro filho – constitui muitas vezes um ponto decisivo no qual se definem ou reforçam assimetrias de género. Mesmo quando ambos os elementos do casal continuam a trabalhar a tempo inteiro, assumindo uma partilha equitativa da responsabilidade de sustento económico, a dedicação e disponibilidade para a família e para o trabalho é desequilibrada. Desta forma, é percetível que em

importância atribuída à família, subsistem as assimetrias de género relativamente à esfera profissional e que se refletem na esfera familiar. Continuam a ser as mulheres aquelas que trabalham maioritariamente em part- time, e as que apontam a inadequação de horários à vida familiar (Perista et al., 2016). Para além disso, o nascimento dos filhos é igualmente apontado como um acontecimento decisivo nas assimetrias de género. Neste sentido, estas questões poderão ser indicadoras da falta de políticas e medidas amigas da família na conciliação da vida profissional com a vida familiar no mercado de trabalho português.

O enquadramento teórico realizado neste capítulo relativamente às mulheres em cargos de gestão, ao efeito de género e o efeito das políticas amigas da família na problemática da conciliação da vida familiar com a vida profissional, serve de orientação ao desenvolvimento deste estudo. O presente trabalho concentra-se em analisar estas questões no caso das mulheres em cargos de gestão no distrito de Bragança.

Neste capítulo apresentaram-se e discutiram-se as perspetivas e os conceitos fundamentais sobre a problemática da conciliação entre vida de trabalho e vida pessoal e familiar. Em geral e apesar de todas as mudanças que ocorrerem durante as últimas décadas, há ainda um longo caminho a percorrer, uma vez que o trabalho continua a gerar conflitos que põem em causa a vida familiar. A questão da conciliação entre vida de trabalho e vida familiar é, ainda uma questão que se coloca em termos de género e que a Comissão Europeia inclui nas políticas de igualdade de género. A gestão é uma das atividades cuja exigência é invariavelmente reconhecida e que parece inacessível para a generalidade das mulheres. Uma das razões para a fraca representação de mulheres ao nível desta atividade poderá ser, justamente, o facto de exigir níveis de compromisso e de dedicação pouco compatíveis com o exercício de responsabilidades domésticas e parentais. No capítulo seguinte são as questões metodológicas que estarão em evidência.

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