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O silêncio do legislador foi, no nosso entender, o de quem não quis tomar posição confiando por um lado na transmissibilidade de acções e por outro na vontade dos sócios. A doutrina divide-se, como vimos, há autores para quem o silêncio significa uma proibição, outros entendem-no como admissibilidade de tais cláusulas.

92 GIANCARLO FRÉ, Sul Dirrito di Recesso…pág. 811.

93 TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 272, nota 918.

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Por entre as justificações de quem é contra a admissibilidade de tais cláusulas podem destacar-se o princípio da livre transmissibilidade de acções, a lesão de interesses dos outros sócios e credores sociais, a eventual dissolução da sociedade e a natureza excepcional do direito de exoneração.

O principal argumento, o do princípio da livre transmissibilidade de acções, não vence. Caso este princípio resolvesse os mesmos problemas que o direito de exoneração visa resolver, então o legislador só teria previsto a exoneração em sociedades em que este princípio não vigorasse, o que não é verdade pois como decorre da lei ele aplica-se a todos os tipos de sociedade comerciais.

Ainda assim, partindo do princípio que admitíamos que essa era de facto a intenção do legislador, seria questionar o que se faria no caso de se tratar de uma sociedade anónima que não fosse aberta ao mercado. Ficaria o sócio refém da sociedade ou da vontade da maioria? Esperaria até existir, a existir, uma cláusula legal de exoneração? Qualquer destas soluções não fará qualquer sentido, estamos no domínio do direito privado, vigora aqui o princípio da liberdade de estipulação, este deve primar sempre, ainda mais no caso em apreço em que outras soluções não são aplicáveis.

Mesmo estando perante uma sociedade aberta ao mercado a transmissibilidade de acções pode não ser exequível, ora porque o mercado não está favorável à sua compra, ora porque o valor dessas mesmas acções em determinado momento por qualquer motivo não é o justo valor. Não se pode assim sustentar a inaplicabilidade do direito de exoneração por força do princípio da livre transmissibilidade de acções, que nem sempre, como analisamos, é passível de ser utilizado.

Uma segunda ideia surge no facto de o direito de exoneração previsto em cláusulas contratuais poder eventualmente lesar interesses de outros sócios ou credores sociais. Se pode fazê-lo nas sociedade anónimas também pode fazê-lo nos outros tipos societários, onde é permitido, mais uma vez existiria aqui uma descriminação face às sociedades por quotas, discriminação essa, injustificada. Este argumento não pode, igualmente, ser atendível. As cláusulas contratuais que dispusessem o direito de exoneração seriam criadas pelos próprios sócios estando assim todos numa posição igualitária em que ninguém teria, obviamente, interesse em agir conta os próprios interesses. Ainda que a entrada na sociedade seja posterior à sua constituição os sócios tem acesso ao estatutos e a na sua adesão já saberiam quais eram as possibilidades de exoneração.

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O mesmo argumento a favor dos credores também não se aceita sendo que os meios disponibilizados pelo CSC para sua protecção são os mesmos haja ou não exoneração prevista em cláusulas estatutárias.

A única reserva que posso ter e que pode de facto sustentar esta posição é no caso do exercício deste direito acarretar a dissolução da sociedade. Embora seja uma possibilidade, a dissolução, não é uma consequência imediata ou necessária mas se tal acontecer admito que lese interesses de outros sócios e credores sociais. Obviamente que a continuação de uma sociedade não deve estar na liberdade de um sócio que exerce o direito de exoneração mas ainda assim, quantas mais possibilidades de exoneração mais possibilidades de dissolução, o que para a vida societária, sobretudo em momentos de crise económica, pode acarretar alguns perigos.

No que concerne à natureza excepcional do direito de exoneração este argumento refuta-se também. A deliberação para a criação de cláusulas contratuais de exoneração está dependente da vontade da maioria. Mesmo que reconhecêssemos o carácter excepcional do direito de exoneração isso apenas impediria os sócios de se socorrerem do mesmo fora dos casos previstos na lei ou no contrato.

Por último há ainda quem sugira que o direito de exoneração estatutariamente previsto pode lesar interesse público, ora, quanto a isto apenas cumpre salientar que o direito comercial pertence à esfera do direito privado, não tendo natureza pública não pode lesar tais interesses. Os interesses sociais são interesses privados na medida em se reconduzem aos interesses particulares dos sócios95.

Uma questão que surgiu aquando da elaboração da presente dissertação é a violação do direito constitucional ao trabalho. O direito de exoneração no seu término mais radical pode conduzir à dissolução da sociedade, quando pensamos em sociedades elas não são apenas estruturas de capital, são também estruturas organizadas de pessoas, estruturas essas que têm certamente trabalhadores, ora dissolvendo-se a sociedade todos os postos de trabalho serão afectados. Neste prisma se já existe esta perigosidade decorrente da lei que tenderá a aumentar com a maior consagração de cláusulas que possibilitem a exoneração.

Face ao exposto, atendendo à intenção do legislador e corroborando as posições doutrinais que aceitam a admissibilidade das cláusulas contratuais, também nós temos de admiti-las. Não poderá ser de outra forma a protecção das minorias.

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Quanto aos limites para o estabelecimento de cláusulas estatutárias de exoneração propomos o recurso à analogia e concordamos com o bom senso do legislador previsto no artigo 240.º, n.º 8. Assim, não devem os accionistas, introduzir nos seus estatutos cláusulas contratuais de exoneração que esteja na pendência da vontade arbitrária do sócio.

4. Cláusulas Contratuais de Exoneração por Justa Causa nas Sociedades

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