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Capítulo 3. A guerra de 1995 e a experiência diplomático-militar da MOMEP

3.6.1. Posições do Exército sobre a MOMEP

De acordo com o Comandante do Exército Brasileiro, General Francisco Roberto de Albuquerque, a participação do Exército demonstra o fato de que ao Brasil interessa um ambiente de paz e cooperação ao longo de nossas fronteiras.193 Ainda segundo ele, a parti- cipação na MOMEP se insere na longa tradição do Exército Brasileiro em missões de paz, especialmente sob os auspícios da ONU e da OEA. Importante observar aqui que o General Albuquerque não se refere apenas a um ambiente de paz, mas de “paz e cooperação”, o que

192 UNITED STATES DEPARTMENT OF DEFENSE. Ceremony closing the Military Observer Mission

Ecuador-Peru. Disponível em http://www.defenselink.mil/news/Jun1999/b06171999_bt298-99.html, aces- sado em 05/03/03.

demonstra a assimilação da idéia de interação entre Estados vizinhos, que se aplicaria, no horizonte, ao contexto da cooperação em questões específicas, como defesa e segurança.

Na opinião do General Albuquerque, fora “natural” que a coordenação da MOMEP tivesse ficado a cargo do Brasil, dado o que ele considera ser a “expressão e influência do

Brasil em toda a região”. O General nega qualquer pretensão de liderança regional no que

se refira ao Exército Brasileiro: “Não existe essa pretensão de liderança, pelo menos não

em termos de Exército Brasileiro, que é a minha seara”. No entanto, é possível notar em

suas palavras a percepção de que o Brasil estaria vocacionado à liderança regional, pois o General inclui entre os motivos da liderança brasileira na MOMEP a “situação geográfi-

ca”, ou seja, a projeção continental do território. Como a dimensão territorial é dado físico,

pouco passível de mudança no caso do Brasil, estaria caracterizada a tendência a liderar o continente. Importante notar que a integridade territorial é tema diretamente ligado às for- ças armadas, especialmente ao Exército. Uma vocação de liderança que tenha na extensão territorial um de seus pilares, tem no Exército a guarda deste pilar. Neste caso, supõe-se que o poder militar brasileiro deva se apresentar como estando à altura da missão vocacional do país. Ou seja, a liderança regional, ao se apoiar na extensão territorial, passaria necessaria- mente pela liderança militar regional. Aqui, portanto, encontramos a projeção, no cenário sul-americano, da auto-imagem do Exército Brasileiro a que aludimos anteriormente.194

Na visão do General Cláudio Barbosa de Figueiredo, último Coordenador-Geral da MOMEP e atual Comandante Militar da Amazônia, a Missão teve saldo bastante positi- vo.195 Considera terem sido essenciais para esse sucesso quatro características: a vontade política dos diversos escalões das Forças Armadas de Equador e Peru, o que teria propor- cionado o adequado cumprimento de todos os acordos e recomendações ao longo do pro- cesso de paz; a constituição inicial da MOMEP e sua evolução até a última formação teriam permitido perfeita relação entre necessidades operacionais e administrativas; a entrosada relação entre o nível militar e o político-diplomático com o constante acompanhamento,

194 Ver nota 21.

195 FIGUEIREDO, general de división Claudio Barbosa de. MOMEP: Una Misión Cumplida!. Military Revi-

ew, Septiembre-Octubre 1999. Disponível em

pela parte diplomática, das atividades da MOMEP, por meio das atas das reuniões do Co- mitê Consultivo Superior da Missão; por último, a qualidade, o profissionalismo e espírito de missão dos militares integrantes da MOMEP, o que teria permitido a superação de dificuldades como os diferentes idiomas (inglês, português e espanhol), costumes e cerimonial militar. Tal adequação teria facilitado também, segundo o General Figueiredo, a função do Coordenador-Geral. Por tudo isso, o General Figueiredo considera a Missão como “claramente vitoriosa”.

Ainda de acordo com o General Figueiredo, a MOMEP teria como um de seus pon- tos positivos a experiência legada ao Exército Brasileiro.196 Segundo sustenta, a aprendiza- gem foi grande e existiria a intenção, por parte do Exército, de deixar um arquivo completo com as experiências da Missão, o que facilitaria, no futuro, a preparação e execução de missões de paz nos mesmos moldes. Lembra que a MOMEP foi uma missão de paz que “realmente” chegou à paz, o que, segundo ele, seria raro.

A posição oficial do Exército Brasileiro mostra-se assim, por meio de suas autorida- des, muito positiva em relação à implementação e os resultados finais obtidos pela MOMEP. Embora as observações dos generais acima pareçam realmente justificadas, prin- cipalmente no que se refere à experiência adquirida pela participação na Missão e ao claro precedente de cooperação regional criado por ela, não seria de se esperar postura diferente do Exército em documentos oficiais ou declarações de suas autoridades. Na página eletrô- nica da Força, ao se pesquisar sobre “MOMEP”, lê-se num pequeno texto que “a missão

consolidou a imagem do Brasil como uma nação apreciadora da paz e confiante em seus meios diplomáticos.” 197 Ainda o editorial da Revista Verde-Oliva, publicação do Centro de

Comunicação Social do Exército, em seu número 166, edição especial sobre a MOMEP, comenta:

196 FIGUEIREDO, general Cláudio Barbosa de. Entrevista à Revista Verde-Oliva, do Centro de Comunicação

Social do Exército Brasileiro, nº 166, 1999, p. 20.

197

EXÉRCITO BRASILEIRO. Missão de Observadores Militares Equador-Peru. Disponível em

Podemos concluir, no fim das contas: ganhou o Exército, que cumpriu difícil missão e muito apren- deu com o processo; ganhou o Brasil, que ampliou sua inserção no cenário internacional; e, final- mente, ganhou o mundo com o afastamento do espectro da guerra no continente sul-americano.198

Apesar de laudatório, como não poderia deixar de ser, o discurso oficial do Exército sobre a MOMEP deixa transparecer a percepção de um importante precedente criado não para a paz mundial, mas especialmente para a paz e a cooperação na América do Sul. Além disso, também é de se notar a consciência da aquisição de relevante experiência num pro- cesso real de implementação de cooperação militar, mesmo que temporária.

3.6.2 A direção diplomática do presidente Cardoso sobre o processo de paz e a